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Definição e critérios da amostra

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Quando se opta por trabalhar com um número significativo de pessoas, por questões de viabilidade (cronograma) é preferível selecionar uma parcela da população, ou seja, é preferível estudar uma parte que represente o todo, uma amostra (RODRIGUES, 2007).

No interior dos Centros de Atendimento Socioeducativo estão inseridos anexos de escolas da rede educacional do estado de Pernambuco, que tem o dever de garantir o direito à educação para adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação, conforme determina o Estatuto da Criança e do Adolescente. É nesses lugares que estão os sujeitos dessa pesquisa, “os sujeitos que, no curso da investigação, serão ouvidos ou observados” (RODRIGUES, 2007, p. 126).

De acordo com Rodrigues (2007, p.126) “estudar um fenômeno em um determinado lugar não é o mesmo que examiná-lo em qualquer parte”, principalmente nesses lugares – nos CASEs – nos quais os atores protagonizam diferentes personagens, e convivem com sensações muitas vezes aí intensificadas, como o medo, a insegurança, a incapacidade, a injustiça, e etc.

Diante do entendimento do cotidiano complexo de uma unidade de internação, optamos por uma amostragem não-probabilística, do tipo amostra de voluntários (LAVILLE, DIONNE, 1999, p. 170, grifo da autora) na qual é feita uma sensibilização para que apenas as pessoas que

desejarem possam participar da pesquisa como voluntárias. Contudo, a sensibilização é feita após a definição de critérios, já que não é toda a população de adolescentes, professoras, por exemplo, que interessa aos objetivos da pesquisa.

Os sujeitos dessa pesquisa, são a principal fonte para a compreensão do mundo escolar socioeducativo que estudamos, estão diretamente envolvidos no processo de escolarização no CASE, são eles: gestor escolar, professoras e coordenadora pedagógica, todos com vínculo funcional com a Secretaria de Educação; pedagogo da FUNASE com a função de acompanhamento das atividades pedagógicas, escolares, cultura, esporte e lazer, e os alunos que frequentam a escola.

O gestor escolar estava na função há alguns anos e desde o ano de 2016 além da escola que atua cotidianamente, ficou responsável por mais uma unidade escolar: o anexo do CASE. Já a coordenadora pedagógica é professora com mais de vinte anos de atuação no magistério. É formada em Letras e possui Especialização na área de educação. Sua relação funcional com a Secretaria de Educação é por meio de contrato temporário. Fez uma seleção simplificada para professora, mas foi chamada para atuar no CASE na função de coordenadora. A função de coordenação, no entanto, não agrega gratificações e sim a responsabilidade de coordenar a escola, em vez de dar aulas.

As professoras que entrevistamos têm, cada uma, mais de uma década de atuação em sala de aula. A professora I e a professora III possuem formação em nível superior na área de humanas e as professoras II, IV e V possuem formação em nível superior na área de exatas, em biologia especificamente. Todas possuem vínculo empregatício temporário com a Secretaria de Educação, por meio de seleções públicas simplificadas promovidas pela Secretaria. A atuação no CASE foi, para todas, a primeira experiência na socioeducação.

O pedagogo é servidor da FUNASE e estava prestes a completar um ano de atuação na instituição. Ele tem a responsabilidade de acompanhar o desenvolvimento dos adolescentes nas áreas de educação, cultura, esporte, lazer e religião, bem como promover tais atividades. Junto com a escola, articula atividades educativas. Em seu relato, demonstrou gostar de trabalhar no CASE, ao afirmar que fez a escolha de trabalhar na instituição. Também relatou que gosta da relação com os adolescentes, que o identifica pela sua profissão (pedagogo). Entre os sujeitos que entrevistamos, o pedagogo foi o que mais mostrou criticidade em relação às questões relacionadas a educação ofertada. Para ele, a educação não tem prioridade no CASE.

Os alunos tem especificidades que intermediam a relação aluno-escola. As peculiaridades vão além da privação de liberdade. As trajetórias desses alunos revelam a não criação de vínculos com a instituição escolar, que é vista como desinteressante por eles. Parece

que a socialização, uma das funções da escola é construída em espaços outros. As relações sociais, familiares e com o próprio Estado construídas pelos adolescentes não inclui, muitas vezes, a vivência escolar. Os adolescentes do CASE revelam a violação de direitos muito antes do ingresso no sistema socioeducativo, através da ausência de escolarização, profissionalização, esporte, cultura e lazer e de políticas públicas, mecanismos que poderiam ter distanciado esses adolescentes da criminalidade (ALBUQUERQUE, 2015; COSTA JÚNIOR, 2012).

Tivemos acesso ao documento estatístico do CASE denominado de mapa jurídico, nele constam informações escolares, pessoais e sobre o ato infracional dos 77 adolescentes que estavam no CASE quando da realização da pesquisa. Pela análise feita no documento, pudemos concluir que 70,13% dos socioeducandos do CASE fazem/fizeram uso de drogas ilícitas como a maconha; 71,43% são pardos ou negros; 63,64% declararam renda familiar de até dois salários mínimos; 53,25% são reincidentes no sistema socioeducativo; 62,34% estão cumprindo medida socioeducativa pela prática de roubo e 23,38% por homicídio, tentativa de homicídio ou latrocínio. Sobre a localidade de residência, 61,04% são da mesma microrregião na qual o CASE está localizado e 38,96% são de outras regiões, das quais 83,33% são da região metropolitana do Recife.

Com relação a escolarização, no documento há informações incompletas ou incoerentes, mas pudemos concluir que 62,34% dos adolescentes estão nos anos finais do Ensino Fundamental, 29,87% estão nos anos iniciais do Ensino Fundamental e 5,19% estão no Ensino Médio, porém nem todos os adolescentes estavam com a documentação escolar para confirmação da escolarização. Contudo, faz-se importante esclarecer que muitas informações são prestadas pelo adolescente e/ou sua família no ingresso do sistema socioeducativo, ou seja, quando chegam na UNIAI.

Essas informações corroboram com pesquisas realizadas sobre o sistema socioeducativo, entre elas destacamos a pesquisa Educar ou punir? a realidade da internação

de adolescentes em Unidades Socioeducativas no Estado de Pernambuco (CENDHEC, 2017).

A pesquisa em tela corrobora com os dados que tivemos acesso, por exemplo, ao mostrar que a maioria dos adolescentes que cumpriram medida socioeducativa voltam ao sistema socioeducativo. De acordo com o estudo, a reincidência é de 53% do total de adolescentes em privação de liberdade e que, contrariando a mídia, os atos infracionais mais praticados por adolescentes não são os mais graves. O trabalho mostrou, assim como as informações que obtivemos, que o roubo é o ato infracional mais praticado, 37%. Com relação a escolarização, a pesquisa de César (2014) também aponta a distorção idade/série, uma vez que com idade para frequentar o Ensino Médio, os adolescentes ainda frequentavam o Ensino Fundamental.

Como trabalhamos com uma amostra, definimos critérios de seleção dos sujeitos. A constituição da amostra a partir da população e dos critérios adotados é evidenciada no quadro abaixo:

Quadro 3 – Definição e Critérios da Amostra

Sujeitos População Amostra/Participantes Critérios de seleção

Gestor Escolar 01 01 Voluntário

Coordenadora

Pedagógica 01 01 Voluntária

Professoras/es 06 05 Voluntários há mais de seis meses na unidade

Pedagogo/a 02 01 Voluntários

(A pedagoga não estava exercendo a função e por isso não participou da pesquisa)

Adolescentes 77 06 Voluntários há mais de seis meses na

unidade; Frequentar a escola; Demonstrar interesse pela escola;

Total de participantes: 14

Fonte: Elaboração da autora

Por preferir não identificar os participantes da pesquisa, caracterizamos cada sujeito de acordo com a função desenvolvida no CASE e em casos de mais de uma pessoa com a mesma função, distinguimos por um algarismo numérico após a escrita da função. Por exemplo, as docentes são identificadas por Professora III, Professora V, os adolescentes também são identificados por algarismos numéricos: Adolescente IV, Adolescente I. Já o Gestor Escolar, a

Coordenadora Pedagógica e o Pedagogo são assim identificados, visto que constituem-se os

únicos nas respectivas funções.

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