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O sistema de sufrágio corresponde ao conjunto de direitos postos à disposição do cidadão para que este, direta ou indiretamente, manifeste o seu consentimento concernente à condução dos negócios do Estado.

Tratando do tema, Silva ensina que:

o sufrágio é um direito público subjetivo democrático, que cabe ao povo nos limites técnicos do princípio da universalidade e da igualdade de voto e de elegibilidade. É direito que se fundamenta, como já referimos, no princípio da soberania popular e no seu exercício por meio de representantes46.

Para Bonavides o sufrágio popular: "[...] é o poder que se reconhece a certo número de pessoas (o corpo de cidadãos) de participar direta ou indiretamente na soberania, isto é, na gerência da vida pública” 47.

O sistema sufragista é composto basicamente de quatro institutos: eleição, plebiscito, referendo e iniciativa popular48. Como recurso didático, para uma melhor compreensão dessas formas participativas do povo no poder, pode-se dizer, utilizando uma linguagem musical, que esses quatro institutos são variações de um mesmo tema, que é o direito de sufrágio.

A seguir, tentar-se-á, com poucas palavras, definir os referidos institutos, a fim de angariar subsídios para este trabalho, mas consciente, no entanto, do perigo que a síntese sempre oferece. A tarefa não é simples, como a princípio se poderia supor, até porque a doutrina discrepa no mais das vezes acerca dos conceitos dos institutos em tela.

O plebiscito e o referendo são institutos oriundos da democracia direta e dizem respeito à ingerência do povo na matéria legislativa. O plebiscito, que é um dos instrumentos

46 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 13. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 339. 47 BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1986. p. 269.

48 A iniciativa pode ser considerada como a prática mais avançada de participação do povo nos negócios do Estado.

Configura-se este num instrumento democrático colocado à disposição dos cidadãos para, diretamente, propor ou iniciar leis, constituindo-se num dos mais legítimos exercícios da soberania popular. Na prática a iniciativa popular é exercida

da democracia direta, consiste em convocar o povo para aquiescer ou não acerca de uma medida a ser tomada pelo legislativo.

Rousseau, no século XVIII, já preconizava em sua doutrina que: "Os deputados não são nem podem ser representantes do povo; são apenas seus comissários: nada podem concluir em maneira definitiva". E acrescentou: "Toda lei que o povo pessoalmente não haja ratificado é nula: não é lei"49.

A doutrina nacional e a estrangeira divergem quanto ao conceito e definição desse instituto, de forma que, estudando várias doutrinas, é preferível sintetizar os vários enunciados sobre referendo. Para tanto nos valemos da definição dada por Schmitt, quando diz que referendo é: "votação popular sobre a confirmação ou não confirmação de uma medida do corpo legislativo"50.

Para a maioria da doutrina pátria, o quêencontra eco nas disposições constitucionais, o referendo ocorre quando o povo é chamado a manifestar-se sobre uma norma após ela ter sido elaborada e aprovada pelos órgãos competentes. O plebiscito é uma consulta prévia, isto é, uma consulta direta ao cidadão, em que ele se manifesta sobre um assunto de suma importância para a sociedade, porém, antes que a norma seja elaborada e aprovada.

A eleição, por sua vez, é um instituto típico e indispensável da democracia representativa e constitui-se em forma de manifestação do consentimento de todos ou de parte de todos os cidadãos de um país, para designar um limitado número de cidadãos para representá-los no exercício dos cargos públicos eletivos do Estado.

pela apresentação ao parlamento de projeto de lei subscrito por uma porcentagem dos eleitores distribuído no Estado para que, teoricamente reflita a vontade geral.

49 Apud BONAVIDES, ibid., p. 339. 50 PORTO, Walter da Costa.op. cit.. p. 33.

Para o autor luso Jorge Miranda "a eleição é um processo de selecção de capacidades, fundado na idéia, segundo a qual, os mais qualificados para representar o interesse comum são designados pelo maior número de sufrágios"51.

A efetivação das eleições se dá por meio de um procedimento formal, que consiste na técnica de organização e realização das referidas eleições, de forma a concretizar a idéia de representação em uma democracia.

É, portanto, com as eleições que se evidenciam os sistemas eleitorais. Diferentemente da democracia utilizada pelos gregos, na Antigüidade Clássica, todo o Estado democrático e representativo contemporâneo que tem a titularidade do poder assentado na vontade popular utiliza primordialmente o instituto das eleições para perfectibilizar a sua representação política.

As eleições, sendo o conjunto de normas materiais e formais que realizam a idéia de representação, precisam de uma técnica que afira a escolha dos representantes feita pelos eleitores através do voto. Essa técnica é dos sistemas eleitorais. Antes, porém, de se discorrer acerca dos sistemas eleitorais, necessário se faz compreender o que seja sufrágio, votação e voto, condição inafastável para o entendimento deste trabalho.

O sufrágio ou direito de voto é meio de expressão da soberania do cidadão, e pode ser classificado em restrito ou universal.

O sufrágio é restrito quando o direito de participar da soberania se confere a determinados indivíduos que preencham certos requisitos, como grau de instrução (sufrágio capacitário), poder econômico (sufrágio censitário), origem de nascimento (sufrágio social ou racial) e sexo.

O sufrágio universal, a contrário sensu, é aquele em que o direito de participação é mais abrangente, não fica adstrito às condições do sufrágio restrito. A rigor não há sufrágio

totalmente universal, uma vez que nesse tipo de sufrágio também há restrições, ainda que em grau menor do que no sufrágio restrito. Algumas limitações ao direito de participação da soberania são comuns, e até necessárias em diversas democracias do mundo, tais como a idade, nacionalidade, residência e capacidade mental.

Votação é o efeito de votar. Pode ser compreendida também como o conjunto de votos de uma eleição. No primeiro sentido, admite duas modalidades: a votação com eleição e a votação sem eleição. Quando se vota para eleger candidatos, tem-se eleição, pois aí há escolha. Porém, quando se vota em um plebiscito ou referendo, tem-se simplesmente votação.

Nesse sentido, Bonavides novamente ensina:

Quando o povo se serve do sufrágio para decidir, como nos institutos da democracia semidireta, diz-se que houve votação; quando o povo, porém, emprega o sufrágio para designar representantes, como na democracia indireta, diz-se que houve eleição. No primeiro caso, o povo pode votar sem eleger; no segundo caso, o povo vota para eleger52.

Voto ou modo de se votar, que é o mesmo que escrutínio, corresponde ao exercício do sufrágio. Ou, com outras palavras, é a forma prática do exercício do sufrágio.

José Afonso da Silva, ao tratar da figura do sufrágio, apoiado em Carlos S. Fayt, faz uma consideração apreciável a respeito do voto: “[...] o voto é tão-só uma manifestação no plano prático, um dos atos do seu exercício” 53.

Consoante entendimento da maioria doutrinária, o voto pode ser classificado como: secreto ou público, igual ou plural e direto ou indireto. O voto secreto traduz-se no direito de o cidadão votar em sigilo. Essa liberdade traduz-se em garantia de independência moral e material do indivíduo contra o poder político vitorioso. Ao contrário, o voto público, como o

52 BONAVIDES, Paulo. op. cit.. p. 269.

próprio nome sugere, é aquele em que o cidadão manifesta livremente e em público a sua vontade.

O voto igualitário atende a um dos princípios mais caros da democracia, que é o da igualdade dos indivíduos entre si. Por esse tipo de voto, expresso na fórmula “um homem, um voto”, cada cidadão tem direito a apenas um voto.

Pelo voto plural, por sua vez, “pode o eleitor acumular vários votos numa mesma circunscrição ou votar mais de uma vez em distintas circunscrições ou colégios eleitorais”54.

Pelo voto direto, como o próprio nome sugere, o cidadão designa direta e pessoalmente os representantes políticos do Estado. Esse tipo de sufrágio goza de alta legitimidade democrática na medida em que aproxima ainda mais os governantes dos governados.

O sufrágio indireto, de acentuada carga antidemocrática, consiste na escolha pelos eleitores de intermediários – delegados, compromissários, eleitores de segundo grau -, que são os responsáveis pela eleição definitiva dos representantes.

O sufrágio, que, por sua vez, significa o direito de voto, constitui-se em meio de expressão da soberania do cidadão e pode ser classificado em restrito ou universal.

O sufrágio é restrito quando o direito de participar da soberania se confere a determinados indivíduos que preencham certos requisitos, como grau de instrução (sufrágio capacitário), poder econômico (sufrágio censitário), origem de nascimento (sufrágio social ou racial) e sexo.

O sufrágio universal, a contrário sensu, é aquele em que o direito de participação é mais abrangente, não fica adstrito às condições do sufrágio restrito. A rigor não há sufrágio totalmente universal, uma vez que nesse tipo de sufrágio também há restrições, ainda que em grau menor do que no sufrágio restrito. Algumas limitações ao direito de participação da

soberania são comuns e até necessárias em diversas democracias do mundo, tais como a idade, nacionalidade, residência e capacidade mental.