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CAPÍTULO 2 | PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.6 Delimitação do mobiliário urbano para análise

Qualquer objeto, evento, situação ou experiência que uma pessoa ver, ouvir, tocar, cheirar, sentir, intuir, conhecer, compreender ou vivenciar é um tópico legítimo para uma investigação fenomenológica. Pode haver uma fenomenologia da luz, da cor, da arquitetura, da paisagem, do lugar, (...), do ciúme, (...), da economia, da sociabilidade, e assim por diante. Todas essas coisas são fenômenos porque os seres humanos podem experiência-las, encontrá-las ou vivenciá-las de alguma maneira (SEAMON (2000, p. 3)8.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1 Estratégias Metodológicas

Fundamentalmente, essa investigação procurou assentar-se sobre o caráter heurístico para análise dos fenômenos que aqui se buscou compreender e explicar através de uma abordagem exploratória que nos conduzisse à construção de um debate suficientemente relevante sobre os campos teóricos referenciados neste trabalho, apoiando os argumentos e as conclusões apresentadas. De acordo com Ferrara (1999, p. 66),

A complexidade da cidade como objeto de pesquisa envolve um rigor metodológico construído com criatividade que supõe rejeitar a adoção de qualquer modelo teórico (corpo de referências), método ou técnica prefixados. Rejeitam-se os padrões interpretativos mais condizentes com características de uma ciência aplicada e, ao mesmo tempo, são abolidos os receituários metodológicos que determinam, com segurança, os passos e o desenvolvimento da pesquisa.

Assim sendo, a abordagem multimetodológica (AMM)9 pareceu ser o meio

8 Seamon, David (2000: 03) apud Castello. Op. Cit., 2007.

mais adequado para guiar um trabalho no qual se propõe investigar a interdependência e as relações recíprocas entre os fatores que configuram contextos socioambientais urbanos contemporâneos e o desenho funcional e estético-simbólico do mobiliário urbano inserido no espaço público das áreas centrais da cidade. Procurou-se então, definir estratégias voltadas para a análise do ambiente urbano, pertinentes às questões relativas ao design de produtos e a legibilidade do espaço público, abordando conceitos técnicos e teóricos que correspondam às expectativas práticas do trabalho em questão.

Focado nos três conceitos-chave deste estudo (funcionalidade, racionalidade e emotividade), procurou-se investigar a existência de relações recíprocas entre o contexto socioambiental (espaço público), os atores e as situações envolvidas nessas relações (usuários pedestres) e a configuração dos artefatos que definem comportamentos e usos (mobiliário urbano). Segundo De Moraes (2010, p. 70), ”a concepção de um produto, de forma consciente ou não, é fruto da interação dos atores envolvidos no projeto com a realidade sociocultural circundante que os influenciam.” Para 0 autor, tanto o ambiente quanto o estilo de vida de um local definem referenciais tipológicos e estéticos que serão utilizados na criação de produtos, sejam eles artesanais (vernaculares) ou industriais.

Deste modo propõe-se observar os seguintes aspectos: tipo e nível de influência que o mobiliário exerce na realização de atividades cotidianas pelos usuários (usos e apropriações do espaço público); existência ou não de uma demanda social efetiva por tais artefatos em áreas locais específicas (calçadas, atividades e serviços); questões administrativas relacionadas à gestão pública do espaço público, voltadas para a acessibilidade e a mobilidade nos centros urbanos (marcos regulatórios).

Para operacionalizar o desenvolvimento deste trabalho e verificar as hipóteses suscitadas, recorreu-se à consulta sistemática de referências bibliográficas e documentais necessárias ao embasamento científico que permitisse conhecer o estado da arte dos recentes estudos relacionados, direta ou

princípio de que não exista apenas um único método que seja o mais adequado e que todos os métodos apresentam restrições e vantagens que podem ser contrabalançadas e reunidas, combinando-se vários métodos em um mesmo programa de pesquisa, focado na resolução de problemas práticos da pesquisa. Sobre AMM consultar Moran-Ellis et al. (2006), Tashakkori e Teddlie (2003) e Mingers e Brocklesby (1997). (Nota do autor).

indiretamente, aos principais eixos de investigação abordados nesta pesquisa (design de produtos e legibilidade do espaço público). Conjuntamente, realizou-se uma abordagem empírica, de base exploratória baseada numa leitura técnica, pesquisa de campo e estudo de caso, em que as observações in loco ofereceriam os enquadramentos necessários para a descrição dos fenômenos levantados e aportariam os fundamentos desta investigação.

2.2 Métodos

Uma abordagem qualitativa foi adotada para esta investigação baseada na pesquisa documental e no estudo de caso, em que o “investigador busca desenvolver sua perspectiva teórica, relativamente a determinado assunto ao mesmo tempo em que vai fundamentando-a na observação empírica” (COUTINHO,

2005, p. 177-197). Em sendo um tipo de investigação indutiva e descritiva, na qual se desenvolvem conceitos, ideias e entendimentos a partir de padrões encontrados nos dados, buscou-se a compreensão e a interpretação dos fenômenos estudados trabalhando com valores, representações, hábitos, atitudes e opiniões. Como estratégia para se investigar uma realidade em particular, a escolha de um cenário específico para estudo de caso nos possibilitou apreender determinada situação em sua totalidade e descrever a complexidade de um caso concreto permitindo “a penetração na realidade social” (GOLDENBERG, 2002, p. 34).

2.2.1 Método de abordagem

Teve-se como proposta investigar, analisar e discutir a interdependência e relações recíprocas, ou não, entre os diversos fatores que dizem respeito a realidade e ao contexto contemporâneos dos sistemas de mobiliário urbano implantados em áreas centrais das cidades brasileiras, através do método dialético e suas leis “ação recíproca” (tudo se relaciona) e “mudança dialética” (tudo se transforma) (De MORAES, 2010, p. 20), à luz dos conceitos da funcionalidade, da racionalidade e da emotividade. Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 101),

Para a dialética, as coisas não são analisadas na qualidade de objetos fixos mas em movimento: nenhuma coisa está “acabada” encontrando-se sempre em vias de se transformar, desenvolver-se. O fim de um processo é sempre

o começo de outro. Por outro lado, as coisas não existem isoladas, destacadas uma das outras, e independentes, mas como um todo unido, coerente. Tanto a natureza quanto a sociedade são compostas de objetos e fenômenos organicamente ligados entre si, dependendo uns dos outros e, ao mesmo tempo, condicionando-se reciprocamente [...] nenhum fenômeno da natureza pode ser compreendido, quando encarado isoladamente, fora dos fenômenos circundantes; porque, qualquer fenômeno, não importa em que domínio da natureza, pode ser convertido num contrassenso quando considerado fora das condições que o cercam.

2.2.2 Métodos de procedimentos operacionais

Os métodos operacionais foram definidos segundo as estratégias metodológicas adotadas e se relacionam a:

a. Observação estruturada (sistemática, planejada, controlada): captar os

aspectos relacionados ao contexto socioambiental estudado e às consequências decorrentes das situações levantadas fazendo uso de instrumentos para a coleta de dados e fenômenos observados. Observar espontaneamente os fatos que ocorrem no contexto investigado, sendo mais um espectador que um ator. Neste sentido a observação simples não apenas favorece a obtenção de elementos para a definição objetiva do problema da pesquisa como também facilita o levantamento de dados sem causar transtornos aos membros do grupo estudado (pedestres). Posto desta maneira, este tipo de observação busca apreender informações relativas aos atores envolvidos (usuários pedestres), o cenário (ambiente construído) e o comportamento social (interações e usos do mobiliário urbano e outros elementos da infraestrutura urbana);

b. Contextualização: determinar características e peculiaridades físico-

estruturais e organizacionais do ambiente urbano em suas várias nuances, situando-o no espaço e no contexto ambiental específicos, observando os aspectos socioculturais relacionados aos usos, atividades e apropriações dos espaços públicos (calçadas) assim como os elementos que configuram a infraestrutura e a paisagem local, uma vez que foram analisados alguns casos com o intuito de verificar sua natureza análoga objetivando esclarecer alguns fenômenos urbanos, buscando correspondência com os princípios teórico- conceituais estruturantes da pesquisa;

c. Levantamento: busca de fontes secundárias que revelassem as relações

existentes entre os vários conceitos envolvidos no contexto socioambiental estudado, ou seja, tornar o desconhecido familiar através da interpretação das informações adquiridas;

d. Comparação entre as características do espaço público avaliado e dos

artefatos urbanos ali instalados, pretendendo-se captar aspectos fundamentais relacionados ao contexto socioambiental estudado e às implicações decorrentes daquelas relações com alguns casos semelhantes existentes em diversas cidades brasileiras e do exterior com o intuito de verificar a natureza análoga e as possibilidades de generalização entre eles, objetivando explicar determinados fenômenos, tendências e particularidades.

2.2.3 Universo da pesquisa e delimitação do estudo

O centro urbano principal10 da cidade de Natal/RN, localizado no bairro da Cidade Alta, foi o cenário escolhido para investigação em que algumas vias foram selecionadas para averiguação segundo o nível de importância e vitalidade urbana11 de seus espaços públicos para a cidade e seus habitantes. Delimitou-se, também, um perímetro urbano que apresentasse número significativo de elementos instalados ao longo daquelas vias, possibilitando verificar as relações funcionais, racionais e emotivas no ambiente urbano, segundo os princípios das funções práticas, estéticas e simbólicas de tais artefatos urbanos. Como estratégia para a familiarização com o ambiente e compreensão da sua dinâmica definindo um cenário geral para cada local investigado, buscou-se levantar dados sobre a disponibilidade, localização, posicionamento, utilização e quantificação das tipologias do mobiliário urbano existentes naqueles trechos; mapear e caracterizar os espaços públicos das áreas centrais e suas singularidades como também realizar um percurso orientado com base na análise sequencial fazendo o registro fotográfico dos trechos avaliados.

10 De acordo com definições de Villaça (2004), Vargas e Castilho (2006), Panerai (2006). 11 Conforme estudo realizado por Vikas Metha (2009) onde o autor define uma série de

princípios que indicariam o nível de vitalidade de alguns espaços públicos baseado na correlação entre as características físicas do ambiente urbano e o comportamento das pessoas. (Nota do autor).

2.2.4 Técnicas de coleta de dados

2.2.4.1. Pesquisa bibliográfica: enfoques teóricos e conceituais relacionados ao espaço público e ao desenvolvimento do design do sistema de mobiliário urbano, questões da acessibilidade e da mobilidade que influenciam na consecução de atividades cotidianas pelos cidadãos no centro urbano principal. Foram levantados dados e informações abordadas em outros estudos relacionados à temática proposta neste trabalho que pudessem contribuir para o seu embasamento, por meio de conceitos fundamentais e aspectos metodológicos gerais.

2.2.4.2. Pesquisa documental: parâmetros e referências voltados às normatizações do mobiliário urbano destinado aos espaços públicos, e também questões afetas aos projetos para acessibilidade e mobilidade urbanas disponibilizadas em Códigos de Obras do Município de Natal, Códigos de Posturas do Município, Normatizações da ABNT, Manuais Técnicos e Cadernos do Ministério das Cidades, Decretos e Leis municipais e federais. Documentos referentes à implantação de mobiliário urbano em outras cidades do Brasil foram pesquisados como referência para o estabelecimento de critérios de análise adequados aos objetivos deste trabalho oferecendo níveis de comparação compatíveis entre soluções adotadas em diferentes contextos sócio ambientais.

2.2.4.3. Pesquisa empírica: a avaliação dos espaços públicos e dos artefatos urbanos foi orientada pelos critérios definidos ao longo do levantamento e análises realizadas caracterizando-se como somatório de fatores que possibilitam uma ampla percepção quanto às soluções existentes no ambiente urbano investigado. Esses critérios se referem aos conceitos da funcionalidade, racionalidade e emotividade, focos desta investigação, com os quais se persegue uma integração sistêmica entre o ambiente construído, os elementos urbanos e os usuários. Esta pesquisa empírica é composta de duas etapas da investigação: a primeira se refere à Análise Técnica do ambiente e dos elementos urbanos, visando apreender o universo dos elementos da infraestrutura urbana que compõem os espaços públicos investigados e suas características gerais relacionadas aos usos, funções, materiais empregados, sistemas construtivos e operacionais.

A segunda diz respeito à Análise Visual, levando em consideração os aspectos estéticos e emotivos, baseados nas leis da Gestalt e da Percepção da

forma, que configuram os elementos urbanos atualmente instalados nos espaços públicos estudados e sua relação estético-simbólica, com o entorno imediato. Para a consecução dessas análises tiveram-se como base alguns procedimentos metodológicos sugeridos por Ferrara (1999) tendo por finalidade:

1. A apreensão das características contextuais;

2. Organização das variáveis que interferem no contexto;

3. Discriminação entre essas características objetivando-se perceber diferenças; 4. Comparação entre as informações para determinar concretamente o contexto

estudado.

2.3 Critérios para Análises Técnica e Visual

No intuito de compreender as características e peculiaridades do mobiliário urbano instalado ao longo das vias investigadas, e identificar os aspectos gerais da infraestrutura urbana que compõem o contexto ambiental objeto desta análise, recorreu-se, dentro de uma visão sistêmica, aos parâmetros avaliativos indicados nas abordagens metodológicas propostas por SERRA (2000), CPD (2005), ÁGUAS (2010), MORRIS (2010) e GEHL (2013), apontadas a seguir.

2.3.1. Critérios para análise do mobiliário urbano

O mobiliário urbano existente nesses espaços foi levantado e analisado segundo uma classificação de uso e de importância funcional para a qualificação do espaço urbano, para tanto foram definidos os seguintes critérios para análise e levantamento das funções práticas, estéticas e simbólicas desses produtos urbanos:

1. Concepção formal: estrutura formal, fundamentada nos princípios de: unidade - conjunto de elementos que configuram coerentemente o objeto, como um todo, através de relações formais, dimensionais ou cromáticas; continuidade “organização perceptiva da forma de modo coerente, sem quebras ou interrupções na sua trajetória ou na sua fluidez visual” (GOMES FILHO, 2008, p. 33); pregnância - organização visual simplificada da forma do objeto facilitando a interpretação e a leitura dos elementos; harmonia - perfeita articulação visual na integração e coerência formal das unidades que compõem o produto; coerência - compatibilidade visual quanto à linguagem formal uniforme do objeto;

2. Implantação: integração entre elemento funcional e localização no espaço público respeitando a topografia, paisagem/vegetação e o contexto local (usos e atividades) com uma configuração ordenada;

3. Materiais: adequação aos usos, funções e compatibilidade com as condições bioclimáticas; sustentabilidade (uso racional de poucos materiais, uso de materiais endógenos); tratamento sensorial das superfícies como resposta estimulante ao toque e à visão (tatilidade);

4. Manutenção: estado de conservação e degradação; vandalismo; facilidade de reposição de sistemas;

5. Multifuncionalidade: emprego de estruturas e sistemas que possibilitem rearranjos ou adaptações;

6. Perigo e riscos: desconforto, obstrução do passeio e da visibilidade, mau funcionamento, insegurança no uso; materiais cortantes; fragilidade.

2.3.2. Critérios para análise do espaço público Segundo Sudsilowsky (2002, p. 09-10),

[...] as configurações espaciais não possuem autonomia, não surgem espontaneamente, nem são determinadas por nenhum evento a priori. O sistema dos objetos reproduz a hierarquia dos sistemas sociais, e prescinde de noções que fazem parte da subjetividade do configurador – o usuário do espaço. Apesar de tudo, o mobiliário tem se apresentado como uma forma de linguagem, uma gramática, que é seguida pelos usuários, mesmo que de forma inconsciente.

Os critérios apresentados a seguir foram estabelecidos objetivando facilitar as análises relativas ao ambiente construído (edificações, calçadas e infraestrutura) como também compreender algumas relações perceptivas concernentes aos usos, apropriações e vínculos dos cidadãos com sua cidade.

1. Acessibilidade e mobilidade: dimensionamento e qualidade da infraestrutura do entorno, que facilitem o fluxo de deslocamento; definição racional do alinhamento dos elementos urbanos e demais estruturas no espaço de circulação.

2. Adaptabilidade: possibilidade de adaptação a diferentes cenários da evolução da cidade em função de novas necessidades advindas de mudanças nos

padrões sociais, culturais e econômicos; diversidade de usos (caráter efêmero ou duradouro).

3. Identidade: cada local possui características e qualidades que o torna único, valorizando o entorno. Apresenta simbolismos e significados que suscitam memórias, tradições e a própria história da cidade.

4. Legibilidade: relações ordenadas por compatibilidade de linguagens formais, escalas e proporções e baixo nível de contraste entre os diversos elementos do contexto ambiental; locais de fácil compreensão e circulação.

5. Permeabilidade: espaços de transição suave entre o espaço público e o privado; edificações que permitam a relação interior-exterior.

6. Segurança, conforto e aprazibilidade: equilíbrio formal entre os elementos/sistemas do espaço e sua relação formal com o entorno imediato; ambiente dinâmico, organizado, limpo, dotado de elementos naturais (vegetação) que promovam a fácil circulação e permanência.

Delimitados os elementos do mobiliário a serem analisados e definidos os critérios para análise do espaço público, procedeu-se à pesquisa de campo para coleta dos dados e informações necessárias ao desenvolvimento da investigação, através de levantamento e registro fotográfico do perímetro investigado. Por meio da observação sistemática do espaço público buscou-se avaliar quais os aspectos mais ou menos consistentes que configuram a estrutura do ambiente urbano, dentre eles as atividades, os elementos e os indivíduos que ali atuam e se inter-relacionam. O nível de profundidade e de qualidade dos dados varia de acordo com cada ambiente específico, cada elemento funcional e sua condição física sendo também influenciado por situações de uso afetadas pela temporalidade na qual a investigação foi conduzida (diurno/noturno).

A observação sistemática baseou-se nos procedimentos utilizados para a avaliação pós-ocupação12 adaptando-a para uma avaliação pós-uso do design mobiliário urbano. Para isso foram elaborados formulários avaliativos baseados na análise dos mapas comportamentais13, centrado no lugar e no objeto já que o foco é

12 Segundo Ornstein (1995), a Avaliação Pós-Ocupação tanto realiza avaliações

comportamentais quanto avaliações técnicas.

13 Os mapas comportamentais são uma espécie de vistoria técnica feita para efetuar o

o mobiliário, o espaço público e as pessoas que nele circulam e realizam suas atividades. Neste caso o enfoque é voltado para uma avaliação técnico-funcional a respeito da frequência de uso do mobiliário pelos usuários, ou do período de ociosidade, ao qual o mobiliário é submetido no espaço urbano, tendo como finalidade verificar o efetivo uso do produto, seu valor de uso para o cidadão e sua importância para a qualificação do espaço público.

As observações ocorreram durante 14 dias entre julho e agosto de 2011, tanto pela manhã (9h às 12h) quanto à tarde (15h às 18h), onde cada tipo funcional do mobiliário urbano foi observado durante uma hora/turno. A cada intervalo de 10 minutos era realizado um “instantâneo” para verificar, naquele momento, os usuários interagindo com o produto. O mobiliário foi organizado em grupos constituídos de três produtos segundo sua disposição física nas quadras, levando em consideração o mesmo princípio adotado para o levantamento do mobiliário naquele local, ou seja, o sentido do percurso Norte-Sul realizado inicialmente, procurando-se manter uma coerência entre os critérios de análise adotados.

A partir desta aferição foi possível observar o uso do produto pelos usuários no meio ambiente urbano, seu estado de ociosidade, condição de uso (posicionamento, localização e nível de integridade física do mobiliário), relevância do artefato para o ordenamento e desempenho funcional no contexto socioambiental analisado. A análise textualmente apresentada encontra-se ilustrada e comentada quando se faz necessário, tendo por finalidade demonstrar as situações encontradas e as relações apontadas objetivando melhor visualização e compreensão dos dados levantados; fenômenos que apresentam maior complexidade de informação são, noutras vezes, detalhados e destacados na condução da avaliação.

2.4 Referencial Teórico

A questão central levantada por esta investigação fundamentou-se em dois eixos principais (design de produtos e legibilidade do espaço público) que, embora de referências teóricas distintas, se mostram interligados entre si, configurando os

técnico-construtivas, as dimensões espaciais, o tipo e a distribuição do mobiliário, as condições ambientais de ventilação e iluminação naturais (apenas observações representadas em croquis). Afirmam ORNSTEIN e ROMÉRO (2003: p.49) que os mapas comportamentais “podem estar acompanhados de registros de trilhas e fluxos de pessoas”.

campos de investigação que estruturam os conceitos-chave deste trabalho: funcionalidade, racionalidade e emotividade; entretanto, a intenção não foi descrever detalhadamente princípios e definições que norteiam cada área teórica específica, mas, por outro lado, estabelecer marcos e diretrizes que se prestem a futuros debates e pesquisas.

Pretendeu-se, dentro dos princípios do pensamento complexo14 e do planejamento sistêmico, analisar como aspectos funcionais, estéticos e simbólicos distintos que configuram o sistema do mobiliário urbano interferem na organização, no ordenamento e na legibilidade do espaço público tendo como resultado um diagnóstico sobre a atual compreensão e valor de uso atribuído ao mobiliário instalado nos trechos investigados, referindo-se aos conceitos de funcionalidade, racionalidade e emotividade incutidos no design de sistemas de objetos.

Nos Infográficos 1, 2 e 3, a seguir, indicam-se os autores que serviram de base para definir os conceitos investigados e que configuram a estrutura geral deste trabalho, observando-se as relações teóricas entre cada um deles. Quanto às