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O Estado, que é uma abstração política e jurídica, é dirigido pela própria sociedade, pelos seus próprios cidadãos, pois o povo, nas democracias, é a fonte originária do poder. A condução dos negócios estatais, no entanto, é realizada através de representantes pelo povo

31 Apud LIMA JÚNIOR, Olavo Brasil de. Instituições políticas democráticas: o segredo da legitimidade. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar, 1997. p. 45.

indicados, uma vez que se torna impossível exercê-lo em face de um conjunto de fatores, principalmente a extensão territorial do Estado, o aumento populacional, o avanço tecnológico e a multiplicidade das relações humanas.

Diferentemente do que pregava Rousseau, pela teoria e pela prática da representação política, o representante não fica vinculado aos representados, pois não se trata de uma relação contratual comum. Ao contrário, o mandato é livre e geral e, em princípio, é irrevogável, não comportando, ainda, ratificação dos atos do mandatário.

O sistema de escolha dos representantes para participarem de assembléias políticas já aparece no século XVII. Naquela época, os burgueses conquistaram o direito de participar das decisões políticas, sendo necessário, para tanto, o uso de representantes, pois não era possível reunir numa sala ou mesmo numa praça pública todos os que tinham direitos políticos. Foi por isso que se adotou o sistema de dar a um representante o direito de falar e decidir em nome de muitos representados.

A par disso, muitos burgueses queriam influir nas decisões políticas, mas achavam inconveniente gastar com reuniões políticas o tempo que poderiam empregar fazendo negócios, ou simplesmente não tinham paciência e disposição para aquelas reuniões. Por esses motivos preferiam escolher um representante, que seria uma espécie de advogado nas assembléias políticas. Outro ponto importante é o fato de que, naqueles tempos, os que escolhiam representantes davam a estes uma lista de assuntos e da posição que deveriam tomar em relação a cada um. Os representantes assinavam um documento concordando com a perda do mandato se não obedecessem às determinações dos eleitores. Esse sistema foi chamado de "mandato imperativo" e acabou sendo proibido, pois restringia demais as ações dos representantes, além de permitir que os mandatários assumissem a condição de verdadeiros empregados dos eleitores mais ricos.

Mas a principal restrição à participação eleitoral imposta no começo era baseada em motivos econômicos, exigindo-se renda mínima para votar e ser votado. Graças às lutas dos trabalhadores, essas práticas foram reconhecidas como antidemocráticas, o que fez com que se desaparecessem as leis que reservavam esse direito apenas aos proprietários ou aos que tivessem um mínimo de renda. Foi, no entanto, a partir do final do século XVIII e início do século XIX, que as constituições foram sendo modificadas, afirmando a igualdade de direitos políticos e consagrando o sistema chamado de "sufrágio universal", que significa o sistema em que todos têm o direito de votar.

É importante saber que, embora as constituições estabeleçam que o sistema é de sufrágio universal, isso não quer dizer, na realidade, que esse direito já tenha sido estendido a todos ou que pode ser exercido por todos com a mesma liberdade. Em grande número de países a porcentagem de pessoas sem direito de participação política, ou que têm o direito afirmado na lei, mas de fato não têm o poder de participação, é ainda muito grande. Esse direito, no entanto, vem sendo ampliado. É o caso da inclusão nas eleições das mulheres, dos analfabetos e da diminuição de idade para votar em alguns países. Eleições periódicas fortalecem uma relação dinâmica entre o povo e o Estado numa democracia.:

Sem que o governo em geral tenha com o povo comunidade de interesses, não pode haver liberdade. Ainda mais: é essencial que a parte do governo que vamos examinando esteja em imediata dependência do povo e que esteja com ele em simpatia perfeita. Ora, a freqüência das eleições é o único meio de segurar esta simpatia e aquela dependência: qual seja, porém, o grau de freqüência absolutamente necessário para este efeito é o que não pode determinar-se com precisão, porque isso depende de uma gama de circunstâncias diferentes. A experiência é a única bússola em que possamos fiar-nos para errarmos o menos possível em tão incerta derrota33.

A delegação de poder através do mandato representativo é vista na teoria alencariana como um princípio organizador da democracia. Nesse sentido, é o próprio Alencar quem afirma:

33 HAMILTON, Alexander; MADISON, James; JAY, John. O federalista. In: WEFFORT, Francisco C. (Org.). Federalistas.

[...] a civilização moderna não comporta esse governo da praça. Por um lado, alargam-se consideravelmente os limites do Estado, o que impossibilita o ajuntamento da população em um só comício: também a política tomou largas proporções e adquiriu foros de ciência, que a tornam inacessível às turbas. Por outro lado, desenvolveu-se a vida social; a individualidade ocupada com sua existência privada não pode conceder à coisa pública mais do que algumas parcelas de tempo em espaçados períodos34.

Nesse passo, consideramos como características e condições dos sistemas representativos:

• O povo elege livre e periodicamente um corpo de representantes para conduzir diretamente o Estado;

• Os governantes diretos constituem uma amostra representativa dos governantes indiretos;

• Os governantes diretos respondem perante os governantes indiretos;

• O povo participa de modo significativo na formação das decisões políticas fundamentais;

• O povo consente as decisões tomadas pelos seus governantes;

• O povo mantém sintonia com o Estado.