• Nenhum resultado encontrado

O Dr Elias Romão, diretor do departamento de classificação indicativa da secretaria nacional de justiça acabou assumindo que eles agiram à reboque dos movimentos

No documento Download/Open (páginas 37-43)

f) Entrevista Sérgio Suiama

4- O Dr Elias Romão, diretor do departamento de classificação indicativa da secretaria nacional de justiça acabou assumindo que eles agiram à reboque dos movimentos

sociais. o senhor acredita que isso também ocorreu com o ministério público?

Eu não concordo com isso, pelo contrário, quem teve a iniciativa primeira foi o ministério público. a atuação dos movimentos sociais é muito restrita há 10 anos, tinha a ong Tver que militava nesta área, mas pouca coisa. Atrás só depois que foi criada a campanha quem financia a baixaria é contra a cidadania pela ética na tv, que aconteceu uma mobilização social maior pela questão da comunicação. Por exemplo, no caso da ação do João Kléber, toda a ação foi concebida pelo ministério público, em termos jurídicos, não foram os movimentos sociais que fizeram alguma coisa. neste caso, os movimentos sociais tiveram uma participação muito importante na produção dos programas que integraram o direito de resposta, mas em termos jurídicos, não teve uma participação efetiva dos movimentos sociais. quem levantou essa bandeira foi o ministério público, não o movimentos social.

5-Houve algum contexto social-político que fez com que aumentasse essa preocupação do ministério público com o conteúdo da televisão?

É um assunto que está em voga hoje como nunca esteve. A gota d’água dessa questão toda foi aquele período em que havia uma exploração muito grande da dignidade da pessoa humana nos programas de televisão como ratinho, aquela história do sushi do Faustão, foi o ponto culminante desse processo que já vinha acontecendo (banheira do gugu), a história da entrevista falsa do PCC, também do Gugu, a ação movida contra a tv Record que resultou numa ação de direito de resposta coletivo em relação às religiões afro–brasileiras. Esse

momento culminou com a iniciativa da campanha da baixaria que teve uma reação social muito grande tanto para o ministério público, quanto para a sociedade. Na tv Record. O desfio que ainda não aconteceu é como se transforma essa questão da violação dos direitos humanos numa percepção maior do problema da democratização dos meios de comunicação. o que se percebe é a existência de ações judiciais e extra-judiciais buscando fazer com que haja uma futura democratização dos meios de comunicação, ou seja, mudar a estrutura da comunicação social no Brasil.

6-A sociedade procura o mp para reclamar da programação televisiva? com que freqüência?

Acontece pouco, acho que a sociedade também deveria se envolver mais nas ações civis públicas, as próprias ongs podem ingressar com ações contra as emissoras, mas não fazem uso disso e não procuram tanto o ministério público quanto a gente gostaria. é claro que esta é uma relação que se estabelece, que funciona muito com base no conhecimento pessoal a gente ainda não conseguiu transformar essa questão da comunicação televisiva numa questão efetivamente institucional do ministério público, o que se tem são pessoas, alguns colegas procuradores que estão preocupados com a questão e que tem alguma atuação nisso, mas ainda não conseguimos transformar isso numa política institucional. E do ponto de vista das ongs e acho que não há efetivamente uma reação mais orgânica com a instituição do ministério público, o que existe uma relação pontual com pessoas. Do ponto de vista da população geral ela ainda não vê a televisão como um serviço público, as pessoas em geral vêe a televisão como uma diversão que é dada por emissoras comerciais. Elas não tem essa dimensão de que as emissoras comercias são concessionárias de um serviço publico federal, que esse serviço tem parâmetros para acontecer, tem regras, tem direito, tem deveres, obrigações, enfim, é um conjunto de idéias que regem esse serviço. Então a população vê essa coisa muito do ponto de vista particular, imediatista, sabem só que o Roberto Marinho é dono da globo, o João Saad da bandeirantes e o Silvio Santos do sbt. Não tem a percepção de que a televisão não é uma atividade privada e sim um serviço público de comunicação.

7-Quais os canais que a população têm disponíveis para reclamar a programação de televisão no país?

Todos as procuradorias da republica nos estados tem telefone e e-mail para denúncias, além disso temos a parceria com a campanha pela ética na tv, da comissão de direitos humanos da câmara que nos encaminha relatórios e pareceres de denúncias recolhidas pela campanha. 8-Quais os principais motivos das reclamações?

reclamações de conteúdo moral,reclamando da super- exposição do corpo, homofobia, violação de direitos humanos como discriminação racial, religiosa, sexual, de gênero.

9-Como ficou o caso SBT/Domingo Legal?

Tem uma ação correndo na Justiça Federal, mas eu não tenho informação. Quem sabe é a Eugênia Favaro.

10-E a classificação indicativa da programação de televisão?

A classificação etária que protege os direitos da criança e do adolescente com relação a cenas de sexo, violência, uso de drogas na televisão. Agora cenas super violentas e com forte apelo sexual podem ser exibidas desde que estejam num horário compatível com a idade do telespectador, então não faz sentido exibir uma cena super violenta às 13h porque aí muitas crianças vão ter acesso a essa imagem, os pais não estarão presentes, enfim, isso acaba causando algum tipo de violação da formação crítica da criança. Outra coisa são violações de direitos humanos na televisão e aí entra discriminação religiosa, racial, por orientação sexual. nesses casos não é classificação indicativa que vai resolver. Se tiver violação de direito humano não importa se foi as três da tarde ou ás dez da noite, essa violação tem que ser reparada. Essa e a nossa condição, tanto que entramos com várias ações contra emissoras justamente porque havia violação de direitos humanos.

11-O senhor acredita que a classificação indicativa resolve o problema da qualidade da televisão?

A classificação indicativa resolve os problemas da criança e do adolescente, ou seja, violência, sexo e drogas tem classificação de acordo com a idade. Isso não resolve problemas outros como: discriminação racial, por exemplo, a Record exibe um programa de meia noite a uma da manhã falando de religiões afro- brasileiras, como está passando de madrugada, foge da questão da classificação indicativa, não teria classificação que desse conta disso. Então aqui ela não resolve nesse caso. Aí tem que ver outras medidas como indenização por dano moral coletivo, direito de resposta, cassação da concessão, uma proibição de veiculação de certos conteúdos, etc.

12-Na sua opinião, de quem é a responsabilidade da qualidade da televisão?

A qualidade da televisão é de responsabilidade do prestador do serviço, no caso, as emissoras, quem recebe a concessão pública para explorar aquela frequência seja de rádio ou tv. Em vez de falar da qualidade da programação, acho mais interessante falar de princípios constitucionais que tem que ser debatidos, principalmente ao art. 221 da constituição. Porque só falar de qualidade fica uma coisa muito subjetiva, quase que só estética, quando na verdade é um problema ético e jurídico. A responsabilidade de fiscalizar é do ministério das

comunicações através da secretaria de serviço de comunicação eletrônica. Esse é o órgão que tem que fiscalizar, mas não o faz como deveria. aí o MP apóia, em primeiro lugar, para verificar se está sendo fiscalizado corretamente, segundo, se não está sendo fiscalizado adequadamente vamos ver que medidas judiciais são cabíveis para atender a essa reivindicação específica.

13-Como funciona o processo de cassação de uma concessão de TV? E a renovação? Uma coisa é renovação da concessão e outra coisa é cassação da concessão. A renovação é praticamente automática a cada 15 anos e tem os requisitos próprios para isso. A cassação da concessão que nada mais é que a rescisão do contrato de concessão do serviço público de radiodifusão. Funciona como qualquer serviço público onde o poder executivo pode rescindir a qualquer momento o contrato da empresa que tem a concessão e não está respondendo aos requisitos básicos para tal. Isso deveria acontecer com a radiodifusão. Se tem uma emissora que não cumpre com as normas do serviço ela está sujeita á rescisão do contrato, a única particularidade é que a constituição exige que haja uma sentença judicial transitando em julgado, no entanto, é possível você pedir numa ação judicial coletiva a cassação da concessão como uma medida semelhante a rescisão do contrato de concessão de um serviço público qualquer. No caso da rede tv, no episódio do programa João Kléber, foi pedido a cassação da concessão. Houve um acordo judicial e foi apenas retirado o programa do ar e teve o direito de resposta.

14-Como encarou a retirada do programa do João Kléber do ar bem como a inserção do programa direito de resposta na grade da rede tv? Quem foi o responsável por essa vitória?

Mais do que a proibição da exibição do conteúdo, esse processo mostrou um avanço importante que é essa possibilidade de haver uma ocupação democrática da aqueles espaço das comunicações. O que se tinha e tem ainda hoje são verdadeiros latifúndios, apropriação privada do espaço publico e o que o direito de resposta mostrou é que há outro mundo possível na comunicação, que é a ocupação daquele espaço por Ongs, produtoras independentes, outros formatos e outros conteúdos.

5- Quais outros programas estão na mira da justiça e por quê?

Muitos procuradores como a Marcia Morgado trabalha com as produções da Tv Globo, também tem outros focando programa pânico e insônia da rede tv, as novelas da Record, SBT também não está cumprindo com a classificação indicativa, enfim, tem vários na mira. É um serviço público que prestamos de controle social da televisão.

15-Qual foi a primeira vitória judicial contra programas de televisão que incitam a baixaria?

Não sei, minha atuação no ministério público já começa em 2002.

16-O que o senhor entende como baixaria ao julgar os programas que sofrerão ações judiciais?

Baixaria é um nome popular usado pela campanha pela ética na tv para tornar mais acessível á campanha. O que eu entendo por baixaria é a violação de direitos humanos e fundamentais pelas emissoras de rádio e tv.

6- O senhor acredita em mobilização social pela qualidade da televisão?

Eu acredito, mas acho que a questão da qualidade passa necessariamente pela questão da democratização dos meios de comunicação. Não dá para falar de qualidade de programação sem tocar no ponto nelvrágico desta discussão que é a concentração de poder nas mãos poucos. É uma questão de políticas públicas de comunicação, mas precisamente de democratização dos meios de comunicação.

Anexo 2 – Matérias

No documento Download/Open (páginas 37-43)