• Nenhum resultado encontrado

1. TRABALHO E MEMÓRIA

1.3. O mundo do trabalho e os ofícios em transformação

1.3.1. O ofício de radialista

O rádio se constituiu como o primeiro veículo de comunicação imediato e possui várias características que atraem o público, como o som, a interação, a objetividade entre outros aspectos. O veículo, quanto a irradiação, pode ser escutado a partir de ondas médias, tropicais ou curtas quando em amplitude modulada (AM) ou em frequência modulada (FM). Os suportes utilizados para escutá-la atualmente são diversos. As emissoras podem ser escutadas na TV por assinatura que disponibiliza inúmeros canais de rádio aos seus assinantes, por satélite através da antena parabólica, pela internet, pelo celular, além dos tradicionais aparelhos de rádio transistorizados, rádio do automóvel, aparelhos de som entre outros. Para Ferraretto (2014, p. 19) o fato de o rádio ter se adaptado a todas as tecnologias que surgiram o torna “um meio que extrapola sua base tecnológica inicial”.

Cabe aqui diferenciar o AM do FM. O AM foi a tecnologia utilizada na transmissão de rádio até a década de 1970, quando cedeu espaço para o FM, uma novidade na época.

AM é a abreviação de amplitude modulation (modulação de amplitude), que significa que o comprimento da onda de rádio varia

conforme o som transportado – ou seja, a voz ou a música modificam o formato da onda. [...] A tecnologia AM suporta três faixas distintas de rádio: ondas longas, raramente usadas, mas com grande alcance; ondas médias, utilizadas pela maioria das emissoras comerciais; e ondas curtas, que ricocheteiam na ionosfera e podem ser usadas para gerar um som de baixa qualidade, mas capaz de atingir grande distância do transmissor (PARRY, 2012, p. 238).

O rádio em frequência modulada (FM) vai surgir na década de 1960, a qualidade de som, tanto na transmissão como na recepção, acaba levando ao rádio uma programação musical mais forte. A interação também acaba sendo a marca das emissoras FM, que passam a liberar os microfones para conversas ao vivo com os ouvintes.

FM significa modulação de frequência; aqui, a frequência das ondas (o intervalo de tempo entre a chegada do pico de cada onda) é variada para transportar o sinal – o que cria um som mais nítido e claro e requer muito menos potência, mas não tem um alcance tão grande. [...] Como FM é mais precisa e percorre distâncias menores que AM, possibilita a proliferação de emissoras, que podem coexistir sem interferências (PARRY, 2012, p. 239).

De acordo com Ferraretto (2014), outras tantas características diferenciam uma rádio de outra, como o sinal analógico e digital, a definição legal da emissora, sendo ela comercial, comunitária, educativa, estatal ou pública, o conteúdo e até mesmo o seus suportes: rádio web, rádio online, web rádio e o podcasting.

Assim como as características de cada emissora são diversas, a profissão no rádio também possui várias funções. Ferraretto (2014, p. 41) vai separá-la em três categorias trabalhistas: “os jornalistas, os radialistas e os funcionários administrativos. Entre as duas primeiras existe uma grande confusão graças a algumas brechas na legislação”.

O Decreto 972, de 17 de outubro de 1969, que regulamenta a profissão de jornalista define que as atividades dos jornalistas são a redação de notícias, comentários e crônicas, a realização de entrevistas ou reportagens, a coleta de informações e a sua preparação para divulgação. Já o Decreto 83.284 de 13 de março de 1979, prevê as funções de redator, noticiarista, repórter, repórter de setor, rádio repórter e arquivista-pesquisador.

Os radialistas possuem a sua atuação definida através da Lei nº 6615 de 16 de dezembro de 1978 e do Decreto 84.134 de 30 de outubro de 1979. As funções

previstas são de coordenador de produção, coordenador de programação, discotecário, discotecário-programador, produtor-executivo, locutor, supervisor técnico, técnico de manutenção de rádio, operador, sonoplasta, técnico de externas e operador de transmissor de rádio (FERRARETTO, 2001).

Uma das grandes contribuições de Ortriwano (1985), que trata da história do rádio no Brasil, é a classificação das funções dos seus trabalhadores e trabalhadoras. Ela cita vinte funções apenas no departamento de jornalismo. São elas: setorista, rádio escuta, redator, editor, editor de horário, editor de reportagem, editor do jornal, editor-chefe, chefe de departamento, chefe de reportagem, assistente de chefia de reportagem, pauteiro, repórter, correspondentes, enviado especial, locutor, comentarista, apresentador, analista e pesquisador.

Para fins de estudo, esta pesquisa vai denominar como radialista, os profissionais que trabalham no rádio, sejam eles jornalistas ou radialistas em qualquer das funções destacadas, excluindo apenas os servidores administrativos.

Além da classificação trabalhista, torna-se necessário analisar as mudanças ocorridas no ofício dos profissionais de rádio. Para César (2005), o ambiente radiofônico mudou e hoje os radialistas têm mais tempo para interagir com o ouvinte e planejar o conteúdo a ser transmitido. Contudo:

O comunicador precisa se reciclar mais do que há alguns anos, justamente para poder interagir mais com as novas tecnologias, com os novos conceitos. Não se contrata mais ninguém com tabus quanto à informática, ou seja, é preciso conhecer bem o microcomputador, os sistemas operacionais, softwares de edição e de gerenciamento de áudio, enfim, estar antenado com os novos equipamentos que invadiram os estúdios (CÉSAR, 2005, p. 48).

O autor (2005) também discorre sobre a redução de mão de obra, afirmando que a chegada das novas tecnologias deixou muitos profissionais desempregados. Para ele, este é o lado injusto do progresso.

[...] o papel das máquinas sempre foi aprimorar serviços e reduzir custos. A mão de obra de mercado iria contribuir com sua parcela no processo de reengenharia das empresas de radiodifusão. Mas isso não ocorreu só no rádio: observe que todos os segmentos que receberam nova tecnologia para aprimorar seus serviços sofreram esse efeito, seja na agricultura, na indústria automobilística, seja até mesmo nas empresas de prestação de serviços – a nova tecnologia desempregou pessoas (CÉSAR, 2005, p. 49).

César (2005) também atenta para a importância da qualificação constante para os profissionais de rádio. Para ele, os trabalhadores e trabalhadoras devem estar permanentemente treinados e preparados para desempenhar as suas funções. O profissional precisa ter consciência que, se ocorreram diversas mudanças no cotidiano dos radialistas no decorrer da história do rádio, outras mudanças estão por vir.