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2 AGRICULTURA FAMILIAR: APROFUNDANDO O TERMO

3 GESTÃO DAS COOPERATIVAS: COMPREENDENDO O PAPEL DESSAS ORGANIZAÇÕES

3.2 Definindo as cooperativas

O cooperativismo está orientado por sete princípios, por meio dos quais as cooperativas levam à prática seus valores, promovidos desde os pioneiros do cooperativismo, em Rochdale, na Inglaterra 188431. Os princípios estão descritos no quadro a seguir. Os valores pregados pelo cooperativismo são os de autoajuda, auto-responsabilidade, democracia, igualdade e equidade e solidariedade.

Quadro 1 - Os princípios cooperativistas

PRINCÍPIOS DESCRIÇÃO

Adesão voluntária e livre

As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como membros, sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas e religiosas.

Gestão democrática

As cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões. Os homens e as mulheres, eleitos como representantes dos demais membros, são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau os membros têm igual direito de voto (um membro, um voto); as cooperativas de grau superior são também organizadas de maneira democrática.

Participação econômica dos membros

Os membros contribuem equitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente. Parte desse capital é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os membros recebem, habitualmente, se houver, uma remuneração limitada ao capital integralizado, como condição de sua adesão. Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das

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Valadares (s/d, p.13-14) menciona que historicamente, o cooperativismo surgiu como um instrumento de defesa, de reabilitação e de emancipação de trabalhadores, como reação às condições sociais e econômicas adversas originadas da evolução do capitalismo. É significativo que a maior parte das cooperativas tenham sido criadas entre os trabalhadores da industria têxtil, rudemente atingidos pela evolução econômica e tecnológica durante a Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX. Para garantir acesso ao trabalho e mínimas condições de sobrevivência, os tecelões estabeleceram as primeiras cooperativas (FENWICK, 1761; GOVAN, 1777; DARVEL, 1840) na Escócia; (LYON, 1835) na França; (ROCHDALE,1844) na Inglaterra; (CHEMNITZ, 1845) na Alemanha. Refletindo toda a angústia de uma sociedade em rápida transformação, as primeiras cooperativas são resultado da economia industrial no momento histórico em que se rompe o equilíbrio econômico e social das comunidades domésticas e faz pesar sobre as classes populares uma pressão que se tornaria cada vez mais intolerável.

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seguintes finalidades:

 Desenvolvimento das suas cooperativas,

eventualmente através da criação de reservas, parte das quais, pelo menos será, indivisível;

 Benefícios aos membros na proporção das

suas transações com a cooperativa; e

 Apoio a outras atividades aprovadas pelos

membros.

Autonomia e independência

As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros. Se firmarem acordos com outras organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle democrático pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa.

Educação, formação e informação

As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas. Informam o público em geral, particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação.

Intercooperação

As cooperativas servem de forma mais eficaz aos seus membros e dão mais - força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, através das estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais.

Interesse pela comunidade

As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas pelos membros.

Fonte: OCB SESCOOP (s/d).

A lei que rege a política nacional do cooperativismo é a Lei nº 5764-71, que enfatiza alguns pontos originalmente estabelecidos pelos pioneiros. As cooperativas são definidas como sociedades de pessoas que possuem natureza e forma jurídica próprias, de natureza civil e têm como objetivo prestar serviços aos associados, sendo distintas das demais sociedades devido às as suas características, tais como: possuir adesão voluntária de associados; possuir variabilidade do capital social por meio das quotas partes; as quotas partes do capital para cada associado são limitadas, salvo em alguns casos; inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros; singularidade de voto; o quórum para o funcionamento e deliberação da Assembleia Geral ser baseado no número de associados e não no capital; o retorno das sobras líquidas do exercício deve ser proporcional às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembleia Geral; os fundos de Reserva e de Assistência Técnica Educacional e Social são obrigatórios e indivisíveis; possuir neutralidade política, religiosa,

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racial e social; prestar serviços aos associados e, em alguns casos, aos empregados da cooperativa; a área de admissão de associados deve ser limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de serviços. A mesma lei ainda afirma que as cooperativas são constituídas por, no mínimo, vinte pessoas físicas e a admissão de pessoas jurídicas acontece só quando tiverem os mesmos objetivos ou atividades econômicas das pessoas físicas que constituem a organização.

Uma organização cooperativa, como mencionado por Valadares (2005), surge de um acordo voluntário entre vários indivíduos, tendo como finalidade principal a solução de determinados problemas ou a satisfação das necessidades que os indivíduos possuem em comum e que excedem a capacidade individual. Segundo a Lei nº 5764-71, os indivíduos que desejarem fazer parte da cooperativa possuem livre entrada, sempre que tenham os mesmos propósitos sociais e preencham as condições estabelecidas no estatuto. As cooperativas são organizações não governamentais de fins econômicos, que geram resultados e renda, mas não possuem o objetivo do lucro, promovem o desenvolvimento local, a possibilidade da inclusão da população no processo econômico e produtivo de uma forma que seja mais justa (BIALOSKORSKI NETO, 2008).

As cooperativas são sociedades civis, de objeto econômico, formadas por pessoas, e em sua constituição a lógica é a organização econômica por meio do Ato Cooperativo e não do ato comercial. Há resultados econômicos, mas não há expropriação do fator de produção trabalho pelo fator de produção capital e, portanto, no conceito econômico não há lucro, mas sim resultados a serem distribuídos a cada um que participou e colaborou por meio da cooperação. Essas diferenças são de extrema importância para o processo educacional, em função de que: a) a cooperativa somente mantém a sua eficiência econômica e social se ocorrer fidelidade por parte do associado, ou seja, se esse for cooperante e mantiver a cooperação na prática por longos períodos; b) para a cooperativa somente será possível ser eficiente se os gestores compreenderem não somente os instrumentos do processo de gestão, mas também a lógica social de funcionamento e de organização da cooperativa (BIALOSKORSKI NETO, 2008, p. 6).

De acordo com a Lei que rege o cooperativismo, as cooperativas possuem um órgão supremo, que é a Assembleia Geral dos associados. Este órgão possui o poder de decidir e tomar as decisões legais e estatutárias do empreendimento, suas deliberações (que serão decididas pela maioria dos votos dos associados presentes com direito a voto) são vinculantes para todos os membros, mesmo que ausentes ou discordantes.

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Entende-se que esse processo de união entre duas ou mais pessoas vai muito além da celebração de um contrato mútuo, que institui as obrigações visando aos objetivos comuns, uma vez que a essência dessa sociedade está solidificada na repartição do ganho, na união dos esforços e no estabelecimento de outra forma de agir no coletivo “que tem na cooperação qualificada a implementação de um outro tipo de ação social” (ALBURQUERQUE, 2003, p.15).