• Nenhum resultado encontrado

5. ESTÁGIO: LUSA – AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DE PORTUGAL

5.3. Também posso ir?

5.3.1. Estilo jornalístico de agência

A velocidade a que vivemos atualmente e o imediatismo com que tudo é disseminado na internet têm contribuído para o aumento do comportamento concorrencial entre os diferentes meios de comunicação social.

Todos querem ser os primeiros a dar a notícia, a chegar ao leitor, ouvinte e espetador, mas a partir de que momento é que ser o primeiro a chegar ao recetor se tornou mais importante do que ser o primeiro a dar a informação correta?

Por vezes a rapidez é traiçoeira e querer ser o primeiro a notícia pode significar sacrificar um maior e melhor apuramento das informações a veicular.

De acordo com o livro de estilo da Agência Lusa, “a rapidez não pode ser exercida com o sacrifício da precisão e da exatidão” (Lusa, 2011, p.4), além de que “a notícia de agência deve ser sempre uma unidade independente e completa, redigida de forma acabada e publicável” (ibidem).

A notícia de agência deve ser clara, de forma que todos possam compreendê-la, além de que não devem ser omitidos factos ou pormenores “sob o pretexto de já serem do conhecimento público” (Lusa, 2011, p.4). Há que ter em atenção que “o que parece evidente ao jornalista não o é, necessariamente, para o utilizador da informação” (ibidem).

Por exemplo, “as notícias da Lusa começam com o nome da localidade onde decorrem ou decorreram factos reportados” (Lusa, 2011, p.18). Ou seja, durante o estágio, ao redigir as notícias, tinha de colocar a freguesia, seguida do concelho e/ou do distrito, para que o leitor percebesse, ainda que fosse de um modo geral, onde ficava o local dos acontecimentos.

É importante que a referência ao local não seja apenas salientada no título. Se um dado acontecimento ocorre em Marvila, deve especificar-se, no início do lead: “na freguesia de Marvila, em Lisboa”, por exemplo, e não aparecer apenas como “MARVILA:” no título.

No caso das notícias, o local vem igualmente especificado como “Marvila, Lisboa, 11 de janeiro (Lusa)”, por exemplo.

5.3.2. Técnicas de escrita

“A informação de agência tem de ser viva, incisiva, clara e rápida – o que não quer necessariamente dizer que seja breve: é da escolha do vocabulário e do tamanho das frases e das palavras que resulta a sensação de rapidez e não da supressão sistemática de pormenores” (Lusa, 2011, p.5).

A escrita de agência caracteriza-se pelo uso de “frases e palavras breves” (Lusa, 2011, p.5), que sejam “simples e do conhecimento geral” (ibidem).

No “País” há essa preocupação, tendo em conta que é uma editoria que trata de assuntos ditos mais “sérios”, como Política, Justiça e/ou Mobilidade, sendo por isso necessário escrever de modo simples, direto, coerente, mas também atrativo e que mereça a atenção do leitor.

Relativamente à utilização de adjetivos, a “absoluta isenção, rigor e objetividade” fazem com que estes não devam ser utilizados (Lusa, 2011, p.5).

E aproveitando a questão da objetividade, por vezes acontecia, durante a redação de notícias, acrescentar informação que apenas conferia visibilidade à organização que me tinha enviado uma nota de imprensa (por exemplo, quando surgia no corpo da notícia uma nota de compreensão aos condutores por cortes de trânsito), o que não fazia sentido nem acrescentava nada ao facto a noticiar.

Quando comecei o estágio entrei com a certeza de que a escrita jornalística seria um autêntico desafio para mim: teria de me cingir aos factos, ser rigorosa, objetiva e escrever de forma que todos compreendessem, sem adjetivar ou ser tendenciosa com isto ou aquilo.

Desse modo, tive de me adaptar a uma escrita que se pressupõe que seja “viva e rigorosa”: “Trata-se de conseguir que, na leitura, se tenha a sensação de rapidez” (Lusa, 2011, p.5), o que não significa que a notícia seja necessariamente curta, incompleta ou minimalista.

A utilização de “verbos fortes e expressivos”, bem como a utilização da “voz ativa em detrimento da voz passiva” e a utilização de “tempos simples, em vez dos tempos compostos” (Lusa, 2011, p.5) são fatores a ter em conta na redação de uma notícia e que facilitam em muito a leitura da mesma.

Na escrita de agência “aconselham-se frases curtas, contendo uma só ideia e com o mais importante dessa ideia no princípio da frase” (Lusa, 2011, p.6). A lógica que deve ser seguida é a de “uma frase, uma ideia, uma informação” (ibidem) e redigida “pela ordem mais simples e direta: sujeito-predicado-complemento(s)” (ibidem, p.5).

Como explica Traquina, “o discurso jornalístico é um discurso que deve provocar o desejo, o desejo de ser lido/ouvido/visto” (2004, p.84), além de que “os jornalistas têm obrigação de escrever de uma forma fácil de compreender”, simplificando a notícia (ibidem, p.117) e tornando “o acontecimento relevante para as pessoas” (ibidem).

Ao longo dos três meses fui aprendendo a manter este raciocínio: escrever uma ideia, depois outra, mas sempre mantendo uma ligação entre as mesmas, utilizando as tais frases curtas.

Por exemplo, utilizar mais do que duas orações numa frase torna-se confuso para quem vai ler. É preferível escrever menos numa frase e fazer um novo parágrafo. Assim sendo, não devem existir no mesmo parágrafo duas frases separadas por um ponto final.

Outra situação com a qual lidei foi a chegada de notas de imprensa com referência a furtos em locais turísticos e/ou situações onde era mencionada a nacionalidade dos autores dos crimes. Ditam as regras que “sempre que não for relevante para o facto a noticiar, as notícias da Lusa

deverão abster-se de fazer referência à raça, religião, nacionalidade, etnia, ou situação documental dos envolvidos” (Lusa, 2011, p.14). Dessa forma, não era habitual mencionar a nacionalidade, até porque na maior parte das vezes essa é uma informação que “não acrescenta rigorosamente nada à compreensão da notícia” (ibidem, p.13).

Em relação à extensão das peças, “os jornalistas devem evitar fazer textos excessivamente longos” (Lusa, 2011, p.15), devendo limitar-se ao máximo de 3000 caracteres.

Conforme o livro de estilo, “quando os assuntos forem mais ricos ou mais complexos, deverá fazer-se um segundo texto complementar (1200 – 1500 caracteres), eventualmente um terceiro texto (700 – 900), ou mesmo um quarto texto em casos verdadeiramente excecionais” (Lusa, 2011, p.15).

Saliente-se ainda que “limites muito rígidos para a dimensão das notícias podem também dificultar a inclusão do indispensável ‘background’” (Lusa, 2011, p.15), algo que não pode faltar, pois constitui uma parcela essencial do texto e que auxilia em muito na contextualização e compreensão das mesmas.