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A decisão monocrática em sede de conflito de competência: artigo 120, parágrafo único, do Código de Processo Civil (Lei n° 9.756/98)

No documento Heitor Pereira Villaca Avoglio (páginas 54-58)

2. A consolidação infraconstitucional da mudança: aspectos oriundos da reforma processual e da nova etapa do processo

2.1. Os instrumentos processuais de aplicação dos precedentes

2.1.2. Os instrumentos para o juízo de mérito

2.1.2.8. A decisão monocrática em sede de conflito de competência: artigo 120, parágrafo único, do Código de Processo Civil (Lei n° 9.756/98)

O parágrafo único, acrescentado ao artigo 120 do Código de Processo Civil, determina que, havendo precedente judicial do tribunal sobre a questão suscitada, o relator poderá decidir de plano o conflito de competência, prevendo hipótese de agravo no prazo de cinco dias. Nesse instrumento, o precedente do tribunal a respeito do conflito é que atua na qualidade de paradigma124.

2.1.2.9. O recurso extraordinário e o recurso especial como

instrumentos de aplicação de precedentes

Os recursos extraordinário e especial, sobretudo após as reformas realizadas pelas Leis n° 11.418/2006 e 11.672/2008, atuariam, segundo Taranto,como instrumentos de aplicação de precedentes, à medida que se desenvolvem em torno da diferença de aplicação da lei federal ou de norma constitucional pelos diversos tribunais pátrios125, o que os atribui a qualidade de mecanismos de uniformização de jurisprudência em sentido amplo126.

Os recursos extraordinário e especial, excepcionais por natureza, identificam-se pela impossibilidade de admissão na base da simples alegação de injustiça do julgado, da má       

matéria constitucional. 7. Assim sendo, concorre decisivamente para um tratamento diferenciado do que seja "literal violação" a existência de precedente do Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição. Ele é que justifica, nas ações rescisórias, a substituição do parâmetro negativo da Súmula 343 por um parâmetro positivo, segundo o qual há violação à Constituição na sentença que, em matéria constitucional é contrária a pronunciamento do Supremo Tribunal Federal. 8. Recurso especial provido.

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Art. 120. Poderá o relator, de ofício, ou a requerimento de qualquer das partes, determinar, quando o conflito for positivo, seja sobrestado o processo, mas, neste caso, bem como no de conflito negativo, designará um dos juízes para resolver, em caráter provisório, as medidas urgentes. Parágrafo único. Havendo jurisprudência dominante do tribunal sobre a questão suscitada, o relator poderá decidir de plano o conflito de competência, cabendo agravo, no prazo de cinco dias, contado da intimação da decisão às partes, para o órgão recursal competente. 

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TARANTO, Caio Márcio Gutterres. Precedente judicial: autoridade e aplicação na jurisdição

constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 267-268.

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TARANTO, Caio Márcio Gutterres. Precedente judicial: autoridade e aplicação na jurisdição

constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 268

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Rodrigo Camargo de Mancuso os sistematiza como uniformização externa. Aduz que se o constituinte considerou a divergência jurisprudencial sobre questão federal como fundamento para o acesso ao Superior Tribunal de Justiça, via recurso especial, é porque julgou imperioso que a igualdade de todos os brasileiros perante a lei deve ser válida também no âmbito do Judiciário, isto é, quis que a igualdade se realizasse também em face da lei quando esta tenha o seu momento judicial, vindo interpretada pelo Judiciário na resolução dos casos concretos. [...] É dizer: a mensagem deixada pelo constituinte é no sentido de que os Tribunais devem laborar pela uniformização de sua jurisprudência, assim buscando a aproximação entre os valores do jurídico e do justo, de tal arte propiciando que o princípio da igualdade se realize em toda sua plenitude. MANCUSO, Rodolfo Camargo de. Divergência jurisprudencial e súmula vinculante. 3ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. P. 274.

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apreciação da prova ou da errada interpretação do contrato ou da manifestação de vontade,também não podendo ser exercitados per saltum, apresentam juízo de admissibilidade bipartido etc. Mancuso expõe, neste assunto, o mecanismo de funcionamento dos recursos excepcionais como instrumentos de aplicação de precedentes judiciais, lecionando que acórdãos divergentes, que atuarão na qualidade de paradigmas, e o acórdão recorrido, todos trazidos à colação, terão de se referir à exegese de um mesmo texto de lei federal ou constitucional127.

A característica uniformizadora seria evidente, segundo Taranto, perante a redação da alínea c do inciso III do artigo 105 da Constituição, que outorga ao Superior Tribunal de Justiça julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. Em se tratando de questão constitucional, a função uniformizadora no pós88 compete ao Supremo Tribunal Federal, nos termos do artigo 102, inciso III, da Constituição Federal128.

Cumpre ressaltar, nesse momento, que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça estabeleceram diversas disposições nesse sentido. Uma delas é a de que, para o conhecimento de recurso extraordinário, o Supremo Tribunal Federal não possa ter firmado orientação no sentido da decisão recorrida, nos moldes da Súmula n° 286 do Supremo Tribunal Federal e, no tocante ao recurso especial, da Súmula n° 83 do Superior Tribunal de Justiça129.

      

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MANCUSO, Rodolfo Camargo de. Recurso Extraordinário e Recurso Especial. Recurso no processo civil. 7ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, v.3, p.230. Vf. Também TARANTO, Caio Márcio Gutterres.

Precedente judicial: autoridade e aplicação na jurisdição constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p.269.

O autor sustenta também que o recurso não será admitido se os textos em confronto forem diversos, a medida que não se terá uma questão federal ou constitucional, apenas existindo dissídio quando são diversas as soluções sobre a mesma questão e não quando há soluções idênticas para questões diferentes.

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TARANTO, Caio Márcio Gutterres. Precedente judicial: autoridade e aplicação na jurisdição

constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 269.

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O Superior Tribunal de Justiça foi concebido para um escopo especial: orientar a aplicação da lei federal e unificar-lhe a interpretação, em todo o Brasil. Se assim ocorre, é necessário que sua jurisprudência seja observada, para se manter firme e coerente. Assim sempre ocorreu em relação ao Supremo Tribunal Federal, de quem o STJ é sucessor, nesse mister. Em verdade, o Poder Judiciário mantém sagrado compromisso com a justiça e a segurança. Se deixarmos que nossa jurisprudência varie ao sabor das convicções pessoais, estaremos prestando um desserviço a nossas instituições. Se nós – os integrantes da Corte – não observarmos as decisões que ajudamos a formar, estaremos dando sinal para que os demais órgãos judiciários façam o mesmo. Estou certo de que, em acontecendo isso, perde sentido a existência de nossa Corte. Melhor será extingui-la. Agravo Regimental nos Embargos de Divergência no Recurso Especial n° 228.432, relator Ministro Humberto Gomes de Barros, em 18.02.2002.

55  Passado algum tempo, contudo, o Supremo Tribunal Federal, por força da Súmula n° 369, fixou a impossibilidade de utilização de recurso extraordinário quando os precedentes paradigmas forem oriundos do mesmo tribunal, à medida que o pressuposto constitucional era a interpretação divergente com outro tribunal ou com o próprio Pretório Excelso. No mesmo esteio, a Súmula n° 13 do Superior Tribunal de Justiça. Assim, a função uniformizadora do direito federal e constitucional, em um primeiro momento, compete a todos os tribunais estaduais e regionais, que deverão fazer uso do incidente de uniformização de jurisprudência previsto no Código de Processo Civil130.

2.1.2.10. O incidente de uniformização de jurisprudência e os

embargos de divergência como instrumentos de aplicação de precedentes: artigo 476 e seguintes do Código de Processo Civil131

O incidente de uniformização de jurisprudência e os embargos de divergência, nos moldes dos artigos 476 e seguintes do Código de Processo Civil e 118 e 266 e seguintes do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça132, admitem que qualquer magistrado, ao dar o voto na turma, câmara ou grupo de câmaras, possa solicitar o pronunciamento prévio do tribunal acerca da interpretação do direito quando se verificar que, a seu respeito, ocorre

      

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TARANTO, Caio Márcio Gutterres. Precedente judicial: autoridade e aplicação na jurisdição

constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 270.

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Art. 476. Compete a qualquer juiz, ao dar o voto na turma, câmara, ou grupo de câmaras, solicitar o pronunciamento prévio do tribunal acerca da interpretação do direito quando: I - verificar que, a seu respeito, ocorre divergência; II - no julgamento recorrido a interpretação for diversa da que Ihe haja dado outra turma, câmara, grupo de câmaras ou câmaras cíveis reunidas. Parágrafo único. A parte poderá, ao arrazoar o recurso ou em petição avulsa, requerer, fundamentadamente, que o julgamento obedeça ao disposto neste artigo. Art. 477. Reconhecida a divergência, será lavrado o acórdão, indo os autos ao presidente do tribunal para designar a sessão de julgamento. A secretaria distribuirá a todos os juízes cópia do acórdão. Art. 478. O tribunal, reconhecendo a divergência, dará a interpretação a ser observada, cabendo a cada juiz emitir o seu voto em exposição fundamentada. Parágrafo único. Em qualquer caso, será ouvido o chefe do Ministério Público que funciona perante o tribunal. Art. 479. O julgamento, tomado pelo voto da maioria absoluta dos membros que integram o tribunal, será objeto de súmula e constituirá precedente na uniformização da jurisprudência. Parágrafo único. Os regimentos internos disporão sobre a publicação no órgão oficial das súmulas de jurisprudência predominante. 

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Art. 118. No processo em que haja sido suscitado o incidente de uniformização de jurisprudência, o julgamento terá por objeto o reconhecimento da divergência acerca da interpretação do direito. § 1º Reconhecida a divergência acerca da interpretação do direito, lavrar-se-á o acórdão. § 2º Publicado o acórdão, o relator tomará o parecer do Ministério Público no prazo de quinze dias. Findo este, com ou sem parecer, o relator, em igual prazo, lançará relatório nos autos e os encaminhará ao Presidente da Corte Especial ou Seção para designar a sessão de julgamento. A Secretaria expedirá cópias do relatório e dos acórdãos divergentes e fará a sua distribuição aos Ministros. § 3º O relator, ainda que não integre a Corte Especial, dela participará no julgamento do incidente, excluindo-se o Ministro mais moderno.

Art. 266. Das decisões da Turma, em recurso especial, poderão, em quinze dias, ser interpostos embargos de divergência, que serão julgados pela Seção competente, quando as Turmas divergirem entre si ou de decisão da mesma Seção. Se a divergência for entre Turmas de Seções diversas, ou entre Turma e outra Seção ou com a Corte Especial, competirá a esta o julgamento dos embargos. 

56  divergência ou quando, no julgamento recorrido, a interpretação for diversa da que lhe haja dado outro órgão fracionário do Tribunal133.

Esses instrumentos de aplicação, dotados da finalidade de uniformização em sentido amplo, são caracterizados pela existência de dois precedentes judiciais a figurarem como paradigmas, sendo que apenas uma orientação vingará, sendo a afastada, então, revogada134.

Não se vislumbra, nesses instrumentos, hipótese de vinculação, no sentido de que o órgão fracionário terá de acatar o teor decisório do incidente, tendo-se em vista que se transfere a competência para o órgão especial ou pleno para a decisão da matéria de direito controvertida135. Não é possível afirmar, então, em obrigatoriedade de seguimento, mas sim na qualidade de juiz natural do órgão pleno ou especial em unificar a questão de direito.

Hipótese a ser indagada consubstancia a utilização desse instrumento caso o Supremo Tribunal Federal, em matéria constitucional, ou o Superior Tribunal de Justiça, em direito federal, já possuírem precedentes contendo uma das orientações conflitantes. Nesse caso, entende-se que não há de se falar em uniformização da jurisprudência, haja vista que o precedente contrário ao do tribunal de superposição fora revogado, caso anterior ao julgamento do tema no Supremo Tribunal Federal ou no Superior Tribunal de Justiça, ou constitui verdadeiro pseudoprecedente ou precedente per incuriam, caso posterior ao referido julgamento. Na hipótese de o órgão fracionário aplicar a orientação contrária à dos tribunais de superposição, o prejudicado deverá fazer uso dos recursos especial e extraordinário no momento processual oportuno. Essa conclusão está em harmonia com o teor da Súmula n°

      

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À medida que texto e norma não devem ser confundidos, concluir-se que as duas hipóteses previstas nos incisos do artigo 476 do Código de Processo Civil equivalem-se, pois se referem a dois diversos precedentes com díspares orientações existentes no mesmo tribunal. TARANTO, Caio Márcio Gutterres. Precedente

judicial: autoridade e aplicação na jurisdição constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 271.

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3. Os embargos de divergência não têm por mira realizar justiça subjetiva, justiça às partes, a não ser indiretamente, por isso não constituem mais um meio ordinário de impugnação. É certo que a parte, ao se valer desse recurso, quer ver reformada a decisão desfavorável, o que lhe empresta um caráter processual, mas o Tribunal, quando o julga, tem por propósito específico promover a harmonia de interpretação da lei federal com a consequente uniformização da jurisprudência no âmbito interno da Corte. 4. Embargos declaratórios rejeitados."(EDcl nos EREsp 282603/CE, Rel. Ministro Joao Otávio de Noronha, Corte Especial, julgado em 07/06/2006, DJ 01/08/2006 p. 327).

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TARANTO, Caio Márcio Gutterres. Precedente judicial: autoridade e aplicação na jurisdição

57  369 do Supremo Tribunal Federal e com o da Súmula n° 13 do Superior Tribunal de Justiça136.

2.1.3. A reclamação ao Supremo Tribunal Federal como instrumento de

No documento Heitor Pereira Villaca Avoglio (páginas 54-58)

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