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7 SISTEMAS ELEITORAIS PROPORCIONAIS (Câmara Baixa)

7.3 ELEMENTOS DOS SISTEMAS ELEITORAIS PROPORCIONAL

7.3.5 Estrutura do Voto

A estrutura do voto diz respeito à forma pela qual os eleitores podem expressar suas preferências eleitorais. Um dos primeiros estudiosos a analisar a estrutura do voto foi Douglas Rae, que o classificou em voto categórico e voto ordinal. De acordo com a primeira classificação, o eleitor deve votar apenas em um partido. Pela segunda classificação, o eleitor pode votar em mais de um partido.

Para Rae, dependendo do tipo de voto adotado, o sistema partidário poderia sofrer efeitos quantitativos diferenciados. Ele explica que o voto categórico pode beneficiar os partidos maiores e, conseqüentemente, reduzir o número de partidos. Essa hipótese torna-se possível quando o eleitor, percebendo que o partido de sua preferência não tem chances reais de ganhar o pleito, deposita o seu voto no partido com maiores chances de ganhar. Quanto ao voto ordinal, explica, teria este uma tendência mais neutra.

Rae, no entanto, tempos depois, concluiu que a sua teoria estava equivocada e que a estrutura do voto poucos efeitos produz no sistema partidário. Conclusão essa confirmada por Arend Lijphart anos mais tarde.

Após essas breves considerações acerca da classificação da estrutura do voto criada por Douglas Rae, e tendo analisado diversas outras classificações, optou-se por discorrer sobre aquela classificação idealizada pelo autor pátrio Silva que, de forma didática e precisa, classifica esse elemento do sistema eleitoral em voto único, voto múltiplo em sentido estrito, voto limitado, voto preferencial, voto alternativo, voto cumulativo e panachage80.

Pelo voto único, o eleitor dispõe de apenas um voto, que deverá utilizá-lo em favor de um candidato ou de um partido. O voto único tem como vantagens poder ser utilizado tanto em circunscrições uninominais, quanto em circunscrições plurinominais. O autor esclarece que o voto único pode ser utilizado nos sistemas eleitorais proporcionais, seja de “listas bloqueadas, quando o eleitor vota apenas em uma lista partidária”81, seja no caso de “listas fechadas e não-hierarquizadas, quando o eleitor, além da opção de apenas votar na lista, pode também votar em um dos candidatos dela [...]”82. Serve também o voto único às eleições cujo sistema eleitoral é o majoritário, oportunidade em que o eleitor vota no candidato de sua preferência.

O voto múltiplo em sentido estrito está intimamente ligado às circunscrições plurinominais. Por essa forma, os votos disponíveis ao eleitor são iguais ao número de vagas a serem preenchidas na circunscrição, não podendo o eleitor assinalar mais de um voto em favor de um determinado candidato. Esse tipo de voto é apropriado para eleições cujo sistema seja o proporcional de listas fechadas e não-hierarquizadas, oportunidade em que o eleitor poderá votar em vários candidatos do mesmo partido.

O voto limitado também é múltiplo, na medida em que o eleitor dispõe de vários votos. O que caracteriza a sua multiplicidade é que, embora ao eleitor caibam vários votos, terá ele sempre menos votos do que o número de vagas a serem preenchidas na circunscrição.

80 SISTEMAS eleitorais: tipos, efeitos jurídico-políticos e aplicação ao caso brasileiro. São Paulo: Malheiros,

1999.

Esse tipo de voto é aplicado basicamente nas eleições que utilizam os sistemas majoritários em circunscrições plurinominais. Considera-se que ele protege as minorias políticas, na medida em que diminui os efeitos dominantes dos sistemas majoritários. Luís Virgílio Afonso da Silva lembra que “Sua aplicação costuma ocorrer em circunscrições trinominais, nas quais cada eleitor dispõe de apenas dois votos, [...]”83.

O voto preferencial, como o próprio nome sugere, “caracteriza-se pela possibilidade oferecida ao eleitor de não somente dispor de vários votos, mas também de estabelecer diversos pesos entre eles para demonstrar sua preferência”84. Para isso, o eleitor coloca um número antes de cada preferência, indicando a hierarquia desejada. Esse tipo de voto é usado apenas em circunscrições plurinominais, com ou sem listas partidárias. O voto alternativo, por sua vez, é uma espécie de voto múltiplo em sentido amplo. É adotado apenas em circunscrições uninominais, como uma forma de substituir o segundo turno para a realização de eleições por maioria absoluta85. Nos sistemas que utilizam esse tipo de voto, abre-se a oportunidade para que o eleitor expresse várias preferências alternativas, que serão levadas em consideração sempre que o candidato escolhido na primeira preferência não tiver chance de ser eleito. Dessa forma, os candidatos menos votados vão sendo eliminados, e os votos que eles recebem são transferidos para os candidatos das segundas preferências, e assim sucessivamente, até que algum candidato atinja a maioria absoluta dos votos86.

O voto cumulativo permite que o eleitor disponha de vários votos, possibilitando-lhe concentrar múltiplos votos em apenas um candidato. Essa acumulação de voto pode ser parcial ou total. Pela parcial o eleitor deve concentrar os seus votos em mais de um candidato, vedando-se a concentração em apenas um candidato. Pela acumulação total, como o próprio

82 Ibid., p. 48.

83 SILVA, op.cit. p. 49. 84 SILVA, op. cit. 85 SILVA, op. cit., p. 50.

86 A diferença básica entre o voto alternativo e o voto preferencial reside em que o voto alternativo só pode ser utilizado em

nome indica, o eleitor deve concentrar os seus votos em apenas um candidato. A origem desse tipo de voto deu-se como um meio de proteção às minorias, tendo em vista que possibilita a um candidato receber muitos votos, ainda que tenha poucos eleitores87. Por último, tem-se o

panachage,88 que é um tipo de voto de rara utilização. Consiste na liberdade oferecida ao

eleitor para que ele possa compor seu voto com nomes de candidatos de diversas listas partidárias. Ou seja, dá oportunidade para que o eleitor não se restrinja apenas à lista oferecida pelo partido.