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3.5 Período da Aproximação da Gestão do BPC pela Assistência Social e sua Inserção no SUAS (2004 a

3.5.1 Decreto 6.214/ 2007

O novo Decreto adequou-se às atribuições, conceitos e critérios contidos na MP nº 1.473-34, de 08/08/97 – convertida na Lei 9.720, de 30/11/98 ─ e no Estatuto do Idoso – Lei 10.741. Ele adotou o (i) conceito de família, como sendo o mesmo do regime geral da Previdência Social e (ii) a atribuição do Laudo-médico para comprovação da deficiência a cargo do INSS da Lei 9,720/1988. O decreto, também, inseriu o critério de acúmulo contido no Estatuto do Idoso, reiterando que o benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos não será computado no cálculo da renda familiar per capita.

3.5.1.1 CONCEITOS

O Decreto 6.214/2007 inseriu um novo conceito: pessoa portadora de deficiência. No Decreto 1.744/95, ao se avaliar a pessoa com deficiência, não se levava em conta “as condições objetivas de trabalho e de equipamentos urbanos em um determinado município” (MACIEL, 2005, p.47). A pessoa com deficiência era aquela “incapacitada para a vida independente e para o trabalho em razão de anomalias ou lesões irreversíveis de natureza hereditária congênitas ou adquiridas, que impeçam o desempenho das atividades da vida diária e do trabalho” (BRASIL, 1995). Já o Decreto 6.214/2007 mudou para “aquela cuja deficiência a incapacita para a vida independente e para o trabalho” retornando-se ao conceito contido na LOAS, de 1993.

Ele também define a incapacidade como um “fenômeno multidimensional que abrange limitação do desempenho de atividade e restrição da participação,

com redução efetiva e acentuada da capacidade de inclusão social, em correspondência à interação entre a pessoa com deficiência e seu ambiente físico e social” (BRASIL, 2007, p. 2). A avaliação de deficiência e do grau de incapacidade, terá como base os “princípios da Classificação Internacional de Funcionalidades, Incapacidade e Saúde – CIF, estabelecida pela Resolução da Organização Mundial da Saúde número 5.421, aprovada pela 54ª Assembléia Mundial da Saúde, em 22 de maio de 2001” (BRASIL, 2007, p. 5).

As disposições do decreto atual acerca da pessoa com deficiência se tornam menos restritivas, uma vez que adotam um paradigma biopsicossocial de saúde, considerando a deficiência não apenas como um atributo da pessoa, mas uma consequência de um conjunto de situações, muitas dessas criadas pelo próprio ambiente social (MDS, 2006a).

3.5.1.2 CRITÉRIOS

O Decreto inseriu três novos critérios de acesso que ampliaram o acesso do direito e alterou um.

O primeiro critério é que a cessação do BPC da PCD por motivo de ingresso no mercado de trabalho não impede nova reabilitação. (BRASIL, 2007).

O segundo é a dispensa de avaliação para incapacidade para o trabalho de crianças e adolescentes com deficiência. Acresce-se que o novo decreto estabelece que a avaliação quanto à deficiência deve ser realizada sobre o “impacto na limitação do desempenho de atividade e a restrição da participação social”.

A inserção destes dois novos dispositivos afirma o caráter multidimensional da deficiência (MDS, 2006a), dando segurança à pessoa com deficiência a um novo requerimento do benefício quando em situação de pobreza. Ele, também, adequa-se ao Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).

O terceiro refere-se às pessoas em situação de vida nas ruas. Estas, no decreto anterior, estavam impedidas de acessar o direito pela ausência de endereço. O novo decreto inclui esse segmento no direito assistencial.

O critério alterado foi o de acúmulo do benefício. Ele retira a restrição do BPC não poder ser acumulado com qualquer outro benefício no âmbito da

seguridade social, conforme estava previsto na LOAS (1993) permitindo que ele seja acumulado ao benefício auxílio doença da Saúde. Compreendemos que, apesar do novo decreto restringir o acesso dos segurados da previdência que têm uma renda per capita familiar inferior a um ¼ de salário mínimo, demonstra uma extensão do direito.

3.5.1.3 ATRIBUIÇÕES

Tal decreto retira do INSS a atribuição de Expedição de instruções, formulários e modelos de documentos necessários à operacionalização do beneficio prevista no Decreto 1.744/1995. Ele estabelece que o INSS deve (i) submeter à apreciação prévia do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome quaisquer atos em matéria de regulação e procedimentos técnicos e administrativos que repercutam no reconhecimento do direito ao acesso, manutenção e pagamento do Benefício de Prestação Continuada e; (ii) instituir, em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, formulários e modelos de documentos necessários à operacionalização do Benefício de Prestação Continuada.

Os novos dispositivos inseridos no Decreto 6.214/2007, que atribuem competências à seguridade social não-contributiva, buscam corrigir a trajetória de distanciamento do BPC em relação à gestão da assistência social, inserindo-o no âmbito do SUAS em conformidade com a PNAS/2004. São eles: avaliação, monitoramento e coordenação-geral; integração do BPC à Proteção Social Básica do SUAS; ação integrada dos três níveis de governo para o atendimento aos usuários e; regulação e instrução de formulários e modelos de documentos. Tratam-se de dispositivos normativos que responsabilizam e instrumentalizam o MDS para assumir de vez a condução do direito ao BPC.

Entretanto, o estudo demonstra que a operacionalização do benefício permanece com o INSS. Entendemos que isto: transgride a LOAS quanto à determinação do órgão gestor da assistência social ser o operacionalizador do benefício podendo contar com concurso de outros órgãos. Pois contar com o concurso (apoio) não é operacionalizar. Compreendemos que este dispositivo não só fere a LOAS, como distancia o direito da lógica não-contributiva da seguridade

social uma vez que a racionalidade instrumental presente no espaço social do INSS tende a manter o direito, a partir do paradigma da lógica contributiva da previdência. Esta decisão (i) fere a LOAS que determina que o órgão federal gestor da assistência social deverá operar o BPC e (ii) tende a repetir o ancoramento institucional da lógica contributiva da seguridade social sobre o direito.

Mas, por outro lado, o decreto traz duas novas atribuições que são inovadas e que, se implantadas em sua universalidade, podem mudar os rumos desse direito. Trata-se da inclusão de duas atribuições para a seguridade social não-contributiva. Uma, é o acompanhamento do usuário de sua família, a outra é a inserção dos usuários e suas famílias na rede socioassistenciais de forma articulada com as demais políticas setoriais. Pela relevância dessas atribuições, estas serão tratadas no capítulo a seguir.