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Nossa pesquisa de campo ilustrará um estudo de caso intervencionista autocontrolado, propondo uma intervenção com Estimulação Transcraniana com Corrente Contínua (ETCC). O sujeito amostral é seu próprio controle, uma vez que ele mesmo, em situações diversas, estará ou não exposto ao fator em estudo, através da alocação de sessões placebo. O método de pesquisa tendo o sujeito como seu próprio controle é uma das marcas da Análise Experimental do Comportamento (SAMPAIO et al., 2008; VELASCO et al., 2010). Também se caracteriza como estudo exploratório, uma vez que oportuniza a descoberta de ideias e dados sobre a questão de pesquisa; apresenta a flexibilidade e versatilidade características da pesquisa inicial em determinado campo; trabalha com dados primários e constitui uma pesquisa-piloto na área. Quanto à direção temporal, foi um estudo transversal, posicionando o fator em estudo, ou variável independente (ETCC), e o desfecho, ou variável dependente (efeito sobre a criatividade coreográfica), no mesmo momento temporal.

O sujeito foi submetido a quatro sessões de ETCC, duas das quais foram reais, e duas, placebo. Foi solicitado a preencher um recordatório de suas atividades de vida diária nas 24 horas antecedentes à sessão. Logo após a sessão, teve 50 minutos em sala privada (com condições adequadas para a prática de movimento, sem espelhos) para criar uma sequência coreográfica. Podia utilizar menos que 50 minutos, mas não mais. Por razões de segurança, uma câmera de vídeo filmou-o durante seu trabalho individual, que foi chamado de “processo criativo”. Logo após considerar concluída sua tarefa, o coreógrafo chamou a pesquisadora de volta à sala e apresentou sua sequência coreográfica, que também foi filmada e chamada de “produto criativo”. A análise de conteúdo dos materiais filmados foge ao escopo deste estudo; entretanto, as filmagens estão disponíveis na plataforma Youtube para fins de documentação e os links e instruções para acesso são descritos a seguir. Após a apresentação do produto criativo, o coreógrafo preencheu a Escala de Autoavaliação de Produto Criativo e foi solicitado a registrar, até 24 horas após, suas impressões subjetivas sobre todo o processo (de 24 horas antes até o final da filmagem) decorrido. O mesmo procedimento foi repetido durante as quatro sessões, no mesmo local, com a mesma equipe e sem o sujeito saber quais foram as sessões placebo. O questionário pós-sessão é também uma recomendação de segurança, visando monitorar efeitos adversos (SILVA et al., 2011).

A estimulação foi realizada com o ânodo colocado sobre o córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL) direito e o cátodo colocado sobre a área supraorbital contralateral (Figura 22). A corrente elétrica aplicada foi de 2 mA durante 20 minutos. Os eletrodos tinham o tamanho de 35 cm² cada e foram cobertos por esponjas embebidas com solução salina (Figura 21). O estimulador utilizado foi o “Transcranial Direct Current Stimulator-tDCS 1x1, model no. 1300A (Soterix Medical®)”. Optamos por não utilizar gel anestésico local, na medida em que a percepção de sintomas interessava aos desdobramentos do processo criativo. A cada sessão de ETCC, um filme de realidade virtual (RV) foi apresentado ao coreógrafo, que pôde escolher entre imagens da natureza ou urbanas; escolheu imagens da natureza. A utilização de recursos em RV representa o input adicional (COLOMBO et al., 2015), ou estímulo extra, utilizado após as sessões de ETCC, para desencadear determinada reação; no nosso caso, a produção criativa. O protocolo descrito esteve consoante com os dos estudos examinados na construção da base teórica deste estudo.

Figura 21: Colocação dos eletrodos

Fonte: acervo da autora. Imagem autorizada. Figura 22: Posicionamento dos eletrodos

Fonte: acervo da autora. Imagem autorizada.

As datas de realização das sessões e o material visualizado como input (estímulo extra), no equipamento de realidade virtual, são descritos a seguir:

A primeira sessão foi realizada em 24 de abril de 2019, no período da tarde. As imagens visualizadas foram de Machu Picchu, Venezuela, e Jardim de Cerejeiras no Japão.

A segunda sessão foi realizada em 26 de abril de 2019. As imagens visualizadas foram da Patagônia, Cataratas do Niágara, Austrália, Holanda e do Jardim Botânico da Ilha da Madeira.

A terceira sessão foi realizada em 8 de maio de 2019. As imagens visualizadas foram de animais diversos, Pirâmides do Egito, Templo de Mendut na Indonésia, aquário e Universo.

A quarta sessão foi realizada em 10 de maio de 2019. As imagens visualizadas nessa sessão foram repetidas: Venezuela, Austrália e aquário.

Os procedimentos foram realizados na Clínica NEMO – Neuromodulação Cerebral, parceira do projeto, situada na Rua Dona Laura, n.º 87, sala 205, em Porto Alegre, RS.

Foram obtidas imagens (fotografias e vídeos) das sessões, mediante autorização dos participantes, que foram o sujeito de pesquisa (coreógrafo Rui Moreira) e a equipe da Clínica NEMO, composta pela nutricionista Milena Artifon e pela fisioterapeuta Andressa Silveira de Oliveira Schein. Todos assinaram um “Termo de Autorização de Uso de Imagem” unicamente para fins educacionais e divulgação científica. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) do coreógrafo Rui Moreira, os Termos de Autorização de Uso de Imagem do sujeito e da equipe de pesquisa e o Termo de Anuência da Clínica NEMO estão disponíveis nos Apêndices A, B e C deste documento.

6.3.1 Riscos e benefícios da pesquisa

Riscos:

Estimulação Cerebral: a utilização deste procedimento pode gerar mínimo formigamento, coceira ou vermelhidão no local da estimulação. Entretanto, os estudos já relatados em nossa fundamentação teórica mostraram que essa é uma técnica segura, não levando a riscos maiores para a saúde. O sujeito foi indagado sobre estes efeitos e a pesquisadora se responsabilizou pelo atendimento a qualquer dano decorrente da sua participação na pesquisa, caso uma relação de

causa e efeito fosse estabelecida. Não foi registrado efeito nocivo algum e as sessões desenrolaram-se sem intercorrências limitantes.

Exercício físico: a movimentação corporal a ser realizada apresentava risco de fadiga e desconfortos musculares. Entretanto, como os movimentos foram de livre escolha do sujeito, e este procedimento faz parte da sua rotina profissional, acreditamos que não haveria desconforto maior do que ele já estava habituado, ou não haveria desconforto algum. De fato, nos relatos pós-sessão, Moreira comenta sobre uma automodulação de esforço de acordo com suas condições de fadiga naquele momento.

Recordatório, autoavaliação criativa e relatório pós-sessão: algumas perguntas pessoais, como uso de medicamentos, alimentação e outros hábitos pessoais poderiam causar ao sujeito algum constrangimento. Ele teve a liberdade de responder com as informações que julgasse mais adequadas e que não lhe parecessem excessivamente invasivas.

Para minimizar os riscos listados acima, o sujeito foi questionado sobre os melhores dias para agendamento das sessões; foi questionado no decorrer dos procedimentos sobre como estava se sentindo; e se sentisse cansaço ou indisposição, poderia realizar intervalos sempre que desejasse. Foram oferecidos hidratação e alimentação leves, que ficaram à disposição do sujeito durante todo o procedimento de pesquisa, incluindo deslocamento de ida e volta à clínica. Todos os deslocamentos estiveram aos cuidados da pesquisadora, respeitando a antecedência solicitada pelo coreógrafo.

Benefícios:

Conforme normas éticas de pesquisa, não foi fornecido nenhum tipo de gratificação pela participação do sujeito. Os benefícios do estudo estão relacionados ao conhecimento científico sobre o tema em questão. Foi explicado ao coreógrafo que o teor das respostas fornecidas motivará importantes reflexões e, provavelmente, avanços ao conhecimento na área, além de autoconhecimento ao sujeito de pesquisa.

A pesquisa foi aprovada pela Comissão de Pesquisa (COMPESQ) da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança (ESEFID) e pela COMPESQ do Instituto de Artes da UFRGS – sob número 36.190. Foi também cadastrada na Plataforma Brasil e obteve a aprovação do Comitê de Ética da UFRGS com CAAE (Certificado

de Apresentação para Apreciação Ética) número 16092119.0.0000.5347, no parecer número 3.601.320. A pesquisa responde a demandas tanto da Resolução n.º 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CNS/CONEP), que regulamenta os procedimentos metodológicos das Ciências Humanas e Sociais, quanto da Resolução n.º 466/2012, que regulamenta os referidos procedimentos nas pesquisas das Áreas Biomédicas.