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2.1 ORIENTAÇÃO TEMPORAL E A SUSTENTABILIDADE

2.1.1 Decisões de Curto Prazo

Conforme visto no tópico anterior, a sustentabilidade é a capacidade que a empresa possui de equilibrar as tensões existentes entre as decisões de curto e longo prazo e, para tal, é importante lembrar que um grande número de empresas se concentra em atender os objetivos de curto prazo, mesmo que isto dificulte o desenvolvimento projetos capazes de trazer melhores benefícios econômicos e ambientais a um longo prazo.

Sendo assim, possíveis desequilíbrios entre estes dois pontos podem ameaçar a sustentabilidade empresarial. Graham et al. (2005) realizaram um estudo com executivos e descobriram que quatro entre cinco deles sacrificaram a criação de valor a longo prazo em nome de um lucro imediato, ou a fim de atingir suas metas de curto prazo. Além disso,

segundo Bansal e Desjardine (2014), diferentes pesquisas mostram que os gerentes, mais do que nunca, estão descontando o futuro de modo que muitos investimentos capazes de criar valor a longo prazo estão sendo ignorados.

As decisões que se preocupam com um curto espaço de tempo e apresentam resultados aquém do que é possível através dos investimentos realizados, podem ser definidas como decisões de curto prazo. Nós, seres humanos particularmente, possuímos uma atração pela gratificação imediata e descontos temporários, ou seja, existe uma busca por recompensas no agora, negligenciando recompensas futuras por hora obscurecidas. (LAVERTY, 1996;

BANSAL e DESJARDINE, 2014).

Neste seguimento, argumenta-se que o curto prazo pode levar a resultados inferiores ao que realmente poderia ser conquistado, tanto para empresas quanto para a sociedade, por diferentes motivos. Os investimentos gerados através de retornos de curto prazo podem ser incrementais e não transformacionais. Por exemplo, existe uma tendência das empresas em se dedicar na busca por uma maior eficiência operacional ou investimentos em novos mercados e produtos, sendo improvável que possam optar por investimentos em diferentes tecnologias ou métodos de produção capazes de as credenciarem à frente da sua concorrência. (BANSAL e DESJARDINE, 2014; FLAMMER E BANSAL, 2017).

Por outro lado, com relação às empresas capazes de gerir bem as tensões existentes entre o curto e o longo prazo, existe uma maior probabilidade que invistam em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e em inovações relacionadas aos seus métodos produtivos. Estas empresas também tendem a capacitar melhor seus funcionários em busca de uma maior produtividade e buscam construir relacionamentos duradouros com a comunidade a fim de assegurar que os recursos sejam desenvolvidos de forma ambientalmente responsáveis. (SLAWINSKI e BANSAL, 2012; BANSAL e DESJARDINE, 2014).

Bansal e Desjardine (2014) também comentam que outro ponto a destacar é que decisões baseadas no curto prazo apresentam resultados mais voláteis. À medida em que os gerentes se tornam míopes, seus investimentos lhes retornam valores marginais, fazendo com que assumam maiores riscos a fim de potencializar resultados negativos inesperados. Estas empresas apresentam dificuldades para construir valor a longo prazo, dado que entram em um ciclo de bons e maus resultados, o que acaba incentivando ainda mais os gestores a assumir riscos ainda maiores para compensar perdas anteriores. Sendo assim, para os autores Bansal e Desjardine (2014), o curto prazo se apresenta potencialmente perigoso para as organizações, se mostrando capaz de contribuir e influenciar decisões equivocadas por parte dos gestores das empresas.

Estes investimentos com retornos de curto prazo podem ser atribuídos a diferentes fatores, como, por exemplo, um comportamento míope do indivíduo e as condições em que as organizações se encontram. Diferentes autores em psicologia e economia analisam a tomada de decisão inter-temporânea do indivíduo (Frederick, Loewenstein, e O'Donoghue, 2002; O'Donoghue e Rabin, 1999), e um dos pontos convergentes destas pesquisas é que os indivíduos tendem a preferir recompensas de curto prazo mesmo que as decisões de longo prazo apresentem recompensas substancialmente maiores. A busca por resultados de curto prazo é forçada por diferentes motivos, como preocupações de carreiras dos gerentes e pressões do mercado para atender ou exceder os resultados imediatamente.

Outrossim, Souder e Shaver (2010) argumentam que organizações que tomam decisões orientadas a resultados imediatistas podem estar enfrentando restrições de caixa, por exemplo, o que torna menos provável a opção dos gestores por investir em projetos de retornos a longo prazo.

Uma das maneiras de amenizar a orientação dos gestores a investir em recompensas de curto prazo é promover incentivos de longo prazo. Quando a única preocupação destes gestores é reportar bons resultados em um curto espaço de tempo devido a diferentes preocupações a ele impostas, essa maneira de pensar o instigará a ignorar os benefícios futuros que um determinado projeto poderá trazer para a empresa e o fará considerar apenas os custos imediatos incorridos no momento de tomar sua decisão. (FLAMMER e BANSAL, 2017).

Além disso, Flamer e Bansal (2017) afirmam que também é possível resolver este problema fornecendo benefícios intertemporais aos seus gerentes, ou seja, oferecendo compensações de longo prazo, alinhando a preferência destes gestores por projetos com retornos futuros, reduzindo esta tendência de descartar valiosos projetos a longo prazo, aumentando, assim, o valor da empresa.

Com base nesta discussão, Bansal e Desjardine (2014) afirmam que é importante refletir que, apesar da importância que a sustentabilidade vem ganhando ao longo dos anos, as decisões de curto prazo estão cada vez mais presentes nas organizações. No entanto, é importante destacar que apenas resultados de curto prazo podem se mostrar perigosos tanto para a economia quanto para o meio ambiente.