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Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)

2.5 Demonstrações Contábeis

2.5.2 Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)

O foco deste estudo é o Fluxo de Caixa das Operações ou Fluxo de Caixa Operacional (FCO) que segundo Ross et al (2008, p. 35) representa “o caixa gerado com as atividades operacionais normais de uma empresa”.

Nas companhias abertas esta informação era obtida a partir da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR), que permitia alinhar o regime de competência - vinculado ao evento econômico, sem considerar o impacto no caixa entrada ou saída; e o regime de caixa - atrelado ao evento financeiro quando de sua entrada ou saída de caixa. (IUDÍCIBUS e MARION, 2011, p. 112)

A apresentação deste relatório para as companhias abertas permaneceu até a promulgação da Lei 11.638/07, período em que a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) não era obrigatória no Brasil, apenas estimulada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), através do Parecer de Orientação CVM n° 24, de 15 de janeiro de 1992 (Salotti e Yamamoto, 2008, p. 38).

O item 4 denominado “Avanços na Qualidade da Informação e Divulgação das Demonstrações Contábeis”, do Parecer de Orientação CVM nº 24, explicita o seu propósito:

Algumas empresas têm demonstrado interesse ou desenvolvido trabalhos no sentido de levar ao seu usuário uma informação de melhor qualidade, através do aperfeiçoamento dos seus relatórios ou de informações mais completas. A CVM apóia e estimula estas iniciativas. São exemplos de formas de enriquecimento da informação levada ao público:

- Demonstrações complementares, como: a) Fluxo de caixa; e

b) Valor Adicionado.

Com o intuito de orientar as elaborações da Demonstração dos Fluxos de Caixa, o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), emitiu a Norma e Procedimentos de Contabilidade (NPC) nº 20, em 30 de abril de 1999, composta por 26 (vinte e seis itens) e 2 (dois) anexos, com os modelos de elaboração pelo Método Direto e pelo Método Indireto, que instruía os interessados no preparo desta demonstração.

Os itens 1 e 2 da NPC nº 20, agrupados sob o título “Princípios Contábeis Aplicáveis”, expressam o seu intento:

1. A "Demonstração dos Fluxos de Caixa" refletirá as transações de caixa oriundas: a) das atividades operacionais; b) das atividades de investimentos; e c) das atividades de financiamentos. Também, deverá ser apresentada uma conciliação entre o resultado e o fluxo de caixa líquido gerado pelas atividades operacionais visando fornecer informações sobre os efeitos líquidos das transações operacionais e de outros eventos que afetam o resultado.

2. A função primordial de uma demonstração dos fluxos de caixa é a de propiciar informações relevantes sobre as movimentações de entradas e saídas de caixa de uma entidade num determinado período ou exercício. As informações contidas numa demonstração dos fluxos de caixa, quando utilizadas com os dados e informações divulgados nas demonstrações contábeis, destinam-se a ajudar seus usuários a avaliar a geração de fluxos de caixa para o pagamento de obrigações, lucros e dividendos a seus acionistas ou cotistas, ou a identificar as necessidades de financiamento, as razões para as diferenças entre o resultado e o fluxo de caixa líquido originado das atividades operacionais e, finalmente, revelar o efeito das transações de investimentos e financiamentos, com a utilização ou não de numerário, sobre a posição financeira.

A NPC nº 20 subsidiou por oito anos a elaboração da DFC, das empresas que apresentavam voluntariamente esta demonstração e com a publicação da Lei nº 11.638/07, a divulgação fica obrigatória, conforme observa Martins et al (2013, p. 651):

Com a promulgação da Lei nº 11.638/07, a elaboração da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) em substituição à Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR), se tornou obrigatória. Entretanto, não tratou de sua forma de apresentação.

Assim, a NPC nº 20 foi revogada com a publicação, pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis, do CPC 03 - Demonstração dos Fluxos de Caixas, que “estabeleceu as regras de como as entidades devem elaborar e divulgar as demonstrações do fluxo de caixa para atendimento à Lei nº 11638/07” (MELO e SALOTTI, 2010, p.77).

Vale observar que o CPC n° 03 (atualmente na 2ª revisão) se constitui no avanço e em aprofundamento da norma revogada, que é evidenciada no item Objetivo (p. 2):

Informações sobre o fluxo de caixa de uma entidade são úteis para proporcionar aos usuários das demonstrações contábeis uma base para avaliar a capacidade de a entidade gerar caixa e equivalentes de caixa, bem como as necessidades da entidade de utilização desses fluxos de caixa. As decisões econômicas que são tomadas pelos usuários exigem avaliação da capacidade de a entidade gerar caixa e equivalentes de caixa, bem como da época de sua ocorrência e do grau de certeza de sua geração.

O objetivo deste Pronunciamento Técnico é requerer a prestação de informações acerca das alterações históricas de caixa e equivalentes de caixa da entidade por meio de demonstração dos fluxos de caixa que classifique os fluxos de caixa do período por atividades operacionais, de investimento e de financiamento.

Assim, a DFC tem por objetivo primário: “prover informações relevantes sobre os pagamentos e recebimentos, em dinheiro, de uma empresa, ocorridos durante um determinado período...” (MARTINS et al, 2013, p. 651)

Neste sentido, Salotti e Yamamoto (2008, p.38) destacam:

O conteúdo informativo da DFC é segregado de acordo com os fluxos de caixa por tipo de atividade: operacional, de investimento e de financiamento. Esses fluxos são somados, acarretando a variação líquida do caixa no período evidenciado. A este fluxo líquido, é somado o saldo inicial do caixa e equivalentes de caixa (demonstrados nos balanços patrimoniais dos dois períodos).

Esta segregação permite identificar a origem de todo o recurso que ingressou no caixa, como a aplicação deste recurso, em determinado período, além de medir o Resultado do Fluxo Financeiro, conforme Marion e Iudícibus (2011, p. 113), através da mensuração das seguintes atividades: as principais atividades geradoras de receita da entidade - atividades operacionais; as atividades referentes à aquisição e à venda de ativos de longo prazo - atividades de investimentos; e as atividades que resultam em mudanças no tamanho e na composição do capital próprio e no capital de terceiros - atividades de financiamento. (CPC nº 03-R2)

Assim, o propósito é verificar a origem e a aplicação dos recursos, como observam Martins et al (2013, p. 658):

A movimentação das disponibilidades do caixa (caixa e equivalentes de caixa) da empresa, em um dado período, deve ser estruturada na DFC [...], em três grupos, cujos títulos buscam expressar as entradas e saídas de dinheiro relacionadas com as atividades: (a) operacionais; (b) de investimentos; e (c) de financiamentos.

Desta forma, a DFC permite aos usuários avaliarem as empresas, nas seguintes dimensões: capacidade de pagamento; liquidez e solvência; desempenho operacional; impactos sobre a posição financeira, ocasionados pelas decisões de investimento e de financiamento; precisão das estimativas passadas; e capacidade de geração de fluxos de caixa (IUDÍCIBUS e MARION, 2011, p. 112-114).

Neste contexto, o Fluxo de Caixa Operacional (FCO) é fundamental, por evidenciar as transações que afetam e não afetam o caixa e por informar, se os fluxos de entrada de dinheiro são suficientes para liquidar as saídas de caixas. (ROSS et al, 2008, p.33; Silva 2006, p.474). O CPC 03 (R2), no item 18 (p.8), estabelece dois métodos alternativos para a elaboração do fluxo de caixa proveniente das operações: o direto e o indireto.

A entidade deve apresentar os fluxos de caixa das atividades operacionais, usando alternativamente: (a) o método direto, segundo o qual as principais classes de recebimentos brutos e pagamentos brutos são divulgados; ou (b) o método indireto, segundo o qual o lucro líquido ou o prejuízo é ajustado pelos efeitos de transações que não envolvem caixa, pelos efeitos de quaisquer diferimentos ou apropriações por competência sobre recebimentos de caixa ou pagamentos em caixa operacionais passados ou futuros, e pelos efeitos de itens de receita ou despesa associados com fluxos de caixa das atividades de investimento ou de financiamento.

Segundo Martins et al (2013, p. 659), “o método direto explica a entrada e saída bruta de dinheiro dos principais componentes das atividades operacionais”, entre eles: recebimentos das vendas e pagamento fornecedores, conforme quadro 4:

Quadro 4 - Cálculo do FCO - Método Direto

Fonte: Assaf Neto e Silva (2012, p. 45), adaptado pelo autor. + Entrada (Vendas Recebidas)

= Valor Acumulado

- Pagamento de Fornecedores - Pagamento de Salários

- Pagamento de Despesas Financeiras - Pagamento Imposto de Renda e CSSL = Fluxo de Caixa das Operações

Sobre o método indireto, Martins et al (2013, p.659) define como a “conciliação entre o lucro líquido e o caixa gerado pelas operações”. O lucro é ajustado conforme as variações dos saldos das contas do ativo circulante e do passivo circulante, conforme Quadro 5:

Quadro 5 - Cálculo do FCO - Método Indireto

Fonte: Assaf Neto e Silva (2012, p. 46).

Com relação à adoção do Método, Mello e Salotti (2010, p. 85-86) observam:

Em relação à escolha dos métodos, pode-se destacar o seguinte: o método direto é mais simples para ser compreendido do que o método indireto. [...] Todavia as empresas argumentam que ele é mais dispendioso na prática. O método indireto é mais simples de ser preparado, porém mais complexo para um usuário comum [,,,]

Além disso, há uma obrigatoriedade imposta às empresas em que, caso optem pelo método direto, deverão apresentar na Nota Explicativa, a conciliação entre o resultado e o efeito no caixa, o que tem conduzido às empresas a optarem pelo Método Indireto.

No que diz respeito à aplicação, Salotti e Yamamoto (2008, p. 39) destacam que os “fluxos de caixa evidenciados na DFC são informações relevantes para uma série de aplicações”, dentre elas a análise da capacidade de honrar com seus compromissos e em processos de valuation.

Malacrida (2009, p. 27-42) apresenta quatro finalidades da DFC: (1) análise das demonstrações contábeis, que permite constatar se a empresa possui liquidez e a capacidade de financiar seu capital de giro e expandir suas operações, por meio de

Lucro Líquido

+ Variação de Valores a Receber + Variação nos Estoques

+ Variação em Fornecedores

+ Variação em Imposto de Renda a Pagar + Depreciação e Amortização

suas atividades; (2) análise de crédito, proporciona a verificação, por parte do credor, da capacidade de pagamento do tomador; (3) gerenciamento de resultados6 que minimiza a assimetria informacional, já que busca eliminar manipulação nos accruals; (4) avaliação de empresas, já que subsidia os processos do estabelecimento do valor da empresa, por meio da somatória dos fluxos de caixa futuros, cujos montantes são trazidos a valor presente, através de uma taxa de desconto, associada aos riscos do negócio.

Diante do apresentado, o fluxo de caixa se constitui em informação relevante para tomada de decisões, tanto ao nível de feedback, como de previsão de valores futuros e, se espera, na explicação do preço e/ou retorno das ações.

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