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POLPA DE FRUTAS CULTIVADAS

6 ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO DA COOPERATIVA GRANDE SERTÃO

6.1 Atores sociais e organizações parceiras importantes na construção dos mercados da cooperativa

6.1.1 O Centro de Agricultura Alternativa (CAA)

“A cooperativa hoje e o CAA são um projeto único”. (Sócio-fundador e membro representante de entidades parceiras 13)

Ao longo das entrevistas e dos dados documentais ficou nítida a importância do CAA para a CGS. Assim, faz-se necessário dar uma maior ênfase a essa organização. Isso ocorre porque a CGS nasceu dentro do CAA, no marco do cumprimento de seus próprios objetivos. Desde então, o CAA acompanha as atividades da organização, principalmente na parte da assistência técnica. Como os representantes da cooperativa reafirmam,

(...) a cooperativa é filha do CAA, você conhece um pouco do CAA né?, pois então, quando a gente veio pro assentamento, eu não morava no assentamento eu morava numa comunidade a 22km daqui ai surgiu essa demanda desse assentamento, inclusive o pessoal já tinha a maioria assentada que quase não dava pra gente plantar tava sobrando o lote aqui através de ser assentada a gente foi e ficou também sócio do CAA que ajudou a gente nessa organização de plantar e colher sem agrotóxico, sem ta queimando, sem ta degradar o meio ambiente e ai a gente foi aprendendo a partir desse aprendizado que a gente aprendeu a produzir com melhor qualidade e com maior quantidade também a gente sentiu a necessidade de um mercado e ai foi a partir do momento que a gente criou, sentou e organizou e criou a cooperativa Grande Sertão foi a partir dessa demanda (Membro representante da diretoria e sócio-fundador 3).

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(...) a cooperativa nasceu dentro dessa demanda de organizar a produção, essa coisa do beneficiamento e trabalhar a questão do mercado porque o CAA que é uma instituição de assessoria ela não poderia comercializar a Grande Sertão nasceu como um braço comercial, pra fazer esse trabalho (Membro representante da diretoria e sócio-fundador 2).

O CAA é uma organização não governamental que tem como objetivo desenvolver experiências direcionadas para a produção agroecológica, juntamente com os agricultores familiares. Em 1985, o CAA foi criado para ser um parceiro das comunidades rurais, quilombolas, das associações de agricultores rurais e agroextrativistas, por meio do desenvolvimento de projetos que visassem a alternativas sustentáveis para que o agricultor permanecesse no campo, por meio de práticas agroecológicas e da valorização econômica dos produtos no comércio regional. O CAA na região “torna-se importante uma vez que os projetos desenvolvidos pela entidade, além de promover a geração de renda para o produtor através da prática agroecológica, atenuam os fluxos migratórios do campo para a cidade” (ALVEZ; SILVEIRA; GUIMARÃES, 2010, p. 4).

Souza (2006) menciona que, no período de criação do CAA, existia uma efervescência dos movimentos sociais e uma predominante intervenção do Estado na agricultura do país; sendo assim, o CAA surgiu como um espaço de reposicionamento socioeconômico e cultural de vários grupos de agricultores do norte de Minas Gerais. Os programas desenvolvidos pelo CAA são orientados para a “valorização, autonomia e fortalecimento das iniciativas dos grupos, por meio da constituição de vínculos solidários entre os agricultores e de redes sócio- técnicas para o desenvolvimento e acompanhamento de experiências agroecológicas” (SOUZA, 2006, p.144).

Segundo Carvalho (s/d), o CAA foi fundado por agricultores familiares, técnicos, organizações sociais e lideranças locais que tinham a preocupação com o modelo de desenvolvimento implantado no norte de Minas Gerais. Assim, a organização possui como principal missão “contribuir para um desenvolvimento que beneficie diretamente a população da região, pela valorização de sua cultura e dos recursos naturais” (CARVALHO s/d, p. 11).

Desde o início da organização, ela se preocupou em buscar parcerias e apoios como forma de captar recursos para que, dessa forma, as suas propostas virassem realidade. Com isso em vista, por meio da busca constante de aperfeiçoamento dos seus trabalhos, a organização começou a voltar o seu olhar para o incentivo da produção e da comercialização dos agricultores familiares. Foi visualizada nos cultivos agroecológicos, no extrativismo

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sustentável e nas feiras livres uma alternativa promissora, no entanto, era necessário aumentar as vendas dos produtos nos diversos mercados, dando início a um projeto que levou, posteriormente, à criação da CGS. Os relatos a seguir demonstram a relação existente entre CGS e o CAA:

Porque desde de mais novo a gente trabalha no CAA participa de cursos do CAA e o CAA ta junto com a cooperativa, pra gente é um espelho, você acaba, o assentamento é construído com a meta de assentamento agroecológico, como é agroecológico você não pode pegar um veneno um inseticida e colocando nas plantas, você acaba colocando veneno, você acaba dando mau exemplo para as outras entidades que chegam,para sua família, para as outras pessoas que vem chegando, por isso a gente tem esse hábito de não colocar veneno nas coisas, tudo que a gente usa é agroecológico, é milho é feijão tudo da natureza nossa é agroecológico (Associado 21).

(...) o público, é um público só que os dois trabalham então tem q ter um bom dialogo um bom relacionamento e sempre continuar trabalhar juntos que se você rachar no meio vai ficar muito complicado pelo ao menos quando você trabalha um só projeto e duas fases diferenciadas que o CAA é diferenciado porque o CAA é uma ONG e a outra é a cooperativa, um é projeto social as missões dele e o outro pelo ao menos é um projeto de negócio (Sócio-fundador e membro representante de entidades parceiras 13).

6.2 A participação do governo

As políticas públicas implementadas nas últimas décadas reconhecem a importância das organizações cooperativas no meio rural e contribuem significativamente com elas, uma vez que, com esse apoio, aumentaram os esforços em relação a como aprimorar e aumentar as atividades direcionadas para o meio rural, como mencionado no capítulo 2. No marco da NSE, Fligstein (2003) ressalta o importante papel do Estado no acesso aos mercados, uma vez que, por meio das normas e estruturas que o governo estabelece são formuladas condições que permitem que as organizações se estruturem e encontrem meios adequados para a entrada de seus produtos nos mercados. Schmitt e Guimarães (2008) ressaltam que as políticas públicas estimulam as diversas iniciativas de produção, principalmente as iniciativas que são baseadas na agricultura familiar. Sendo assim, o cooperativismo vem sendo um aliado dos governos, que se utilizam destas organizações como ferramentas de implementação de políticas públicas, e por meio desse movimento, está sendo possível gerar renda para milhares de pessoas. Nessa linha de pensamento, os informantes acreditam que as políticas públicas estimulam e aumentam a capacidade das organizações de produzir, preparando, assim, os