• Nenhum resultado encontrado

Trajetórias de vida e escrita

No documento A Experiência, a metrópole e o velho (páginas 117-137)

De acordo com a historiadora Lucilia de Almeida Neves Delgado, entre os processos de pesquisa que se valem da história oral como suporte metodológico, costuma-se identificar dois tipos de entrevistas como sendo as mais utilizadas para a produção de fontes orais, a saber: depoimentos de história de vida e entrevistas temáticas.250

Os depoimentos de história de vida, segundo Lucilia Delgado, caracterizam-se por serem aprofundados, prolongados, orientados por roteiros abertos, semiestruturados ou estruturados, e por objetivarem a reconstituição da trajetória de vida de sujeitos (anônimos ou públicos), desde a sua infância até os dias presentes.251 Por sua vez, as entrevistas temáticas referem-se a experiências ou

processos específicos vividos ou testemunhados pelos entrevistados.252 Essas

entrevistas (ou depoimentos, como também são denominados) auxiliam em trabalhos acadêmicos que tenham por objetivo coletar informações e interpretações sobre temas específicos que são abordados em tais pesquisas.

Ainda me valendo da elaboração da pesquisadora, é possível apontar uma terceira forma de entrevista que tem sido muito utilizada em programas e grupos de pesquisa e que, de algum modo, orientou o registro dos depoimentos que serão aqui analisados, ou seja, as entrevistas de trajetórias de vida. Tal terminologia foi adotada pela autora tendo como justificativa a falta de registro já consagrado sobre essa tipologia pela maior parte da comunidade dos pesquisadores ―oralistas‖. As

250 DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p.20. (Leitura, Escrita e Oralidade).

251 Ibidem, p.21. 252 Ibidem, p.22.

trajetórias de vida caracterizam-se por serem depoimentos sobre a história de vida dos sujeitos, mas apresentados de forma mais sucinta e menos detalhada. Um dos elementos que tem levado os pesquisadores a optarem pela realização dessa modalidade de entrevista relaciona-se ao fato de que o processo de recolhimento dos depoimentos de história de vida, que são mais pormenorizados, demanda um tempo maior, tanto por parte dos depoentes quanto dos pesquisadores.253

A opção pela realização de entrevistas com trajetórias de vida, em detrimento de outras possibilidades metodológicas, de caráter mais fechado, deve-se à própria exposição no âmbito da história oral, realizada anteriormente, que aponta o caráter da autobiografia que se encontra na gênese dos estudos modernos desse campo de pesquisa, como pertencente ao estilo narrativo, entendido aqui como uma forma de experiência que, apesar de dificultada, na sociedade moderna, ainda pode ser realizada.

Ainda em defesa dessa metodologia, apresento aquilo que comparece na obra de Henri Lefebvre, de maneira inusitada, no texto ―Introducción al estúdio del habitat de pabellón‖.254 Quando me refiro ao caráter inusitado dessa reflexão, faço-o

em virtude do fato de que Lefebvre parece deixá-la escapulir por entre as discussões acerca do habitat que realiza nesse capítulo, tanto que, ao terminar sua breve exposição sobre a diferença entre o procedimento metodológico que se vale dos questionários e dos que se realizam via entrevistas não dirigidas, apresenta uma observação e retoma os rumos de sua análise: ―Estas consideraciones metodológicas, muy abreviadas, han interrumpido el encadenamiento lógico de nustro comentário.‖255

Advogando em defesa de uma pesquisa voltada para o nível do privado, o habitar, Lefebvre afirma que, para realizar uma investigação, nessa perspectiva, os questionários não bastam. Estes são munidos de precauções e buscam precisão científica. Normalmente, suas perguntas são fechadas, e os entrevistados as

253 DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p.23. (Leitura, Escrita e Oralidade).

254 LEFEBVRE, Henri. Introducción al estúdio del habitat de pabellón. In: LEFEBVRE, Henri. De lo rural a lo urbano. 4.ed. Barcelona: Ediciones Península, 1978. p.151-172.

255 Ibidem, p.162. [―Estas considerações metodológicas, muito abreviadas têm interrompido o encadeamento lógico de nosso comentário.‖] (Tradução minha).

respondem apenas com as palavras sim ou não. Ainda é apresentada a ideia de que os questionários são orientados por amostragem, e a sistematização de seus dados oferece informações numéricas e percentuais, uma perspectiva redutora quando o caráter da pesquisa pretende alcançar uma compreensão mais ampla.

Para implementar uma pesquisa que, de fato, chegue a esse nível privado, que aqui estou entendendo como do vivido, Lefebvre consente que: ―sólo la entrevista no dirigida puede captar el habitar.‖256 No entanto, segundo o autor, a

opção por essa forma de pesquisa em detrimento dos questionários aponta para uma grande dificuldade, ou seja, os questionários fechados não chegam muito longe ao que se deseja investigar, as entrevistas não dirigidas se aprofundam nos seres humanos, correndo-se com isso o risco de produzir informações que pertencem à esfera das trivialidades positivistas. Como sair desse impasse? Tanto a pergunta quanto a resposta, formuladas pelo próprio Henri Lefebvre, merecem atenção especial:

Proponemos una orientación. La entrevista, aunque necesaria, no basta. Para completarla no son suficientes fichas, aun detalladas, que recorten en rubricas el contorno social del entrevistado. La descripción minuciosa es importante: de los hogares, de los bienes muebles e inmubles, de los vestidos, rostros y comportamientos. Sólo la confrontacción entre los datos sensibles, tal como el sociólogo percibe e intenta captar como conjunto, por una parte, y los lugares, tiempos y cosas percibidos por los interessados por otro, permiten el conocimiento.257

Apesar de ter adotado um procedimento metodológico no qual a realização das entrevistas foi orientada por roteiros prévios, como será descrito mais adiante, procurei privilegiar aquilo que foi aludido por Lefebvre, quando se refere ao criterioso exercício de observação dos diversos aspectos por ele mencionados. Assim,

256 LEFEBVRE, Henri. Introducción al estúdio del habitat de pabellón. In: LEFEBVRE, Henri. De lo rural a lo urbano. 4.ed. Barcelona: Ediciones Península, 1978. p.160. [―Somente a entrevista não dirigida pode captar o habitar.‖] (Tradução minha).

257 LEFEBVRE, loc cit. [―Propomos uma orientação. A entrevista, ainda que necessária, não basta. Para completá-la não são suficientes fichas, mesmo que detalhadas, que deem um recorte esboçado do contorno social do entrevistado. A descrição minuciosa é importante: dos lares, dos bens móveis e imóveis, dos vestidos, rostos e comportamentos. Somente o confrontamento entre os dados sensíveis, tal como o sociólogo percebe e tenta captar como conjunto, por um lado, e os lugares, tempos e coisas percebidos pelos interessados de outro, permitem o conhecimento.‖] (Tradução minha).

dediquei certa atenção à oralidade presente no espaço e que se apresenta para além das narrativas, sendo expressa por meio do modo de andar, do trajar, do habitar — em uma ampla acepção.

Durante o recolhimento dos depoimentos dos cinco velhos que se dispuseram a conversar comigo, optei por realizar entrevistas que trouxessem a sua trajetória de vida, mas que, ao mesmo tempo, enfocassem a sua relação com o espaço da cidade/metrópole de Belo Horizonte, desde o momento da sua chegada à cidade até os dias atuais, uma vez que todos os depoentes entrevistados são migrantes. Desse modo, pode-se dizer que as entrevistas também privilegiaram certa especificidade no que se refere à orientação de determinadas temáticas.

Os cinco depoentes desta tese, na sequência em que serão apresentados no próximo capítulo e na ordem de realização das entrevistas, são: Yara Coelho de Sant‘Anna (87 anos), que veio para Belo Horizonte em dois momentos distintos, 1951 e 1980; Jacinta Francisca Costa (in memoriam), que aqui chegou em 1970; Jovelina Avelino da Silva (72 anos), que imprecisamente aponta o ano de 1956 ou 1957 para sua mudança; Francisco Afonso Moura (88 anos), o que aqui primeiro desembarcou em 1944; Alaíde Silva (in memoriam), também migrante da década de 70, mais especificamente em 1973.

Por se tratar de uma pesquisa memorialística, com o recolhimento de depoimento de velhos, é necessário assinalar que as pessoas mais velhas estão sujeitas à deterioração do sistema nervoso central, o que interfere diretamente sobre a faculdade de lembrar. No entanto, a memória de fatos recentes, mesmo em caso de senilidade, é a primeira a ser perdida, ao mesmo tempo em que a memória de fatos do passado surge com precisão rigorosa de detalhes.258 Mesmo Dona Alaíde, a

entrevistada mais velha (95 anos), cuja memória apresentava traços de comprometimento, relembrou o passado com forte acento naquilo que a senilidade não conseguiu apagar, a saber, o trabalho árduo realizado desde a infância.

É a partir da personagem Eulálio, da obra Leite derramado, de Chico Buarque,259 que encontro a melhor descrição desse processo. Na definição desse

258 FREITAS, Sônia Maria de. História oral: possibilidades e procedimentos. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, Imprensa Oficial do Estado, 2002. p.63.

259

ancião, a memória se assemelha a um salão, cujo maior espaço é destinado ao passado, retrocedendo no tempo em um processo sem fim:

Ao passo que o tempo futuro se estreita, as pessoas mais novas têm de se amontoar de qualquer jeito num canto da minha cabeça. Já para o passado tenho um salão cada vez mais espaçoso, onde cabem com folga meus pais, avós, primos distantes e colegas da faculdade que eu já tinha esquecido, com seus respectivos salões cheios de parentes e contraparentes e penetras com suas amantes, mais as reminiscências dessa gente toda, até o tempo de Napoleão.260

Para cada entrevista recolhida, adotei os procedimentos que são comumente narrados nos trabalhos que se dedicam a pesquisas envolvendo oralidade, apesar da crítica já realizada sobre alguns destes.261 Entre esses

procedimentos, o que me demandou maior esforço, mas que também me possibilitou maior riqueza no levantamento dos dados, foi a realização de pré-entrevistas ou estudos exploratórios.

Segundo Ecléa Bosi, no texto ―Sugestões para um jovem pesquisador‖:262

A pré-entrevista, que a metodologia chama ―estudos exploratórios‖, é essencial, não só porque ela nos ensina a fazer e a refazer o futuro roteiro da entrevista. Desse encontro prévio é que se podem extrair questões na linguagem usual do depoente, detectando temas promissores. A pré-entrevista abre caminhos insuspeitados para a investigação.263

Durante a realização das pré-entrevistas, optei por realizar um registro escrito com o máximo possível de detalhes, que, depois, pudessem me ajudar a elaborar e (re)elaborar o roteiro final das entrevistas, baseado na observação dos seguintes aspectos: modo como os entrevistados narravam suas histórias, os

260 BUARQUE, Chico. Leite derramado. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p.14.

261 Elaboração de roteiro, utilização de diferentes estratégias de condução das entrevistas, transcrição, edição, utilização de termos de cessão gratuita de direitos sobre depoimento oral, dentre outros. 262 BOSI, Ecléa. Sugestões para um jovem pesquisador. In: BOSI, Ecléa. O tempo vivo da memória: ensaios de psicologia social. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p.59-67.

conteúdos inconscientes264 que por vezes se fizeram presentes entre uma fala e outra

e seus espaços de moradia e de trabalho, seu movimento corporal e outros. Nesse ínterim, os imprevistos ocorridos, como a ausência dos depoentes no dia e local combinados para a realização das entrevistas, também me foram de grande ajuda. Foi nesses momentos que o meu contato com aqueles que convivem mais de perto com os futuros entrevistados proporcionaram-me um relato rico acerca da personalidade e de certas idiossincrasias de alguns destes, permitindo-me entender melhor algumas de suas posturas e comportamentos.

Após esse período, que se caracterizou por um contato pessoal com os velhos a serem entrevistados, pautado em sentimentos de afeição ― que, a meu ver, não desmerecem em nada o rigor científico da pesquisa ― e de respeito à coragem de cada um no enfrentamento de suas dificuldades relativas à metropolização de Belo Horizonte, elaborei roteiros que procuraram privilegiar os pontos destacados nas pré-entrevistas como promissores para uma busca de entendimento das possibilidades de existência de uma experiência na e com a metrópole por parte deles. Esses roteiros, longe de ser uma camisa de força, constituíram-se muito mais como um caminho a ser percorrido.

Segundo Paulo de Salles Oliveira, o roteiro da entrevista pode ser uma ferramenta importante no ato da pesquisa, uma vez que, bem ajustado e trabalhado com alguma habilidade, pode ajudar a esculpir os mais belos entalhes.265 Mas,

264A busca por esses conteúdos chamados de ―inconscientes‖ não compartilha do entendimento de que aquilo que é importante encontra-se presente nos temas ocultados pelos entrevistados. Tal entendimento deve ser combatido, pela violência que representa, como demonstra José de Souza Martins. Segundo Martins, em determinados processos de pesquisa, estabelece-se um jogo de interesses, cuja técnica utilizada pelo pesquisador se transforma em verdadeiras armadilhas, sempre preparadas para apanhar o entrevistado. Desse modo: ―Sociologicamente, a pesquisa pode ser uma armadilha. O que é dito espontaneamente o pesquisador em geral considera de pouca relevância, porque constitui o que pode ser confessado sem risco. Relevante é o que as pessoas ocultam, o que constitui propriamente elemento de sua vida privada. Portanto, a melhor técnica de pesquisa acaba sendo aquela que induz a vítima a confessar o que, provavelmente, gostaria que não se tornasse público. A pesquisa acaba se revelando uma certa forma de espionagem, de invasão, de violência. Há, nas ciências sociais, um nocivo e pernicioso psicologismo, na pressuposição de que as informações mais importantes são aquelas que o entrevistado esconde, deliberadamente ou não, o incofenssável‖ (MARTINS, José de Souza. Regimar e seus amigos: a criança na luta pela terra e pela vida. In: MARTINS, José de Souza. O massacre dos inocentes: a criança sem infância no Brasil. 2.ed. São Paulo: HUCITEC, 1993. p.52).

265 A pesquisa de doutorado de Paulo de Salles Oliveira, orientando da professora Ecléa Bosi, foi realizada em algumas vilas da cidade de Marília ― em São Paulo ― e tem como tema o processo de coeducação nas relações de netos e avôs. O detalhamento metodológico da sua pesquisa, ao qual

quando ―o roteiro é apenas aplicado, sem cuidados de burilamento, seu efeito é inverso: desbasta rudemente todas as possibilidades sugestivas de expressão, resultando num amontoado protocolar de opiniões‖.266 Partindo da crença de que os

apontamentos descritos por Paulo Oliveira constituem um conselho primoroso para o pesquisador que opta pelo recolhimento de narrativas, apesar de todo o trabalho que o possível fazer e (re)fazer dos roteiros tenha-me acrescentado, dediquei-me a essa tarefa, bem como à realização propriamente dita das entrevistas, que foram registradas digitalmente.

O sentimento de angústia, ligado à afeição pelos depoentes, que me acometeu inicialmente, consequência de todo um percurso universitário, em que me foi ensinado que a relação entre o sujeito pesquisador e seu objeto deve ser munida de neutralidade, foi-se diluindo no contato com o pensamento de pesquisadores que apontaram exatamente o contrário, como Ecléa Bosi, para quem a relação entre o pesquisador e aqueles que são alvo de suas pesquisas deve ser permeada por laços de amizade:

A entrevista ideal é aquela que permite a formação de laços de amizade; tenhamos sempre na lembrança que a relação não deveria ser efêmera. Ela envolve responsabilidade pelo outro e deve durar quanto durar uma amizade. [...] Se não fosse assim, a entrevista teria algo semelhante ao fenômeno da mais-valia, uma apropriação indébita do tempo e do fôlego do outro.267

Ao tomar conhecimento da discussão teórica que envolve o conceito de implicação,268 descobri-me implicada com o meu objeto, com tudo que isso possa

significar: ―Essa palavra-valise significa, em primeira análise, que o pesquisador

recorrerei em diferentes momentos, encontra-se publicado em um livro que é resultado de sua tese (OLIVEIRA, Paulo de Salles. Vidas compartilhadas: cultura e co-educação de gerações na vida cotidiana. São Paulo: Hucitec/Fapesp, 1999. p.61 (Linguagem e Cultura, v.31)).

266 OLIVEIRA, loc cit.

267 BOSI, Ecléa. O tempo vivo da memória: ensaios de psicologia social. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p.60-61.

268

Recuperando a elaboração teórica de Remi Hess, Ricardo Baitz descreve a primeira acepção do termo implicação: ―No sentido de implicar-se, a palavra implicação reenvia a uma forma de comportamento do pesquisador que tenta romper a distância instituída entre ele e seu objeto‖ (HESS, Remi. Centre et peripherie. Paris: Ed. Edouard Privat, 1978. p.199, apud BAITZ, Ricardo. A implicação: um novo sedimento a se explorar na Geografia? Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, n.84, p.31, 2006).

capaz de examinar um objeto através da separação sujeito objeto pode agora aproximar-se e incluir-se na jornada de pesquisa.‖269. Como recomenda Ricardo

Baitz, dispus-me a percorrer um caminho de pesquisa que se dedicasse a fazer da ciência uma verdadeira aventura, na qual eu também me inseri como parte integrante. Não poderia ser diferente quando o conceito que move a elaboração desta tese é o da experiência, que não se aplica quando não existe a entrega do sujeito ao objeto, ou, dito em outros termos, quando não nos deixamos tocar por aquilo que nos propomos a vivenciar. Isso não significa dizer que o pesquisador não deva ter o cuidado para não se diluir no seu próprio objeto, a tal ponto que isso inviabilize as questões a serem investigadas no seu processo de pesquisa.

Para escolher os sujeitos da pesquisa, utilizei como critério o estabelecimento de contato com velhos que possuem certa autonomia, representam classes sociais distintas, participam de algum movimento e/ou instituição que mantêm relações com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e que ainda circulam no espaço urbano da metrópole, com exceção de uma das depoentes, que, apesar de não estar acamada, tinha sua vida restrita ao apartamento onde morava. 270

O recurso utilizado para chegar até eles foi o de me apresentar em reuniões realizadas pela PBH, em que houvesse um número significativo de velhos, como, por exemplo, reuniões do Conselho Municipal do Idoso, II Conferência Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa, Fóruns do Idoso (principalmente da Regional Centro–Sul), e informar resumidamente o motivo da minha pesquisa, efetuando, em seguida, um convite àqueles que quisessem conversar comigo sobre sua vida cotidiana em Belo Horizonte. Vale notar que todos os encontros de caráter

269

BAITZ, Ricardo. A implicação: um novo sedimento a se explorar na Geografia? Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, n.84, p.31, 2006.

270 Em estudos médicos sobre o desempenho funcional de idosos, os fatores associados à

independência para a realização de atividades da vida diária (AVDs) são utilizados para indicar o grau de autonomia desses idosos. Algumas das atividades da vida diária utilizadas para essa classificação são: levantar da cama; comer; pentear cabelo, escovar os dentes ou lavar o rosto; caminhar de um cômodo a outro num mesmo andar; tomar banho; vestir-se; ir ao banheiro; subir 10 degraus de escadas; tomar seus remédios; caminhar dois ou três quarteirões, sair para fazer compras; preparar seu próprio alimento; cortar unhas dos pés; sair de ônibus; fazer trabalhos domésticos (Cf. FERREIRA, Fabiane Ribeiro. Envelhecimento e urbanização: o papel da vizinhança na funcionalidade do idoso da Região Metropolitana de Belo Horizonte. 2010. 114f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) – Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010. p.61).

institucional aqui citados utilizam a palavra idoso em detrimento da palavra velho, como já foi sinalizado.

Tal estratégia se mostrou pouco eficaz, o que avalio ser decorrente da possível associação feita por parte dos velhos presentes nessas reuniões entre a minha pesquisa com algum tipo de trabalho levado a cabo pela própria PBH. Desse modo, tive de recorrer à ajuda de mediadores, assim como Paulo Oliveira o fez em sua pesquisa, que também aborda questões afeitas ao universo da velhice:

Aproximei-me dos sujeitos graças ao concurso de mediadores, pessoas que, em razão do fato de serem conhecidas tanto do

pesquisador quanto dos futuros entrevistados, ajudaram

voluntariamente para que se fizesse a apresentação. A organização do conjunto de informantes a partir da figura de um mediador foi interessante por permitir aos que foram procurados maior liberdade em aceitar ou não a proposta de serem entrevistados. O primeiro contato sendo feito por um mediador que é, ao mesmo tempo, uma pessoa conhecida não oferece constrangimento algum para eventuais recusas e, no caso de assentimento ao convite, garante ao pesquisador que os sujeitos estão predispostos a atuar cooperativamente.271

Desse modo, cheguei aos cinco velhotes (para usar o termo usual com o qual os velhos também são tratados em Portugal) entrevistados nesta pesquisa, ou seja, com a ajuda de mediadores pertencentes ao quadro de funcionários da PBH, da ILPI (Instituição de Longa Permanência para Idosos), da ―Casa Santa Zita‖ e de suas

No documento A Experiência, a metrópole e o velho (páginas 117-137)

Documentos relacionados