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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARA UMA RESPOSTA EDUCATIVA DE QUALIDADE EM ATENÇÃO À DIVERSIDADE.

3 NOVO ORDENAMENTO POLÍTICO JURÍDICO DOS SISTEMAS MUNICIPAIS DE ENSINO A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO PADRÃO DE GESTÃO

6. POLÍTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO MUNICIPAL DE SALVADOR EM ATENÇÃO À DIVERSIDADE – DO ORDENAMENTO POLÍTICO-JURÍDICO À

6.3 OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARA UMA RESPOSTA EDUCATIVA DE QUALIDADE EM ATENÇÃO À DIVERSIDADE.

Com base nas entrevistas realizadas com gestores de escolas que atendem alunos com deficiência em classes regulares, buscou-se identificar e analisar alguns dos fatores da organização e da prática educativa que possam vir a garantir ou não o acesso e a permanência do aluno com deficiência na escola. Conforme constatado na discussão anterior, os dispositivos que constituem o ordenamento político-jurídico instituído pelo Sistema Municipal de Ensino de Salvador pouco contribuíram para os avanços conceituais e estruturais da política de inclusão nas escolas públicas municipais. Nas orientações para a organização tanto do Sistema como da escola percebe-se a pouca atenção que as necessidades educacionais especiais tiveram no projeto político-educacional de Salvador até então.

Embora a incorporação de princípios como cidadania e diversidade não bastem para a construção de uma escola inclusiva, é preciso se ter clareza que o ordenamento político-jurídico contribui para dar sentido e ressignificar as práticas, seja de professores, de gestores ou de outros atores que pensam e fazem educação. Assim, ao Sistema compete promover, na formulação e implementação das suas políticas, uma ampla discussão sobre os princípios, as políticas e as práticas que constroem a educação inclusiva. É preciso que o ordenamento político-jurídico não só crie normas, como também demonstre os desejos e as formas de entender e querer uma educação inclusiva, ainda que seja apenas no plano do discurso.

Um sistema educacional inclusivo define-se, em principio, pela sua capacidade de assegurar às escolas as condições mínimas para o desenvolvimento de um ensino de qualidade, respondendo de forma efetiva às necessidades educacionais especiais que se manifestam no seu contexto. Isso não quer dizer apenas que se deva dotar as escolas de recursos e infra-estrutura, é preciso também orientá-las quanto à sua organização e quanto ao desenvolvimento de uma prática educativa inclusiva.

A definição de princípios, políticas e práticas em favor da diversidade deve representar para a escola um desejo coletivo de construção de uma educação de qualidade, voltada para a construção da cultura da cidadania e da diversidade. Nesse sentido, os elementos do sistema educacional devem ter clareza de que a inclusão não é simplesmente matricular alunos com necessidades especiais em escolas regulares; é, para além disso, a consolidação das utopias e dos desejos de construção de uma nova cultura, possível, desde a escola. Por isso, suas ações tanto individuais como coletivas devem ter como propósito o reconhecimento e a valorização da diversidade e das diferenças, para que sejam garantidos o acesso e a permanência de todo e qualquer aluno na escola.

Nesse sentido, o discurso que enfatiza a necessidade de uma gestão democrática e participativa, com vistas ao desenvolvimento da autonomia política, pedagógica e administrativo-financeira da escola, não deve ser entendido como uma transferência

à escola da responsabilidade por essa tarefa. Antes de ser uma tarefa de cada escola, a política em atenção à diversidade deve ser uma política de Estado, ou seja, o Município deve, antes de mais nada, assumi-la como um compromisso ético e político, para daí o Sistema de Ensino – compreendendo todos os seus elementos: escola, órgão central e órgãos colegiados – incorporá-la à sua política e gestão.

Entende-se que o ordenamento político-jurídico de um Sistema Municipal de Ensino em atenção à diversidade – e não é o caso do Sistema Municipal de Ensino de Salvador, conforme constatado – deve conter orientações, diretrizes e dispositivos legais que possam subsidiar as escolas quanto à sua organização. Dessa forma, uma vez constatado que no ordenamento político-jurídico do Sistema Municipal de Ensino de Salvador os alunos com necessidades educacionais especiais não receberam a merecida atenção, resta saber como – apesar de tudo isso – as escolas têm se organizado para seu atendimento.

Para tanto, buscou-se analisar alguns dos aspectos da organização escolar como: existência de profissionais e serviços especializados; os instrumentos de planejamento e gestão; os instrumentos de apoio à organização do trabalho pedagógico (currículo e projeto político-pedagógico); acessibilidade física e de comunicação; dentre outros. A partir dos aspectos elencados, foram levantadas as seguintes questões: quais os elementos da organização escolar que podem ou não favorecer a inclusão? Quais as garantias de acesso e permanência os alunos com deficiência encontram nas escolas públicas municipais de Salvador? Em que medida o Sistema Municipal de Ensino de Salvador tem proporcionado à sua rede escolar as condições necessárias ao atendimento dos alunos com deficiência? Que dificuldades e ou desafios a escola pública municipal enfrenta para uma resposta educacional de qualidade à diversidade dos seus alunos?

Essas e outras questões que irão surgir no decorrer da análise dos dados coletados em campo possibilitarão a compreensão de como o Sistema Municipal de Ensino de Salvador tem caminhado no sentido de tornar-se um sistema educacional inclusivo. Ou seja, quais as suas contribuições para fazer da escola um espaço no qual todos os cidadãos poderão ter acesso a uma educação de qualidade, independente de suas capacidades ou procedência sociocultural. Nessa perspectiva, o cerne da

discussão será o nível de intervenção do Sistema para tornar a escola um lugar de mudança na perspectiva da educação em geral e da educação de pessoas com necessidades educacionais especiais, em particular.

6.3.1 Considerações gerais sobre a política de inclusão nas escolas públicas municipais de Salvador

A inclusão de alunos com necessidades especiais em classes regulares no Sistema Municipal de Ensino de Salvador não se deu através da formulação e implementação de uma política com esse fim especificamente. No ordenamento político-jurídico instituído pela gestão municipal, não foi identificado nenhum dispositivo legal específico para a regulamentação da Educação Especial. Conforme se constatou, na Resolução CME N.º 002/98, a Educação Especial foi apenas citada como modalidade educacional a ser oferecida na rede regular de ensino.

6.3.1.1 Tempo de funcionamento e de experiência das escolas com classes inclusivas

Ao analisar os dados sobre o tempo de funcionamento das escolas, observa-se que: 22, aproximadamente 67% das 33 escolas pesquisadas, já estão em funcionamento há mais de 10 anos, portanto antes da promulgação da LDB 9.394/96. Das 11 escolas restantes, 06 funcionam há menos de 10 anos e as outras 05 não responderam ou não souberam informar (Tabela 2). Contudo, a experiência com a inclusão na maioria das escolas pesquisadas é relativamente recente. Das 33 escolas, apenas 1(uma) tem experiência com classes inclusivas há mais de 10 anos; 32 escolas, 97%, têm menos de 10 anos de experiência com classes inclusivas, sendo que dessas, 76% atendem a alunos com necessidades especiais a menos de 05 (cinco) anos (Tabela 3).

Tabela 2: Tempo de funcionamento das escolas

TEMPO DE

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