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2 ESTADO FISCAL E A ORDEM ECONÔMICA

2.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ORDEM ECONÔMICA NA

2.3.4 Defesa do Consumidor

O Princípio da Defesa do Consumidor é de grande relevância e representa um importante mecanismo de cidadania, pois assegura e garante que nas relações de consumo, a atividade econômica deva preservar a parte hipossuficiente, neste caso, o consumidor, das imposições das grandes empresas que dominam o mercado financeiro no País. Dessa forma, cabe ao Estado criar e editar leis específicas e eficazes em favor dos consumidores e ao mesmo tempo os agentes econômicos devem se adequar a estas mudanças, seguindo os princípios e cumprindo a força normativa imposta pelo Estado.

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Como com a globalização houve a quebra de barreiras comerciais e o consequente crescimento das relações de consumo, surge a necessidade de se aperfeiçoar a legislação no tocante às relações contratuais. No Brasil, o alicerce legal de proteção ao consumidor instituído como princípio da ordem econômica tem previsão na Magna Carta que agregou em seu ordenamento normas e orientações do direito público moderno, consolidada nos Artigos.

5º, inciso XXXII78, e no Artigo170, inciso V que também faz enfoque sobre a defesa do

consumidor.

Em nossa realidade, embora sejam constantes as violações cometidas contra os consumidores por meio dos fornecedores, essas violações fizeram a sociedade mais exigente quanto ao emaranhado normativo, destacando-se ações contra o abuso do poder econômico.

Carvalho79 mostra a finalidade da repressão ao abuso do poder econômico,

afirmando que seu objetivo maior é conter os abusos que são observados através da superioridade de mercados, eliminação da concorrência e o aumento arbitrário do lucro.

A eliminação da concorrência no aspecto da proteção do consumidor traduz-se na ação do Estado fechando um estabelecimento, impedindo a continuidade de uma atividade econômica, favorecendo os que permaneceram no mercado, contudo, lesionando o consumidor que é obrigado a conviver com as ofertas do mercado.

Para a defesa do consumidor, importante instrumento normativo foi proporcionado com a instituição da Lei n° 8087 de 1990 que criou o Código de Defesa do Consumidor. Por meio deste relevante instrumento normativo, o Estado demonstrou a necessidade de ampliação e regulação dos direitos exigidos pelos consumidores e por toda a sociedade.

Filomeno80 orienta que o direito do consumidor é composto de um conjunto de

normas, instrumentos e regras que objetivam proporcionar a proteção e defesa do consumidor ante o mercado econômico, visando, precipuamente, à proteção e defesa dos consumidores.

O maior objetivo do Código de Defesa do Consumidor é o de fomentar um maior equilíbrio, regulando estas relações entre os atores econômicos envolvidos, privilegiando-se, dessa forma, a vulnerabilidade dos consumidores, na qual são oferecidos diversos instrumentos de proteção que visam a dar eficácia às violações provocadas pelos fornecedores, sejam de produtos ou serviços. Dessa forma, a consolidação da proteção e defesa do consumidor como princípio constitucional, alicerça-se na igualdade entre as

78 Art. 5º, inciso XXXII CF: O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. 79 (CARVALHO, 1994, p 16-43).

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pessoas, muito embora seja o consumidor a parte hipossuficiente, à medida que o referido princípio visa, precipuamente, a conter os abusos provenientes de ordem econômica, através do apoio e suporte por parte do Estado.

O consumidor foi tratado pela Constituição de 1988 como um dos elos da economia de mercado. Com isso surgiu para o Estado a responsabilidade pela proteção do consumidor

como forma de preservar e garantir a livre concorrência81.

O Princípio de defesa do Consumidor trouxe a possibilidade de responsabilizar

aquele que cause dano ao consumidor, previsão esta contida no Artigo 24, VIII da CF82.

Entende-se que um dos pressupostos da defesa do consumidor passa pela necessidade de alavancagem do consumo, responsável direto pelo aumento da produção que por conseqüência reflete no desenvolvimento econômico do Estado.

Apesar da sua importância no contexto econômico, apenas Portugal e Espanha incluíram dispositivos de proteção ao consumidor em seus textos constitucionais. Diferentemente do Brasil, a defesa do consumidor é princípio constante na parte da ordem econômica, como também, no Art. 5º da CF/88.

Atrelado à proteção do consumidor, de forma paradoxal, encontra-se o princípio da liberdade que assegura ao indivíduo a permissão para realizar tudo o que não esteja proibido

por lei. Para Ferreira de Almeida,83 esse princípio "é um instrumento pragmático a serviço da

circulação das mercadorias e da acumulação do capital". Assim, o consumo é responsável pelas políticas intervencionistas do Estado com o objetivo de fomentar o crescimento econômico.

O princípio da liberdade congrega, nas relações de consumo, duas forças que atuam

em sentidos opostos. Tavares84 coloca como sendo a força empresarial, calcada no princípio

da liberdade de iniciativa, produção e concorrência, atuando de um lado, e, de outro, atuando a liberdade do consumidor, ambas as forças devendo se congregar de forma harmônica, sem que uma possa sobrepor-se à outra.

O uso das sanções pelo Estado, cancelando inscrição de estabelecimento empresarial, cerceando o direito de liberdade de exercício de atividade econômica e violando os princípios

81 (FONSECA, 2005, p. 127)

82A Constituição Federal em seu Art. 24, trouxe de forma expressa a competência concorrente do Estado no âmbito de proteção do consumidor: Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

83 (ALMEIDA, 1982, p. 212). 84

da ordem econômica, possibilitam aos grupos econômicos, que se formaram sob as diretrizes do capitalismo, "busca de lucros", favorecidos pela retirada do concorrente do mercado, causar danos aos consumidores e a sociedade, em geral, pela prática abusiva dos mecanismos concorrenciais através do uso dos meios de produção.

Hoje, toda ação do Estado que resulte em constrangimento ao contribuinte tem sido repudiada pelo poder judiciário, como pode ser visto no Recurso Extraordinário 666.405 oriundo do Rio Grande do Sul, que faz referência às imposições, pela autoridade fiscal, de restrições de índole punitiva. Quando motivada tal limitação pela mera inadimplência do

contribuinte, revela-se contrária às liberdades públicas ora referidas.85

A liberdade de ir e vir deve ser traduzida como a liberdade de se realizar algo que seja capaz de conduzir os caminhos de uma sociedade ou mesmo, de parte dela. Quando se aborda o princípio da ordem econômica em defesa do consumidor, adentra-se na discussão dos limites de proteção assegurados a estes pelo Estado e percebe-se que, quando a ação do Estado intervém na ordem econômica, por meio de sanções políticas, alterando o mercado concorrencial, esse consumidor deve ser amparado dos efeitos nocivos ocasionados pela intervenção.

Demonstra-se, com isso, a relevância da análise dos mecanismos de defesa do consumidor em harmonia com as ações intervencionistas do Estado. Compreende-se que incentivos ao consumo, proteção ao hipossuficiente na relação de consumo, garantias de direitos nas relações de consumo e a inobservância dos reflexos das intervenções no mercado concorrencial, ocasionam a prática de preços abusivos e causam danos ao consumidor.