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Depoimento: Yara Coelho de Sant’Anna (21/03/1925)

No documento A Experiência, a metrópole e o velho (páginas 161-175)

3.1 A ILPI Casa Santa Zita: Dona Yara e Dona Jacinta

3.1.1 Depoimento: Yara Coelho de Sant’Anna (21/03/1925)

Preparação e realização da Trezena de Santo Antônio

FOMOS CRIADOS 12 irmãos e, agora, somos dez, duas irmãs faleceram. A mais velha e a mais nova. Este ano, a mais nova faleceu, com câncer. Uma morte que abalou a família inteira, porque ela era de uma atividade, de uma iniciativa, de uma inteligência, uma capacidade muito grande. Deixou muita saudade. Ela era uma pessoa festiva, parece que ela adivinhava... não sei... mas ela sempre procurava oportunidade para reunir a família. Ela pediu, uns três dias antes de morrer, a uma de nossas sobrinhas, que é muito festeira, que não se esquecesse de comemorar, no lugar dela, duas oportunidades, a festa de Santo Antônio, que era tradição na família, por causa da minha avó, que sempre comemorava, e o Natal. De forma que, sábado agora, essa minha sobrinha vai reunir a família toda na casa dela para comemorar Santo Antônio. Embora a festa de Santo Antônio seja dia 13, por cair sexta-feira, ela vai fazer no sábado. Nós todos vamos pra lá.

Cada pessoa procurou fazer algo de tradicional para a festa, cada um fez uma coisa que a minha avó já gostava de fazer no dia de Santo Antônio. Eu fiz um biscoitinho que chama Bobi, outra irmã fez o bolo de mandioca, uma sobrinha fez o pé-de-moleque, outra fez cocada. De forma que, sábado, se Deus quiser, nós vamos comemorar Santo Antônio. [Entre um dos intervalos dos encontros destinados à realização das entrevistas, aconteceu a festa, por isso, daqui em diante, os tempos verbais que marcam a narrativa são diferentes dos anteriores].

A trezena é diferente de uma novena, são 13 dias. A trezena, no ano, começa no dia 1º de junho e costuma acabar no dia 13, mas, como nós íamos encerrar no dia 14, começamos no dia 02, para acabar no dia 14. Sábado, dia 14, rezamos o último dia da novena e encerramos a trezena, quer dizer, encerramos a trezena e tem a festa, com alegria, dança, canto e tudo mais.

Perdi a conta de quantos tabuleiros de biscoito eu fiz. Eu faço muito mais rápido do que as minhas irmãs. Eu faço mais rápido porque eu sempre gostei da questão da culinária, eu ajudava minha avó a fazer, ou minha tia, ou minha mãe, e

peguei mais prática do que as minhas irmãs. Uma era mais intelectualizada, outra tinha menos jeito pra isso, mas tinha jeito pra bordado, pra costura. Outra casou muito cedo. Então, eu que fazia mais.

A festa

A FESTA FOI EXCELENTE, ótima, ótima. Foram aproximadamente 80 pessoas, só parente e parente por afinidade. Foi uma festa com... um misto de emoção, com saudade, às vezes, até choro, porque a minha sobrinha, mais a irmã dela, atendendo o pedido da minha irmã mais nova, que faleceu, fez a festa e caprichou ao máximo. A casa estava enfeitada, ornamentada, uma beleza. E tudo feito a caráter. Uma festa junina mesmo.

Ela armou o altar, pra gente fazer a oração de Santo Antônio, e, no altar, ela botou quatro retratos, quatro quadros iguais, da minha avó, da minha mãe, da irmã mais velha e da mais nova, que já faleceram. Nossa, aquilo estava comovente. Ela descobriu um retrato ótimo dessa minha irmã que morreu agora, com ela rindo... todo mundo que via, irmãos, sobrinhos... quase que saía chorando. Na hora, agradeci muito, mas, hoje, eu vou telefonar pra ela, pra agradecer mais uma vez. E com isso foi assim, mata saudade, mas dá saudade. Dá alegria, mas dá emoção.

Bobis

OS BISCOITINHOS BOBIS eram amarrados em um saquinho. Um saquinho com um cartãozinho. Eles são feitos um por um, dá muito trabalho, eu trabalhei a tarde inteira, uma manhã e um pouquinho depois do almoço. Três irmãs ajudaram, mas elas faziam tão devagar [risos]! Enquanto elas faziam um tabuleiro, eu fazia três. Sem exagero, era mesmo! Enquanto ia fazendo, ia conversando, toda hora chegava um, falava uma coisa, foi muito bom. Foi tudo muito bom, foi muita coisa lembrada, muita coisa recordada. Só de modo alegre. Meu irmão falou: ―Ah, mas não está igual ao da minha avó‖; eu disse: ―Mas o da minha avó era feito com manteiga da fazenda, com leite de coco, coco ralado e espremido na hora.‖ Eu fiz com coco de vidrinho, então dá sempre uma diferença, realmente. Os ingredientes, conforme a origem deles... o polvilho, minha avó fazia, minha mãe fazia. Era polvilho de roça,

não era esse polvilho industrializado, sempre tem uma diferença, mas, no final, dá isso aí que você experimentou.

A força dos laços familiares

QUANDO, NA FAMÍLIA, nós fazemos uma festa tradicional, em geral, os sobrinhos gostam. E, há pouco tempo, um sobrinho meu, que tem um filho que chama Fernando, me disse assim: ―Eu fico pensando que o Fernando não vai ter essas oportunidades boas que eu tenho‖. Esse meu sobrinho tem mais dois irmãos, e cada um deles só tem dois filhos. Então, o filho dele, o Fernando, não vai ter essa quantidade de primo pra poder conviver, reunir, como hoje eles (meus sobrinhos) têm. A gente tem visto que o espírito família tem diminuído muito. Nesse ponto eu acho que foi uma lástima, uma decadência, porque isso reflete no comportamento dos jovens na sociedade. Eles não têm festa em casa, não têm reunião de família, poucas famílias fazem reunião de família, muitas nem se lembram de aniversário uns dos outros. Eu tenho por hábito, todo princípio de mês, eu pego minha agenda e olho os aniversários de todas as pessoas da família. Hoje mesmo eu já telefonei para o meu irmão, que é aniversário dele, e só não vou telefonar pra minha sobrinha, porque à tarde nós vamos encontrar na casa da avó dela. Eu tenho sempre essa preocupação de ligar pra eles. Às vezes, eu demoro pra telefonar e ligo à noite, aí escuto: ―Ah, achei que você já tinha esquecido de mim.‖ Eu sei que isso é agradável.

A gente procura reunir a família o mais que pode, ainda mais depois que perdemos essa irmã [referindo-se à mais nova]. Isso deixou a gente pensando muito e refletindo como é bom a gente conviver enquanto a gente tem saúde, enquanto a gente pode se divertir, se alegrar... então, vamos desfrutar disso.

Trabalho voluntário na Colmeia

EU TRABALHO COMO voluntária em uma obra social, cuja finalidade é atender, promover, orientar, apoiar a mãe solteira carente. Chama-se Colmeia. Hoje, eu não vou lá porque a diretoria tem uma entrevista marcada com Dom Aluísio, pra ele nos dar algumas orientações para que a gente possa acompanhar e orientar essas moças dentro de uma linha moral, religiosa e tal. E, ao mesmo tempo, acompanhar os

tempos modernos, o que não é fácil. Não é fácil porque há uma diferença muito grande do tempo em que a Colmeia foi criada para hoje. De vez em quando, há algumas modificações no regulamento, no regimento interno, como o próprio estatuto, para haver uma adaptação às leis e aos costumes.

A mudança maior que percebo no perfil das mães que estão na Colmeia, hoje, é da mentalidade das moças voluntárias. Umas são mais avançadas, outras são mais conservadoras. É justamente por causa dessa diferença de mentalidade entre os que dirigem a Colmeia, que nós estamos precisando de alguém como Dom Aluísio, para nos dar uma orientação, pra pensar que linha nós devemos seguir. Nós mesmos não estamos nos entendendo muito bem. Umas são a favor de liberar anticoncepcional, etc., enquanto outras acham que deve ter um aspecto informativo e de formação moral, religiosa, o que não é fácil, porque, em geral, as moças que vão pra lá, com algumas exceções, são até prostitutas, ou, dizendo melhor, garotas de programa, como se diz hoje. Nesses programas, elas engravidam, às vezes, sem saber de quem, ou, às vezes, sabem, mas o pai rejeita e põe a questão do exame de DNA. E é aquela novela. Nem sempre os pais assumem aquela criança, a mãe tem que assumir sozinha.

Essas moças são de qualquer parte do mundo, mas a maioria é de Belo Horizonte, ou moça que vem do interior pra trabalhar aqui. E aqui engravidam. Pra não voltar pro interior, elas ficam aqui e são encaminhadas pra Colmeia.

Os motivos que as levam à Colmeia variam muito, mas sempre é carência. Eu digo que a carência é, principalmente, afetiva. Alguns pais ainda põem as filhas pra fora nos tempos de hoje, em pleno século XXI. A filha engravidou, põe pra fora de casa. Às vezes, é por abandono do pai da criança, poucas vezes, foi questão de violência, mas nós tivemos meninas que foram violentadas mesmo e logicamente que são todas problemáticas. Cada uma tem seu problema, cada uma tem sua dificuldade, e conviver com esses problemas não é fácil.

É um trabalho bastante difícil, eu já estou me sentindo, não digo cansada ou superada, mas, talvez, enfraquecida emocionalmente, diante desses problemas. E eu não quero agir com o coração, tem que agir também com a cabeça. E aí vem esse conflito, o médico me disse que eu posso trabalhar na Colmeia, contanto que eu não

traga os problemas pra casa. Eu falei: ―Doutor, é impossível, porque, se eu entrevisto uma menina de 14, 13, 15 anos, ou que foi violentada, ou que não sabe quem é o pai da criança... se o pai é o padrasto, ou o próprio pai dela, ou o tio, porque, às vezes, infelizmente, temos o caso de que o pai da criança que a moça tá esperando é o irmão com o qual ela dormia, porque, na casa dela, todo mundo dormia junto. Como é que eu venho pra casa e me esqueço desses problemas?‖ Só se eu fosse insensível. Então, é difícil, eu tenho que superar, isso eu sei, mas esquecer, propriamente, não dá, não.

Mas eu estou me sentindo emocionalmente enfraquecida, tanto que, em janeiro, houve eleição pra nova diretoria, eu fui firme e disse que não aceitaria mais nenhum cargo na diretoria. Eu continuo trabalhando na Colmeia, sou apenas uma voluntária, não tenho cargo nenhum. Agora, como eu sou a mais velha em idade e a mais antiga em trabalho, quase todos os problemas passam por mim.

Vai fazer 28 anos, em setembro, que faço esse trabalho, é muito tempo. Eu nunca fui pra lá de má vontade, de maneira alguma. Eu gosto do trabalho, eu me dou bem com as coordenadoras, procuro conquistar as meninas, umas são rebeldes.

Outro dia, uma me contou que, no trabalho dela, tem uma psicóloga, ou psicólogo, não sei bem, e que ela se queixou de mim pra ele, ela própria tava me contando. Então, ele perguntou: ―Por que você se queixa da Dona Yara?‖ Ela então disse: ―É porque, às vezes, ela me machuca com o que ela diz‖. O psicólogo, então, perguntou pra ela: ―Não será que é nos momentos em que ela lhe fala a verdade, e a verdade lhe dói?‖ Ela me contou isso chorando, quer dizer, eu entendi como uma maneira dela se desculpar pelo fato de haver falado contra mim, para o psicólogo. Eu falei com ela que o psicólogo estava certo, que, realmente, eu tinha que usar de franqueza com ela, pra que elas também tomassem consciência do problema e partissem para uma atitude melhor. E que eu até gostaria de conversar com esse psicólogo, se ele quisesse, eu estaria à disposição. Falei com ela que o convidasse para conhecer a Colmeia, mas ele ainda não foi.

No momento, nós temos apenas três meninas na Colmeia. Essa é uma das razões pela qual nós vamos conversar com Dom Aluísio, para ver se ele nos orienta a associar a Colmeia a uma outra obra social, porque a Colmeia, a princípio, não pode abrir mão desse aspecto de atender mãe solteira. Faz parte do estatuto, e ela não pode

abrir mão disso, mas ela pode abrir uma creche, por exemplo. Então, vamos conversar com Dom Aluísio sobre isso, porque, se o número de meninas está diminuindo (eu as chamo de meninas, porque, pra mim, elas são meninas), se o número de meninas está diminuindo, eu vejo vários aspectos: pode ser exigência do regulamento da Colmeia.... mas pode ser também o outro lado, o de que a mãe solteira hoje é menos rejeitada que antigamente, é menos escandaloso para uma família ter uma mãe solteira em casa. Então, a aceitação da sociedade é muito maior, logicamente, a procura pela Colmeia, que já foi um lugar de esconderijo das mães solteiras, até de classe social mais alta, hoje, não é mais isso. Hoje é uma casa que vão somente as mães carentes. Temos registrado que vão as que têm somente carência financeira. As de menor são enviadas pelo Conselho Tutelar ou pelo Juizado de Menores, que transferem para nós a responsabilidade enquanto a menina estiver sob a guarda deles. Agora, as maiores vão por conta própria, indicadas por um posto de saúde, ou uma maternidade, ou uma obra social qualquer, que tem conhecimento da Colmeia.

No momento nós temos uma maior de 30 anos, uma de 17 anos, outra de 22. A dificuldade de dirigir pessoas com idade tão diferenciada é bastante grande. O trabalho continua, não digo que seja um trabalho perfeito, mas é um trabalho muito bom. Aliás, se eu não achasse que o trabalho era válido, eu não iria lá, mas é válido porque, de vez em quando, a gente tem a grande satisfação de receber a visita de uma ex-residente, que vai nos apresentar ou o marido, ou um outro filho, ou um companheiro, ou simplesmente vai ver a Colmeia novamente. Às vezes, leva a criança que nasceu lá e mostra pra criança: ―Olha, você dormiu aqui, quando você nasceu‖, ou coisas desse tipo.

Escolhas

AO LONGO DA vida, exerci duas profissões: secretária e professora. Se eu começasse minha vida outra vez, eu seria professora; segunda opção, secretária; terceira, cozinheira.

Não me casei, não me casei não sei por quê. Tive namorados, tive oportunidade, cheguei até a ser pedida, mas não pela pessoa que eu queria. Acabei

não me casando. Minha família diz que eu não me casei porque eu sempre fui muito exigente. Fui sim, mas eu acho que eu não me casei, também, porque eu levava muito a sério o casamento, o fato de trazer filhos ao mundo, de educar os filhos.

Eu era exigente sim, quando eu arranjava um namorado, eu olhava até a família dele, pais, tios, irmãos, primos, para ver se era uma família bem formada e sadia. Eu me lembro que eu tive um namorado, que teve um tio, ele não tinha culpa nenhuma, mas o tio dele, Deus me perdoe pelo que estou dizendo, era o que se dizia, era até mandante de assassinato. E isso me botava... já imaginou se eu me caso com fulano e eu tenho um filho que vai puxar esse tio? Porque genética é genética. De tanto pensar, não me casei. Ah, foi isso, perdi oportunidade, não sei. Enfim, não tive pressa também pra me casar, quando eu assustei, o tempo tinha passado.

Eu lamento não ter sido mãe, mas, em compensação, eu tenho tantos sobrinhos que me preenchem a vida de carinho, eu dou vazão ao meu amor. Eu tenho umas sobrinhas que são quase como filhas pra mim. Tanto que o marido de uma delas me chama de sogra, porque ele não conheceu a mãe de minha sobrinha, que foi a minha irmã que morreu, a mais velha. Ele não a conheceu e eu fui muito solidária ao casal quando ela esperava a criança, ela teve uma gravidez dificílima, dificílima mesmo, e eu lhe dei um apoio muito grande. Dei por amor, dei pensando em minha irmã, dei porque ela me procurou. O meninozinho que nasceu me chamava: vovó, tia Yara. Hoje, não, ele me chama só de tia Yara, mas quando pequenininho, ele fazia confusão, pelo que os pais falavam.

Eu não me sinto frustrada afetivamente, não, eu sou muito bem aceita na família, me dou com todas as pessoas da família. Aliás, uma coisa que eu digo com muita satisfação, eu não tenho um inimigo, ou melhor, eu não sou inimiga de ninguém. Claro que nem todo mundo gosta de mim, mas inimigo, de jeito nenhum. Mas arrependimento, remorso... nem posso dizer que eu tenho arrependimento, eu não gosto de mentira, que a maior mentira que eu preguei, na minha vida [risos], foi contra mim. Foi quando eu mandei falar com o rapaz, com o qual eu era apaixonada [fala, prolongadamente, dando destaque à palavra e ao sentimento], que eu não gostava mais dele, pedi pra ele não aparecer mais. Eu não deveria, foi uma mentira, ele acreditou e nunca mais apareceu. Hoje, ele só me cumprimenta se estiver longe

da mulher dele, junto da mulher dele, ele me ignora, porque ela morre de ciúmes de mim [risos]. Foi meu grande amor, já está velho também, já deve estar caducando uma hora dessas [risos].

Custei a curar a paixão, mas curou. Hoje, eu me lembro e acho até graça e fico pensando: ―Meu Deus, mas que bobeira, que bobeira‖, mas foi bom o quanto durou [risos]. Não tenho arrependimento, enfim, não tenho remorso, não.

Quadrinhas poéticas

MINHAS PREFERÊNCIAS, hoje, em leitura, são: Leonardo Boff, que leio quase toda semana. Quase que infalivelmente, leio a crônica de Frei Beto, no Estado de Minas, gosto de quase todas elas, são muito boas. E, fora disso, quero ler algo sobre Ghandi, que meu irmão ganhou alguma coisa, e falei que depois eu quero ver. E eu estou lendo atualmente um livro de poesias que a minha irmã vai lançar sexta-feira, no dia 19 ou 20, não sei. Ela vai lançar um livro de poesia, embora eu não seja muito chegada a poesia, mas também não entendo muito, eu prefiro uma crônica, uma prosa. Porque a poesia, a minha mãe já dizia isso, meu pai também era meio poeta, minha mãe dizia que ―o poeta, às vezes, diz não o que ele sente, mas o que era necessário dizer para completar a rima‖. Então, forçava um pouco o sentimento, eu acho que ela tem razão. Percebo isso na produção da minha irmã. A minha irmã tem poesias muito bonitas, mas tem umas que não me dizem nada. Pode ser por falta de eficiência minha, mas não me passam nada. Umas não, umas são muito bonitas, muito interessantes, ela, sempre que tem oportunidade, ela faz uma poesia para uma pessoa da família, seja casamento, falecimento, bodas, ela sempre faz um poema dedicado a essa pessoa. Pra mim, ela fez quando eu fiz 70 anos e quando eu fiz 80. Fez até uma, há muitos anos, uma poesia que ela deu o título de ―Altivez‖, pegando como deixa, pra fazer a poesia, o fato de eu estar rindo muito das palhaçadas da outra irmã, que é muito espirituosa, ela falou comigo: ―Você fica rindo demais, rindo demais faz ruga‖. Eu então disse pra ela: ―Ah, se minhas rugas forem motivadas pelo fato de eu rir muito, eu vou me orgulhar delas‖. Então, ela fez um poema pra mim, um soneto, que termina assim: ―Orgulho das rugas do meu rosto, não foram motivadas por desgosto‖, não, ―Eu gosto que bem assim retratem o meu passado

próximo e distante. Orgulho-me das rugas do meu rosto, não foram motivadas por desgosto, mas por meu riso quase que constante‖. Porque eu sempre fui muito alegre, graças a Deus. Falei com ela: ―Vou me orgulhar‖.

Sempre estou fazendo alguma coisa, algum trabalho manual, de vez em quando, embora tinha dito que não gosto de poesia, mas, de vez em quando, eu faço umas quadrinhas. Um versinho. Ontem mesmo, eu fiz uns aqui, não sei por quê. Eu, lendo o livro de poesia da minha irmã, eu sentei e fiz umas quadrinhas aqui, não sei nem se são bem feitas, fiz pra poder matar o tempo. Por exemplo, eu fiz uma aqui pra minha irmã, ela tem o apelido de Guigui.

A Guigui que é poetisa, nunca perde a ocasião. Diz rima e faz versos brotados no coração.

É assim nossa família, bem grande, mas bem formada. Aos trancos e barrancos, para tudo preparada.

Eu vou fazendo umas quadrinhas que me vêm à cabeça. Falo sobre meu pai, que queria que a gente tivesse liberdade, iniciativa. Então, eu fiz um verso assim: ―Os filhos que se arranjem, seja homem ou mulher / Cada um viva pra si, cada um

No documento A Experiência, a metrópole e o velho (páginas 161-175)

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