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Desafios na divulgação e aplicação dos resultados obtidos nas pesquisas realizadas no

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.4 Desafios na divulgação e aplicação dos resultados obtidos nas pesquisas realizadas no

Segundo o inciso VI do regimento da EBSERH na Resolução n° 004/2009, no Hospital Universitário Onofre Lopes, compete ao diretor da Gerência de ensino e pesquisa: “catalogar e cadastrar toda e qualquer atividade ou produção técnico-científica realizada no âmbito do HUOL (Art. 30, Resolução n° 004/2009).”

De acordo com as Diretrizes Técnicas, no que concerne a estrutura organizacional da EBSERH (MEC, 2013), compete a Gerência de Ensino e Pesquisa:

I. Planejar, coordenar e supervisionar o trabalho dos profissionais dos setores e unidades subordinados à Gerência;

II. Analisar e viabilizar a execução das propostas de ensino e pesquisa no âmbito do hospital; e

III. Representar a Gerência junto aos órgãos superiores, ouvindo seus pares. (id, 2013, p. 10)

Como observado no inciso II das competências da Gerência de Ensino e Pesquisa, um dos questionamentos levantados junto aos servidores: “Especifique quais as principais limitações e dificuldades que possam existir durante este processo”, teve como desígnio identificar as limitações no gerenciamento e desenvolvimento das pesquisas realizadas na instituição:

As respostas dos servidores foram elencadas a seguir, dando destaque ao servidor S4, que foi bastante analítico em suas colocações, buscando sanar todas as implicações do desenvolvimento das pesquisas no HUOL. A seguir pode-se entrever a transcrição das respostas dadas pelos servidores:

S1: “O grande acúmulo de trabalho para a CEP/HUOL” S2: “Não vejo limitações nem dificuldades”

S3: “Como é hospital, o acesso aos dados do doente seque a lógica da constituição federal, nova lei de proteção de dados e resoluções 466 e 510”

S4: “A principal limitação do HUOL diz respeito as pesquisas clínicas ou ensaios clínicos fase III, tendo em vista que, como os leitos são contratados pelo SUS, não há ainda um marco regulatório definido sobre esse aspecto. Logo a maioria das pesquisas são desenvolvidas pela comunidade acadêmica em geral (citado na resposta anterior); se

isso acontecesse, seria possível reverter recursos oriundos da indústria farmacêutica ou equipamentos hospitalares utilizados nos financiamentos de tais pesquisas e geridos, por exemplo, pela FUNPEC, de retroalimentar as ações de ensino, pesquisa e extensão através da aplicação de tais recursos nos ambientes destinados a tais atividades, compra de equipamentos, melhoria de salas de aulas, laboratórios multiusuários, reestruturação física e de materiais/equipamento/computadores/datashows.... e se possível fosse, contratação de pessoal, mesmo que terceirizado, para atender as demandas acadêmicas da melhor forma. As dificuldades dizem respeito a manter os setores e unidades do HUOL funcionando de forma a atender as demandas da UFRN. Manter o CEP/HUOL com professores suficientes – 500 projetos de pesquisa analisados/ano; como saber o que foi produzido no HUOL, conforme supracitado; déficit de pessoal na GEP/HUOL de forma geral; estrutura física mais ampla e equipada; espaço para os residentes; enfim, as dificuldades perpassam pelas demandas da EBSERH sede que são muitas e nós muitas vezes não temos pessoal para atender; dificuldade no controle dos alunos que frequentam o hospital e para quê; enfim, tudo diz respeito a uma melhor estruturação da GEP de estrutura física e de pessoal. Na nossa opinião deveríamos ter um bioestatístico, um analista de sistemas, epidemiologista clínico e uma estrutura que auxiliasse os professores nas suas produções científicas; tradutores; financiamento, dentre outros aspectos. Há muito o que crescermos ainda, apesar dos avanços alcançados, tendo em vista que servimos de modelo para muitos hospitais da rede EBSERH”.

Como apontado pelos servidores S1 e S4, há uma limitação no dimensionamento do pessoal que compõem a CEP e a GEP, que possui uma demanda de cerca de 500 projetos de pesquisa por ano (linha 18, fala do S4). Ainda segundo o depoimento de S4, a necessidade da contratação de funcionários para lidar com a demanda é um problema que dificulta o processo de pesquisa, uma vez que deixa os professores e colaboradores sobrecarregados, como também a ausência de estrutura física ampla e equipada, laboratórios multiusuários, bem como recursos que contribuam para auxiliar nas demandas essenciais ao pleno funcionamento da gerência de pesquisa.

Os aspectos citados influenciam diretamente no gerenciamento das pesquisas. Como foi citado anteriormente, o processo de tramitação dos projetos envolvendo seres humanos no HUOL é longo, passa por diversas etapas que necessitam tanto de pessoal suficiente para se dedicar a analisar as propostas, quanto de material de apoio para facilitar o andamento das demandas. Portanto, as principais colocações dos servidores acerca desses aspectos, evidenciam uma dificuldade estrutural no que

diz respeito ao funcionamento pleno das atividades de pesquisa. Pode-se, supor, então, que tantas são as dificuldades para dar conta de gerenciar a realização de pesquisas, que a aplicação de seus resultados se torna uma tarefa ainda mais laboriosa.

Em contrapartida, analisando o início do depoimento do servidor S4, destaca-se que: “A principal limitação do HUOL diz respeito as pesquisas clínicas ou ensaios clínicos fase III, tendo em vista que, como os leitos são contratados pelo SUS, não há ainda um marco regulatório definido sobre esse aspecto.”, ou seja, as pesquisas que não estão ligadas a utilização de leitos ou ensaios clínicos, no geral, seriam mais viáveis para aplicabilidade dentro do hospital. Portanto, esses aspectos não justificam a ausência da continuidade de pesquisas que refletem problemáticas voltadas ao funcionamento do próprio HUOL e que exaltam a necessidade de protocolos que auxiliem os funcionários a obter melhores níveis de bem-estar no trabalho. Pelo contrário, as próprias pesquisas (citadas no levantamento) refletem uma carência no dimensionamento de pessoal em todos os setores do HUOL, não só na gerência de pesquisa, já que muitos dos problemas citados nos resultados envolvem a sobrecarga dos funcionários, levando a problemas de saúde dos mesmos.

Como é colocado na fala do servidor mais de uma vez, há a necessidade da contratação de mais pessoal que possa dar conta da demanda de trabalho, diminuindo a sobrecarga dos professores e funcionários que estão lotados na GEP.

Destacando mais um recorte da fala do servidor S4: “As dificuldades dizem respeito a manter os setores e unidades do HUOL funcionando de forma a atender as demandas da UFRN”. Ou seja, as falhas apresentadas não dizem respeito somente a manutenção da pesquisa gerida no âmbito do HUOL, mas em seu pleno funcionamento geral. Isso implica não só na capacidade do hospital manter suas atividades básicas de ensino, pesquisa e extensão, mas também pode refletir na formação discente, que tem como lócus de pesquisa principal o hospital.

Além disso, o servidor S4 também menciona que há uma falta de apoio aos pesquisadores vinculados ao HUOL, e que seria necessário o auxílio de: “[...] um bioestatístico, um analista de sistemas, epidemiologista clínico e uma estrutura que auxiliasse os professores nas suas produções científicas; tradutores; financiamento, dentre outros aspectos”.

Essa falta de auxílio prestado se reflete negativamente nas produções, sendo estas desvalorizadas e engavetadas logo que finalizadas. Isso pode ser observado

pela ausência da aplicação de diversos resultados importantes que já foram coletados com pesquisas realizadas acerca da qualidade de vida, saúde e bem-estar dos funcionários.

Segundo o próprio servidor S4, em sua fala: “Há muito o que crescermos ainda, apesar dos avanços alcançados, tendo em vista que servimos de modelo para muitos hospitais da rede EBSERH”, o hospital que ainda enfrenta todas as dificuldades de gerenciamento e estrutura básica, serve de modelo para outros hospitais, que devem se encontrar em uma situação inferior quando se trata desses aspectos colocados.

Mesmo diante das inúmeras dificuldades elencadas, muitas pesquisas são desenvolvidas na instituição, fazendo com que a gerência seja responsável pela análise e viabilização da execução dessas pesquisas e que os resultados das mesmas estejam ao alcance de todos os servidores e colaboradores do HUOL os resultados das mesmas.

Diante disso e das colocações supracitadas, com o intuito de compreender como é realizado o processo de divulgação dos resultados das pesquisas realizadas na instituição (com profissionais da saúde, especificamente) junto a gerência competente no HUOL, a Gerência de Ensino e Pesquisa, foi realizado o seguinte questionamento aos servidores lotados na mesma:

1. Nas pesquisas cujos temas abordados estão relacionados aos servidores e/ou, os participantes são vinculados ao HUOL (sejam elas focadas nas questões de saúde, bem-estar ou qualificação profissional) como se dá a divulgação dos resultados obtidos? Estes são compartilhados com os gestores das respectivas áreas de atuação?

Em resposta ao questionamento, destacam-se as respostas dos servidores S3 e S4, respectivamente, sobre a divulgação e compartilhamento dos resultados obtidos nas pesquisas desenvolvidas:

S3: “Os bem elaborados são sim compartilhados e modificam para melhor o processo de trabalho”

S4: “Sim, sempre garantindo o sigilo sobre o sujeito de pesquisa, conforme a resolução 466/2012“

Não foi relatado nas respostas avalizadas pelos servidores o processo detalhado de divulgação dos resultados das pesquisas, ou seja, os servidores

entrevistados não possuem conhecimento profundo acerca do processo realizado para a divulgação das pesquisas, mesmo diante da afirmação de que existe a promulgação dentro das competências necessárias junto a gerência do hospital.

Buscando outras fontes de informação, foram realizadas pesquisas no site da EBSERH do HUOL1, na página de notícias, com o intuito de verificar se este é um dos meios de divulgação da instituição. Ou seja, tem-se como objetivo identificar se o site apresenta notícias que dão proeminência aos estudos voltados à saúde e bem-estar dos profissionais de saúde lotados no HUOL, realizados no âmbito da instituição.

Realizou-se, portanto, uma busca avançada na página de notícias do site oficial do HUOL, utilizando as palavras-chave: saúde do trabalhador e bem-estar do trabalhador. Para os resultados encontrados com a palavra-chave saúde do trabalhador, a figura 3 é uma captura da tela do site:

Figura 3. Busca avançada usando a palavra-chave saúde do trabalhador no site do HUOL.

Fonte: site do EBSERH/HUOL

São apresentados seis (6) resultados na pesquisa (cf. rodapé da figura 3), que variam de atividades informais até a divulgação de projetos, semanas de prevenção

ao acidente de trabalho e divulgação de projetos. Será enfatizada nesse momento a notícia relacionada a realização da X Semana de Enfermagem, promovida em 2015, em que os profissionais do hospital apresentaram trabalhos científicos desenvolvidos na instituição, assim como outras atividades.

Para a coordenadora do evento, a execução dos trabalhos na primeira semana laborada no ambiente da EBSERH no HUOL foi: “um marco inicial da nova composição do Núcleo de Educação Permanente do Hospital”. Pode-se considerar a realização de um evento desse âmbito como a oportunidade de relatar os estudos que são desenvolvidos no hospital, contando com a presença de profissionais e pacientes, que participam das atividades e recebem atendimento. Essa é uma das mais diversas formas de dar a devida importância às pesquisas que são realizadas no âmbito do HUOL. A figura 4 mostra uma imagem que pode ser encontrada na notícia do site da EBSERH do HUOL.

Figura 4. Fotos publicadas da X Semana de Enfermagem no HUOL

Fonte: site do EBSERH do HUOL

Nos anos seguintes, a Semana de Enfermagem foi realizada no mesmo período, com atividades e apresentação de trabalhos, mas estas não foram encontradas quando utilizou-se o filtro de pesquisa saúde do trabalhador ou bem-estar do trabalhador.

Sendo o site do HUOL uma fonte de pesquisa tanto para servidores quanto para os alunos, a vinculação de conteúdos com o uso correto das palavras-chave

auxilia na disseminação da informação. Segundo Garcia et al. (2019) “a seleção ponderada das palavras-chave são fundamentais para que os textos sejam capturados pelos mecanismos de busca e para que finalmente alcancem seus possíveis leitores”.

Ou seja, a veiculação até acontece, mas seu alcance é dificultado, podendo ser negligenciada pela comunidade por falta de acesso. Isso também pode estar acontecendo com as notícias de outros eventos ou estudos que são realizados no âmbito do HUOL, mas que não foram encontrados devido a desvinculação da sua proposta inicial com as devidas palavras-chave, o que dificulta a observação analítica da veiculação das informações por meio do site.

Ainda sobre a divulgação de pesquisas, utilizou-se a palavra-chave bem-estar do trabalhador e como resultado, obteve-se apenas uma notícia, que versa sobre o projeto de melhoria na qualidade da atividade laboral dos servidores do HUOL, publicada em 31 de julho de 2019. Segundo a notícia, a chefe do Setor Jurídico do HUOL, o projeto foi incentivado pela Procuradora Regional do Trabalho, com o intuito de realizar um estudo sobre a ergonomia e a segurança do trabalho no hospital. Ainda de acordo com a notícia, a justificativa conceitual do projeto se deu por uma referência de 2002 de pesquisas realizadas nos Estados Unidos, como descrito no trecho a seguir:

Segundo a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), ergonomia "é a disciplina científica que estuda as interações entre os seres humanos e outros elementos do sistema de trabalho, aplicando os princípios teóricos, dados e métodos, a fim de realizar projetos para otimizar o bem-estar humano e desempenho geral desse sistema". Pesquisas realizadas nos Estados Unidos indicam que, para cada dólar investido em programas de qualidade de vida, são economizados três dólares, incluindo assistência médica, queda de faltas no trabalho, na rotatividade, além de aumento da produtividade, segundo Jimenes (2002). (CUNHA, 2019)

Na figura 5, pode-se conferir o lide2 da notícia presente no site, em que são apresentadas as primeiras informações, como a parceria entre o HUOL e o Departamento de Engenharia de Produção e os objetivos de planejar ações

2 Refere-se a um termo jornalístico para representar a primeira parte da notícia. Fonte: https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/glossario/lead

ergonômicas e apresentar os parâmetros técnicos e legais para a elaboração da Análise Ergonômica do Trabalho.

Figura 5. Notícia publicada no site do HUOL que atende a busca pela palavra-chave bem-estar do trabalhador.

Fonte: site do EBSERH do HUOL

Como apresentado na revisão integrativa, três anos antes da criação do projeto supracitado, Damasceno (2016), do Programa de Pós Graduação em Design, sugeriu alterações na enfermaria pediátrica, pois ao avaliar possíveis problemas quanto as condições ergonômicas do posto de enfermagem, notou problemas interfaciais, acionais, espacial/arquitetural, químico/ambientais, organizacionais e físico/ambientais. Na realização da pesquisa, a autora registrou por meio de captura de imagens todos os problemas encontrados e indicou, em suas conclusões indicações de soluções para todos os problemas descritos.

No entanto, o trabalho realizado dentro da instituição não foi referenciado como justificativa conceitual das necessidades ergonômicas dos servidores do HUOL, assim como não há menções na notícia sobre a realização de estudos científicos realizados dentro da instituição nesse mesmo âmbito, elegendo uma referência de quase 20 anos atrás, com pesquisas realizadas em outro país. Esses fatores indicam a ausência não só de divulgação, como também de mérito e aplicação dos resultados revelados e patenteados pelos alunos que desempenham a pesquisa científica aproveitando o HUOL como lócus de pesquisa.

Baseado na análise empreendida, é possível afirmar que um dos principais problemas que faz com que o trabalho de pesquisa no HUOL seja negligenciado é a falta de dimensionamento de pessoal para o gerenciamento e avaliação dessas pesquisas. Isso pode ser observado tanto na fala dos entrevistados, quanto na observação independente das notícias encontradas no site do HUOL. Assim, se a sobrecarga de trabalho no setor de enfermagem leva a problemas de saúde e bem-estar desses servidores (conforme os resultados das pesquisas levantadas), a sobrecarga de trabalho no setor de gerenciamento de pesquisas, leva a pouca visibilidade dos resultados obtidos pelos pesquisadores e a falta de aplicação de protocolos que auxiliem os profissionais de saúde e enfermagem a alcançarem uma melhor qualidade de vida no trabalho.

Nessa perspectiva, o conhecimento que é produzido acerca do bem-estar e saúde dos servidores não tem tido muita aplicabilidade ou gerado ações concretas visando a melhoria da qualidade de vida no trabalho, o que indica haver uma minimização tanto da importância das pesquisas realizadas, quanto da saúde dos que realizam os serviços essenciais dentro do hospital. Uma consequência a longo prazo que pode ser levantada é a desmotivação da realização e participação em pesquisas, pois sabe-se que não há um retorno para a comunidade.

4.5 Protocolo de gerenciamento de pesquisas para implementação de ações