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Departamento de Apoio à Economia Solidária (DAES)

6. A REDE DE COOPERAÇÃO PARA DESENVOLVIMENTO EM ECONOMIA

6.3. Os atores da rede de cooperação

6.3.1. Departamento de Apoio à Economia Solidária (DAES)

A atuação do DAES se dá pela implementação do “Programa de fomento à economia solidária”. Desde sua criação em 2001, o programa é tido como uma política transversal que conta com a integração de diversas secretarias e entes municipais como as secretarias de Cidadania e Assistência Social, de Agricultura e Abastecimento, de Educação, da Infância e

Juventude, de Habitação e Desenvolvimento Urbano, a Fundação Educacional São Carlos, a Fundação Progresso e Habitação São Carlos (PROHAB), as coordenadorias de Meio Ambiente, de Orçamento Participativo, de Artes e Cultura etc.

O intuito do programa, bem como do DAES é contribuir para a construção de um ambiente favorável à ampliação da atividade econômica local, da inclusão social, da distribuição justa das riquezas geradas e da preservação dos recursos naturais, por meio de iniciativas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável da região através de ações de geração de trabalho e renda (DAES, s.d.). O público alvo compreende trabalhadores em situação de desemprego, de emprego precário, do setor informal e também empreendedores de pequenos negócios.

O DAES aponta que a política pública municipal de economia solidária possui quatro eixos de atuação conforme mostra Figura 12.

Fonte: Elaborado pela autora com base em DAES (s.d.)

Figura 12: Eixos da política pública municipal de economia solidária

Alinhadas aos eixos da política pública de economia solidária, foram estabelecidas as seguintes metas pelo DAES para o período de 2009 a 2012 (DAES, 2008):

• Criação da Incubadora Municipal de Economia Solidária, para oferecer qualificação profissional, formação escolar e assistência técnica, inclusão digital,

acesso à inovação tecnológica e à distribuição e comercialização dos produtos e serviços;

• Aprovação do Marco Legal adequado às necessidades dos EES do município, com a aprovação da Lei Municipal de Economia Solidária;

• Atuar na manutenção e ampliação dos espaços físicos existentes para o desenvolvimento das atividades produtivas dos empreendimentos de Economia Solidária e das ações desenvolvidas junto ao Centro Público;

• Proposição na Câmara Municipal da inclusão do tema de Economia Solidária na rede municipal de educação;

• Constituição, a partir das regiões e recursos do Orçamento Participativo, de ações no âmbito do desenvolvimento territorial;

• Implementação de um cinturão verde de hortas comunitárias e familiares contribuindo para a redução de despesa, melhoria de hábito alimentar e abastecimento do mercado;

• Realização de Feiras de Troca e Feiras de Economia Solidária no município e participação na região;

• Implementação de um Centro de comércio justo, ético e solidário e estímulo ao debate sobre o consumo responsável junto à sociedade e às plenárias da Câmara Municipal;

• Constituição da Frente Parlamentar de Apoio a Economia Solidária, com atuação unificada em função de interesses comuns, independente de partido político a que pertençam.

O DAES possui orçamento e equipe próprios para desenvolvimento de suas atividades. Seu orçamento faz parte do Plano Plurianual (PPA) e a maioria destina-se à contratação de serviços de terceiros para realização de cursos de qualificação e também para fornecer assessoria aos empreendimentos (CAPACLE, 2010). O quadro atual de funcionários se divide tanto na gestão das atividades burocráticas e de funcionamento do DAES como de assessoria e apoio aos empreendimentos.

Atualmente a atuação do DAES pode ser decomposta em quatro frentes de trabalho: cultura, alimentos, construção civil e resíduos. Nessas quatro áreas, existem tanto ações em andamento quanto propostas de trabalho. Algumas destas propostas estão inseridas em projeto submetido a um edital da SENAES “Promoção de Ações Municipais Integradas de Economia

Solidária para o Desenvolvimento Local Visando a Superação da Extrema Pobreza” de 2011 em que a prefeitura de São Carlos ficou classificada em segundo lugar.

O diálogo entre a economia solidária e o ramo da cultura pode ser considerado recente no município. A aproximação iniciou quando foi inserido no 2º Festival Multimídia Colaborativo – CONTATO um debate sobre “Economia Solidária – as inovações sociais e o trabalho cooperativo”. O Festival CONTATO ocorre no município desde 2007, é organizado pela UFSCar e seu objetivo é a promoção de atividades artístico-culturais como shows e espetáculos e de conhecimento como oficinas, debates e palestras. Em 2009, no 3º CONTATO, houve uma integração maior que culminou na realização da I Feira Microrregional de Economia Solidária durante os dias do evento. Desde então, a aproximação do DAES e dos próprios empreendimentos de economia solidária com os organizadores do evento se estreitou e hoje o DAES possui uma frente de trabalho no ramo da cultura. Existem empreendimentos solidários de cultura no município e hoje o objetivo do DAES é que seja criada uma rede com estes empreendimentos. Além dos empreendimentos, São Carlos conta com Pontos de Cultura, que são “entidades reconhecidas e apoiadas financeira e institucionalmente pelo Ministro da Cultura que desenvolvem ações de impacto sociocultural em suas comunidades” (MinC, 2009). Os Pontos de Cultura recebem R$ 180 mil ao longo de três anos, que é o prazo para desenvolvimento de suas propostas, sendo que metade dos recursos financeiros advém do Ministério da Cultura (MinC) e a outra metade da prefeitura municipal. Em 2010 foi lançado um edital pela Coordenadoria de Artes e Cultura para seleção de oito Pontos de Cultura de São Carlos e no início de 2012 foram divulgadas as entidades contempladas e que formarão a Rede de Pontos de Cultura do Município de São Carlos.

ENTIDADE/PONTO DE CULTURA PROJETO

Associação Cultural Rochedo de Ouro Rochedo de Ouro – Articulando Redes Associação Formiga Verde Formiga Verde

Associação Instituto Cultural Janela

Aberta Janela Aberta – Incubadora Solidária de Artes e Cultura Associação Kooperi A economia solidária vai à escola Associação Sãocarlense de Capoeira Menino que foi seu mestre ONG Ramudá – Ramos que brotam em

tempo de mudança Encontralhaços

ONG Visibilidade LGBT Visibilidade cultural: arte, diversidade e cidadania

TEIA – Casa de Criação Teia das Culturas: entrelaçando saberes

Fonte: São Carlos... (2012)

Quanto à rede de alimentos, existe a iniciativa de trabalho coletivo da Horta Orgânica Comunitária da Cidade Aracy, considerada uma experiência exitosa, no entanto atualmente incapaz de atender sua demanda. Os trabalhadores envolvidos recuperaram um terreno arenoso e plantaram produtos orgânicos, permitindo a alimentação saudável e de qualidade dos moradores do bairro e a comercialização do excedente produzido. Dessa forma, a horta gera renda e ainda abastece a população do bairro. A proposta atual do DAES é criar outra Horta Comunitária para complementar e atender à demanda reprimida. Em paralelo, há o Assentamento de Agricultura Familiar Santa Helena que já produz alimentos agrícolas, derivados do leite e criação de animais. Recentemente, o Assentamento conseguiu recursos financeiros de um projeto municipal para criação de uma cozinha caipira e obteve verba advinda de um TAC do Ministério Público do Trabalho. Esta modalidade de repasse de verbas é diferenciada, pois o MPT aplicou um TAC em supermercados de Campinas e a multa paga pelos supermercados foi repassada via Gerência Regional do Trabalho e prefeitura municipal para o Assentamento Santa Helena de São Carlos.

No caso da construção civil, também houve repasse de recursos por meio de um TAC aplicado em uma empresa privada pelo Ministério Público para cumprimento de compensação ambiental. No caso, foi doada à prefeitura de São Carlos uma máquina de triturar galhos. Esta máquina será integrada à cooperativa Central de Resíduos da Construção Civil, ainda em formalização e que terá foco no tratamento de resíduos de madeira. Na Cidade Aracy já existe um empreendimento de resíduos da construção civil e que passará a atuar em conjunto com a Central de Resíduos. Além disso, está em andamento o projeto “Mulheres de São Carlos Construindo Autonomia”, oriundo de uma parceria entre as Secretarias Municipais de Trabalho, Emprego e Renda e de Cidadania e Assistência Social com a Secretaria de Políticas paras as Mulheres (SPM) do governo federal. O objetivo do projeto é a capacitação de aproximadamente 200 mulheres para atuar como pedreiras, pintoras, carpinteiras, encanadoras, azulejistas e assentadoras de tijolos, e a partir disto a incorporação delas em uma das duas cooperativas a serem criadas, a carpintaria estrutural e prestação de serviços na construção civil ou a Central de Trabalhadoras Autônomas (CTA). A CTA será uma intermediadora entre o mercado de trabalho e estas trabalhadoras autônomas, com foco na prestação de serviços de pequenas reformas. Existem como propostas a inauguração (já em construção) do Centro Público de Produção em Economia Solidária no bairro Santa Felícia para abrigar os empreendimentos solidários da construção civil e a criação de uma rede de oito Eco Pontos para entrega de resíduos da construção civil em vários bairros da cidade. A

integração desses empreendimentos e atividades constituirá a rede solidária de empreendimentos na construção civil.

Por fim, há a frente de trabalho de resíduos. O município contém empreendimentos de coleta e o intuito é articular e integrar os vários tipos de resíduos, recicláveis, de compostagem, de poda, da construção civil, domiciliares e eletroeletrônicos, construindo assim uma Cadeia de Resíduos e focando também na verticalização dos processos produtivos. Recentemente, a prefeitura conseguiu recursos da Fundação Banco do Brasil para a aquisição de caminhões e outros equipamentos para os empreendimentos.

Nota-se que o foco do trabalho no município é a construção de redes e/ou cadeias de produção e distribuição estando alinhada às proposições de Mance (1999, 2002, 2003). No caso da cultura, alimentos e construção civil, as atividades em andamento ou propostas objetivam a criação de redes solidárias. Atuando em conjunto os empreendimentos reduzem sua fragilidade e vulnerabilidade individual e realizam trocas e comercialização conjunta de forma colaborativa. Já na outra frente de trabalho, o objetivo é a formação de uma cadeia de resíduos, em que ocorra a integração dos empreendimentos de consumidores, de produtores e de prestadores de serviços, unindo toda a cadeia produtiva desde a coleta de materiais até o consumidor final.

6.3.2. Núcleo Multidisciplinar e Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em