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1. TRABALHO E MEMÓRIA

1.2. Fontes documentais e impressas

Além da História Oral, a pesquisa utilizou fontes documentais observadas a partir de pesquisa nos acervos da Coordenação de Comunicação Social e Reitoria, bem como a análise de jornais. Por ser um material esparso, optou-se por anexá-lo ao corpo do texto com o objetivo de facilitar a sua consulta.

A pesquisa documental nos acervos da Instituição resultou em poucas fontes, tendo em vista que a Instituição não teve a preocupação de preservar os documentos da emissora. De acordo com Vera Lopes, quando assumiu a direção, logo em seguida que a Rádio mudou de endereço, procurou alguns documentos e não os encontrou, concluindo que foram perdidos durante a mudança. Desta forma, as fontes tiveram um caráter complementar, confirmando algumas datas e momentos importantes da emissora como, por exemplo, a ata do Conselho Universitário que decidiu a troca do seu nome. De acordo com Bacellar (2015, p. 42) é comum no Brasil que as Instituições acabem não preservando os seus documentos. Para ele:

[...] as notícias de destruição de importantes conjuntos documentais infelizmente não são raras. Muito poucos são os casos de iniciativas de organização de tais acervos empreendidas por seus produtores ou detentores, com o objetivo final de franqueá-lo à consulta. Mais usuais são os casos de doação ou venda para arquivos públicos ou centros de documentação, onde podem ser abertos à pesquisa.

Para Cellard (2008, p. 295) “as capacidades da memória são limitadas e ninguém conseguiria pretender memorizar tudo. A memória pode também alterar lembranças, esquecer fatos importantes, ou deformar acontecimentos”. Além disso,

em muitos casos, os documentos se constituem como quase que exclusivamente os vestígios de uma determinada época.

Para o autor, os documentos eliminam parte da influência do pesquisador na análise, contudo é limitado no sentido de ser incompleto e não possibilitar precisões adicionais. Quanto à metodologia, os pesquisadores devem ter cuidado ao realizar uma pesquisa documental:

Em primeiro lugar ele deve localizar os textos pertinentes e avaliar a sua credibilidade, assim como a sua representatividade. O autor do documento conseguiu reportar fielmente os fatos? Ou ele exprime mais as percepções de uma fração particular da população? (CELLARD, 2008, p. 296)

É essencial o estudo sobre o contexto no qual o documento foi criado, sobre as pessoas envolvidas no fato documentado, o autor ou autores e seus interesses, os locais e as circunstâncias que permeiam o documento, por exemplo. Todas as informações permitem avaliar a credibilidade, a interpretação dos fatos e os desvios relativos à construção do texto.

A qualidade e a validade de uma pesquisa resultam, por sua vez, em boa parte das preocupações de ordem crítica tomada pelo pesquisador. De modo mais geral, é a qualidade da informação, a diversidade das fontes utilizadas, das corroborações, das intersecções que dão sua profundidade, sua riqueza e seu refinamento a uma análise. [...] Uma análise confiável tenta cercar a questão recorrendo a elementos provenientes, tanto quanto possível, de fontes, pessoas e grupos representando muitos interesses diferentes, de modo a obter um ponto de vista tão global e diversificado quanto pode ser (CELLARD, 2008, p. 305).

É importante também salientar a relevância da imprensa como registro da história do tempo presente. Desta forma, a pesquisa utilizou os jornais também como fonte complementar às narrativas, de modo a preencher lacunas dos fatos relatados, como algumas datas emblemáticas e dados técnicos sobre o início da emissora.

De Luca (2015) discorre sobre uma hierarquia de qualidade dos documentos estabelecida na década de 1970, na qual os jornais eram tidos como inadequados para a pesquisa histórica, por conterem fragmentos distorcidos sobre o evento ou fato. Para a autora, nas décadas finais do século XX, com a terceira geração dos

Analles, este cenário foi modificado. Contudo, o uso da imprensa enquanto fonte, precisa de um cuidado metodológico, tendo em vista que o seu conteúdo muitas vezes é tendencioso, motivado por ideologias e interesses dos jornais e seus parceiros. Desta forma, é importante atentar para as características do periódico, o grupo responsável, os colaboradores, o público, as fontes de receita, entre outras.

[...] devemos lembrar que na Imprensa a apresentação de notícias não é uma mera repetição de ocorrências e registros, mas antes uma causa direta dos acontecimentos, onde as informações não são dadas ao azar, mas ao contrário denotam as atitudes próprias de cada veículo de informação todo jornal organiza os acontecimentos e informações segundo seu próprio “filtro” (ZICMAN, 1985, p. 90, grifo da autora).

Para este estudo, dois jornais foram pesquisados: o Diário Popular e o Diário da Manhã. De acordo com Loner (1998), o Diário Popular foi fundado em 27 de agosto de 1890 para ser um jornal independente de qualquer partido político. Contudo, em seguida foi vendido ao Partido Republicano Rio-Grandense em Pelotas, tornando-se seu veículo oficial durante toda a República Velha. A equipe inicial do periódico, por questões partidárias acaba abandonando o Diário Popular em 1896 e fundando A Opinião Pública.

De acordo com Bandeira (2018), em 1980, ano que a rádio iniciou as suas atividades, o diretor do jornal era Clayr Lobo Rochefort e o diretor financeiro era Edmar Fetter, que já havia ocupado os cargos de prefeito da cidade e vice- governador do estado e foi por muito tempo um dos principais acionistas e membro da diretoria. Para a autora, em um primeiro momento as notícias eram pautadas pelo vínculo partidário, mais tarde pelo institucional com a aproximação com a Associação Comercial de Pelotas.

Já Loner (2010, p. 107) destaca que o periódico, após 1972, “passou a ser dirigido por uma diretoria executiva, composta por três membros na qual, nos últimos anos, sempre se destacou um representante da família Fetter”. Atualmente, o Diário Popular é o principal periódico da cidade.

O periódico Diário da Manhã surge mais recentemente, ou seja, em 24 de junho de 1979, por iniciativa de Hélio Freitag, que consolidou a empresa com um caráter familiar, com uma circulação diária e uma linha editorial local e regional. O periódico não possui uma equipe de redação muito grande, com isso publica, em

sua maioria, os releases encaminhados pelas assessorias de imprensa das instituições.

A pesquisa nos dois periódicos revelou uma grande disparidade de interesse no tema da Rádio Federal FM. No período pesquisado, que contempla a concessão, o início das transmissões em caráter experimental e a inauguração oficial, foram encontradas dez notícias no Diário Popular e apenas uma no Diário da Manhã, demonstrando claramente as diferenças nas linhas editoriais. O discurso do Diário Popular exalta a criação da Rádio Cosmos, dando a ela uma grande importância e pontuando o seu pioneirismo. Ao contrário, o Diário da Manhã publica uma única nota, pequena, com as informações de forma objetiva sobre a inauguração da emissora.