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CENÁRIO 2 Relação Cooperativa/M ercado

3.4 Estratégias em cooperativas

Na medida em que se considera a cooperativa como um amplo espaço em que interagem um grande número de associados, dedicados principalmente a suas atividades pessoais, uma variedade de atividades da cooperativa, operadas por elementos contratados, técnicos ou não, e, ainda, as situações mercadológicas, resulta evidente que este é um espaço de poder. E, nele, as diferentes forças atuantes precisam ser coordenadas e disciplinadas no sentido de orientá-las ao cumprimento do objetivo da cooperativa, ou seja, prestar serviços ao associado (SCHULZE, 1987, p. 51).

A figura abaixo representa a conjunção de divergentes interesses em uma organização cooperativa, que são: os interesses dos associados, a influência dos mercados, o interesse dos funcionários e o interesse do ambiente natural. Essas forças atuantes devem ser bem direcionadas e planejadas a fim de que, somadas, consigam levar para os associados maiores benefícios e vantagens.

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Figura 3 - Cooperativa: Conjunção de interesses divergentes Fonte: Adaptado de Schulze (1987).

As organizações cooperativas necessitam acessar e permanecer no mercado de atuação, oferecendo bons produtos e/ou serviços para seus associados, tendo níveis de flexibilidade, de capacidade de investimento e de agilidade, mas implementando, simultaneamente, as regras e os princípios cooperativos, ou seja, elas precisam aprimorar a sua gestão e avaliar as melhores estratégias para que possam ter um adequado funcionamento, conseguindo, com seus produtos e/ou serviços, uma escala que permita melhorar a sua participação nos mercados.

Dessa forma, para que a cooperativa possa orientar a organização da produção é necessário que conheça profundamente os mercados nos quais atua, elaborando suas estratégias para participar de forma competitiva nestes mercados.

Maciel (2008) enfatiza, ainda, que “o objetivo das organizações produtivas de agricultores familiares deve ser a retribuição com eficiência (qualidade e quantidade) às demandas sociais e econômicas das entidades consumidoras e do poder público” (MACIEL, 2008, p. 93). Schmitt e Guimarães (2008) ressaltam que

trata-se de um avanço importante na construção de estratégias de acesso a mercados por parte desses produtores, impulsionando, inclusive, a criação de mecanismos de

COOPERATIV A Interesse dos funcionários Influências do mercado Inter es se dos as soc ia do s Interesse do ambiente natural

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aquisição de produtos e de regulação de preços voltados especificamente para a agricultura familiar (SCHMITT; GUIMARÃES, 2008, p. 13).

Além de ser necessário ter uma gestão capaz de adequar o planejamento às estratégias da cooperativa com o mercado, uma ferramenta para aumentar os laços entre cooperativas e também entre as empresas de capital que é utilizada com êxito é a intercooperação. Trata-se de uma estratégia que se deve iniciar primeiramente dentro da própria organização, por meio da união entre os próprios cooperados e do diálogo. Crúzio (2006, p. x) afirma que “as cooperativas atendem a seus sócios mais efetivamente e fortalecem o movimento cooperativo trabalhando juntas, através de estruturas locais, nacionais, regionais e internacionais”.

No entanto, autores como Sieb, Oliveira e Bueno (2003) afirmam que esta estratégia não é muito utilizada pelas cooperativas e nem aprofundada no meio acadêmico, mesmo tratando-se do sétimo princípio cooperativista. Não se tem uma abordagem teórica que aprofunde mais sobre o tema, restringindo-se somente ao conceito genérico.

Formas distintas de intercooperação são descritas: a intercooperação horizontal e a intercooperação vertical. A intercooperação horizontal acontece quando realizada entre cooperativas que atuam no mesmo ramo cooperativo, ou até mesmo em ramos distintos, agindo por meio de parcerias, sem a criação de uma nova entidade. Para identificar este tipo de intercooperação cinco variantes são utilizadas: o apoio mútuo32, a filiação entre cooperativas33, as relações de negócios34, a aliança estratégia35 e também o suporte recíproco de negócios36(SIEB; OLIVEIRA; BUENO, 2003).

Já a intercooperação vertical ocorre quando um grupo de cooperativas singulares se junta para a criação de uma nova entidade, com a finalidade de obter melhores resultados. Por meio da união entre as cooperativas singulares ou de base formam-se centrais ou federações

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O apoio mútuo refere-se a forma mais simples de integração horizontal. Nesse tipo de parceria, ocorre, geralmente, transferência de tecnologia de uma cooperativa para outra, tanto na área de pesquisa como estruturação, gerenciamento, etc. (SIEB; OLIVEIRA, BUENO, 2003, p. 63).

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A filiação entre cooperativas se dá quando uma cooperativa filia-se à outra, tornando-se membro da outra cooperativa sob a forma de filiação de pessoa jurídica, participando, assim, nos negócios e resultados da outra. Facilita o processo de negociação, pois se torna formal e pode trazer vantagens competitivas (SIEB; OLIVEIRA, BUENO, 2003, p. 63-64).

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As relações de negócios ocorrem quando as cooperativas se tornam clientes ou fornecedoras entre elas, independente do tipo ou grau de cooperativa. Nesse caso pode se tratar de uma simples relação de troca de produtos ou serviços eventuais ou com prazo determinado de natureza contratual (SIEB; OLIVEIRA, BUENO, 2003, p. 64).

35

A aliança estratégica é uma forma mais avançada complexa de integração, pois envolve cooperativas de diferentes ramos (SIEB; OLIVEIRA, BUENO, 2003, p. 64).

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O suporte recíproco de negócios ocorre quando uma cooperativa apoia negócios realizados por outra do mesmo tipo e grau (SIEB; OLIVEIRA, BUENO, 2003, p. 64).

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(que são cooperativas de segundo grau), e as centrais ou federações podem constituir confederações de cooperativas, que passam a ser cooperativas de terceiro grau. Dessa forma, as principais características da intercooperação vertical são: a formação de uma nova entidade; o vinculo social formado pelas cooperativas se torna permanente; a união confirmada por meio da aprovação do estatuto social elaborado pela Assembleia Geral, sendo a parceria de duração indefinida. Deve-se ressaltar que o que rege esse tipo de integração é o princípio da subsidiariedade, ou seja, as organizações novas que foram criadas pelas cooperativas realizam atividades que não coincidem com aquelas realizadas pela cooperativa de base; só é possível tal realização se a nova organização possuir uma autorização para tanto. Assim, entre os objetivos está prevenir conflitos e evitar desperdícios de recursos (SIEB; OLIVEIRA; BUENO, 2003).

Destaca-se que o processo de intercooperação depende das decisões dos indivíduos, gestores da organização, uma vez que, com essa estratégia, pode haver perda de poder de decisão, já que a intercooperação necessita de um compartilhamento das decisões (BIALOSKORSKI NETO, 2012).

Pode-se dizer que o nível de intercooperação entre as cooperativas demonstra a maturidade conquistada por estas. E por meio dessa maturidade as sociedades cooperativas estão muito mais do que cumprindo um princípio do cooperativismo. Cumprem seu papel no desenvolvimento econômico e na distribuição mais justa e igualitária de renda (SIEB; OLIVEIRA; BUENO, 2003, p. 69).

A intercooperação entre organizações, muitas vezes, é influenciada por questões culturais e também comportamentais durante o processo de tomada de decisão. O ambiente institucional é fundamental para que tal estratégia ocorra, devido à cultura predominante. No entanto, a educação cooperativista é fundamental para influenciar o processo. Bialoskorski Neto (2012) evidencia que o conjunto de normas sociais tende a moldar as organizações e podem apresentar oportunidades ou limitações para elas. Prevalecem, assim, diferentes arranjos entre as formas organizacionais em cada ambiente institucional e legal, ocorrendo de forma e intensidades diferentes, dependendo, portanto, da cultura e dos valores de cada sociedade.

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Ao mencionar a educação cooperativista37 como necessária para uma eficiente gestão, faz-se necessário salientar alguns pontos, dada a relevância da educação cooperativista para as organizações. Segundo Valadares (2005), a educação cooperativista é um processo para formular e executar as políticas de educação no qual as características se referem aos aspectos primordiais à prática da cooperação, que é a gestão democrática. Dentro dessa linha de pensamento, Ferreira (2009) diz que a educação cooperativista é de suma importância, seja como ferramenta para a construção da comunidade cooperativa e promoção de seus valores, seja para o aprendizado de novas tecnologias de produção e de gestão do negócio que permitem ao agricultor acessar o mercado. Ele menciona também que a educação cooperativista

(...) nasce com a própria ideia de cooperativa. Conscientes das características peculiares destas formas organizacionais, em que a cooperação se propõe como alternativa à competição e ao individualismo, os pioneiros do sistema cooperativo estabeleceram que ela seria um dos princípios que sustentariam e definiriam as próprias cooperativas. O longo percurso histórico destas organizações mostra como é crítica a educação cooperativa para sua sobrevivência e seu êxito. A correta gestão cooperativa e o desenvolvimento da cultura da cooperação requerem processos educativos próprios que as organizações devem promover para garantir o seu sucesso. Os pioneiros de Rochdale propuseram a educação aplicada às organizações (cooperativas), para modelá-las segundo determinados princípios de funcionamento e garantir o seu sucesso (FERREIRA, 2009, p.11).