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2 ESTADO FISCAL E A ORDEM ECONÔMICA

4.1 VIOLAÇÕES AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E TRIBUTÁRIOS

4.1.4 Princípio da Razoabilidade

A expressão razoabilidade tem significados diversos que são trazidos pelos

dicionários da língua portuguesa para demonstrar o seu sentido de ponderação, sensatez. O

dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira197 elenca cinco significados para

Razoabilidade: "a) conforme a razão, racionável; b) moderado, comedido - como um preço razoável; c) acima de medíocre, aceitável, regular - uma atuação razoável; d) justo, legítimo - uma queixa razoável - e, e) ponderado, sensato".

Houaiss198 descreve seis acepções para esse adjetivo: "a) logicamente plausível;

racionável, como uma dedução; b) o aceitável pela razão; racional, quando, por exemplo, consideram-se as exigências feitas; c) que age de forma racional, que tem bom senso; sensato, como uma pessoa razoável; d) o que é justo e compreensível por se basear em razões sólidas, como um julgamento, uma decisão razoáveis; e) não excessivo; moderado, módico, como os preços assim reputados; e f) que é bom, mas não excelente; aceitável, suficiente, bastante, como um vinho de qualidade razoável, um salário razoável".

A razoabilidade para os americanos resume-se em tudo que qualifica quanto seja conforme a razão, denotando um sentido amplo, designando atividade de raciocínio ou dedução lógica de uma verdade necessária. Traduz-se também, no poder do intelecto de formular conceitos e estabelecer relações lógicas de modo a deduzir uma conclusão correta de uma premissa dada ou de fazer um julgamento objetivamente válido a respeito de fenômenos empíricos. Do termo, pode-se ter uma ideia de adequação, aceitabilidade, logicidade, traduzindo aquilo que não é absurdo e sim o que é admissível. Ainda se concebe o sentido de bom senso, prudência e moderação. A razoabilidade age como legitimadora dos fins que o

197 (FERREIRA, 2001, p. 89). 198

legislador escolher para o seu agir diante de casos concretos. Assim, ser razoável é respeitar os limites do poder que lhe são atribuídos pela legislação, com o fim de não ferir direitos constitucionais do indivíduo.

O princípio da razoabilidade nos dizeres de Machado199 "é uma diretriz da razão

humana" preconizando uma interpretação das leis conducente a soluções racionais. Diante de duas ou mais soluções para um caso concreto, o intérprete se utilizará da razoabilidade na busca da solução possível em face da lei que se mostre mais racional.

Cintra e Pontes, ao citar Perelman200, fazem referência à razoabilidade como sendo

um limite ao formalismo jurídico, permitindo a busca de soluções mais aceitáveis diante de normas legais que indicam soluções iníquas. Seguem os autores definindo razoabilidade como

sendo nada mais do que um apelo à prudência do homem comum e, seguindo a ideia de

Aristóteles, do justo como adequado. Assim, razoabilidade pode ser entendida como a busca do ponto intermediário entre dois extremos.

Na concepção aristotélica de razoabilidade, Machado201 considera ser este um

princípio que busca a realização da justiça, estando expressamente autorizado pela Constituição ao se ler o objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, que preconiza em primeiro lugar, construir uma sociedade livre, justa e solidária.

O agente administrativo dotado de poder de polícia perde o senso de razoabilidade, quando diante de uma situação a qual uma pessoa está infringindo a lei, ele simplesmente aborda os demais presentes, em detrimento das ações praticadas por um só. Nessa situação, fica claro que para o abuso ser razoável é necessário ponderar nas atitudes que irá tomar

diante do poder que lhe é atribuído.

Nem sempre, a utilização do termo razoabilidade expressará o sentido técnico que se busca apresentar. Muitas vezes, quando se trata de razoabilidade, pensa-se logo em se agir com moderação, mas dentro da aplicação da norma pelo julgador, se está diante de situação que permita tal interpretação, logo aquele que detém o poder de julgar deve ser razoável na hora de aplicar a pena, em função da gravidade dos atos cometidos, correndo o risco de se não observar os princípios, ser injusto.

O chamado Princípio da Razoabilidade, consagrado nas decisões da Suprema Corte norte-americana, tem origem no desenvolvimento de uma noção substitutiva da cláusula do

199 (MACHADO, 2004, p.155). 200 (CINTRA E PONTES, 2001, p. 65). 201

devido processo legal em contraste com uma noção originária meramente processual. A cláusula do devido processo legal garante procedimentos justos e equilibrados a serem

observados na solução de conflitos de interesses ou outros casos postos à decisão judicial.202

No Brasil, não se encontra expresso na Constituição o Princípio da Razoabilidade, mas se sabe que ele se encontra implícito no texto da Carta Magna, servindo de sopesador das decisões pelo intérprete da norma no momento de aplicar a Lei.

O Supremo Tribunal Federal tem feito uso do Princípio da Razoabilidade quando da decisão em processo de liminar no indeferimento dos mesmos ou em recursos, querendo expressar a exigência de que a causa do pedido ou do próprio recurso esteja articulada com o fim pleiteado, em uma relação lógica e em harmonia com a ordem jurídica vigente. Na utilização do mesmo, o Ministro Marco Aurélio referiu-se ao princípio como exigência de racionalidade, atributo que deve ter toda argumentação técnica.

Percebe-se, no ordenamento ficto, princípios moderadores utilizados no julgamento de lides diversos. Nesses casos, o princípio da razoabilidade serve de diretriz de senso comum, ou mais exatamente, de bom-senso do julgador, no campo do Direito, onde se faz necessário esse bom-senso jurídico, à medida que as exigências formais que decorrem do Princípio da Legalidade tendem a reforçar mais o texto das normas, a palavra da lei, que o seu espírito. O Princípio da Razoabilidade, instrumento de busca da realização da justiça, tem seu uso expressamente resguardado na própria Constituição Federal de 1988, quando o texto constitucional elegeu como um objetivo fundamental da Republica Federativa do Brasil, no

seu Art. 3º , I, construir uma sociedade livre, justa e solidária203.

A razoabilidade refere-se a uma propriedade mais ligada à prudência individual, no contexto da ação humana, capaz de ser avaliada em determinado contexto que leve em conta uma relação entre o ato praticado e os valores que motivaram a realização do ato, a fim de se proceder à verificação teleológica do sistema como um todo, a partir dos valores

constitucionalmente erigidos em sua relação dialética204 com o sistema social.

Concebe-se por todo o contexto que a razoabilidade exige que as medidas estatais sejam racionalmente aceitáveis e não arbitrárias, a fim de não vir a causar danos ao contribuinte e à sociedade, como assevera os Ministros do STF, quando reconheceram a

202

(BARROS e BARROS, 2004).

203 Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária.

Constituição Federal de 1988, Art. 3°, Inciso I. 204

inconstitucionalidade de alguns atos da Administração Fiscal que resultaram no fechamento de algumas empresas pela impossibilidade de continuidade de suas atividades, mediante o poder de polícia do Estado, impondo sanções políticas.