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Decreto-Lei n.º 67/97, de 3 de abril Regime Jurídico das Sociedades Desportivas

Capítulo I. Políticas Públicas Desportivas Intervenção do Estado no Profissionalismo do

3. Legislação Desportiva Portuguesa

3.4 Decreto-Lei n.º 67/97, de 3 de abril Regime Jurídico das Sociedades Desportivas

O início da discussão sobre o Regime jurídico das Sociedades Desportivas inicia-se com a proposta de revisão da LBSD na proposta de lei nº 12/VII62, que segundo José Manuel Meirim deu o mote para as sociedades desportivas e colocava em causa o artigo 20º da Lei de Bases63.

Este Regime Jurídico surge da necessidade de conceder às sociedades desportivas “os instrumentos necessários para que venham a constituir, no futuro, um importante elemento dinamizador do desporto profissional em Portugal” 64

. Com este novo Regime Jurídico o Estado reconhecia às Sociedades Desportivas as mesmas regras atribuídas às Sociedades anónimas, ainda que com particularidades contextualizadas com a área do Desporto: “capital

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“Só podem celebrar contratos de trabalho desportivo os menores que hajam completado 16 anos de idade e que reúnam os requisitos exigidos pela lei geral do trabalho”.

61 “Podem ser contratados como formandos os jovens que, cumulativamente, tenham: a) Cumprido a escolaridade obrigatória;

b) Idade compreendida entre 14 e 18 anos.” 62

Diário da Assembleia da República, II Série-A, nº 25, de 29 de fevereiro de 1996. 63

Meirim, J. M. (1999). Regime Jurídico das Sociedades Desportivas- anotado. Coimbra Editora, p.27 64

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social mínimo e à sua forma de realização; ao sistema especial de fidelização da sociedade ao clube desportivo fundador, através, designadamente, da atribuição de direitos especiais às acções tituladas pelo clube fundador, a possibilidade de as Regiões Autónomas, os municípios e as associações de municípios poderem subscrever até 50% do capital das sociedades sediadas na sua área de jurisdição; e o estabelecimento de regras especiais para a transmissão do património do clube fundador para a sociedade desportiva”.

Visto que a Lei previa a possibilidade dos clubes associados a uma Liga Profissional não adoptarem o regime de Sociedades Desportivas, era necessário encontrar outra solução que colocasse estas equipas em regime de igualdade, assegurando a transparência e rigor na gestão. Sublinham-se as seguintes obrigações para este regime alternativo: “o princípio da responsabilização pessoal dos executivos dos clubes por certos actos de gestão efectuados, a exigência de transparência contabilística, através da certificação das contas por um revisor oficial; a adopção obrigatória do plano oficial de contabilidade; e a prestação de garantias bancárias ou seguros de caução que respondam pelos actos praticados em prejuízo daqueles clubes”.

São realçados de seguida os artigos mais importantes do DL nº 67/97, começando desde logo pelo artigo 2º que definia Sociedade Desportiva como a “pessoa colectiva de direito privado, constituída sob a forma de sociedade anónima, cujo objecto é a participação numa modalidade, em competições desportivas de carácter profissional, salvo no caso das sociedades constituídas ao abrigo do artigo 10.º, a promoção e organização de espectáculos desportivos e o fomento ou desenvolvimento de actividades relacionadas com a prática desportiva profissionalizada dessa modalidade”65. A sua classificação era definida no artigo seguinte do mesmo capítulo, podendo estas sociedades resultar de três caminhos distintos:

a) “Da transformação de um clube desportivo que participe, ou pretenda participar, em competições desportivas profissionais;”

b) “Da personalização jurídica das equipas que participem, ou pretendam participar, em competições desportivas profissionais;”

c) “Da criação de raiz, que não resulte da transformação de clube desportivo ou da personalização jurídica de equipas.”

Tanto a LCB como a LPFP, como instituições interessadas, fizeram algumas propostas ao respetivo DL. A LPFP produziu um conjunto de sugestões no inicio do “processo de ratificação na Assembleia da República” e a LCB teceu “alguns comentários críticos” ao

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estudo efetuado66. A LCB começa por sugerir a possibilidade de criar de raiz sociedades desportivas de forma a potenciar o “aparecimento de projectos de autónomos em relação aos clubes desportivos, constituídas, por exemplo, a partir de empresas, as quais criariam as respetivas equipas profissionais ex novo”67. Quando um clube adopta o regime de sociedade desportiva não poderá voltar a participar numa competição de cariz profissional sem ser através deste estatuto68.

A Portugal Telecom é o melhor exemplo desta sugestão, com uma empresa a criar de raiz uma equipa, com escalões de formação, para participar na Liga Profissional. A LCB propõe ainda a criação de sociedades desportivas fora das competições profissionais, de forma a que seja favorecido e potenciado o surgimento de novos projetos com este tipo de organização em divisões inferiores. Esta proposta acabou, no DL em análise, por ficar limitada ao futebol e ao Basquetebol.

A LPFP faz diversos apontamentos ao DL, embora já depois deste ser aprovado, sendo que Meirim69 destaca os seguintes pontos:

 “Impossibilidade jurídico-prática da transformação de um clube em sociedade

anónima desportiva;”

 “Desacordo com a “irreversibilidade” presente no artigo 4º;”

 “Sugestão de alteração do capital social mínimo das sociedades que participem em escalões inferiores;”

 “Proposta de criação, para a generalidade dos accionistas, de limites de participação no capital social de sociedades com idêntica natureza, por forma a evitar a possibilidade de investimentos cruzados susceptíveis de colocarem em causa ou alterarem a verdade desportiva;”

 “Concordância com o limite mínimo, e entendimento que a participação direta do clube fundador não deveria ter limites máximos.”

Em relação às competições profissionais de Basquetebol foi definido o valor do capital social mínimo para as sociedades desportivas no artigo 8º, que era de 50 000 000$ (aproximadamente 250 400€).

Este DL reconhecia a possibilidade da “constituição das sociedades desportivas fora do âmbito das competições profissionais”70, tal como tinha sido sugerido pela LCB ainda

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Meirim, J. M. (1999). Regime Jurídico das Sociedades Desportivas- anotado. Coimbra Editora, p.33 67

Idem. 68

Decreto-Lei nº 67/97, de 3 de abril. Capítulo I, artigo 4º 69

Meirim, J. M. (1999). Regime Jurídico das Sociedades Desportivas- anotado. Coimbra Editora, p.34-35 70

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antes da redação da primeira versão. O valor do capital social mínimo destas sociedades fixava-se no mesmo valor que estava definido para o Basquetebol, 50 000 000$.

Outro ponto importante para a Liga Profissional de Basquetebol estava o artigo 26º, onde era definido a percentagem de participação das regiões autónomas e municípios no capital social das sociedades desportivas. Segundo este DL, essa mesma participação nunca poderia exceder os 50%.

Ainda referente ao Capítulo I, eram definidos diversos pontos sobre este tema como são disso exemplo a realização do capital Social, ações, Admnistração da sociedade, incompatibilidades, Registo e Publicidade, aumento de capital, destino do património em caso de extinção, regime fiscal, exercício económico.

Os outros cinco capítulos deste regime jurídico dedicavam-se, respetivamente, às “Sociedades constituídas a partir da transformação de um clube desportivo e sociedades que resultem da personalização jurídica das equipas. Disposições comuns”, “Sociedades que resultem da personalização jurídica das equipas. Disposições particulares”, “Do regime especial de gestão”, e “Disposições finais e transitórias”.

No capítulo II, artigo 29º, estão definidas as “relações com a Federação Desportiva”: 1. “Nas relações com a federação que, relativamente à modalidade desportiva em causa,

beneficie do estatuto de utilidade pública desportiva, e no âmbito da competição desportiva profissional, a sociedade desportiva, quando constituída nos termos das alíneas a) e b) do artigo 3.º, representa ou sucede ao clube que lhe deu origem.

2. Nos 30 dias subsequentes à sua aprovação pelos órgãos sociais competentes, a sociedade desportiva deve remeter as suas contas à federação referida no número anterior.

3. As relações da sociedade desportiva com a federação referida no n.º 1 processam-se através da respectiva liga profissional de clubes.”

Devem-se ainda sublinhar dois últimos artigos, o 40º e 41º, pertencentes ao capítulo IV. O 40º artigo definia as garantias que tinham de ser dadas pelos clubes às respetivas Ligas Profissionais no principio a época desportiva:

1. “Até ao início da ceda época desportiva, a direcção dos clubes desportivos referidos no artigo 37.º deve apresentar à respectiva liga profissional de clubes uma garantia bancária, seguro de caução ou outra garantia equivalente que cubra a respectiva responsabilidade perante aqueles clubes, nos mesmos termos em que os administradores respondem perante as sociedades anónimas;”

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2. O montante da garantia é fixado pela liga profissional de clubes, não podendo ser inferior a 10% do orçamento do departamento profissional do clube.”

O artigo seguinte realçava o papel do Revisor Oficial de Contas:

1. “O balanço e demais contas dos clubes desportivos referidos no artigo 37.º, não podem ser aprovados pelas respectivas assembleias gerais sem terem sido sujeitos a prévio parecer de um revisor oficial de contas ou de uma sociedade revisora de contas.” 2. “Ao revisor oficial de contas é aplicável, com as necessárias adaptações, o disposto no

artigo 446.º do Código das Sociedades Comerciais.”

3. “O parecer deve ser obrigatoriamente difundido entre os sócios ou associações do clube antes da realização da assembleia geral destinada a apreciar as referidas contas.” Manuel Castelbranco, o diretor executivo da Liga, defendia que o basquetebol não sentiu dificuldades em adoptar este novo regime jurídico porque a LCB já pedia aos seus associados muitos dos pressupostos que estavam dispostos no RJSD71. José Manuel Meirim também elogia a LCB na aplicação do DL, destacando a linearidade com que o Basquetebol encarou e aplicou este processo, para além de ter sempre respeitado, “na sua globalidade, as indicações legais"72.

3.5 Decreto-Lei n.º 303/99 de 6 de Agosto- Regime jurídico do reconhecimento do