• Nenhum resultado encontrado

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

3.1 Delineamento da pesquisa

Definir o posicionamento ontológico e epistemológico é fundamental para direcionar os caminhos e a condução da pesquisa. A ontologia trata da natureza da realidade a ser estudada (MAFFEZZOLLI; BOEHS, 2008; GIL, 2009) e a epistemologia se relaciona com a perspectiva do que podemos saber e aprender sobre o mundo e do como podemos aprender (MARSH; STOKER, 2002).

Na perspectiva ontológica, adotada neste trabalho, acredita-se que há uma realidade organizacional objetiva e ambientes “concretos” nos quais as organizações atuam. Além disso, admite-se que tais organizações e ambientes são independentes da interpretação de cada ator. Ou seja, admite-se aqui uma perspectiva funcionalista/objetivista (BURRELL e MORGAN, 1979; HASSARD, 1991).

A abordagem positivista clássica nos estudos científicos vem sendo a dominante desde o século XIX. Essa abordagem sugere que é possível apreender conhecimento e informações por meio da aplicação de um método científico (MARSH e STOKER, 2002). A presente pesquisa adota a perspectiva positivista, mas vale ressaltar que o fato de a pesquisa ter uma perspectiva positivista não acarreta necessariamente o uso exclusivo de métodos quantitativos (DENZIN e LINCOLN, 2000; YIN, 2003). Pelo contrário, muitos pesquisadores estão deixando de utilizar somente o método quantitativo para utilizar também, ou unicamente, os métodos qualitativos no desenvolvimento dos seus trabalhos científicos (DENZIN e LINCOLN, 2000).

No presente trabalho, optou-se por uma abordagem qualitativa de pesquisa por se acreditar que esta abordagem responde de forma mais efetiva ao problema e às questões de pesquisa propostos. Creswell (2010) afirma que a pesquisa qualitativa busca identificar a presença ou não de certo atributo ou objeto relacionado ao fenômeno que está sendo observado, enquanto a quantitativa busca mensurar este atributo. A pesquisa qualitativa é mais interpretativa e subjetiva, sendo mais dependente da visão do pesquisador sobre o tema. A quantitativa é mais descritiva e objetiva. O método qualitativo busca as nuances do fenômeno. Já o quantitativo preocupa-se com generalizações e conclusões. Campomar (1991, p. 96) define a pesquisa qualitativa da seguinte forma: “[...] nos métodos qualitativos não há medidas, as possíveis inferências não são estatísticas e procura-se fazer análises em profundidade, obtendo-se até as percepções dos elementos pesquisados sobre eventos de interesse.” De forma semelhante, Martins (2006), defende que pesquisas quantitativas são mais adequadas ao processo de testar teorias e pesquisas qualitativas aplicam-se melhor a estudos em que se deseja a construção de teorias.

Ao analisar as afirmações de Creswell (2010), Campomar (1991) e Martins (2006) fica claro que utilizar a pesquisa qualitativa é a melhor forma de responder ao problema de pesquisa proposto neste trabalho. Ao buscar as relações entre vantagens competitivas e educação corporativa não se faz necessária a utilização de métodos estatísticos, pelo contrário, a resposta ao problema de pesquisa e concretização dos objetivos do trabalho passa pela compreensão das crenças, dos processos e das iniciativas relacionadas à educação adotadas pelas empresas. Como o tema de educação corporativa ainda é recente, pouco explorado pela

literatura, principalmente no Brasil, se faz necessário um método de geração de dados flexíveis para que sejam correlacionados com a literatura existente e se atenda ao objetivo de aprofundar e avançar na teoria existente.

Nesse sentido, (CRESWELL, 2010) defende que ao utilizar o método qualitativo a teoria pode ser desenvolvida ao longo do estudo e deve ser o resultado deste último. O fenômeno é compreendido por meio de técnicas interpretativas, que têm por objetivo descrever, decodificar, ou traduzi-lo(MAANEN, 1989). Dessa forma, a pesquisa qualitativa faz com que o pesquisador tenha maior oportunidade de realizar uma nova descoberta (CRESWELL, 2010). Soares (2002) expõe seis situações nas quais a pesquisa qualitativa seria mais apropriada:

1. Quando é necessária interpretação de dados, fatos e teorias;

2. Quando há um problema complexo que não pode ser generalizado; 3. Para obter dados psicológicos de um indivíduo ou grupo;

4. Para buscar a explicação das possíveis interações entre variáveis;

5. Em situações nas quais se mostra necessária a substituição de dados estatísticos numéricos por observações qualitativas;

6. Quando é necessário apresentar contribuições por meio das opiniões de determinado grupo.

O presente estudo pretende trabalhar várias das aplicações trazidas por Soares (2002), pois tem por objetivo interpretar fatos e teorias, que, ao serem analisados, vão permitir a explicação da interação entre variáveis e descrever a complexidade de determinada hipótese ou problema.

Pode-se afirmar que a pesquisa desenvolvida neste trabalho se caracteriza como descritiva, pois buscou investigar as práticas relacionadas com educação corporativa, descrevendo os processos relacionados ao tema, como também seus impactos na geração de vantagens competitivas das empresas pesquisadas.

Foi utilizado o estudo de caso múltiplo como método na pesquisa. Yin (2005), define estudo de caso como uma pesquisa empírica que investiga um acontecimento baseado na experiência

real, sendo esse método especialmente interessante quando não está definido com exatidão o limite entre o fenômeno e o contexto. O estudo de caso é um método qualitativo utilizado para se conhecer mais sobre um fenômeno, analisar-se as várias complexidades envolvidas e “aprender-se” mais com os casos escolhidos (STAKE, 1995).

É uma estratégia de pesquisa na qual o pesquisador “mergulha” no fenômeno de forma a entendê-lo de maneira mais aprofundada (GIL, 2009). Yin (2009) afirma que o estudo de caso é o melhor método a ser utilizado quando a questão de pesquisa é do tipo “como” e “por que” e quando não se necessita controle do ambiente por parte do pesquisador.

O trabalho de Zanni et al (2011, p. 8) ressalta que é aconselhável o uso do estudo de caso para “a geração de insights tanto para a teoria como para a prática em administração de empresas”, quando é importante buscar especificidades em acontecimentos. Nesse sentido, Yin (2005) destaca que um dos fundamentos para a utilização de caso é a existência de um exemplo representativo ou típico da situação em pesquisa, de modo a aprender lições que possam divulgar achados interessantes sobre o caso estudado. Para que isso ocorra, para qualquer estudo de caso, recomenda-se a realização de uma sistemática revisão da teoria, antes da escolha do caso e da coleta de dados, pois é necessária uma base teórica de modo a determinar quais dados deverão ser coletados e quais análises deverão ser desenvolvidas (YIN, 2005). A falta de um claro referencial teórico também é uma falta apontada por Martins (2006).

Marshall e Rossman (2011), reforçam a correta escolha do método ao relacionar três elementos de qualquer estudo: objetivo de estudo, questão de pesquisa e estratégia de pesquisa. Para os autores, o objetivo de pesquisa deve ficar claro para o pesquisador. No presente trabalho há quatro dos principais objetivos descritos por Marshall e Rossman (2011), são eles: exploratório, explanatório, descritivo e preditivo. Para cada um deles existira questões de pesquisa e estratégia de pesquisa mais adequadas. O Quadro 6, traz a comparação desses objetivos. O pesquisador teve dúvidas em classificar o trabalho em exploratório ou explanatório. Marshall e Rossman (2011) defendem que quando o objetivo do estudo é investigar fenômenos pouco entendidos, identificar ou descobrir variáveis importantes ou gerar hipóteses para pesquisas futuras o estudo pode ser considerado exploratório. Quando o objetivo é explicar as forças que causam o fenômeno em questão, buscando redes causais plausíveis que moldam o fenômeno o estudo poderia ser classificado como tendo um objetivo

explanatório. Para ambas as classificações uma das estratégias de pesquisa recomendada seria o estudo de caso múltiplo. A dúvida do pesquisador é que ao mesmo tempo em que o estudo buscou investigar fenômenos pouco entendidos e identificar variáveis importantes, também buscou entender redes causais plausíveis.

Contudo, como o objetivo principal do trabalho é “identificar elementos que possam influenciar na geração de vantagens competitivas [...]” acreditou-se que a classificação mais adequada seria de objetivo exploratório, utilizando o estudo de caso múltiplo como estratégia de pesquisa. Reforçando esse ponto Gil (1999), defende que pesquisas exploratórias dever ser utilizadas quando o tema do estudo foi pouco explorado, como ocorre com o problema de pesquisa em questão. Selltiz et al (1974) mostra que a pesquisa exploratória é indicada para esclarecimento de conceitos ainda não completamente entendidos no campo de estudos e para o estabelecimento de pontos de aprofundamento para pesquisas futuras.

Quadro 6: Relações entre objetivo de estudo, questão de pesquisa, estratégia de pesquisa e técnicas de coleta de dados Objetivo do estudo Questão de Pesquisa que norteariam o

trabalho

Estratégia de

Pesquisa recomendada

Possíveis técnicas de coleta de dados que poderiam ser utilizadas EXPLORATÓRIO

- Estudar fenômenos ainda pouco estudados e

entendidos;

- Identificar variáveis relevantes;

- Gerar hipóteses para trabalhos futuros.

- Quais são os elementos relevantes?

- Quais são os padrões e categorias revelados nas estruturas de significado dos participantes? - Quais os padrões que conectam os objetos uns com os outros? - Estudo de caso; - Estudo de campo. - Entrevistas em Profundidade; - Observação participante. EXPLANATÓRIO - Explicar as forças causadoras do fenômeno em questão.

- Identificar redes causais plausíveis que poderiam moldar o

fenômeno.

- Quais as políticas crenças, eventos e atitudes, que podem estar moldando o fenômeno?

-Como essas forças interagem para resultar no fenômeno? - Estudo de caso múltiplo; - História; - Etnografia. - Observação participante; - Entrevistas em Profundidade; - Análise de documentos. DESCRITIVO Documentar o fenômeno

Quais são os comportamentos salientes, eventos, crenças, atitudes, estruturas, processos ocorrendo neste fenômeno?

Estudo de Campo; Estudo de caso;

- Observação participante; - Entrevistas em

de interesse. Etnografia. Profundidade; - Análise de documentos; - Questionário. PREDITIVO - Prever os resultados do fenômeno; - Prever os eventos e comportamentos resultantes do fenômeno.

O que vai ocorrer como resultado deste fenômeno?

Quem será afetado? De que forma?

- Experimento Quase- Experimento

-Questionário (amostra mais

relevante)

Análise de conteúdo.

Gil (2007), defende que a utilização de múltiplos casos, ao proporcionar visões distintas de diferentes contextos, ajuda a se ter um trabalho de um nível mais profundo. Contudo, exige do pesquisador mais tempo para coleta e metodologias mais estruturadas para coleta e análise dos dados, pois será necessário reaplicar as observações em todos os casos. Nesse sentido, Yin (2005), defende que as conclusões resultantes de um estudo de caso múltiplo são mais robustas.

É importante notar que as recomendações para a utilização do método do estudo de caso, feito pelos vários autores apresentados, estão em acordo com a questão de pesquisa que se quer resolver. As relações entre as vantagens competitivas e as universidades corporativas é um fenômeno complexo, necessitando de “insights” para o seu aprofundamento e entendimento e existem casos representativos que potencialmente vão mostrar lições importantes para os interessados sobre o tema.