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1.3.1 Defesa da ascendência de Nuno Álvares Pereira

Forjaz, segue o mesmo método de Chianca  começa por apresentar pormenorizadamente os ascendentes de Nuno Álvares, defendendo-os de todas as acusações de Dantas e glorificando a linhagem, e finaliza com a defesa do próprio

Nuno Álvares  introduzindo novos pormenores e corrigindo algumas falhas ou imprecisões detectadas no texto do seu antecessor.

O presente estudo debruçar-se-á apenas sobre as nuances novas introduzidas por Forjaz no seu contra-libelo, relativamente à defesa feita por Chianca, de modo a que o trabalho não se torne desnecessariamente repetitivo e extenso.

Forjaz, no seu pormenorizado estudo da ascendência de Nuno Álvares, analisa a vida de dezoito antecessores do herói medieval: seis mencionados por Dantas, seis outros adicionados por Chianca e seis introduzidos pelo autor23. Comecemos por estes seis últimos, que são pela primeira vez, nesta Questão, abordados pelo autor em estudo e cuja caracterização também contribui para a caracterização do potencial que corria nas veias das linhagem, cuja excelência foi herdada por Nuno Álvares24.

Ascendentes Qualidades que contaminaram a linhagem

23 Essa soma foi feita contando com os imperadores Máximo, Valentiniano e Constantino Magno

como um só, pois eles são apresentados como um conjunto que legou à descendência símbolos de poder.

24 Só serão mencionados os filhos segundos ou terceiros quando, sobre eles, são descritos pelo autor

pormenores significativos e que convirjam para o objectivo da obra: apresentar características que tenham contaminado Nuno Álvares. Quanto às filhas dos avós de Nuno Álvares, uma vez que pouco sobre elas é referido, apenas que se casaram ou foram para conventos, não serão aqui referidas. Serão apresentados aqui os 11º e 10º avôs de Nuno Álvares, pois, embora Rui Chianca os mencionasse na sua obra, sobre eles não apresentou qualquer característica, logo, quem contribuiu para o conhecimento destes homens foi Augusto Forjaz.

- imperadores Maximo,

Valentiniano e Constantino Magno.

- legaram o moto: “Non nos a sanguine regum

venimus,/ ad nostre veniunt a sanguine reges”; (nota 1, p. 20)

- Constantino Magno legou as armas:“em campo verde, uma Cruz de prata florida, vazia do campo” e o timbre: “uma Cruz vermelha, entre duas azas de oiro” (nota 2, p. 20)

Dom Forjás Mendo (11º avô de Nuno Álvares)

- tinha a confiança do rei leonês (p. 21-22) - alargou “os Estados por successivas victorias sobre os sarracenos” (p. 22)

Resumindo, a partir desta apresentação podemos verificar que estes ascendentes de Nuno Álvares eram de confiança, vitoriosos, esforçados, dedicados ao rei, notáveis e grandes cavaleiros.

Passemos então à defesa directa das acusações feitas por Dantas a seis ascendentes de Nuno Álvares. Serão apresentados, apenas, os pormenores que são inéditos, em relação ao que Chianca já havia dito, pelo que a análise será breve.

Relativamente a D. Gonçalo Rodrigues Forjás, quinto avô de Nuno Álvares, o autor contribui para uma melhor caracterização desta personagem, mencionando o seu

“odio pelo castelhano arrogante e vaidoso” (p. 34)

que viria, posteriormente, e felizmente, a ser herdado por Nuno Álvares, que nas suas primeiras investidas sobre os castelhanos

“lá trazia tambem manifestando-se identico ódio, aliás bemdito, porque, emquanto durou, só bons fructos houve por bem conceder-nos” (p. 34).

- D. Vermuy Forjás (10º avô de Nuno Álvares)

- “mereceu elogios a não poucos historiadores [...] [por] não ter sido figura apagada naquellas epocas de continuas luctas” (p. 22)

- D. Vermuy Forjás (2º filho do

8º avô de Nuno Álvares) - “esforçado cavaleiro” (p. 26) - morreu cedo na “celebre victoria de Agua de Maias, alcançada por seu irmão mais velho” (pp. 26-27) - D. Pedro Forjás (3º filho do 8º avô

de Nuno Álvares) - “dedicado ao rei, acompanhando-o nas vissicitudes das guerras, vindo a morrer, crivado de golpes, em 1071, na rija batalha dos campos de Santarem” (p. 27)

- D. Ruy Gonçalves Pereira (um filho

do bisavô de Nuno Álvares) - “notavel” (p. 44) - “grande cavalleiro, de muita fazenda e fidalguia, cobrindo-se de gloria na batalha do Salado” (p. 44)

Quanto a D. Fernando Gonçalves Rodrigues25, filho de D. Gonçalo Rodrigues Forjás, o autor adiciona à hipótese de o homem ter sofrido de uma qualquer doença, que o terá feito morrer à sede, um qualquer voto que ele poderá ter feito. De seguida enumera uma série de mortes extraordinárias, que não foram consideradas loucuras.

Em relação a D. Ruy Gonçalves de Pereira, quarto avô do Condestável, Forjaz não vai muito além dos argumentos já utilizados por Chianca, a não ser ao introduzir uma citação do que, segundo ele, rezam as crónicas

“nunca se avião visto taes vinte annos, tão aguerrido se mostrava nas sortidas sobre a mourama” (p. 38).

No que concerne a D.Pedro Rodrigues de Pereira, terceiro avô de Nuno Álvares, considerado, segundo Forjaz, por muitos linhagistas como o tronco de todos os Pereiras legítimos, o autor completa as informações dadas por Chianca, corroborando a acusação feita a Dantas de má utilização da fonte de que se serviu, O Livro de Linhagens, isto porque Forjaz verificou que Dantas ao citá-la fê-lo mal, fruto de uma má leitura. Acrescenta, ainda, que o confronto entre este homem e o seu primo se deu no que ficou designada pela batalha de Trasconho, logo, a morte de D. Pedro Poyares foi apenas o resultado, nada inesperado, de uma batalha.

Relativamente a D. Gonçalo Pereira, avô de Nuno Álvares Pereira, o autor pouco mais faz do que repetir o que já fora dito por Chianca. No entanto, como evidência da sua profunda investigação e minúcia, aproveita para corrigir Oliveira Martins acerca do local onde este homem foi sepultado, não na Igreja de Flor da Rosa, como afirma o historiador, mas sim na capela por ele construída na Sé de Braga. A defesa que faz do bom nome da mulher com quem D. Gonçalo teve D.

Álvaro é também bastante detalhada, de modo a provar que era uma senhora respeitável e de famílias.

Por fim, ao autor apresenta-nos a vida de D. Álvaro Gonçalves Pereira, pai de Nuno Álvares, defendendo-o das acusações directas de Dantas, como Chianca fizera, e, como trunfo fortíssimo da defesa, transcreve parte de um texto do próprio Dantas, publicado em 1913 sob o título Pátria portuguesa26, onde este homem é

descrito de forma bastante laudatória, como se pode ver, por exemplo, no seguinte trecho:

“Era a véra-cruz de Marmelar ... reliquia que o prior Alvaro Gonçalves Pereira trouxera comsigo ... para acompanhar a batalha [do Salado] como um arauto de Deus ... Percorrendo as alas, a cavallo, junto do clerigo, o prior do Hospital, moço de trinta annos, o mantão vermelho da ordem fluctuando, a cruz branca de oito pontas sob a espadua direita, gritava, n’uma certeza de illuminado, estendendo os braços cobertos de ferro”(p. 51).

Após a exposição deste argumento, pouco mais haverá a dizer, visto ter sido o próprio Dantas a prestar homenagem a D. Álvaro, com o seu texto.

Assim sendo, como retrospectiva, e em jeito de resumo, o autor conclui que olhando para esta linhagem, verifica-se que

“[f]oram talvez em demasia bravos, amaram com impetuosidade, mas é necessário estudal’os na epocha e nos costumes em que viveram [...] [pois] [a] vida dos homens analysa-se no tempo e no meio que tiveram” (p. 54).

Como se pode verificar, o autor recorre novamente ao argumento que justifica determinados actos através do contexto específico em que foram praticados. Parece, deste modo, que compreende a indignação que algumas atitudes possam causar nas mentes de um leitor do século XX, logo, a sua tarefa é

justificá-las, apelando para os costumes de uma época que permitiam determinadas situações.