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Em 23 de julho de 2004, o atual presidente da República instituiu o Decreto nº 5.154 e revogou o de nº 2.208, de 17 de abril de 1997. Para a educação profissional, em especial a ministrada na rede federal, as mu-danças trazidas por eles, em diferentes contextos históricos, constituem expressões das disputas de concepções em torno dessa modalidade de educação. O último traz como fundamento a compreensão de que a

qua-lificação profissional deve pautar-se pela oferta otimizada de cursos com o objetivo de atender às novas demandas do mercado, oriundas da reestruturação produtiva, típica das últimas décadas do século XX (HARVEY, 1992; HOBSBAWM, 1995). Nessa lógica, os currículos da educação profissi-onal e sua certificação são estabelecidos a partir de itinerários formativos fundados na flexibilização, na fragmentação e na modularização dos co-nhecimentos. Assim, tornam-se mais “leves” e adaptáveis às necessidades do mercado, cada vez mais dinâmico e competitivo. Diante dessa concep-ção, os currículos integrados, vigentes até então, que buscavam articular os conhecimentos gerais com os conhecimentos profissionais visando a uma formação integral, foram considerados pouco eficientes (MENDON-ÇA, 2005; MOREYRA, 2005).

Na tentativa de recuperar a oferta da educação profissional integrada, que tem como princípio a formação integral do educando, promulgou-se o Decreto nº 5.154. Este, entretanto, continua a garantir outras formas de arti-culação entre o ensino médio e profissional, previstas no Decreto nº 2.208, quais sejam, a concomitante e a subsequente. Entretanto, ele já indica a necessidade de ofertar a educação profissional articulada com a Educação de Jovens e Adultos, objetivando a qualificação profissional e a elevação da escolaridade do trabalhador (CASTRO; VITORETTE, 2009).

Foi nesse complexo contexto que se instituiu a Portaria nº 2.080, de 13 de junho de 2005, estabelecendo as diretrizes para a oferta de cursos de educação profissional de forma integrada aos cursos de ensino médio, na modalidade de Educação de Jovens e Adultos – EJA. A portaria previa a implantação de um novo campo educacional – educação de jovens e adul-tos com qualificação profissional – na Rede Federal, indicando a obrigatoriedade da oferta de 10% das vagas de cada unidade escolar para cursos nessa modalidade.

Algumas críticas ressaltaram a ilegalidade dessa portaria, pois os Cen-tros Federais de Educação Tecnológica, segundo Decreto nº 5.224/04, que dispõe sobre a organização dos Cefets, são autarquias federais vinculadas ao Ministério da Educação e detentoras de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar. Assim sendo, uma portaria não poderia regular a vida das instituições. Outra questão referia-se à falta de condições, na esfera político-pedagógica, de ministrar cursos no formato proposto, uma vez que não havia na Rede Federal um corpo de professores formados para atuar no campo específico da Educação de Jo-vens e Adultos, no ensino médio e no ensino médio integrado à educação profissional. Isso porque, com o Decreto nº 2.208/97, alguns Cefets tinham

O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO PROEJA NO IFG CAMPUS GOIÂNIA: LIMITES, POSSIBILIDADES...

reduzido substancialmente o quadro docente do ensino médio (MOURA, 2006). Para resolver a questão de hierarquia em âmbito jurídico, a portaria virou decreto (n.º 5.478, de 24 de junho de 2005) e transformou a oferta desses cursos em programa, mas manteve as mesmas diretrizes.

Diante do quadro que se apresentava e depois de ampla discussão com os setores envolvidos nas referidas modalidades de educação, consti-tuiu-se um grupo de trabalho plural (BRASIL, 2005c) com a tarefa de ela-borar um documento-base contendo as concepções e os princípios do pro-grama. Assim, em 13 de julho de 2006, foi promulgado o Decreto n.º 5.840 e revogado o de n.º 5.478/05. Segundo o documento-base revisado (BRA-SIL, 2007), o Proeja passou, então, a denominar-se Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalida-de Modalida-de Educação Modalida-de Jovens e Adultos. Por ele, há possibilidaModalida-de Modalida-de adoção de cursos do Proeja em instituições públicas dos sistemas de ensino esta-duais e municipais e em entidades nacionais de serviço social, de apren-dizagem e formação profissional, vinculadas ao sistema sindical e tam-bém de articulação a cursos de formação inicial e continuada de trabalha-dores com ensino fundamental na modalidade de EJA.

O Decreto n.º 5.840 determina, então, a oferta de cursos e programas de educação profissional à formação inicial e continuada de trabalhado-res e educação técnica de nível médio. Os cursos e programas do Proeja deverão considerar as características dos jovens e adultos atendidos e poderão ser articulados ao ensino fundamental ou ao ensino médio, vi-sando à elevação do nível de escolaridade do trabalhador. No caso da formação inicial e continuada de trabalhadores, deverá ser observado o Decreto nº 5.154, de 23 de julho de 2004. Já a articulação com o ensino médio poderá ser feita de forma integrada ou concomitante, da maneira prevista no mesmo decreto.

Em relação à carga horária, os cursos destinados à formação inicial e continuada de trabalhadores deverão contar com um mínimo de 1.400 ho-ras, sendo 1.200 horas para a formação geral e duzentas para a formação profissional. Para a educação técnica de nível médio, a carga horária míni-ma deverá ser de 2.400 horas, assegurando-se a destinação de 1.200 horas para a formação geral e a carga horária mínima estabelecida pela respecti-va habilitação profissional técnica. A formatação dos cursos e programas deverá seguir as diretrizes curriculares nacionais e os atos normativos do Conselho Nacional de Educação para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio (1999), para o Ensino Fundamental, para o Ensino Médio (1998) e para a Educação de Jovens e Adultos (2000).

O documento base revisado estabelece o referencial para a oferta de cursos do Proeja em nível médio, fundamentando-se nos seguintes eixos norteadores: a expansão da oferta pública de educação profissional, o de-senvolvimento de estratégias de financiamento público para a obtenção de recursos que garantam a oferta de ensino com qualidade, a construção de educação profissional dentro da concepção de formação integral do cidadão e a formatação de estratégias que definam o papel estratégico da educação profissional nas políticas de inclusão social. Assim, o documen-to opta pelo pressuposdocumen-to de que essa nova modalidade de educação pre-tende “ser base de uma política de formação de cidadãos e cidadãs eman-cipados, preparados para a atuação no mundo do trabalho, conscientes de seus direitos e deveres políticos e de suas responsabilidades para com a sociedade e o meio ambiente” (BRASIL, 2007, p. 4).

Processo de implantação do Curso Técnico de Alimentação, integrado