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4. O PAPEL DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS NO COMBATE ÀS FAKE NEWS

4.3. Debater em nome do bom jornalismo

As consequências que advêm da exposição às fake news são inúmeras e o desfasamento da sociedade democrática pela disseminação de informação imprecisa é o ponto culminante de toda esta epidemia.

19 Idem.

Por esse motivo, é crucial que haja da parte das instituições jornalísticas a preocupação e a vontade de trazer o assunto à tona da sociedade de forma a criar pontos de ação e estratégias que permitam, tanto quanto possível, contornar este flagelo social.

No caso português destacamos a Agência Lusa, que organizou no dia 21 de fevereiro de 2019 uma conferência acerca da temática, sob o lema: “Pare. Questione. Verifique” (Lusa in

Linkedin, 2018) (ver anexo 1).

A iniciativa, organizada em parceria com a agência de notícias espanhola, EFE, contou com um painel de convidados do qual fizeram parte o professor universitário e ex-jornalista, Walter Dean, o jornalista e investigador do Diário de Notícias, Paulo Pena, a diretora de informação da Agência Lusa, Luísa Meireles, a delegada da Agência EFE e a chefe da Unidade do Porta-voz do Parlamento Europeu, Marjory van den Broeke, entre outros, que procuraram discutir os riscos e possíveis soluções de combate às fake news, nomeadamente a criação de instrumentos auxiliares como os sistemas automáticos de deteção de imagens manipuladas.

Aliado à conferência, a Lusa lançou também um site temático (https://combatefakenews.lusa.pt/), no qual é possível aceder a textos informativos, textos de opinião e vídeos com os mais variados contributos de investigadores, jornalistas e diretores de informação sobre o assunto.

Qual o caminho a seguir para impedir que as fake news minem o jornalismo, a democracia e a sociedade? Segundo Walter Dean, o primeiro passo é reconhecer que estas existem.

O professor defendeu, durante a conferência, que “um dos principais desafios” é perceber como é que as instituições reagem ao fenómeno: “Por um lado, têm de proteger a liberdade de expressão e, por outro, têm de proteger a qualidade da informação que os eleitores usam para tomarem boas decisões sobre a governação” (2019).

Também a chefe da Unidade do Porta-voz do Parlamento Europeu, Marjory van den Broeke, alertou para o reconhecimento da informação falsa, considerando-o como uma prioridade: “Temos de ser credíveis, não podemos dizer balelas às pessoas (…). Pela simples razão de que, se o fizermos, elas não voltam [a confiar nas instituições europeias]” (2019).

É imperativo que instituições como as agências de notícias, no campo do jornalismo, ou a Comissão Europeia, no campo político e social, discutam a problemática, pois a as fake news não trazem descrédito apenas às notícias, mas também às próprias organizações, que acabam por ver a sua missão e os seus valores postos em causa.

Se essas instituições não tomarem uma atitude, o jornalismo perderá a sua essência: a verdade dos factos. Se as empresas jornalísticas não defenderem o seu carimbo de qualidade, de veracidade, de confiabilidade, quem mais defenderá?

É necessário debater a questão o quanto antes, caso contrário a desinformação continuará a suscitar dúvida, confusão e incerteza, o que de acordo com van den Broeke, "torna difícil para as pessoas a tomada de decisões" (2019).

Que papel têm então as agências de notícias no combate às fake news? E que papel tem a Agência Lusa nesta luta pela credibilização do jornalismo?

De acordo com Luísa Meireles, “as fake news são uma chaga da informação dos tempos modernos e são contraditórias, na medida em que, num mundo em que cada vez existe mais informação o cidadão, paradoxalmente, pode estar pior informado” (2018)21.

Já durante a conferência, Meireles manifestou a vontade da agência em combater o fenómeno da desinformação: "Pensamos que as agências de informação, e a Lusa em particular, (...) têm uma especial responsabilidade nesta tarefa" (2019).

Por esse motivo, também a ministra da Cultura, Graça Fonseca, que tutela a Comunicação Social e esteve igualmente presente no encontro, anunciou que a agência portuguesa vai contar com um sistema de verificação de factos (2019).

Por fim, não devemos esquecer que também os cidadãos devem desempenhar um papel ativo no combate à desinformação: "Não podemos continuar a ser cidadãos passivos, temos de guardar reservas mínimas e questionar" (2019), finalizou a delegada da agência de notícias espanhola, EFE, Mar Marín, durante a conferência.

Todos somos responsáveis não só pela produção, como pela distribuição e consumo de fake

news, pelo que é necessário estar permanentemente alerta, seja na internet, de um modo geral, seja

nas redes sociais, em particular.

Quanto às agências de notícias, é imperativo que estas continuem a desempenhar o papel mediador que têm na sociedade, mesmo que para isso tenham de contrariar a velocidade e rapidez exigida atualmente.

A máxima de ser rápido a dar o facto é sem dúvida mais importante do que que ser rápido a publicar conteúdos que não refletem a realidade tal como ela se passa.

Uma única pergunta pode mudar a forma como se trabalha e divulgam conteúdos: “Tens a certeza?”. Esta é a pergunta que todos os jornalistas devem fazer a si mesmos, às fontes, ao seu produto final, à notícia.

A procura pela verdade é a procura pela certeza e vice-versa. A certeza deve constituir a base da notícia. Sem ela, não faz sentido publicá-la. Da mesma forma, o equilíbrio é uma valência

crucial e que deve acompanhar o jornalista, sobretudo hoje em que existe um notório desequilíbrio informativo entre aquilo que são notícias e aquilo que são conteúdos manipulados.

Deste modo, as agências devem continuar a procurar, a questionar, a verificar, a contrabalançar a verdade com a rapidez para que se mantenha o jornalismo de qualidade e para que a sociedade civil sinta que pode confiar nas notícias.