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No discurso científico, há sempre uma busca pela precisão dos significados das palavras que são utilizadas a fim de demonstrar um maior rigor. No entanto, é frequente que o intérprete se

depare com vícios da linguagem121 tais como a ambiguidade, a vagueza e a carga emotiva, as quais são quase impossíveis de serem eliminadas em sua integralidade no discurso.

Signos como “direito”, ônus” e “prova” são símbolos122 que detêm uma pluralidade de

sentidos, e o cientista do direito, para reduzir a complexidade relacionada ao objeto de estudo e evitar problemas semânticos, deverá primar por uma rigorosa linguagem científica no momento de definir123 o conceito dos signos e, assim atribuir seu significado.124

O vocábulo “prova” admite a formação de uma pluralidade de sentidos, de modo a ficar verificada a problemática da ambiguidade que permeia tal signo. No presente trabalho, aliás, a prova será analisada em sua juridicidade cuja característica é a sua construção realizada dentro do sistema do direito positivo, conforme as regras estabelecidas por este.

Prova é oriundo do latim proba, de probare (demonstrar, reconhecer, formar juízo de) cujo significado “é a demonstração, pelos meios legais, da existência ou veracidade de um fato material ou de um ato jurídico, em virtude da qual se concluir por sua existência ou se firma a certeza a respeito da existência do fato ou do ato demonstrado”125, em outras palavras, um procedimento apto a estabelecer um saber, ou seja, um conhecimento válido.126

121 Ao discorrer sobre os vícios da linguagem e a suas consequências no processo interpretativo, Carlos Santiago Nino ressalta que “os problemas de interpretação das orações linguísticas estendem-se também, naturalmente, às orações mediante as quais as normas jurídicas são formuladas, embora, (...), nem sempre os juristas reconheçam isso. Em direito, ter dúvidas interpretativas sobre significado de um texto legal supõe uma falta de certeza sobre a identificação da norma com tida nesse texto; ou, o que dá na mesma, implica indeterminação das soluções normativas que a ordem jurídica estipulou para certos casos. (NINO, Carlos Santiago. Introdução à análise do

direito. 1 ed., São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010, p. 307).

122 Tárek Moysés Moussallem destaca que “as palavras são símbolos (convencionais ou arbitrários) que representam algo no mundo físico ou imaginário. De certa maneira, os homens as utilizam para, por assim dizer, “cortar” o mundo em pedaços e reduzir as complexidades na realidade. (...) A relação palavra – realidade é denominada significado.” (MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Sobre as definições. In: Lógica e direito. 1. ed., São Paulo: Noeses, 2016, p. 252).

123 Guibourg, Guigliani e Guarinoni explanam que definir uma palavra é indicar o seu significado, tal qual se verifica em relação ao dicionário. Com isso, deve ficar claro que definir é afeto às palavras, sendo definições verbais, por comunicarem o significado de uma palavra a partir de outras palavras. O referido autor ensina que as coisas, o mundo físico, não se definem, mas são apenas passíveis de observação, de descrição, mas não de definição, haja vista que definem-se as palavras. Desse modo, pode-se estabelecer a fórmula da definição a partir de dois elementos: o definiendum e o definiens, que, respectivamente, indicam a palavra que se pretende definir; e a enunciação do significado. (GUIBOURG, Ricardo; GUIGLIANI, Alejandro; GUARINONI, Ricardo.

Introducción al conocimiento cientifico. Buenos Aires: Astrea, 1985, p. 53-55).

124 MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Sobre as definições. In: Lógica e direito. 1. ed., São Paulo: Noeses, 2016, p. 252.

125 SILVA, De Plácido. Vocabulário jurídico. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993, v. 3, p. 491. 126 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 805.

E provar, para Francesco Carnelutti, não significa demonstrar a verdade dos fatos em discussão, e sim “determinar ou fixar formalmente os mesmos fatos mediante procedimentos determinado.”127

Enrico Liebman, por sua vez, define prova como “os meios que servem para dar o conhecimento de um fato e, em razão disso para fornecer a demonstração e para formar a convicção da verdade de um fato específico”.128

Segundo Michele Taruffo, o ponto fundamental para demonstrar o conceito de prova é a determinação de uma inferência segundo a qual um fato pode constituir um elemento de confirmação racional de uma afirmação sobre determinado fato.129

Visualizando a prova como influenciadora na formação do convencimento do juiz sobre os fatos , Joan Pico I Junoy enfatiza que “la prueba es aquél que posee el litigante consistente en la utilización de los médios probatórios necessários para formar la convicción del órgano jurisdicional acerca de lo discutido en el proceso.”130

Por outro lado, numa perspectiva dialética e norteada no método argumentativo, Luiz Guilherme Marinoni131 e Sérgio Cruz Arenhardt definem a prova como um meio retórico, regido pelos parâmetros do direito e pelos critérios racionais, que visa convencer o Estado- juiz da validade das proposições apresentadas no processo.

Percebe-se dos significados apresentados, uma diversidade de sentidos do signo “prova”. Em que pese tais definições, a prova, em conformidade com as premissas fixadas no presente trabalho, “é a linguagem escolhida pelo direito que não vai apenas dizer que um evento ocorreu, mas atuar na própria construção do fato jurídico”132, sempre buscando a verdade por

meio da relação entre as versões revestidas em linguagem no processo, de maneira a buscar a formação do convicção do juiz.

Nesse sentido, o lançamento tributário, por exemplo, apenas será provado a partir do momento em que for exposto o fato certificando a veracidade ou falsidade contida na 127 CARNELUTTI, Francesco. A prova civil. 4. ed. Campinas: Bookseller: 2005, p. 73.

128 Segundo Liebman: “Si chimano prove i mezzi che servono a dar ela conoscenza di un fato e perciò a fornir la dimostrazione e a formare la convinzione della verità del fato medesimo”. (LIEBMAN, Enrico Tullio. Manuele

di diritto processuale civile. 7 ed., Milano: Giuffrè Editore, 2007, p. 295-296).

129 TARUFFO, Michele. La prueba de los hechos. 2. ed. Madrid: Editorial Trotta, 2005, p. 328.

130 PICÓ Y JUNOY, Joan. El derecho a la prueba en el processo civil. Barcelona: J. M. Bosch Editor, 1996, p. 18-19.

131 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHARDT, Sérgio Cruz. Prova e convicção: de acordo com o CPC de

2015. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 72.

hipótese, já que é necessário fixar a relação de implicação entre o documento e o fato que quer provar, com o fito de formar o convencimento do julgador.

Portanto, considera-se prova como enunciado linguístico que servirá de instrumento para a constituição do fato jurídico tributário,133 sendo construído em conformidade com as regras do sistema do direito positivo. Isso propiciará a conexão entre o evento e o fato ao enquadrar este à norma por meio da emissão da norma individual e concreta que materializa o processo de positivação.

O intuito do estudo, nesse aspecto, não é dissecar em sua integralidade sobre o conceito da prova, e sim fazer a compreensão acerca das noções gerais das provas com o escopo de, ao ser aplicado ao objeto da dissertação, expor que os lançamentos tributários que embasam a Certidão de Dívida Ativa devem estar fundados pelo fato que ocorreu de modo efetivo.