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Em Cuba, a degradação dos solos e estudos destinados a sua conservação foram enquadradas em geral, através de diferentes etapas, a partir de trabalhos anteriores do projeto CITMAb (2007) e FEBLES et al. (2009).

Etapa da conquista e colonização da nossa América (1492 - 1900), uma história que também é comum às ilhas do Caribe, foi caracterizada pela denudação das florestas e da espoliação dos recursos naturais. O ambiente sofreu o desmatamento de grandes áreas de floresta e o uso irracional da terra para produção agrícola e pecuária. Em 1900 a área florestal tinha sido reduzida a 54%.

O período da Republica Neocolonial (1901 - 1959) intensificou a degradação dos solos, topografia, fauna e vegetação, área de floresta continuou a diminuir atingindo

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dramáticos 14% de Cuba, o que levou a uma perda significativa de diversidade biológica, cujo impacto é impossível de ser avaliado por completo. A atividade manufatureira era fraca, quase artesanal, e com exceção da indústria do açúcar, quase não se aplicava o ordenamento territorial ou medidas de proteção ambiental. As condições de vida da população eram deploráveis por insuficientes serviços de saúde e sociais em geral.

As primeiras ações para proteção dos solos e a obtenção de tecnologias de culturas de acordo com suas características, se desenvolveram na Primeira Estação de Pesquisa Agrícola, criada no início do século XX, em Santiago de las Vegas, província Havana, através dos trabalhos realizados no cultivo da cana pelo cientista cubano Alvaro Reinoso, bem como a classificação dos solos em Cuba, feito por Bennett e Allisson nos anos 1928 a 1932.

A partir de 1959 (período da Revolução) realizaram-se transformações econômicas e sociais que conduziram a melhorias significativas nas condições de vida da população e a proteção dos recursos naturais, alcançando um aumento na área florestal, e o desenvolvimento de capacidades científicas para diagnosticar e resolver muitos problemas ambientais e causas subjacentes.

Nos anos 60, o desenvolvimento de instituições científicas da Agricultura levou ao desenvolvimento da ciência do solo e os estudos deste em Cuba com um propósito mais geral, que visava aumentar e diversificar a agricultura. Nesta década, começaram os trabalhos de classificação genética dos solos de Cuba, realizados até agora I, II, III e Nova Versão de Classificação Genética dos Solos de Cuba, que forneceram a base para estudos pedológicos e edafológicos nacionais, com a confecção das cartas de solos nacionais em escala 1: 250.000, 1: 50.000 e 1: 25.000 e a caracterização de mais de 80.000 perfis no país.

Nesta mesma década foram produzidos mapas temáticos nacionais da acidez, da erosão atual e potencial, de salinidade, de matéria orgânica, da produtividade agrícola dos solos, drenagem e outras em diferentes níveis e extensão territorial. Foram realizados também estudos detalhados dos solos para o desenvolvimento agrícola, conservação e melhoria dos solos em diferentes regiões do país, além do desenvolvimento do Programa Nacional de Melhora e Conservação do Solo, dentre

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outros.

As décadas de 70 e 80 foram caracterizadas pela intensificação da agricultura, sendo que nestas décadas foram alcançados os rendimentos históricos mais elevados em quase todos os produtos agrícolas e pecuários, através da aplicação de altos níveis de mecanização e quimização, do melhoramento genético do rebanho bovino por meio do uso de técnicas de inseminação artificial ligados ao desenvolvimento de sistemas de agricultura intensiva,e da aplicação dos resultados da ciência e da tecnologia em variedades altamente produtivas e resistentes a pragas e doenças.

Esta etapa na agricultura cubana é conhecida por outros autores, como Revolução Verde (VEGA e FEBLES, 2005; FEBLES et al., 2007) apud FEBLES et al. (2009), onde a visão predominante na gestão das terras, ao invés de ecológica, foi agronômica: aumentando a produtividade através do desmatamento de novas terras para o cultivo (desmatamento de terras virgens), do uso excessivo de fertilizantes para compensar as perdas, introduzindo variedades melhoradas, da utilização cada vez mais frequente de máquinas pesadas e de causas sociais que levaram a separação do homem da terra.

Na década de 90, devido à perda de laços comerciais e mercados estabelecidos principalmente com os países da Europa Oriental, a economia cubana sofreu uma forte contração, o que afetou diretamente a agricultura. Esse período ficou conhecido como Período Especial (VEGA e FEBLES, 2005; FEBLES et al., 2007) apud FEBLES et al. (2009).

O período de 1996 até o presente, conhecido como a Recuperação Econômica (VEGA e FEBLES, 2005; FEBLES et al, 2007) apud FEBLES et al. (2009), foi caracterizado pela substituição de insumos agrícolas e de conversão horizontal, sob um conceito agro-ecológico, a fim de fazer uso dos mecanismos de sinergia de grande importância para finalmente consolidar a base para a aplicação de uma agricultura orgânica nos sistemas agrícolas em larga escala.

Iniciou-se a partir desde período a busca de alternativas para o desenvolvimento agricola através dos resultados do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, que contou também com a contribuição das forças técnicas não científicas do país, construído e canalizado através do Fórum de Ciência e Tecnologia. A contribuição

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deste Forum foi uma via importante para a introdução de práticas agrícolas sustentáveis e o uso de tecnologias tradicionais, propiciando o uso de tecnologias que são menos prejudiciais ao meio ambiente e mitigando os efeitos das reduções drásticas de insumos agrícolas.

A década de 1990 a 2000 foi tanto internacionalmente quanto nacionalmente destinada a combater desastres pela ONU. A partir desse momento foram iniciados uma série de projetos internacionais e nacionais, com um apoio financeiro considerável. A chamada feita pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida também como ECO-92, Rio-92, Cúpula ou Cimeira da Terra, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, constituiu o marco propício para prevenir a degradação do solo, combater à desertificação e restaurar as terras afetadas.

O Estado cubano faz parte dos acordos de cooperação e parcerias internacionais, como parte do Programa Agenda 21 para ajudar a alcançar o desenvolvimento sustentável nas áreas afetadas, o que requer a aplicação de estratégias integradas focadas simultaneamente na detenção dos processos de degradação, na recuperação dos ambientes, no aumento da produtividade das terras,e na reabilitação, conservação e uso sustentável dos recursos da terra e dos recursos hídricos, buscando a melhoria das condições de vida da população, especialmente em nível da comunidade (CITMA 2003).

A criação em 1994 do Ministério de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Cuba (CITMA), impulsionou intensamente a elaboração de políticas de gestão ambiental a nível nacional. No mesmo ano, veio a Convenção Internacional de Combate à Desertificação (UNCCD), nos países afetados por seca grave ou desertificação.

Em 1995, criou-se o Grupo Nacional de Combate à Desertificação e à Seca em Cuba, composta por 36 representantes de 26 instituições e organizações da Administração Central do Estado (OACE), centros de ciência, professores e ONGs, sob a coordenadoria geral do Ministério de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente.

Apesar das dificuldades econômicas enfrentadas pela economia cubana e a forte contração que atingiu o país neste período, o Governo de Cuba aprovou no ano de

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2000 o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação (PAN), dirigido pelo CITMA, que estabeleceu as primeiras diretrizes do Programa relacionado a gestão sustentável da terra (CITMA, 2003).

O objetivo deste programa é:

“Prevenir e controlar as causas que contribuem para o desenvolvimento dos processos que conduzem à desertificação através da implementação de medidas práticas necessárias e suficientes que permitam mesmo, deter e reverter esses processos, mitigar os efeitos da seca e contribuir para o desenvolvimento sustentável das áreas afetadas, a fim de melhorar a qualidade de vida de seus habitantes” (CITMA, 2003, p.65).

O PAN indicou que as condições da degradação da terra são extremas em 14% das terras produtivas afetadas pela desertificação e a seca. Este é o caso particular das áreas de planícies costeiras baixas até 40 metros acima do nível do mar e nas planícies associadas com as serras até 500 m (CITMA, 2003).

Em 2004, foi realizado a IV Convenção de Combate à Desertificação e à Seca da República de Cuba, patrocinada pelo Secretariado da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação e à Seca (CCD), pela Organização para Agricultura e Alimentação (FAO) e pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).

Desde 2005, Cuba integra o projeto de Avaliação da Degradação do Solo em Zonas Áridas (Land Degradation Assessment in Drylands, LADA), financiado pelo GEF e pelo Mecanismo Global (GM), implementado pelo PNUMA e executado pela FAO, onde participa como um país com cenários de estudo no contexto Tropical até 2010.

Em seguida, criou-se em Cuba o Programa Nacional de Ciência e Técnica da Defesa Civil, que apoia projetos relacionados às questões de desastres naturais. No ano de 2006 foi implementada a Diretiva1, que autoriza ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente a realizar estudos de avaliação de riscos de desastres e seu impacto em todo o país. No entanto, as pesquisas relacionadas à avaliação de riscos na agricultura são relativamente limitadas e focadas em poucas instituições (SANCHEZ et al, 2006).

O CITMA em sua "Estratégia Nacional de Meio Ambiente 2007/2010”, identificou os principais problemas ambientais no país, tendo em conta o seu impacto pela

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afetação dos recursos naturais e sua distribuição à escala nacional, entre os quais se encontra a degradação dos solos.

Dentre os principais processos de degradação dos solos em Cuba, estão os processos de erosão que afetam 2,9 milhões de hectares de terra no país, como mostra na Tabela 2.4. Estas áreas são afetadas por fatores naturais ou antrôpicos acumulados ao longo dos anos, com uma preponderância marcada do último, embora nos últimos anos se intensificassem os processos naturais como a seca e a incidência de furacões, com as consequentes inundações, lixiviação dos solos, e movimentos de massa, que estão incidindo na sua deterioração (CITMAa, 2007).

Tabela 2.4 Tipos de processos de degradação da terra em Cuba.

Tipo de degradação MM de hectares % de área total

Salinidade e/ou sodicidade 1,00 14,9

Erosão (muito forte e meia) 2,90 43,3

Baixa fertilidade 3,00 44,8

Acidez (ph KCl < 6,0) 3,40 51,5

Compactação 1,60 23,9

Muito baixo conteúdo de M.O. 4,66 70,6

Mao drenagem 2,70 40,3

Fonte: Oficina Nacional de Estadística (ONE) 2005 em (CITMA/LADA 2007)

A superfície de terras agrícolas de Cuba é de 6.654.500 hectares o que representa 60,56 % do território total. A área cultivada é 54,02 % dessa área agrícola (CITMAa 2007). Tais dados podem ser vistos na Tabela 2.5 com as estatísticas da FAO para o ano 2009.

Tabela 2.5 Estatística sobre a superfície de uso da terra em CUBA (1.000 ha) indicadas pela FAO em 2009.

Tipos de usos 1.000 ha

Superfície do país 10.989,00

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Superfície agrícola 6.655,00

Terras aráveis e Culturas permanentes 4.025,00

Terras aráveis 3.650,00

Pousio (temporal) 1.314,00

Culturas permanentes 375,00

Savanas e pastos permanentes 2.630,00

Savanas e pastos permanentes - Cultivados 232,00 Savanas e pastos permanentes - Naturais 2.398,00

Superfície florestal 2.835,40

Outras terras 1.153,60

Água interior 345,00

Superfície total provista para riego 870,00

Fonte: FAOSTAT | © FAO Statistics Division 2011, Atualizada: 21 de Julho de 2011 Disponível em: http://faostat.fao.org/site/377/DesktopDefault.aspx?PageID=377#ancor

Aceso em: 13 de Setembro 2011.

Os processos que causam a degradação da terra afetam um número considerável de solos agrícolas, incluindo áreas de agricultura mecanizada e manual, culturas de irrigação, culturas não irrigadas, agricultura permanente e de migração. Cuba tem cerca de 970 reservatórios, com cerca de 7.000 milhões de metros cúbicos, que enfrentam crescentes problemas de sedimentação devido aos altos níveis de erosão do solo em bacias hidrográficas que drenam para eles. Vários aqüíferos de importância foram afetados pelo aumento nas concentrações de nitrato provenientes de fertilizantes artificiais (até 60 mg/l em algumas partes da bacia Havana-Matanzas, que ultrapassa os níveis permitidos de 45 mg/l), enquanto os corpos de água superficial sofrem eutrofização da mesma fonte (CITMAa, 2007).

Nas condições de Cuba, há uma estreita inter-relação entre fatores biofísicos e socioeconômicos, como os agentes de degradação dos ecossistemas produtivos, em particular os agrícolas, notando-se que naquelas áreas frágeis, como o Vale de Guantánamo, Vale do Cauto, ao norte das Províncias Centrais, Planície Havana- Matanzas e a Planície do Sul de Pinar del Rio, a pressão gerada pela produção de

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alimentos, bem como a construção de infraestruturas habitacionais e rodoviárias, tem levado a processos de erosão, compactação, salinidade, perda de matéria orgânica e sobre-umedecimento . Estas regiões são as que apresentam as maiores áreas de degradação da cobertura do solo (CRUZ DIAZ et al 2008).

A erosão tem causado grandes perdas da massa de solo devido ao desenvolvimento inadequado dos sistemas de rotação de culturas pelas lavouras e culturas na direção da inclinação mais acentuada, ao uso de sistemas de aspersão de alta pressão com uma incorreta fundamentação técnica, à eliminação da drenagem natural da água a fim de realizar a tipificação dos campos, aos padrões de irrigação que excedem a capacidade de infiltração do solo causando o escoamento superficial; à mecanização de áreas com solos rasos e culturas e à procedimentos que provocam a denudação dos solos (CITMAb, 2007; CITMA, 2010).