• Nenhum resultado encontrado

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.4 O TRABALHO INFANTIL

2.4.5 Desafios

MEDEIROS NETO (2010) apresenta e rebate diversos mitos sobre o trabalho infantil, dentre os quais o que valoriza a criança trabalhadora porque ela estaria aprendendo disciplina, seriedade e coragem, diferentemente das que vivem a infância e adolescência na vadiagem e que se tornariam preguiçosas, desonestas e desordeiras. A verdade é que o trabalho infantil gera ausência escolar e rouba da criança o tempo e a disposição de estudar. A criança que trabalha também sofre uma série de injustiças: é mal remunerada, as jornadas são extenuantes, o ambiente é prejudicial e sujeita-se a constantes abusos, desde insultos até agressões física e sexual. Disciplina e outros valores se aprendem junto à família e à escola.

O combate efetivo e programático ao trabalho infantil no Brasil é algo recente, apenas no final do século XX foi instituído o Programa de Erradicação e Prevenção do Trabalho infantil – PETI, que proporciona a transferência de renda às famílias com situação de trabalho infantil. Somente em 1992 o tema entrou na agenda nacional, com a adesão do Brasil ao Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil (IPEC). Desde então, ocorreu ampla articulação de órgãos estaduais e sociedade civil para a eliminação do trabalho infantil (OLIVEIRA, 2007).

Embora dos números do trabalho infantil tenham sofrido redução, o problema persiste mesmo com crescimento econômico, programas de transferência de renda, queda da desigualdade social e diminuição da pobreza. Segundo o Censo 2010, o Brasil ainda tem 6% de crianças entre 10 e 14 anos trabalhando, número que corresponde a um milhão de crianças. (MEDEIROS, 2011).

Estudo publicado pela OIT em 2004 apresenta impactos financeiros decorrentes do trabalho infantil e conclui que a eliminação do trabalho infantil e sua substituição pela educação universal produz enormes benefícios econômicos. Ou seja, ainda que se encare a questão do trabalho infantil sob um ponto de vista unicamente econômico, é forçoso concluir ser vantajoso o investimento em educação e eliminação do trabalho precoce (VILANI, 2010).

Mas a mera proibição do trabalho infantil por si não equivale a solucionar o problema de menores com carências materiais. É imprescindível dotar a família e a comunidade, onde vivem os menores, de infraestrutura básica que lhes permita uma alternativa ao trabalho infantil (PALMEIRA SOBRINHO, 2010). Afinal, o impacto econômico mais óbvio do trabalho infantil, a curto prazo no âmbito familiar, é o aumento dos ganhos. Se o resultado do trabalho das crianças paga itens de primeira necessidade daquela família, então qualquer esforço de erradicação do trabalho infantil deverá considerar que isso afetará negativamente os ganhos da família. Subsídios ou transferência de renda para famílias com crianças pobres são, pois, essenciais nos programas de eliminação do trabalho infantil (GALLI, 2001).

Por outro lado, avaliações mostram que programas de transferência de renda, sozinhos, não reduziram o trabalho infantil, evidenciando que o problema não está na pobreza, mas na educação. O trabalho infantil rende pouco e, por isso, não é estratégia de sobrevivência; se o problema está ligado à questão cultural, ele só poderá ser mudado por intermédio da educação (MEDEIROS, 2011).

Assim, o grande desafio é o trabalho educativo, de mostrar para essas famílias que mantêm seus filhos trabalhando que vale mais a pena mandá-los para a escola. “Hoje há na cultura geral um mito de que o trabalho é bom. O trabalho é bom, desde que ele seja feito na fase correta, na medida certa, na função adequada à fase da vida que a pessoa vive”, alerta Mario

Volpi, oficial de programas do Unicef, o Fundo da ONU para a Infância e Adolescência (BETTENCOURT e JACOBS, 2003). Mas como tal situação envolve mudança de atitude, é preciso tempo para que esta evolução seja consolidada. A informação, sensibilização e mobilização da opinião pública são algumas das medidas recomendadas pela OIT para eliminar as piores formas do trabalho infantil (Recomendação 190 da OIT).

Outro aspecto importante é que, apesar dos números do trabalho infantil no Brasil ainda serem expressivos, os dados oficiais são parciais, pois vários fatores dificultam a pesquisa nesta área, como o caráter intermitente da atividade e o fato de muitas ocupações exercidas por crianças e adolescentes não serem consideradas “trabalho”, embora tenham abrangência das atividades realizadas pelos adultos. É o caso, por exemplo, do trabalho infantil doméstico, que é denominado ‘ajuda’ e não entra nas estatísticas (BRASIL, 2007). Não seria também o caso das participações artísticas de crianças e adolescentes no segmento publicitário e do entretenimento?

De qualquer forma, a criança trabalhadora ao ser inserida no mercado de trabalho tende, em sua maioria, a submeter-se a uma relação precária. Trata-se de uma inclusão excludente, haja vista que a ‘oportunidade de trabalho’ da criança representa a retirada da sociabilidade desta, inclusive sendo um dos fatores de evasão escolar e de privação da normalidade das relações da criança com sua família, colegas e a comunidade na qual está inserida (PALMEIRA SOBRINHO, 2010).

No caso do trabalho artístico, VILANI(2010) alerta que, no Brasil, principalmente por questões culturais, a maioria das pessoas vincula a arte ao glamour, ao lazer e à diversão, “como se qualquer trabalho artístico fosse excludente da ideia de trabalho de produção de bens ou serviços destinados ao mercado”(p. 78). Esporte, música, teatro, cinema, pintura ou escultura não seriam considerados, para alguns, trabalho.

O destaque que ganha todo aquele que se expõe aos meios de comunicação, principalmente à mídia televisiva, seduz adultos e crianças de variadas classes sociais, causando a situação atual de verdadeiro “deslumbramento” pela carreira artística. Tal encantamento estará tirando a capacidade de a sociedade, Estado e famílias observarem suas semelhanças com as demais atividades proibidas às crianças e adolescentes, ou o trabalho artístico teria especificidades que o torna uma experiência desejável e válida na infância e na adolescência? O caminho desta análise deve passar, necessariamente, pela verificação das características do trabalho do artista

2.5 A PROFISSÃO DE ARTISTA