• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II – O modelo de Kouzes e Posner

1. As cinco práticas de liderança

1.3. Desafiar o processo

Os autores de O Desafio da Liderança, ao apresentarem diversos casos e exemplos de liderança, apontam sempre para desafios a superar, supostamente com mudanças de paradigma em busca de inovação. Por outras palavras, o exercício de uma liderança exemplar busca o sucesso e, desta forma, o seu líder está a aceitar desafios. De facto, o líder procura formas de melhorar a sua organização, vislumbrando para além do que tem ao seu alcance e dos limites organizacionais; quer aventurar-se, quer ser pioneiro e ser destemido.

Na busca da melhoria e da inovação organizacional, os líderes correm riscos e incertezas perante o desconhecido, nem sempre se sentindo seguros com as situações desafiantes e que poderão envolver uma mudança. Os líderes também erram, mas procuram nos seus erros e fracassos uma oportunidade de aprendizagem. Assumidamente, tal como o sucesso, os erros promovem a aprendizagem e o desenvolvimento das capacidades de liderança. Kouzes e Posner (2009) comungam desta perspetiva quando afirmam que:

Os líderes sabem bem que a inovação e a mudança pressupõem a experimentação e o correr riscos. Apesar da inevitabilidade dos erros e dos fracassos, os líderes seguem em frente. Uma forma de lidar com os potenciais riscos e fracassos da experimentação é abordar a mudança com passos incrementais e pequenas vitórias (p. 41).

Mandamento 5 – Procurar oportunidades ao tomar a iniciativa e procurar formas inovadoras para melhorar

O líder que gosta de desafios procura oportunidades de mudança no sentido de garantir a melhoria e a eficácia da sua organização e o desempenho dos seus seguidores. Para isso, o líder toma iniciativas e perspetiva o crescimento e a inovação organizacionais. O

48

desafio para a mudança poderá encontrar-se tanto interna como externamente à organização. Implicando a mudança uma atitude de rutura e de transformação com o ambiente habitual, deverá, como tal, ser encarada como uma oportunidade de melhoria e de aprendizagem organizacional, que poderá implicar adversidades, uma das quais a própria resistência à mudança e à ordem estabelecida.

Para os autores, a liderança e a inovação são dois processos que se entroncam num quadro teórico muito comum. A inovação implica novos métodos, ideias ou soluções; gera-se uma mudança e esta “requer liderança, alguém que force a implementação de decisões estratégicas” (Kouzes & Posner, 2009, p. 193). Os líderes têm, então, de ser inovadores, “a inovação e a liderança são quase sinónimos. Os líderes são inovadores; os inovadores são líderes” (Kouzes & Posner, 2009, p. 213).

Ao procurar oportunidades, o líder encontra-se na linha de comando da mudança organizacional, testando as suas capacidades, dando o melhor de si, mas também despertando nos outros a vontade de seguirem um caminho que dê significado ao trabalho, superando desafios e perspetivando um futuro melhor (Kouzes & Posner, 2009).

O líder deverá estar atento não apenas ao que se passa no seio da sua organização, mas também ao exterior e procurar desenvolver a capacidade de antever situações que comprometam o futuro da organização e dos seus constituintes. Ajudar os demais membros a desenvolver esta capacidade é demonstrar, também neles, a necessidade de mudança e, segundo os autores, tal consegue-se pela promoção da comunicação externa e interna da organização. De facto, Kouzes e Posner (2009) referem que “olhar para dentro sem olhar para fora é como ter uma visão perfeita e colocar palas, não se consegue ver o cenário completo” (p. 209). É, assim, necessário analisar também as realidades externas para as ideias e a informação fluírem livremente para a organização.

Comunicar, estar atento, saber ouvir os outros, reunir, não somente em contextos formais, mas também informais, revelam-se, para os autores, procedimentos encorajadores e essenciais para o surgimento de “grandes ideias […] que desenvolvam essas inovações tão necessárias” (Kouzes & Posner, 2009, p. 208). Claramente, os

49

líderes exemplares são proactivos, procuram novas oportunidades, criam novas iniciativas.

Mandamento 6 – Experimentar e correr riscos ao proporcionar constantemente pequenas vitórias e aprendendo com a experiência

Procurar inovar poderá envolver riscos, conforme já avançado, mas os líderes exemplares sabem que poderão aprender também com o fracasso, melhorando através da tentativa e do erro, fazendo disto uma experiência de aprendizagem. Para Kouzes e Posner (2009), estes líderes não procuram culpabilizar nem punir ninguém; pelo contrário, encorajam a experimentação e sabem encontrar a flexibilidade necessária para que todos consigam pequenos êxitos na organização. Arriscar torna-se, assim, um imperativo. Segundo estes autores “para se conseguirem feitos extraordinários nas organizações, é preciso estar-se disposto a experimentar e a correr riscos com ideias inovadoras” (Kouzes & Posner, 2009, p. 220).

Na mesma fonte literária se apreende que a aprendizagem acontece quando as pessoas falam abertamente sobre os sucessos e os fracassos, sobre as vitórias e as derrotas, sobre aquilo que correu bem e o que correu mal. No fundo, questionam-se sobre o que é que aprenderam com as suas experiências. O erro é encarado, então, como algo positivo, pois aprende-se com ele. Contudo, só se alcança este ambiente de aprendizagem porque as pessoas se sentem satisfeitas, confiantes e seguras para arriscarem. Não sentem que as adversidades são um entrave para o seu crescimento e melhoria na organização. O processo de mudança exige isto mesmo: a existência de uma relação credível com o líder que leve também os seus constituintes a arriscar (Kouzes & Posner, 2009).

No desenvolvimento da sua investigação, os autores concluíram que quanto mais os líderes se empenhavam com a aprendizagem, mais bem-sucedida seria a liderança e que, por sua vez, os erros seriam uma parte imprescindível de um processo de aprendizagem contínua para conduzir à inovação.

Para se conseguirem feitos extraordinários, começa-se com pequenas vitórias, porque estas são reveladoras do empenho e do envolvimento pessoal e coletivo até se obter algo, “as pequenas vitórias atraem os constituintes, criam ímpeto e mantêm as pessoas

50

no caminho certo” (Kouzes & Posner, 2009, p. 228). Os líderes, ao permitirem a criação de oportunidades para se alcançarem pequenas vitórias, estão a proporcionar aos constituintes ocasiões para se tornarem também líderes.

Ao criar oportunidades que levem às pequenas vitórias, os líderes tornam mais fácil que se comecem as aventuras. Ao estabelecerem formas de aprendizagem passo a passo, quer para o sucesso, quer para o fracasso, os líderes criam um ambiente com condições para transformar os constituintes em líderes.

(Kouzes & Posner, 2009, p. 243)

Documentos relacionados