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3 Procedimentos metodológicos

3.3 Delineamento da pesquisa

Como parte dos procedimentos metodológicos será apresentado nesta seção o delineamento da pesquisa. Para Merriam (1998, p. 3) uma consideração fundamental num projeto de pesquisa é a orientação filosófica do autor. Em outras palavras, é preciso que o pesquisador se questione sobre o que ele(a) acredita sobre a natureza da realidade, sobre o conhecimento e sobre a produção do conhecimento (MERRIAM, 1998, p. 3).

Morgan e Smircich (1980, p. 491) ressaltam que os métodos de pesquisa nas ciências sociais devem estar diretamente ligados com os pressupostos da ontologia, da epistemologia e da natureza humana. Para isto, os autores propõem um continuum sobre os pressupostos da

No presente estudo, o pressuposto adotado é de que a realidade é socialmente construída, estando mais próxima, portanto, de uma visão subjetivista. Nesta perspectiva, o mundo social é percebido como um processo contínuo criado nos encontros da vida cotidiana por intermédio da linguagem, rótulos, ações e rotinas que constituem um modo de ser no mundo.

A realidade social, de acordo com estão visão, está envolvida na natureza e uso destes modelos de ação simbólico (MORGAN; SMIRCICH, 1980, p. 494). O uso destes modelos simbólicos, por sua vez, pode resultar no desenvolvimento de realidades múltiplas e compartilhadas que ocorrem apenas naqueles momentos em que são ativamente construídas e sustentadas (MORGAN; SMIRCICH, 1980, p. 494).

Segundo Merriam (1998, p. 6), o pressuposto filosófico básico da pesquisa qualitativa está baseado na visão de que a realidade é construída pelos indivíduos por meio da interação e situada dentro dos mundos sociais destes indivíduos. Portanto, “o pesquisador qualitativo está interessado em compreender o significado que as pessoas têm construído” (MERRIAM, 1998, p. 6). Sendo assim, esta pesquisa segue esta orientação ao observar o fenômeno segundo a construção dos sujeitos pesquisados.

Diante das várias tradições e orientações teóricas que baseiam a pesquisa qualitativa Patton (2002, p. 75-142) oferece uma distinção entre as mesmas. No presente estudo esta orientação teórica é baseada na construção social e no construtivismo, na medida em que seus pressupostos estão de acordo com as questões de pesquisa que norteiam o estudo.

Segundo Patton (2002, p. 96), “os construtivistas estudam as múltiplas realidades construídas pelas pessoas e as implicações destas construções para as suas vidas e as interações com os outros”. Para deixar ainda mais claro, o autor apresenta as questões fundamentais dentro desta orientação teórica, quais sejam: a) Como as pessoas têm, neste

ambiente, construído a realidade? b) Quais são as conseqüências de suas construções para seus comportamentos e para aqueles com os quais interagem? (PATTON, 2002, p. 96).

Além de elucidar o pressuposto filosófico é importante esclarecer o que se entende por um estudo qualitativo e qual a razão para a sua escolha nesta pesquisa. Segundo Merriam (1998, p. 6) enquanto a pesquisa quantitativa toma um fenômeno de forma separada para examinar as partes que o compõe, a pesquisa qualitativa pode revelar como todas as partes juntas formam o todo. Assim, na pesquisa qualitativa, entende-se que o significado está envolvido nas experiências das pessoas e que a compreensão do fenômeno deve revelar a perspectiva do participante, não do pesquisador (MERRIAM, 1998, p. 6).

Vale destacar quais são, segundo Merriam (1998, p. 6-8), as cinco características principais da pesquisa qualitativa. Primeiro, conforme discutido anteriormente, os pesquisadores qualitativos estão interessados em compreender o significado que as pessoas constroem. Segundo, o instrumento principal para a coleta e análise dos dados na pesquisa qualitativa é o pesquisador. Terceiro, a pesquisa qualitativa normalmente envolve um estudo de campo. Quarto, a pesquisa qualitativa envolve principalmente uma estratégia de pesquisa indutiva. Finalmente, em função das características anteriores, o produto de um estudo qualitativo é rico em descrição (MERRIAM, 1998, p. 6-8).

Diante disso, a pesquisa qualitativa foi considerada a opção mais adequada para a elaboração deste estudo. Por meio dele, busca-se entender a aprendizagem de gerentes de meios de hospedagem segundo a perspectiva dos mesmos e qual o significado está envolvido nas suas experiências de aprendizagem. Além disso, o pesquisador foi o principal meio na coleta e análise dos dados, sendo, portanto, necessária atenção aos possíveis vieses do mesmo e ao rigor na elaboração do estudo. Esta pesquisa envolveu também um estudo de campo (em três meios de hospedagem), uma estratégia de pesquisa indutiva e é rico em descrição.

Entre os diferentes tipos de pesquisa qualitativa pode-se enumerar: os estudos qualitativos genéricos, etnografia, fenomenologia, grounded theory e estudo de caso

(MERRIAM, 1998, p. 12). Para esta pesquisa optou-se pelo estudo de caso em função das suas características serem consistentes com os objetivos que se almejam atingir, ou seja, uma descrição rica dos casos e entre os casos (MERRIAM, 1998). Assim, pretende-se analisar os pontos de convergência e divergência entre os casos, levando a resultados mais robustos (MILES; HUMBERMAN, 1994).

Além disso, ao estudar fenômenos individuais e organizacionais considerados complexos e contemporâneos como a aprendizagem organizacional, o uso do estudo de caso pode ser aplicado, conforme as orientações de Yin (2002). Segundo o autor, o estudo de caso pode ser definido como uma “investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos” (YIN, 2001, p. 32).

Para outros autores, o estudo de caso pode ser visto mais como uma unidade de análise do que estratégia de pesquisa onde a correta definição e delimitação têm papel central (STAKE, 1995). O estudo de caso pode ainda ser entendido como um produto final resultante da análise de um fenômeno ou de uma unidade de análise particular (MERRIAM, 1998, p. 27; WOLCOTT, 2001).

A característica mais singular e que melhor define a pesquisa de estudo de caso reside na delimitação do objeto de estudo, ou seja, na determinação das “fronteiras” do caso (MERRIAM, 1998, p. 27). Este aspecto é também apontado por Stake (1995, p. 2) ao afirmar que “o caso é um sistema integrado”, corroborando o conceito originalmente proposto pelo etnógrafo Louis Smith de “sistema cercado”, delimitado (bounded system). Neste estudo, em

hospedagem aprendem, o sistema (ou caso) será delimitado pelas organizações selecionadas para o estudo.

Além disso, Miles e Huberman (1994, p. 172) apontam que por vários anos muitos pesquisadores privilegiaram os estudos de caso únicos. Porém, os autores ressaltam que há um substancial crescimento nos chamados multicasos (ou casos múltiplos). Nestes, o objetivo principal é “ver os processos e resultados entre os vários casos, para entender como eles estão influenciados pelas condições locais e, além disso, desenvolver descrições mais sofisticadas e explanações mais poderosas” (MILES; HUBERMAN, 1994, p. 172). Desta forma, o pesquisador pode encontrar casos negativos para fortalecer uma teoria, além de construir análises das similaridades e diferenciações entre os casos (MILES; HUBERMAN, 1994).

3.4 Validade

No desenvolvimento de pesquisas é preciso atenção do pesquisador para a validade do estudo. Nas pesquisas qualitativas, em particular, alguns autores sugerem algumas formas para se aumentar a validade. Yin (2001) defende três princípios: a utilização de várias fontes de evidência e sua triangulação; a criação de um banco de dados para o estudo (a fim de organizar e documentar os dados encontrados); e a manutenção do encadeamento de evidências como forma que o leitor perceba como cada evidência conduziu o pesquisador à conclusão do estudo.

Para Merriam (1998, p. 204-205), um pesquisador pode utilizar seis estratégias básicas a fim de garantir validade interna. São elas: a) Triangulação: utilizando múltiplos investigadores, fontes de dados ou métodos; b) Checagem com membros: levando interpretações iniciais de volta para as pessoas das quais foram coletadas e perguntando-as se os resultados são plausíveis; c) Observação prolongadas: no local da pesquisa ou repetidas observações sobre o mesmo fenômeno; d) Avaliação dos pares: perguntando aos colegas para

comentar sobre os achados que emergiram; e) Modos de pesquisa participativa ou colaborativa: envolvendo participantes em todas as fases da pesquisa; f) Vieses do pesquisador: clarificando os pressupostos do pesquisador, sua visão de mundo e orientação teórica no início do estudo.

Diante disso, pode-se defender que neste estudo foram utilizadas algumas destas estratégias para aumentar a validade do estudo. A primeira foi a utilização da triangulação (o uso de diferentes instrumentos de coleta de dados). A segunda foi o cuidado em manter o encadeamento das evidências. Terceiro, a avaliação dos pares que foi realizada nos encontros da comunidade de pesquisa formada por dois mestrandos, duas alunas de graduação (Iniciação Científica) e um doutorando. Quarto, o esclarecimento dos vieses do pesquisador no início da pesquisa, o que foi explicado neste capítulo de procedimentos metodológicos.