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4. Análise do caso de Minas Gerais

4.1. A definição dos objetivos e sua tradução em resultados

4.1.1 A definição dos objetivos

No caso de Minas Gerais, há pelo menos 3 situações bem marcadas de tomada de decisão nos quais há definição de objetivos, embora apenas no processo de decisão relacionado ao PMDI ocorra, de fato, uma operacionalização em termos de efeitos ou resultados46:

46 As demais fases destinam-se ao desdobramento do PMDI em projetos e ações. É certo que

há também uma orientação de estabelecer indicadores para o monitoramento de tais projetos e ações. No entanto, são essencialmente indicadores de produto, e não de resultados.

1) a definição dos objetivos estratégicos, dos resultados e das metas, no âmbito do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI);

2) o desdobramento do PMDI em projetos estruturadores junto às secretarias, no âmbito do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG);

3) o desdobramento do PMDI e do PPAG até o nível de equipe, no âmbito do Acordo de Resultados de 2ª etapa.

Em todos esses momentos, o processo de tomada de decisão é colegiado, embora o grau de formalidade seja diverso. Quanto ao primeiro caso, a composição do CDES é determinada pela Lei estadual 10.628 de 1992 em seu Artigo 1º, que define os seguintes integrantes:

• pelo Governo, o Governador que presidirá o conselho, o Vice- Governador e os secretários de Estado;

• representantes de entidades da administração indireta, como Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Centrais Elétricas de Minas Gerais (CEMIG), Fundação Estadual do Meio-Ambiente (FEAM);

• representantes de universidades e entidades de pesquisa, como UFMG, Universidade Estadual de Minas Gerais, Fundação João Pinheiro e Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC);

• representantes de cada uma de diversas entidades de classe, dentre elas a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), a Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais, a Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Estado de Minas Gerais e a Coordenação Sindical de Servidores Públicos do Estado;

• representantes de centrais sindicais regularmente estabelecidas no Estado;

Não obtivemos informações sobre a dinâmica de funcionamento do CDES, que permitissem avaliar se e em que medida as reuniões colegiadas propiciam o debate, a prevalência do melhor argumento e/ou o recurso ao voto da maioria. De toda forma, a lei estabelece uma composição razoavelmente plural e uma distribuição aparentemente equilibrada de representação de interesses e, ainda, a obrigatoriedade do CDES ser o responsável pelo envio do PMDI à ALMG, o que confere alguma autoridade a cada um dos componentes.

Outro ponto relevante é que o PMDI é produto de um processo de planejamento estratégico profundo, que envolve a elaboração de diagnóstico por especialistas47, a construção de cenários, a definição da visão de futuro, enfim, um modelo que se aproxima consideravelmente do que definimos por “perspectiva racional exaustiva”. Assim, embora esse conjunto de informações e metodologias possa instruir o CDES e facilitar a definição dos objetivos, seria preciso verificar até que ponto a profusão de dados e informações levantadas e consolidadas pelos técnicos também pode constranger ou conformar a pauta de discussão no interior do conselho.

Finalmente, o projeto de lei do PMDI é submetido à aprovação da Assembléia de Deputados, mais uma instância que pode participar da formulação dos objetivos estratégicos. Na tramitação do projeto de lei do PMDI 2007-2023, PL 1.206/2007, foram apresentadas 88 emendas; destas, 11 foram acatadas na íntegra e outras 11, parcialmente. Especificamente quanto à definição dos objetivos estratégicos, destacam-se as seguintes emendas acatadas:48

• as emendas nº 8 e nº 42, de autoria do Deputado Estadual André Quintão, do Partido dos Trabalhadores, e da Comissão de Participação Popular, respectivamente, que incluem o objetivo estratégico de “erradicar o trabalho infantil”49;

47 Como já referenciados, os diagnósticos são encontrados nos documentos “Minas Gerais do

Século XXI” e “O estado do Estado”.

48 Tramitação obtida no site da ALMG (www.almg.gov.br) - Emendas ao projeto de lei nº

1.026/2007

49

Embora a proposição de acréscimo de um novo objetivo estratégico tenha sido acatada, a proposição de acréscimo dos resultados finalísticos e das metas respectivas não foram contempladas no PMDI 2007-2023. As emendas propunham passar de 300.000 crianças para

• a emenda nº 10, de autoria do mesmo deputado, que incluiu também a população de “terceira idade” como público alvo dos objetivos de “Promover a segurança alimentar nutricional sustentável” e de “Saúde a todas as fases do ciclo de vida individual”;

• sub-emenda a emenda nº 7, do mesmo deputado, que acrescenta o objetivo estratégico de “fortalecer a agricultura familiar”;

• a sub-emenda a emenda nº 58 do deputado Padre João também do PT, que acrescenta também o meio rural como objeto do objetivo de “Buscar a redução da violência nas áreas urbanas”;

• a sub-emenda a emenda nº 45, de origem na Comissão de Participação Popular, que acrescenta o objetivo estratégico relacionado ao incentivo à Implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS);

• a sub-emenda nº 1 a emenda nº 15 do deputado André Quintão, que substitui o termo “gestores” por “servidores” no objetivo estratégico de “Aprofundar a profissionalização de gestores públicos”;

• a sub-emenda nº 2 a emenda nº 15 que acrescenta ao objetivo estratégico de "Efetivar política de prestação de contas à sociedade", a expressão "...tornando o orçamento público e sua execução acessíveis à população".

Ou seja, é possível afirmar que a ALMG participa da definição dos objetivos estratégicos do governo de forma relativamente atuante, com alterações importantes propostas por deputados de oposição e incorporadas no projeto original do executivo. Cabe, no entanto, ressaltar que, em relação aos

150.000 em 2011 e para zero em 2023. No entanto, no ano seguinte, no Acordo de Resultados de 2008 da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social foi incluído um indicador de redução da taxa de trabalho infantil; porém, com metas mais modestas.

resultados finalísticos e às metas, não houve nenhuma emenda visando a alterar a proposta do Executivo.

Nos demais momentos de tomada de decisão não ocorre definição de resultados, uma vez que de destinam “apenas” a desdobrar as decisões do 1º momento de formulação, que incluem os objetivos estratégicos, os resultados finalísticos e as iniciativas prioritárias, e que tem força de lei. No entanto, sob tais contornos, essas fases definem objetivos táticos e operacionais e as condições de mensuração de seu atendimento. Ou seja, nessas etapas são definidas ações, produtos e indicadores de monitoramento e avaliação do seu atingimento, o que procura satisfazer a seqüência lógica “ações → produtos → resultados → objetivos estratégicos”.50

Com relação à dinâmica de tomada de decisão, no planejamento dos projetos estruturadores que deverão alcançar os objetivos e, portanto, as metas dos indicadores de resultado, o grau de participação dos servidores e de outros atores, como a sociedade civil, dependerá das escolhas dos secretários das pastas. Mas há indução ao planejamento participativo como uma recomendação técnica, reforçada pelo fato da coordenação metodológica ser feita pela SEPLAG por intermédio do GERAES. De toda forma, cabe lembrar, o projeto a ser feito já está “orientado” pelas chamadas iniciativas prioritárias constantes do PMDI. Ou seja, não há autonomia para a definição do “o que fazer”; embora haja um razoável grau de liberdade para detalhamento do “como fazer”.

Finalmente, no terceiro momento, no desdobramento dos objetivos estratégicos e dos projetos estruturadores até o nível de equipe, mais uma vez o processo é conduzido de forma colegiada, mas agora com todas as equipes de trabalho, não somente com aquelas vinculadas ao projeto estruturador. Cabe ressaltar que essa etapa não se restringe a desdobrar os objetivos estratégicos e os projetos estruturadores; ela se configura em um planejamento geral da própria secretaria. Isto implica que as ações e produtos planejados não são ditados

unicamente pelo PMDI e pelos projetos estruturadores, uma vez que há outras vinculações como os novos objetivos inseridos no Mapa Estratégico, a própria Agenda Setorial, os Projetos Associados e outras vinculações como, por exemplo, o “Pacto pela Saúde” da Secretaria de Estado de Saúde.

Assim, de forma preliminar, podemos afirmar que o modelo de tomada de decisão da experiência de Minas Gerais poderia ser entendido como um planejamento colegiado e participativo, que potencialmente contribui para a eficiência ao propiciar o compartilhamento de objetivos estratégicos, táticos e operacionais junto aos atores relevantes, como os componentes do CDES, a ALMG e os servidores. Embora, ressalte-se, não há evidências de ativismo da ALMG no tocante à definição dos resultados finalísticos e de suas metas que é, como veremos, uma questão fundamental para assegurar a responsividade da organização aos objetivos.51