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3. A ECONOMIA SOLIDÁRIA

3.3. Panorama atual brasileiro

Na América Latina e no Brasil, a economia solidária surge no mesmo contexto de debates sobre novos tipos de desenvolvimento como mostrado no capítulo anterior. Durante a década de 1980, o país vivenciava a década perdida em momentos de recessão e crise econômica, além da crise estrutural do trabalho. Com maior destaque a partir de 1990, a economia solidária se torna uma alternativa aos trabalhadores excluídos do mercado de trabalho e em condições sociais críticas.

Além de iniciativas vindas da própria sociedade civil, outro fator responsável para o aumento das experiências coletivas de trabalho foi o apoio de instituições governamentais e da sociedade em forma de entidades, organizações não governamentais (ONGs), movimentos sociais e, especialmente, as universidades e instituições de ensino superior (SINGER, 2003). As universidades atuam por meio de núcleos de estudos, pesquisa e extensão, e majoritariamente pelas Incubadoras de Cooperativas Populares (ITCPs). As ITCPs surgiram a partir de 1995, sendo a primeira na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e seu objetivo era disseminar conhecimentos tecnológicos e de gestão, produtos ou processos para comunidades carentes interessadas em formar cooperativas (SOUZA et al., 2003).

Segundo França Filho e Cunha (2009) existem alguns aspectos da incubação na esfera da economia solidária que a diferencia da incubação no âmbito empresarial:

• O público alvo são pessoas de baixa renda, em sua maioria, organizadas em pequenas cooperativas. Consequentemente, o foco da incubação é a constituição de processos de autogestão nos empreendimentos;

• Normalmente não incidem taxas sobre os empreendimentos;

• As incubadoras não fornecem abrigo físico às instalações dos empreendimentos incubados, exceto em alguns casos.

O corpo de atores das incubadoras consiste em docentes, técnicos e estudantes de graduação e pós-graduação das mais diferentes áreas, sendo que cada incubadora possui uma forma específica de atuar, respeitando sua diversidade institucional, histórico de atuação, perspectiva do grupo de atores e da realidade dos empreendimentos incubados. O papel das

ITCPs para o movimento (disseminação e desenvolvimento) da economia solidária é muito importante.

Primeiramente, elas capacitam os empreendimentos, tirando muitos deles da informalidade e da precariedade e propiciando uma renda digna a seus participantes. Um segundo papel é o de articular novas políticas públicas no campo da geração de trabalho e renda. Já um terceiro relaciona-se ao processo de organização das próprias ITCPs, que vêm se congregando em torno de redes nacionais, dando consistência à proposta e suporte à própria dinâmica de organização política das práticas de eco- nomia solidária. (FRANÇA FILHO; CUNHA, 2009, p.224).

Quanto à organização das próprias incubadoras em redes nacionais, devem ser mencionadas a Rede Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho (Unitrabalho) e a Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (Rede de ITCPs), redes que congregam a maioria das universidades e instituições do país.

A Unitrabalho teve suas discussões iniciadas em 1992, mas se consolidou com estatuto aprovado (fundação de direito privado, sem fins lucrativos) e corpo diretor eleito em 1996. Sua finalidade é apoiar “os trabalhadores na sua luta por melhores condições de vida e trabalho, realizando projetos de ensino, pesquisa e extensão, que integram o conhecimento acadêmico ao saber elaborado na prática social.” (UNITRABALHO, 2011). A Unitrabalho realiza projetos articulados em torno de três programas: Educação e Trabalho, Relações de Trabalho e Emprego, e Economia Solidária e Desenvolvimento Sustentável. É no terceiro eixo que a Unitrabalho “incentiva e apoia a estruturação de Incubadoras de Empreendimentos Solidários”. Atualmente, a Rede conta com nove núcleos locais instalados em universidades, 57 universidades e instituições filiadas e 45 incubadoras de empreendimentos solidários. As universidades com alguma incubadora vinculada são apresentadas no Quadro 3.

A Rede de ITCPs, criada em 1998, tem como motivo de sua existência “garantir a troca, o intercâmbio, o livre debate entre as incubadoras sobre as ideias, as práticas e as ações que as caracterizam, e para representá-las em todos os espaços sociais e institucionais em que isto se faça necessário” (REDE ITCPs, 2011). Para a Rede de ITCPs, a incubação constitui um processo educativo tanto para a universidade quanto para os empreendimentos, que interagem para produzir e difundir conhecimentos, com a finalidade de “potencializar a economia solidária, aproximar a universidade dos setores populares e desenvolver ações de sentido social emancipatório”. A Rede possui um estatuto com princípios e objetivos, além do regimento sobre as regras de funcionamento. Também realiza Encontros anuais e bianuais e o Congresso da Rede a cada dois anos para incentivar a troca de informações. Atualmente, conta com 43 incubadoras organizadas regionalmente conforme Quadro 4.

NORTE (9)

UFAM – Universidade Federal da Amazônia/Campus Manaus UFAM – Universidade Federal da Amazônia/Campus Parintins

UFPA – Universidade Federal do Pará UNIR – Universidade Federal de Rondônia

IFPA – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará/Campus Castanhal

UFRA – Universidade Federal Rural da Amazônia UFAC – Universidade Federal do Acre

UNITINS – Universidade do Tocantins UFRR – Universidade Federal de Roraima

NORDESTE (16)

EFS – Universidade Estadual de Feira de Santana UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz UNEB – Universidade Estadual da Bahia UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

UFAL – Universidade Federal de Alagoas

UNCISAL – Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas

UFERSA – Universidade Federal Rural Semiárido

UFC – Universidade Federal do Ceará UVA – Universidade Estadual Vale do Acaraú

UFCG – Universidade Federal de Campina Grande UFPB – Universidade Federal da Paraíba/Campus João Pessoa

UFPB – Universidade Federal da Paraíba/Campus Bananeiras

UFPI – Universidade Federal do Piauí

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFS – Universidade Federal de Sergipe

CENTRO-OESTE (6)

UnB – Universidade de Brasília

UNEMAT – Universidade do Estado do Mato Grosso

IFMT – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso

UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados

UEMS - Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul

UFG – Universidade Federal de Goiás

SUDESTE (8)

UFF – Universidade Federal Fluminense UFU – Universidade Federal de Uberlândia UFVJM – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo/ Campus São Paulo

UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo/ Campus Santos

UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo/ Campus Diadema

UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba UNISANTOS – Universidade Católica de Santos

SUL (6)

UEM – Universidade Estadual de Maringá/Campus Umuarama UEM – Universidade Estadual de Maringá/Campus Maringá

UEL – Universidade Estadual de Londrina

UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

UNOCHAPECÓ – Universidade Comunitária Regional de Chapecó

UFSM – Universidade Federal de Santa Maria

Fonte: Elaborado pela autora com base em Unitrabalho (2011)

NORTE (1)

UFT – Universidade Federal do Tocantins

NORDESTE (8)

UNEB – Universidade do Estado da Bahia UNIFACS – Universidade de Salvador UCSAL – Universidade Católica de Salvador IF-BA – Instituto Federal da Bahia

UFBA – Universidade Federal da Bahia

UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco

FAFIRE – Faculdade Frassineti do Recife UFC/Cariri – Universidade Federal do Ceará/Campus Cariri

CENTRO-OESTE (3)

UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados

UEMS/Dourados – Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul/Campus Dourados

SUDESTE (17)

FSA – Centro Universitário Fundação Santo André FGV/SP – Fundação Getúlio Vargas/São Paulo USP – Universidade de São Paulo

UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas UNESP/Assis – Universidade Estadual de São Paulo/Campus Assis

UNESP/Franca – Universidade Estadual de São Paulo/Campus Franca

UNIMONTES – Universidade Estadual de Montes Claros

UNIFEI – Universidade Federal de Itajubá UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora UFLA – Universidade Federal de Lavras

UFSJ – Universidade Federal de São João Del Rei UFV – Universidade Federal de Viçosa

UNICERP/Patrocínio – Centro Universitário Cerrado/Campus Patrocínio

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro IFRJ – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro

UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

SUL (14)

FURG – Universidade Federal do Rio Grande UCPEL – Universidade Católica de Pelotas UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos

FEEVALE – Centro Universitário Feevale UNIJUÍ – Universidade Regional do Nordeste do Estado do RS

UNILASALLE – Centro Universitário La Salle

UNOCHAPECÓ – Universidade Comunitária Regional de Chapecó

UNOESC/Xanxerê – Universidade do Oeste de Santa Catarina/Campus Xanxerê

UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí FURB – Universidade Regional de Blumenau UFPR – Universidade Federal do Paraná UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa UNOESTE/Cascavel – Universidade do Oeste do Paraná/Campus Cascavel

Fonte: Elaborado pela autora com base em Rede ITCPs (2011)

Quadro 4: Universidades pertencentes à Rede ITCPs

Observando o Quadro 3 e o Quadro 4, ambas as redes possuem uma quantidade próxima de incubadoras vinculadas, no entanto a atuação da Unitrabalho concentra-se no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, enquanto a Rede de ITCPs é predominante no Sul e Sudeste. Pelo que consta no site institucional da Rede de ITCPs, logo após sua fundação, as incubadoras se integraram à Rede Unitrabalho transformando-se em Rede de ITCPs – Programa Nacional da Rede Unitrabalho. No entanto, em 2002, as incubadoras se desvincularam e voltaram a constituir uma articulação independente.

Outra entidade criada neste mesmo período de difusão da economia solidária e atores de apoio é a Associação Nacional de Trabalhadores e Empresas de Autogestão (ANTEAG),

criada em 1994, com o objetivo de “representar e assessorar empresas industriais de autogestão que estavam se formando na época e, também, para impulsionar a formação de novas” (VIEITEZ; DAL RI, 2004, p.267). Desde sua fundação, a ANTEAG auxiliou a criação de mais de 32 mil postos de trabalho nos setores têxtil, agrícola e agroindustrial, alimentício, calçadista, metalúrgico, mineração, serviços, confecção, plástico, coleta seletiva, cerâmica, mobiliário, papel e papelão, artesanato e agroextrativista (ANTEAG, 2011). A assessoria consiste em organizar, apoiar e orientar empresas em situação falimentar que desejem construir uma empresa ou um empreendimento autogestionário. Além disso, a Associação firma parcerias com entidades públicas e privadas e realiza pesquisas e materiais a fim de disseminar a autogestão entre os trabalhadores.

Em se tratando da esfera pública, o incentivo ao movimento da economia solidária se consolidou com a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) em 2003 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com o objetivo de viabilizar e coordenar atividades de apoio à ES em todo o território nacional. Juntamente, foi criado de forma definitiva o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), para ser o interlocutor entre a SENAES e o movimento, sendo responsável por apresentar demandas, sugerir políticas e acompanhar a execução das políticas públicas de economia solidária no país (SENAES, 2011). Fala-se criado de forma definitiva, pois as atividades do FBES já aconteciam desde 2001 quando foi criado o Grupo de Trabalho Brasileiro de Economia Solidária (GT- Brasileiro) no I Fórum Social Mundial (FBES, 2011b).

De acordo com o FBES, as entidades e redes nacionais participantes do GT-Brasileiro eram: Rede Brasileira de Socioeconomia Solidária (RBSES); Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS); Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional (FASE); ANTEAG; Instituto Brasileiro de Análises Sócio-Econômicas (IBASE); Cáritas Brasileira; Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST/CONCRAB); Rede de ITCPs; Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS/CUT); Rede Unitrabalho; Associação Brasileira de Instituições de Micro-Crédito (ABICRED); e alguns gestores públicos que futuramente constituíram a Rede de Gestores de Políticas Públicas de Economia Solidária.

Atualmente, o FBES conta com mais de 130 Fóruns Municipais, Microrregionais e Estaduais, envolvendo diretamente mais de 3.000 empreendimentos de economia solidária, 500 entidades de assessoria, 12 governos estaduais e 200 municípios pela Rede de Gestores em Economia Solidária.

Os atores e instâncias organizativas envolvidas no movimento da economia solidária no país podem ser agrupados em quatro segmentos: 1) os próprios empreendimentos

econômicos solidários; 2) as entidades de apoio e fomento (EAF) que realizam atividades de capacitação, assessoria, incubação, pesquisa, assistência técnica e de gestão, fomento a crédito etc.; 3) formas de auto-organização política representadas pelas redes e fóruns de economia solidária; e 4) gestores públicos e outras instâncias políticas do Estado (secretarias, diretorias ou departamentos) envolvidas na construção de políticas públicas de economia solidária em governos municipais ou estaduais (SENAES, 2006; FRANÇA FILHO, 2007; FBES, 2011b). A Figura 4 a seguir ilustra os atores envolvidos no movimento.

Fonte: SENAES (2006, p.14)

Figura 4: Atores e instituições organizativas do movimento da economia solidária

A variedade de atores envolvidos no movimento demonstra a importância conferida à economia solidária nas últimas décadas. Sua capacidade de promover o desenvolvimento local é reconhecida e constitui o que França Filho (2008) chama de via sustentável-solidária. Para o autor, a economia solidária se difere do modo convencional de gerar trabalho e renda (via insercional-competitiva), na qual a população desempregada é inserida no mercado por meio de postos de trabalho formais oriundos de empresas privadas ou instituições públicas. No entanto, essa via focada na inserção econômica e competição individual típica da lógica capitalista não se mostrou suficiente para gerar emprego formal a todos. Enquanto a via da

economia solidária se pauta na ação coletiva, no foco ao território e na concepção de uma economia plural, já comentada anteriormente (FRANÇA FILHO, 2008).

Os esforços para traduzir em números a economia solidária e mostrar sua importância, crescimento e abrangência são diversos. Parte dos estudos baseiam-se no Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (SIES), criado e disponibilizado pela SENAES, contendo o mapeamento da economia solidária no Brasil em termos de empreendimentos e de entidades de apoio, assessoria e fomento. A partir dos dados do SIES foi publicado o ‘Atlas da Economia Solidária no Brasil’ (SENAES, 2006) e elaborada a ferramenta ‘Farejador da Economia Solidária’ pelo FBES, que serve para facilitar a busca de produtos e serviços oferecidos ou consumidos pelos empreendimentos de economia solidária do país, facilitando assim a aproximação e comunicação entre eles.

A seguir são expostos alguns destes (e outros) dados com o intuito de fornecer uma visão deste setor no país. A Tabela 1 fornece um panorama quanto ao número de empreendimentos econômicos solidários no Brasil.

Tabela 1: Perfil da economia solidária no Brasil

Região Número de EES % EES Número de municípios municípios %

Norte 1.884 13% 254 56% Nordeste 6.549 44% 861 48% Sudeste 2.144 14% 389 23% Sul 2.592 17% 512 43% Centro-Oeste 1.785 12% 258 53% Brasil 14.954 100% 2.274 41%

Fonte: Adaptado de SENAES (2006)

Nota-se que a maior concentração de empreendimentos ocorre no Nordeste com 44%, e em todas as regiões, com exceção do Sudeste, possuem empreendimentos em quase metade dos municípios. Quanto à forma de organização dos empreendimentos, a maior parte (54%) está organizada em forma de associação, seguida dos grupos informais (33%), das cooperativas (11%) e de outras formas de organização (2%), conforme o Gráfico 1 apresenta.

Fonte: Elaborado pela autora com base em SENAES (2006)

Gráfico 1: Formas de organização dos empreendimentos no Brasil

Outro dado importante refere-se ao motivo de criação dos empreendimentos. Segundo o Atlas de Economia Solidária no Brasil (elaborado com base no SIES), os três principais motivos para a criação dos EES são: alternativa ao desemprego (45%), complemento da renda dos sócios (44%) e obtenção de maiores ganhos (41%), seguidos de dois outros motivos com destaque: possibilidade da gestão coletiva da atividade (31%) e condição para acesso a crédito (29%). Segundo o estudo, a situação se modifica conforme as regiões: o motivo “alternativa ao desemprego” é o mais citado nas regiões Sudeste (58%) e na região Nordeste (47%); na região Sul o motivo mais citado é a possibilidade de “obter maiores ganhos” (48%) e “fonte complementar de renda” (45%); e nas regiões Norte e Centro-Oeste o principal motivo citado é o “complemento de renda” (46% e 53% respectivamente).

Desta forma, verifica-se a diversidade da economia solidária pelo país. A variação também ocorre dentro das regiões, dos estados e das cidades. No entanto, a diversidade de experiências e características não minimiza a importância do movimento, pelo contrário, desperta a atenção de estudiosos e gestores públicos para compreender melhor este fenômeno e identificar suas principais necessidades e dificuldades.

De acordo com um documento propositivo para implantação e estruturação de uma Secretaria Especial de Economia Solidária (SEES), elaborado em dezembro de 2010 por representantes do movimento, a economia solidária se fortaleceu com suas recentes conquistas.

Ao longo das últimas duas décadas, a economia solidária se fortaleceu social e economicamente: ampliou sua base de empreendimentos; organizou-se em fóruns, associações representativas e redes de cooperação; ampliou a quantidade de entidades da sociedade civil de fomento e assessoria; articulou-se com o movimento sindical; estabeleceu relações com outros segmentos, tais como mulheres, agroecologia, comunidades e povos tradicionais, tecnologias sociais e cultura; foi incorporada como política pública em centenas de municípios e em 18 estados; tornou-se objeto de ensino, pesquisa e extensão em mais de 100 universidades em

54% 33% 11% 2% Associação Grupos informais Cooperativas Outras formas

todas as regiões do Brasil; foi afirmada no Congresso Nacional com a criação da Frente Parlamentar em Defesa da Economia Solidária; tem servido como estratégia de organização coletiva de trabalhadores/as rurais e urbanos para promoção do desenvolvimento territorial sustentável e de segurança alimentar e nutricional, sobretudo, por meio do acesso ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e à Política Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) (SECRETARIA, 2010, p.5). Segundo os autores do documento, esses fatores contribuíram para tornar o movimento um fato social e econômico concreto e pulsante, mas que para se tornar um direito dos cidadãos, necessita se fortalecer como uma alternativa real para a economia popular, familiar e informal, tão importantes para o país. Assim, são necessárias políticas públicas concretas e efetivas para reduzir as fragilidades e obstáculos existentes.

Desde 2004, a SENAES vem implementando o Programa Economia Solidária em Desenvolvimento com políticas integradas para fortalecer e divulgar a economia solidária “visando à geração de trabalho e renda, a inclusão social e a promoção do desenvolvimento justo e solidário” (SENAES, 2011). As ações da SENAES já contam com orçamento próprio e o Programa foi incluído no Plano Plurianual (PPA) do governo federal 2004-2007 e também 2008-2011. A proposta do PPA 2008-2011 focou em quatro eixos: organização da comercialização dos produtos e serviços, formação e assistência técnica aos empreendimentos, fomento às finanças solidárias e elaboração de um marco jurídico para garantir o direito ao trabalho associado.

Outras ações que devem orientar as políticas públicas de economia solidária consistem: substituição de projetos por programas; a política deve se tornar de Estado e não somente de governo; institucionalizar a economia solidária, reconhecendo direitos como aposentadoria, cobertura de riscos, indenizações, benefícios médicos etc. (FRANÇA FILHO; DZIMIRA, 1999).

E talvez o maior esforço seja a mudança cultural e política dos cidadãos e governos para compreender este fenômeno e enxergá-lo como uma estratégia de transformação social, econômica e política, além de uma política emergencial para geração de trabalho e renda. Cruz (2002) afirma que essa diferença de visão se reflete na atuação do poder público gerando como resultado a aposta de alguns na organização político-econômica das iniciativas, enquanto outros apostam na capacitação técnica-operativa dos trabalhadores.

3.4.Síntese do capítulo

Este capítulo teve como intuito elucidar o fenômeno da economia solidária, principalmente no Brasil. Para tanto, apresentou-se um histórico e as origens da economia solidária, que remontam ao tempo da Revolução Industrial e à luta do movimento operário.

Atualmente, o movimento conta com uma ampla rede de atores, desde poder público, organizações do terceiro setor e da sociedade civil, empreendimentos, apoiadores e universidades através das incubadoras. Assim, o intuito foi o de compreender a magnitude social e econômica do movimento, que além de tudo se constitui como um projeto político de transformação e regulação da sociedade.