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Nesta sessão, será realizada uma discussão dos principais resultados obtidos a partir da modelagem DEA.

6.1.1 Discussão Quanto à Eficiência Global

A partir de uma análise do resultado global, ou seja, uma análise que considera a avaliação conjunta de todas as DMUs, quanto aos resultados da eficiência técnica no modelo DEA-BCC daquelas DMUs ineficientes, foi encontrado um desvio padrão de 6,7%, sendo um valor relativamente baixo, o que pode refletir a homogeneidade dos métodos e práticas adotadas pelos produtores rurais da região em seus processos produtivos.

De fato, um comportamento semelhante era esperado desde as fases preliminares de validação da pesquisa com os especialistas, dado que, por exemplo, já era prevista uma adoção de quase 100% às práticas relacionadas à conservação do solo e ao plantio direto por parte dos produtores de soja, como de fato acabou se revelando no decorrer deste trabalho. Corroborando a isto, apesar de existir um leque diversificado de tecnologias, principalmente relacionadas aos insumos biológicos, os processos produtivos em si não costumam apresentar uma grande variação entre os produtores da região.

Além disso, é possível afirmar que, com uma eficiência média de 90,73%, os produtores ineficientes poderiam ter alcançado os mesmos níveis de produção (em sacas de soja) com uma utilização de aproximadamente 11% a menos de insumos do que foi utilizado na safra de soja do ano de 2016/2017.

Este valor médio da eficiência global foi considerado elevado, tendo como base o estudo dos autores Mohammadi et al (2013), que encontraram uma eficiência global na produção da soja de 81% para aqueles produtores ineficientes. Este nível de eficiência elevado pode ser atribuído a diferentes fatores, como a experiência dos produtores, que, para a amostra analisada, apresentou uma média de mais de 30 anos trabalhando e, principalmente, investindo na atividade da produção da soja. Corroborando a esta informação, conforme visto anteriormente na sessão 3.2 deste trabalho, a produção da soja no Brasil deu-se início na região próxima em que se encontram as propriedades analisadas, o que demonstra um amadurecimento e um desenvolvimento da atividade na região ao longo dos anos, o que pode impactar diretamente na qualidade dos solos utilizados para o cultivo.

Também é possível observar que 100% da amostra revelou receber assistência técnica diretamente relacionada à produção da soja, o que pode ser outra característica importante que faz com que estes produtores apresentem um elevado escore de eficiência global. Além disso, cada vez mais as informações chegam com facilidade ao produtor rural e a presença de diferentes instituições e empresas de extensão e auxilio técnico que é possível verificar na região simplifica o acesso a novos insumos e novas tecnologias aplicadas à produção da soja, tanto biológicas na forma de sementes, fertilizantes e defensivos, quanto mecânicas.

A fim de buscar explicações para uma eficiência média considerada relativamente elevada, torna-se importante novamente trazer para a discussão a produtividade média encontrada nestes produtores, que, quando comparada com os estados do Mato Grosso, Paraná e a própria média do Rio Grande do Sul, apresenta um valor de produtividade superior a estes estados, que, no Brasil, são os destaques na produção desta oleaginosa. Assim, essa produtividade elevada é capaz de nos apresentar indícios de um alto grau de eficiência destes produtores de soja.

Apesar de ser possível dissertar sobre alguns fatores que possam explicar esta média elevada da eficiência técnica encontrada na amostra, destaca-se que é imprescindível valer-se de modelos econométricos para este fim, o que permitiria apresentar resultados mais robustos que poderiam explicar com uma maior precisão os diferentes fatores que causam este escore médio elevado para a eficiência técnica. No entanto, estes modelos não foram utilizados neste trabalho, conforme verificado na sessão 4.3 da metodologia.

6.1.2 Discussão Quanto às Benchmarks

Conforme já explanado anteriormente, a partir da análise dos produtores considerados benchmarks, é possível identificar as DMUs que podem servir como exemplo a ser seguido pelas unidades ineficientes, e, assim, verificar uma relação entre as práticas gerenciais de uma empresa agrícola e uma produção de soja sustentável.

Dentre as principais práticas gerenciais capazes de impactar ambientalmente a produção da soja, é possível destacar a opção dos produtores pelo arrendamento de áreas além da sua própria terra para cultivar essa oleaginosa; a utilização da semente geneticamente modificada conhecida como “RR intacta”; os investimentos realizados em inovações mecânicas, químicas e biológicas, bem como os investimentos feitos a fim de melhorar a infraestrutura e a logística. Além disso, a utilização das práticas conservacionistas é

fundamental para que seja possível produzir alimento de uma maneira ambientalmente mais responsável.

A decisão dos produtores benchmarks por trabalhar com a semente “RR intacta” em uma grande proporção de área plantada torna-se importante pelo fato de ser a uma tecnologia que apresenta maior resistência aos principais tipos de lagartas da soja, impactando, assim, diretamente na variável relacionadas à quantidade de agroquímicos consumida, dado que a sua utilização na produção pode ser feita de uma maneira otimizada, ou seja, reduzindo a quantidade destes produtos lançadas no meio ambiente. Além disso, em se tratando da modelagem e da construção do índice de eficiência, esta opção interfere na variável que trata das horas trabalhadas por exigir uma quantidade menor de aplicação destes agroquímicos na plantação.

Com relação aos investimentos realizados em inovações mecânicas e os investimentos a fim de melhorar a infraestrutura e logística da propriedade, estes estão ligados principalmente a um melhor uso do combustível consumido na produção da soja e uma redução de gastos com manutenção, por exemplo. Já as inovações químicas e biológicas fazem relação a um uso otimizado tanto de agroquímicos quanto de fertilizantes, o que pode impactar positivamente quando se trata da busca por uma produção de soja sustentável.

Foi identificado que duas das propriedades consideradas benchmarks optaram por produzir a soja tanto em área própria quanto em área arrendada, apresentando uma proporção de quase 100% na relação “área total” vs “área total com a soja”. Assim, é importante destacar que, de acordo com as análises dos pesos, foi constatado um mal-uso da terra por uma parte significativa da amostra, o que demonstra um uso intensivo do solo para a produção da cultura da soja, enfatizando ainda mais da importância da busca por modelos produtivos da soja menos nocivos ao meio ambiente.

Neste sentido, com o objetivo de otimizar o uso da terra para a produção da soja, tem- se como referência a DMU 20, pois um dos motivos que possibilitou esta empresa a apresentar uma boa relação entre “área total” vs “área total cultivada com a soja”, é o fato de que esta DMU vem buscando, ao longo dos anos, uma excelência na prática da rotação de culturas. Esta técnica é aplicada tal como é recomendada por especialistas, respeitando as devidas proporções de culturas plantadas e realizando a rotação de uma maneira correta, o que indica uma razoável restrição no uso da terra para o plantio da soja, fazendo rotação com outras culturas como milho, trigo (inverno) e a aveia branca e preta. Este fenômeno não ocorreu na DMU 08 e DMU 11, que optaram por não plantar o milho safrinha no ciclo de rotação, por exemplo.

Com relação à conservação dos solos, foi identificado que são realizadas correções de solo de ano em ano para a DMU 20, a cada dois anos na DMU 08 e de quatro em quatro anos na DMU 11. Essas correções buscam cobrir toda a necessidade de área apontada pelos especialistas técnicos, fato que pode estar diretamente ligado à variável relacionada ao uso de fertilizantes, tendo em vista que, se realizadas as devidas correções periodicamente, evita-se a erosão e mantêm-se a qualidade dos solos, consequentemente, necessitando uma menor quantidade de insumos destinado a este fim.

Por fim, a utilização do manejo integrado de pragas, conforme visto anteriormente, é capaz de reduzir a quantidade de agroquímicos e número de horas empregadas na produção da soja. Com relação a outra prática de manejo de solo, o Sistema Plantio Direto é adotado em 100% da área plantada com a soja nas três propriedades.

Esta descrição do perfil dos produtores de soja considerados eficientes pode ser uma maneira interessante de identificar as principais práticas capazes de impulsionar aqueles ineficientes a atingir os melhores resultados possíveis, ou, a se tornarem tecnicamente eficientes e, ao mesmo tempo, ambientalmente responsáveis.

6.1.3 Discussão de Alvos e Folgas

A partir das inferências possibilitadas através da análise do modelo DEA, principalmente no tocante aos alvos e folgas, o produtor rural pode verificar nas suas práticas de gestão quais delas estão interferindo no seu processo produtivo e identificar quais os gargalos que estão prejudicando seus resultados, tanto técnicos quanto ambientais e, assim, encontrar uma melhor lucidez no caminho até a promoção da sua eficiência.

Para ilustrar este pensamento, através dos resultados dos alvos e folgas do modelo utilizado para avaliar a eficiência dos produtores de soja, verifica-se que existe uma má utilização nas principais variáveis que podem impactar no meio ambiente. Neste sentido, é possível inferir a possibilidade de manter o nível de produção de soja atual, utilizando 16.865,71 L de agroquímicos a menos, o que significa uma redução de 27,00% do uso deste produto que pode ser considerado como um dos principais vilões quando se fala de sustentabilidade na agricultura. Além deste insumo, foi verificada a possibilidade de redução em 31.599,36 L no consumo de combustível, o que representa uma redução de 19% a menos do que foi consumido, bem como a redução de 15,43% nos fertilizantes aplicados no solo, significando 473.173,31 kg a menos deste produto apenas na safra da soja referente a 2016/2017.

Conforme já discutido ao longo deste trabalho, através de análises como esta, é possível identificar qual o nível que cada variável no processo deve chegar para se obter melhores resultados e, além disso, com base em práticas realizadas pelos seus benchmarks, cada produtor pode se espelhar e encontrar melhores formas de se tornar mais eficientes.

Também é importante enfatizar o fato de que pode existir a possibilidade de o produtor não alcançar os alvos que lhe são atribuídos, seja por não ser possível controlar alguma variável, ou por questões financeiras, por exemplo. Assim, conforme indica Gomes et al. (2005, e Gomes (2003), uma busca por alvos intermediários mais próximos a sua realidade e do seu contexto pode ser uma opção interessante ao produtor. Estes alvos são valores que podem ser perseguidos pelos produtores ao longo do tempo, sendo que, muitas vezes, são necessárias ações que podem demorar alguns anos para estarem em um nível ideal de resultados, como o uso de práticas de correção do solo, por exemplo. Ademais, estes resultados podem servir como indicadores aos produtores para investigar etapas específicas do seu processo de produção que podem ser ajustados e otimizados.