• Nenhum resultado encontrado

A questão da forma de associação política sempre foi um dos assuntos mais discutidos pelos estudiosos, sendo clássica a divisão de Aristóteles quanto às formas puras monarquia, aristocracia e democracia) e formas impuras ou corrompidas (tirania, oligarquia e demagogia)22.

21 MALUF, Sahid. Curso de direito constitucional. São Paulo: Sugestões Literárias, 1970. v. 1. p. 26.

22 Pela doutrina por nós estudada, é pacífico que nenhuma nação no mundo atual se considera antidemocrática,

ao contrário, todas se consideram democráticas. No entanto, como processo, a democracia não tem padrões doutrinários, definitivos e universais que permitam apontar, após análise objetiva, se determinado Estado é ou não, democrático. Captamos, no entanto, que a democracia como forma de associação política é um dos meios pelos quais as pessoas unem seus esforços no sentido de organização mais abrangente da sociedade.

O Estado democrático moderno nasceu das lutas do povo contra o absolutismo que dominava as nações até o início do último quartel do século XVIII. A partir dessa época, quase todos os Estados declaram, solenemente, que a fonte do poder é o povo.

A influência teórica de Rousseau e Locke foi fundamental para a queda do Ancién

Regimen e para o surgimento desse novo tipo de associação política. As idéias desses

pensadores se pragmatizaram basicamente através de três movimentos político-sociais: a Revolução Inglesa, a Revolução Americana e a Revolução Francesa.

A Revolução Inglesa contribuiu para a afirmação dos direitos naturais dos indivíduos nascidos livres e iguais, legitimando-se, assim, a esses cidadãos se autogovernarem através do poder legislativo. Locke chegou mesmo a afirmar que:

Tendo a maioria, quando de início os homens se reúnem em sociedade, todo o poder da comunidade naturalmente em si, pode entregá-lo para fazer leis destinadas à comunidade de tempos em tempos, as quais se executam por meio de funcionários que ela própria nomeia: nesse caso, a forma de governo é uma perfeita democracia23.

O segundo movimento inspirador do Estado Democrático moderno foi a Revolução Americana, que pode ser sintetizada na Declaração da Independência dos Estados Unidos de 1776, quando proclama:

Consideramos esta verdade como evidente de per si, que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo criador de certos direitos inalienáveis, que, entre estes, estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade; que, a fim de assegurar esses direitos, instituem-se entre os homens e os governos, que derivam seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli- la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando-lhes os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade24.

A Revolução Francesa, o terceiro dos movimentos consagradores das aspirações democráticas do século XVIII, de caráter universal, expandiu para todo o mundo as idéias contidas na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, especialmente a cláusula que

declara que os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. Que nenhuma limitação pode ser imposta ao indivíduo, a não ser por meio da lei, que é a expressão da vontade geral. E, por fim, que a base da organização do Estado deve ser a preservação da possibilidade de participação popular no governo, a fim de que sejam garantidos os direitos naturais.

Modernamente, uma sociedade forma um Estado através de um estatuto político denominado Constituição. Esta constitui a estrutura política e jurídica de um país, instituindo os poderes públicos, demarcando-lhes a competência e atribuições e estabelecendo os direitos e deveres dos indivíduos e do próprio Estado.

A democracia é um dos princípios fundamentais das constituições contemporâneas adotadas, ao menos nominalmente, em quase todos os países da atualidade. Quanto à participação do povo na escolha dos seus governantes, são basicamente três as formas de exercício da democracia conhecidas e utilizadas nas sociedades atuais: a democracia direta, a indireta e a mista. Dá-se a democracia direta quando o próprio povo se reserva o direito de, em assembléias, decidir as questões de interesse da comunidade. Já na democracia indireta ou representativa, o povo escolhe representantes, geralmente por eleições, para que, em nome do próprio povo, exerça o poder. A democracia mista25, como o próprio nome sugere, dá-se quando na formação do poder são utilizados os instrumentos das duas formas anteriores, quais sejam, eleição, plebiscito, referendo e iniciativa popular26.

A democracia representativa, que é a que mais de perto nos interessa neste trabalho, rege-se, dentre outros princípios, pela soberania popular, sufrágio universal, pluralidade de partidos e candidatos, igualdade de todos perante a lei, Estado de direito, temporariedade dos mandatos eletivos, livre manifestação do pensamento e opinião, liberdade de associação e

24 DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS. Disponível em:<http:www.educaterra.terra.

com.br/voltaire/mundo/independencia_eua.> Acesso em: 11 jan. 2006.

25 Paulo Bonavides denomina essa forma de democracia de “democracia semidireta”. (BONAVIDES, Paulo. Ciência

reunião e, ainda, conforme acrescenta Bonavides, “a existência plenamente garantida das minorias políticas, com direitos e possibilidades de representação, bem como das minorias nacionais, onde estas porventura existirem” 27.

Em uma síntese apertada, pode dizer-se que três princípios fundamentam um Estado democrático:

• A supremacia da vontade popular;

• A igualdade de direitos;

• A preservação das liberdades.