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Como decorrência do caminhar do curso, torna-se obrigatório avaliar os resultados finais, destacando, nessa perspectiva, os desafios encontra-dos.

Constatou-se que, apesar de ter sido criado um curso noturno, que atendia a um grupo social necessitado e de terem sido oferecidas possibi-lidades de crescimento pessoal e profissional, surgiram obstáculos que afe-taram a qualidade do curso, como:

• Falta de infraestrutura (pessoal para atendimento noturno, acompa-nhamento pedagógico efetivo, setor de alimentação e transporte adequa-dos).

• Falta de preparo e capacitação dos diversos docentes e outros profis-sionais na área da EJA.

• Falta de material pedagógico adequado (livros, apostilas...).

• Evasão (problemas econômicos e sociais).

Algumas medidas foram implementadas para minimizar os proble-mas encontrados:

• Utilização da verba oferecida para ajudar no transporte dos alunos; o recurso oferecido pelo MEC, uma bolsa de R$ 100,00 contribuiu para dimi-nuir o problema de transporte e de alimentação, no entanto chegou tardi-amente.

• Pedagogicamente, buscou-se trabalhar com o pessoal envolvido – inicialmente, por meio de reuniões quinzenais, que foram enriquecedoras para a prática pedagógica e depois com reuniões mensais, devido a outros fatores decorrentes das atividades da instituição – mas a redução na frequência dos encontros afetou a qualidade das trocas de experiências que já vinham ocorrendo.

• Nas reuniões, buscou-se trabalhar de forma interdisciplinar – áreas diferentes do conhecimento uniram-se em projetos comuns, como: mate-mática e informate-mática; história, geografia, sociologia e língua portuguesa; e projetos específicos da área da agroindústria com outras disciplinas, bus-cando relacionar teoria e prática, tendo como foco as experiências trazidas pelos alunos, ampliando seus conhecimentos nas áreas científicas.

• Durante as reuniões, avaliava-se o andamento e as práticas utiliza-das no curso. A troca de experiências foi de suma importância. No entan-to, percebeu-se necessário capacitar um maior número de docentes uma

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vez que ainda existia resistência e preparo inadequado para trabalhar com esse novo tipo de aluno, o que é um grande desafio para os docen-tes. Participaram inicialmente da especialização do Proeja duas servidoras da instituição, uma professora de matemática e uma pedagoga. Ambas contribuíram com suas experiências nas reuniões e nas discussões imple-mentadas pelos participantes do curso. Depois, não ocorreram novas capa-citações.

• Realização de reuniões de conselho de classe, com participação dos alunos, o que enriquecia o processo ensino-aprendizagem.

• Reunião contínua com os docentes e demais servidores que partici-pam diretamente dos cursos, para estudo e implantação de formas mais flexíveis de organização do trabalho escolar, de maneira a possibilitar a contribuição dos profissionais envolvidos com os cursos.

• Capacitação de docentes nos cursos de especialização oferecidos pelo MEC.

• Oferecimento de alimentação e transporte aos alunos, de acordo com as verbas/bolsas – MEC.

• Requisição de material pedagógico (livros, revistas, jornais), que possa contribuir para a formação docente e discente e possibilite a criação de materiais pedagógicos específicos das áreas de estudo trabalhadas.

• Criação de um caderno (ou material específico para relatório), para que os docentes relatem suas metodologias, estratégias e experiências desenvolvidas em sala de aula, assim como experiências dos alunos que contribuam com o processo ensino-aprendizagem.

• Reuniões com o corpo discente de maneira contínua, para detectar situações inesperadas (problemas pedagógicos, evasão), priorizando o tra-balho em equipe.

• Foi evitada a burocratização do planejamento. Buscou-se transcen-der a lógica escolar sem pertranscen-der de vista a responsabilidade social que esta instituição tem a respeito do indivíduo.

• Buscou-se contemplar a multidimensionalidade da avaliação. Esta não é, nem pode ser, um apêndice do ensino nem da aprendizagem. A avaliação deve concentrar-se nos próprios efeitos do ensino, introduzir cor-reções e, ao mesmo tempo, oferecer os insumos da experiência direta com os indivíduos em situações de ensino.

Cumpre ressaltar, ainda, que a trajetória desse curso e todas as reuniões que foram realizadas pelo grupo de pesquisa (Capes/Setec) e pelo próprio MEC vêm proporcionando a troca de experiências entre as escolas, com docentes, discentes e pedagogos, e têm contribuído para uma profunda

re-flexão e retomada das ações. Espera-se, portanto, que o desenvolvimento dos novos cursos previstos terá uma perspectiva direcionada para ambien-tes de aprendizagem colaborativa e interativa, nos quais os sujeitos incorpo-rem ações apropriadas para a realização dos projetos pedagógicos.

Considerações finais

Considerando os obstáculos superados a partir da implantação do cur-so, é possível afirmar que foram vivenciadas experiências ricas e valiosas para o aprimoramento dos processos administrativos e, principalmente, pedagógicos do Proeja.

Vale ressaltar que, a partir dessa experiência, dois projetos de pesqui-sa em nível de mestrado estão em andamento, um penpesqui-sando a questão do significado do Proeja para os sujeitos envolvidos e outro objetivando pro-por um estudo para a elaboração de materiais didáticos na área de mate-mática, específicos para essa modalidade de ensino. Esse fato demonstra que a implantação do programa no IF Goiano campus Ceres passa por uma reflexão teórico-prática que resultará em avanços na direção da sua consolidação.

Essa análise proporciona a reorganização de novos cursos na educa-ção de jovens e adultos, o que favorece o reconhecimento dessa modali-dade nesta instituição, contribuindo assim para o aprimoramento das polí-ticas públicas voltadas para a integração da educação profissional com a educação básica e, por conseguinte, para a emancipação do aluno na sua vida e no mundo do trabalho.

É importante ressaltar que a primeira experiência com o Proeja foi enriquecedora. No entanto, há dificuldade quanto à aceitação do progra-ma na instituição que pode ser percebida na resistência de alguns profes-sores em ministrar aulas nessa modalidade de ensino, talvez pela falta de formação para trabalhar com esse público ou pelo pouco crédito no suces-so do cursuces-so.

Outro ponto a ser observado é a opção desta instituição em não ofere-cer novas vagas até a conclusão da primeira turma, a fim de que os resul-tados fossem levanresul-tados e traresul-tados ao longo dos dois anos e meio do cur-so. O fato de esta escola ter seguido com apenas um curso e uma turma nessa modalidade pode não ter contribuído para sua consolidação, uma vez que houve alto índice de evasão, implicando uma imagem negativa do programa. Contudo, lança-se sobre o resultado um olhar positivo, pelo fato de egressos do curso estarem empregados na área de formação, atu-ando em diferentes funções e com melhores condições salariais.

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O curso de Agroindústria não teve continuidade. Foi verificado o sur-gimento de outras demandas e necessidades regionais. Por meio de uma pesquisa realizada com alunos da EJA da segunda fase do ensino fundamen-tal e do ensino médio, nos municípios de Carmo do Rio Verde, Rianápolis, Uruana, Ceres e Rialma, constatou-se preferência pelos cursos de Adminis-tração e Informática. Assim, foram viabilizados projetos que atendessem a essas necessidades.

Os participantes do programa nesta instituição acreditam que o cami-nho de reflexão sobre as práticas desenvolvidas no Proeja precisa ser en-carado com mais seriedade e sistematização para que os cursos ofereci-dos alcancem o diferencial pretendido e ofereçam uma formação que faça sentido na vida dos educandos.

O grande desafio continua. É preciso assumir as responsabilidades com o Proeja, possibilitar aos alunos o direito de profissionalizarem-se, dimi-nuir o preconceito existente no meio social, oferecer melhores condições para que enfrentem o mundo do trabalho e proporcionar uma educação que articule a teoria e a prática, mudando e intervindo na realidade, em favor de uma vida mais digna e cidadã.

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EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS EM CURSO