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POLPA DE FRUTAS CULTIVADAS

6 ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO DA COOPERATIVA GRANDE SERTÃO

6.4 A produção da organização

“(...) hoje trabalhar com um produto só, não é viável não é sustentável trabalhar com um produto só, tem hora que esse produto não da, e ai, se você tem essa diversificação um ajuda a sustentar o outro”. (Técnico 1)

A organização possui, em seu leque de atuação, uma gama de variedades, como mostrado no capitulo anterior. A diversidade de produtos da CGS faz com que a organização necessite de um maior planejamento, dada a necessidade de coordenarem o processamento dos produtos, bem como os agricultores necessitarem estar bem preparados para tal. No entanto, essa diversificação pode ser um mecanismo efetivo para permanecer no mercado, já que, diante de alguma dificuldade com um produto, a cooperativa pode tentar o substituir por outro produto com maior disponibilidade. A necessidade de ter diferentes tipos de frutas é evidente, principalmente devido aos fatores climáticos da região em que a organização está localizada, sobretudo devido à escassez de água que prejudica a produção dos frutos da região. A manutenção dessa diversidade de produtos significa maiores custos e maior demanda de recursos a serem investidos e alta complexidade na logística de processamento, controle e distribuição.

Porém, a estratégia de comercialização - fornecendo maior diversidade de produtos para enfrentar o mercado - se transforma num potencial, quando bem gerido, uma vez que por meio da diversificação dos produtos, ocorre também a diversificação dos mercados, o que permite maiores oportunidades de estabilizar o fluxo econômico ao longo dos anos e

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beneficiando a um leque maior de cooperados. A seguir, algumas imagens que ilustram alguns produtos da CGS.

(...) imagina assim se a cooperativa trabalhar-se apenas com polpa de fruta por exemplo, ela ia conseguir organizar melhor a produção, ter uma quantidade maior dos produtos, vender uma maior quantidade de produtos,e acredito ter um melhor resultado financeiro, mas não cumpriria a questão que é atender as necessidades dos cooperados, das comunidades que ela atende, que é o lado social que é muito importante, então as vezes ela estaria atendendo mais as pessoas que tem maior quantidade de água por exemplo pra conseguir produzir em maior quantidade e outros produtos igual é o caso da rapadurinha, o pequi desses produtores que é característica de cada região, essa variedade contempla um maior numero de municípios que é o objetivo da cooperativa, é mais importante do que o ganho de dinheiro (Membro representante da diretoria 5).

(...) e a gente avalia que um dos nossos diferenciais é esse, você ter uma diversidade de produtos, que é a característica da agricultura familiar aqui na região, a gente avalia que aqui na região a agricultura familiar, ela consegue sobreviver com essa diversidade de produtos, porque logo que um não dar o outro segura, então isso é um ponto forte nosso, a gente ter uma diversidade de produtos (Membro representante da diretoria e sócio fundador 2).

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Também como já mencionado, a organização adere ao padrão agroecológico de produção, o que pode se tornar um diferencial nos mercados. A agroecologia53 se constitui como um novo enfoque de ver de entender o desenvolvimento agrícola dentro da perspectiva da sustentabilidade (CAPORAL; COSTABEBER, 2004). Existem diversos entendimentos sobre o assunto, como mencionado por Caporal e Costabeber (2004), sendo que alguns autores consideram a agroecologia uma ciência, outros uma prática e, para alguns, constitui um movimento, coincidindo todos em combinar abordagens agronômicas, ecológicas e socioeconômicas. Assim, se ressalta o enfoque sistêmico, sendo importante compreender e

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Não corresponde, aqui, aprofundar sobre a agroecologia, mas só introduzi-la para uma melhor compreensão. Para aprofundar no assunto, ver CAPORAL; COSTABEBER (2004).

Figura 15 - Pequi congelado da Cooperativa Grande Sertão, Norte de Minas Gerais –MG Foto: Cooperativa Grande Sertão (s/d).

Figura 14 - Polpas de frutas da Cooperativa Grande Sertão, Norte de Minas Gerais Foto: Centro de Agricultura Alternativa (s/d). Figura 13 - Produtos da Cooperativa Grande

Sertão, Norte de Minas Gerais-MG, 2008 Foto: http://professorclaudiolima.blogspot.com

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integrar elementos relativos à biodiversidade ecológica, produtiva e a sociocultural. “De igual forma destaca a importância do desenvolvimento local e do conhecimento dos agricultores, que aparecem como a base de um potencial endógeno capaz de impulsionar um modelo de desenvolvimento sustentável” (CAPORAL; COSTABEBER, 2004, p. 61). O agricultor tradicional, ao utilizar das práticas agroecológicas, contribui para o desenvolvimento sustentável da produção agrícola, da conservação do solo e da vegetação do local (ALVES; SILVEIRA; GUIMARAES, 2010).

O compromisso com a agroecologia da CGS é fruto de um trabalho do CAA, que há 25 anos desenvolve suas atividades dentro dessa perspectiva. Assim, o agricultor se envolve em uma perspectiva de pensar nele e na natureza e não utilizar agrotóxico, abrindo mão do uso de defensivos agrícolas. Alves, Silveira e Guimarães (2010, p. 4) acreditam que “o uso das técnicas agroecológicas possibilitou ao agricultor familiar produzir determinada cultura sem agredir os recursos naturais, incentivando a permanência do sertanejo no campo, através da valorização econômica dos seus produtos”.

Para trabalhar com a agroecologia é necessário que seja valorizado todo o ambiente em seu entorno, as plantas, os animais, a vegetação (cerrado ou caatinga). O processo de produção agroecológica na CGS tem a intenção de sensibilizar os agricultores, por meio de formação e do intercâmbio de experiências. Atualmente existe uma grande rede de agricultores que desenvolvem a produção agroecológica, que tem como foco o ambiente na estratégia de interação homem e natureza. Isso permite que o processo de certificação orgânico não possua quase nenhuma irregularidade no campo. Os relatos a seguir demonstram a importância de desenvolver produtos orgânicos para os agricultores:

Tem muitas pessoas que não acreditam, os grandes agronegócios que tem ai eles não acreditam que nos somos capazes de produzir que nos somos capazes e, que a gente faz isso é com amor a terra, amor a natureza com amor a vida de nos mesmos e a vida de cada um que está esparramado pelo mundo afora. Eles acham que o deles tem que ter mais valor, porque eles produzem mais e quantidade, mas sabendo que nos aqui temos diversidade, eles é monocultura não tem diversidade, aonde produz banana é só banana, enquanto nos consegue produz é variedade dos nossos produtos (Membro representante da diretoria e sócio-fundador 3).

(...) porque a gente grande sertão não pensamos apenas na situação de hoje, nos pensamos na situação daqui a 100 anos, então fazendo a nossa parte de ter um produto de quantidades mínimas de algum tipo de agroquímico, nos vamos estar de certa forma contribuindo com o meio ambiente com a vida, além disso, dessa contribuição tem a parte econômica, é um produto orgânico tem um valor maior do que outros, apesar de ser um pouco conhecido, pouco divulgado, pouco consumido pela sociedade (Técnico e associado 9).

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A prática da agroecologia entre os cooperados da organização foi se desenvolvendo ao longo dos anos. Trabalhar com a agroecologia traz vantagens no âmbito da saúde, na qualidade dos produtos, no meio ambiente e também na rentabilidade – o que pode ser também um entrave, se o produto não estiver bem gerido (marca, qualidade) e tiver um custo elevado. Além do mais, esses produtos têm dificuldades para serem diferenciados por meio de suas qualidades físicas, já que não se pode identificar a ausência de agrotóxicos e de adubos químicos pela aparência, sendo necessário o monitoramento dos produtos, e isso é feito por meio da certificação.

Segundo o MAPA (s/d), no seu manual de certificação de produtos orgânicos54, a certificação e a comercialização de produtos orgânicos nascem da necessidade dos consumidores terem uma maior segurança em relação à qualidade dos produtos, aumentando a demanda de produtos que são cultivados por meio de métodos da agricultura orgânica. A certificação é uma forma de garantir que os produtos rotulados como orgânicos sejam realmente produzidos dentro dos padrões da agricultura orgânica. Por meio do selo ou do certificado se reduz a incerteza em relação à qualidade do produto, transmitindo para o consumidor informações objetivas, que são de suma importância no momento da compra. A certificação orgânica é feita por agências locais e internacionais, bem como por grupos de agricultores (por meio de mecanismos internos de controle). A CGS conta atualmente com duas certificações: uma é a Biocert organic certification, que é uma certificação de produtos orgânicos, e a outra é a certificação Fair Trade do mercado justo. Estas certificações têm o intuito de organizar a produção, de organizar os agricultores e de obter uma garantia para os produtos, certificando que foram obtidos dentro dos princípios agroecológicos, transformando-se em um respaldo de tudo aquilo com que a organização trabalha.

Ao decidir certificar os produtos, os agricultores devem seguir um conjunto de normas técnicas de produção. As unidades de produção, as unidades de processamento e as unidades de comercialização e as propriedades dos agricultores são vistoriadas periodicamente pelas certificadoras. Dessa maneira, a organização necessita estar permanentemente controlando sua produção, para que não ocorra nenhum eventual desvio, o que pode prejudicar toda a cadeia produtiva. Hoje na CGS poucos são os entraves que dificultam a certificação. Os membros

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Produtos orgânicos e agroecológicos não são sinônimos. Os produtos orgânicos, como os agroecológicos, não utilizam agrotóxicos nem adubos químicos no seu processo produtivo, mas, embora tenham esse cuidado com o ambiente, não se inclui nas normas produtivas a visão holística de benefícios socioeconômicos para os agricultores que já foi detalhada para a agroecologia.

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ressaltam que uns dos problemas da certificação estão relacionados aos custos, dado que significa pagar algumas taxas anuais, no entanto atualmente esta não é a dificuldade maior da organização, pois o retorno dos mercados está sendo satisfatório. Outro ponto mencionado como desafio da certificação se refere à necessidade de construir mecanismos de controles e de barreiras entre as áreas dos vizinhos. Isso é necessário por terem vizinhos que não necessariamente utilizam o padrão tecnológico agroecológico para produzir, podendo se transformar em fonte de disseminação de agrotóxicos, por meio dos ventos, ou das águas, o que pode vir a prejudicar o agricultor familiar agroecológico, como ressaltado no relato a seguir:

(...) e pra controlar isso tem os mecanismos de controle e isso é uma dificuldade porque o vento leva a contaminação cruzada, e essas coisas pode acontecer e esse controle é um pouco difícil de ser feito, mesmo sendo cooperados a propriedade dele ser certificada como orgânica tem dificuldades por que o vizinho dele, trabalha com químico e acaba contaminando a propriedade dele também, isso é uma grande dificuldade (Técnico e associado 9).