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DE QUEM É A RESPONSABILIDADE PELA PRESERVAÇÃO DO CONTEÚDO CONTRATADO?

5 ANÁLISE DE DADOS

5.17 DE QUEM É A RESPONSABILIDADE PELA PRESERVAÇÃO DO CONTEÚDO CONTRATADO?

No gráfico 15, consta a indicação pela preservação dos conteúdos contratados/assinados.

Gráfico 15 - Responsabilidade da preservação dos conteúdos contratados

Fonte: Própria autora.

A pergunta 8.1 da entrevista foi elaborada propositalmente de forma aberta. Assim, acreditava-se que os bibliotecários poderiam interpretar de duas formas distintas: questionar se a responsabilidade era apenas depois do download do documento ou se a responsabilidade da manutenção da plataforma era do contratado e do contratante. A experiência corroborou com o sugerido por Cavalcante, Calixto, Pinheiro (2014, p. 15) quando discorrem sobre as implicações da formulação da pergunta. Para os autores:

perguntar remete a um pré-saber que configura-se como um direcionamento de possíveis e futuras respostas. Este pré-saber constituinte da pergunta pode se manifestar em diferentes níveis, quais sejam um saber que penetra tangencialmente ou lateralmente na formulação da pergunta, um saber concomitante e ainda um pré-saber não singularmente determinado.

Notou-se que para aqueles que manifestaram preocupação com a preservação, a reação a pergunta foi questionar a quem etapa a preservação estava atribuída. Já para aqueles que prontamente responderam que a responsabilidade é da contratada, não foi possível notar preocupação significativa a respeito da preservação.

De acordo com o demonstrado no gráfico 15, oito entrevistados entendem que a responsabilidade pela preservação dos conteúdos é da biblioteca apenas quando o contratante encaminha arquivos. O respondente K comentou:

173 Como é que eu poderia entender a preservação de conteúdos contratado digital, uma vez que é uma assinatura? Que a gente só tem acesso para a leitura, colher algum pedaço e não tem mais nada disso. Não seria da própria empresa? (...) Porque a gente não tem download, se a gente tivesse download aí seria diferente (BIBLIOTECA K).

Serra (2014, p. 41), referindo-se a estudo realizado pelo Library Journal, menciona o decréscimo da aquisição de conteúdos quando a biblioteca é responsável pela guarda dos arquivos (self hosting). Segundo a autora, isso é devido a:

dificuldade da biblioteca em realizar a guarda e o controle dos objetos digitais ou devido ao fato de que nem todos os fornecedores permitem que a biblioteca tenha a guarda do arquivo. Nem sempre as bibliotecas possuem servidores para armazenamento de livros digitais, sem contar que a manutenção e, principalmente, a obsolescência de mídias e softwares demandam alto investimento de aquisição e manutenção.

De fato, a maioria das bibliotecas não guardam os arquivos, tampouco os tratam e disponibilizam em plataformas próprias. A biblioteca E, uma das exceções, descreve brevemente os procedimentos realizados:

Entrevistador: Uma vez feito o download a preservação é responsabilidade do xxx?

E3- Aqui a gente tem um drive específico só pra [sic] isso, uma área específica só pra [sic] arquivo recebido de editora. Então, de acordo com o Tribunal, isso tá seguro. Tem cópia de segurança e tudo. (...) E aí você tem duas versões de documentos: a gente deixa a original lá, intacta. E aí o que você processa, o que você utiliza você grava neste mesmo diretório, e outra é o que tá no mesmo servidor que a xxxxxx, que também tem as mesmas diretrizes de preservação física que são as mesmas diretrizes utilizadas no Tribunal todo (...)

Entrevistador: Você trata o pdf?

E3- Por exemplo, o pdf-a. Você pega e fala: vou tentar converter isso pra [sic] pdf-a, que é outro tipo de preservação, que é uma questão aí de preservação digital de conteúdo. (...) Eu quero conseguir que qualquer software leia esse conteúdo. Então hoje a gente tá [sic] tendo o problema de documentos de 10 anos atrás que eu não estou conseguindo ler hoje. Porque não teve essa preocupação no passado. Chegou a hora da bomba explodir (BIBLIOTECA E).

Cientes dos desafios, os entrevistados da biblioteca E mencionam padrões de arquivos adequados para a preservação digital e a necessidade da previsão de espaço de armazenamento:

As coleções digitais hoje em dia são relativamente novas né? Os repositórios né? Vai chegar o momento que essa necessidade vai aparecer. O pessoal acredita que a nuvem é eterna. E pra [sic] isso uma política de desenvolvimento de coleções digitais também tem que estar incluída na instituição né? (BIBLIOTECA E).

A NISO (2007) adverte que a escolha de formatos de arquivo deve considerar não apenas o acesso, mas também sua eventual degradação. Pensando nessas questões, foi

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desenvolvido o padrão PDF/A. A ISO (International Organization for Standardization) definiu o padrão PDF/A para o arquivamento de longo prazo de documentos eletrônicos. Moore; Evans (2013, p. 23) explicam que o PDF/A fornece um mecanismo para representar o conteúdo digital de uma forma que mantém a aparência visual do documento eletrônico. Para isso, o PDF/A incorpora todas as fontes e metadados no arquivo, para que possam ser renderizados de forma consistente, independentemente de

hardware e software usado para criar, armazenar e renderizar o arquivo.

Oliveira; Cunha (2019, p. 10) relatam que a Library of Congress, vários repositórios acadêmicos e órgãos governamentais dos Estados Unidos, o Conselho Superior da Justiça do Trabalho e diversos repositórios institucionais de universidades federais brasileiras adotam o PDF/A como formato de arquivo para preservação a longo prazo.

A biblioteca E critica o mercado editorial por falta de conhecimento sobre a necessidade do uso desses padrões:

E3- Esse mercado editorial tá um pouco atrasado então muitas vezes se fala pras [sic] paredes [referindo-se ao uso do PDF-A]. Então o que é isso? ‘Ah, eu nunca ouvi falar’ por aí vai. (...)

E2- Nós temos o caso recente de um fornecedor que perguntou como. ‘Eu estou disposto a oferecer o pdf como vocês querem, mas eu não sei como fazer’. (...)

E3- Isso impacta no desenvolvimento da sua coleção digital. Sua coleção digital não vai estar íntegra, né? (...) Quando você fala da integridade de uma coleção você fala da recuperação, da preservação, conteúdo disponível não só visualmente como textualmente.

E3- Se eles seguissem a norma ISO, que é a fonte tá incorporada, não pode ter imagem.

E4- O pdf a é justamente isso. É um conjunto de requisitos que tem tudo isso aí (BIBLIOTECA E).

Mesmo com a opinião de que a responsabilidade pela preservação de documentos cabe apenas no caso de arquivamento (self hosting), alguns entrevistados questionaram o caso de falência do fornecedor/editor e o papel da biblioteca nesse contexto:

Aí você falou uma questão né? É do contratado, mas o contratante também tem seu papel. Um papel que não é muito claro. Poderia [exercer] um papel mais ativo (BIBLIOTECA S).

Depende do contrato: se você fez um contrato com o fornecedor e ele forneceu os arquivos pra [sic] você, acredito que a gente também tem uma parcela de responsabilidade, porque vai que a empresa fali? e você não baixou os conteúdos lá, não salvou num repositório, um diretório qualquer aí seu. Por isso a gente está pegando esses conteúdos e colocando no nosso repositório porque a gente tem uma garantia de preservação digital desse conteúdo. Desde, claro, você coloque esse conteúdo em PDF-A né? Eu acredito que a responsabilidade vai depender do modelo contratado. Porque, por exemplo, se for assinatura não tem como você...Não tem nem o que se falar em

175 preservação: se você pagar você vai ter o conteúdo, se você não pagar você não vai ter (BIBLIOTECA H).

Uma vez que eles quebram o acesso, perdemos tudo. Aí entra uma questão jurídica, porque a gente tem um contrato (...). Mas, assim, a segurança da informação é zero. Porque não é nosso (BIBLIOTECA P).

E1- A gente tem um termo de referência que tem aquelas cláusulas de se o produto não [for] fornecido totalmente tem as sanções e a empresa vai sofrer. Nesse caso a gente contrata também o pdf. Se o pdf existiu até hoje eles estouraram amanhã e não existir mais pdf de nada a gente fica correndo atrás deles até a gente ter aquele mês mesmo. A preservação no sentido geral mesmo, de ter a coisa. Mas, em tese, a gente tá contratando o serviço. E quando a gente contrata o serviço corre-se o risco dele não ser fornecido em algum momento. Da empresa quebrar, de acontecer alguma coisa ao longo desse caminho (BIBLIOTECA E).