A ocorrência de uma descompressão omitida pode ser planejada ou não. Uma descompressão omitida planejada ocorre quando as condições reinantes se desenvolvem de maneira tal que seja imprescindível trazer o mergulhador à superfície antes que este complete sua descompressão, como por exemplo: mau funcionamento de equipamentos vitais, acidente com o mergulhador e mudança repentina nas condições climáticas. Neste caso todas as opções disponíveis devem ser consideradas, principalmente a existência de uma câmara de recompressão na área pronta para ser utilizada. Todo o pessoal envolvido deve ser alertado sobre a evolução do planejamento e deve estar pronto para agir de forma rápida e precisa. Em uma descompressão omitida não planejada, o mergulhador aparece repentinamente na superfície ou uma parada para descompressão não é cumprida pela ocorrência de algum imprevisto.
Em ambos os casos, as Tabelas de Descompressão na Superfície podem ser empregadas de modo a retirar o mergulhador da água, desde que o tempo máximo na superfície seja respeitado (intervalo na superfície) e, consultando a nova tabela a ser utilizada, não hajam paradas para descompressão na água ou, caso hajam, estas tenham sido cumpridas. Caso os prérequisitos acima não sejam cumpridos, uma tabela de
descompressão na superfície não poderá ser utilizada e a descompressão do mergulhador estará comprometida com risco de apresentar Doença Descompressiva (DD). Nesta eventualidade o mergulhador deverá ser recomprimido o mais rápido possível. Cuidados especiais deverão ser tomados a fim de detectar sinais de DD. Havendo disponibilidade de câmara e na ausência de sinais ou sintomas de DD ou ETA, deverão ser empregadas as Tabelas de Tratamento 5, 6, 1A ou 2A (Capítulo 6). Exemplo: Em um mergulho cujo esquema de descompressão era 120 pés/40 min, estava previsto o uso da TPD. Duas paradas para descompressão eram exigidas, uma aos 20 pés por 5 min e outra aos 10 pés por 25 min. Houve um problema no guincho e o sino aberto com os mergulhadores foi trazido diretamente para a superfície. Solução: Se observarmos a TDSO, não é prevista nenhuma parada na água para este esquema de descompressão, logo, se tivermos câmara de recompressão disponível e o intervalo na superfície for inferior a 3 min e 30 s, esta tabela deverá ser utilizada.
Caso o mergulhador desenvolva sintomas de Doença Descompressiva durante o intervalo na superfície este deverá ser tratado de acordo com os procedimentos previstos nas Tabelas de Tratamento (Capítulo 6).
5.15.1 Profundidade de descompressão omitida igual ou menor que 20 pés
Não existindo uma câmara de recompressão na área, devem ser cumpridos os seguintes procedimentos:
Caso o MG sintase bem e possa retornar à profundidade da parada omitida dentro de 1 minuto, ele poderá realizar as paradas para descompressão normalmente, aumentando em 1 minuto o tempo de permanência na parada omitida. Se o intervalo de superfície exceder 1 minuto e o MG permanecer assintomático, este deverá retornar para a profundidade a qual omitiu a parada e nela permanecer pelo tempo previsto na TPD, multiplicado por 1,5. Se a parada omitida for aos 20 pés e também houver parada aos 10 pés, este procedimento será repetido (multiplicar o tempo de permanência aos 10 pés por 1,5). Após a chegada à superfície, o mergulhador deverá ficar em observação por 1 hora.
em câmara, de acordo com as tabelas e procedimentos previstos nas Tabelas de Tratamento (Capítulo 6). 5.16 MERGULHO EM ALTITUDE Devido à redução na pressão atmosférica, mergulhos conduzidos em altitude requerem mais descompressão que um mergulho similar realizado ao nível do mar. Desta forma, as tabelas de descompressão não podem ser utilizadas diretamente. Existem tabelas de descompressão especialmente desenvolvidas para cada altitude. Uma outra solução para o problema é utilizar um fator de correção para os mergulhos em altitude de modo a encontrarmos a descompressão requerida utilizando as tabelas padrão descritas neste capítulo. Este procedimento, comumente conhecido como “Cross Correction” (Correção Cruzada) sempre fornece uma profundidade corrigida maior que a profundidade real do mergulho. Esta profundidade corrigida provê uma descompressão extra, necessária para eliminar os efeitos da altitude no mergulho.
Para utilização da “Correção Cruzada”, temos que observar dois fatores: primeiro, a profundidade real do mergulho deve ser corrigida para que possamos determinar a “Profundidade Equivalente” do mergulho; segundo, as profundidades das paradas para descompressão também devem ser corrigidas para uso em altitude. A velocidade de subida também deveria ser corrigida, contudo, se a “Correção Cruzada” for aplicada corretamente, esta terceira correção poder ser ignorada com segurança.
Prof. (pés) Altitude Profundidades Equivalentes Prof. da Parada p/ Descomp.
5.16.1 Procedimentos para Obtenção da Profundidade Equivalente
A profundidade equivalente do mergulho é obtida através da multiplicação da profundidade real pela proporção entre pressão atmosférica ao nível do mar e a pressão atmosférica na altitude (na área do mergulho). Neste caso, devemos sempre usar milibares (mb) para expressar as pressões atmosféricas. Prof. Equivalente (mb) Altitude na Pressão (mb) Mar do Nível ao Pressão x Real Prof. = Exemplo: A profundidade real de um mergulho é de 60 pés. O mergulho ocorreu a 5.000 pés de altitude. A pressão lida no local do mergulho foi de 843 milibares (0,832 ATA). Qual a profundidade equivalente deste mergulho? Solução: Pressão ao nível do mar = 1013 mb (1 ATA) Prof. Equivalente mb 843 mb 1013 x pés 0 6 = = 72,1 pés 5.16.2 Correção para as Paradas para Descompressão na água
As correções para as paradas para descompressão em mergulhos em altitude são encontradas através da multiplicação da profundidade da parada tabelada pela proporção entre pressão na altitude e a pressão atmosférica ao nível do mar (note que está proporção é a inversa da utilizada para se obter a profundidade equivalente). Prof. Descomp. em Altitude (mb) Mar do Nível ao Pressão (mb) Altitude na Pressão x Tabelada Prof. = Exemplo:
No mergulho anterior, usando a profundidade equivalente, verificouse a necessidade de uma parada para descompressão aos 20 pés (profundidade tabelada). Qual a profundidade corrigida na qual esta parada deve ocorrer? Solução: Pressão ao nível do mar = 1013 mb (1 ATA) Prof. Descomp. em Altitude mb 1013 mb 843 x pés 0 2 = = 16,6 pés Para simplificar os cálculos, a Tabela 52 fornece as profundidades equivalentes e as paradas para descompressão em altitude corrigidas para mergulhos entre 10 e 190 pés (3 e 57 m) e altitudes que variam de 1.000 a 10.000 pés, com incrementos de
Nenhuma correção é necessária em mergulhos realizados entre as altitudes do nível do mar e 300 pés. Em altitudes entre 300 e 1.000 pés só será necessário realizar as correções caso a profundidade real do mergulho seja igual ou superior a 145 pés (43,5 m). Como estas altitudes não estão tabeladas, as correções deverão ser feitas através do uso das fórmulas descritas. Acima dos 1.000 pés de altitude, todos os mergulhos deverão sofrer correção.
5.16.3 Medida da Profundidade em Altitude
Para se medir a profundidade em mergulhos em altitude devem ser utilizados preferencialmente equipamentos que possam ser “zerados” no início do mergulho. Uma vez “zerados”, nenhuma correção precisa ser inserida nas leituras efetuadas. Quando for utilizada uma câmara de recompressão, seus manômetros deverão ser “zerados” antes de se realizar uma descompressão na superfície. Muitos manômetros utilizados por mergulhadores são selados e têm como referência a pressão de uma atmosfera, não podendo ser reajustados com a altitude. Para estes manômetros devese somar 1 pé ao valor lido para cada 1.000 pés de altitude da área do mergulho. Esta correção deverá ser feita antes de entrar na Tabela 5.2 ou realizar cálculos matemáticos. Os fatores de correções para pneufatômetros não mudam com a altitude; logo, estes equipamentos podem ser utilizados em altitude somandose à leitura apenas as correções listadas na Tabela 51. Altitude (pés) Grupo de Repetição 1.000 A 2.000 B 3.000 B 4.000 C 5.000 D 6.000 E 7.000 E 8.000 G 9.000 G Tabela 53 Grupos de Repetição associados a mergulhos em altitude
5.16.4 Equalização do N2 em Altitude
Uma vez aumentando a altitude duas coisas acontecem ao organismo devido à menor da pressão atmosférica local: o excesso de nitrogênio começa a ser eliminado até entrar em equilíbrio com o existente no ambiente e uma série de complicados ajustamentos se inicia de modo a compensar a baixa pressão parcial do oxigênio. O primeiro processo, chamado equilibração, necessita de 12 horas na altitude para se completar. O segundo, chamado aclimatização (ou aclimatação), necessita de um período bem mais longo.
Caso o mergulho seja realizado dentro de um período inferior a 12 horas da chegada do mergulhador à altitude, o nitrogênio residual trazido do nível do mar e ainda existente no organismo deverá ser levado em conta. De fato, o mergulho inicial em altitude ocorrido num período inferior a 12 horas da chegada à altitude deve ser considerado como um mergulho de repetição (ou sucessivo), sendo o primeiro mergulho iniciado com a ascensão do mergulhador ao nível do mar até a altitude em que realizará o trabalho. A Tabela 53 fornece os grupos de repetição associados a esta ascensão inicial. Com este GR e usando o tempo em que o mergulhador encontrase na altitude como intervalo de superfície (IS), poderemos entrar na TTNR e encontrar o novo grupo de repetição (NGR), que combinado com a profundidade equivalente planejada do mergulho (Tabela 52) nos fornecerá o tempo de nitrogênio residual (TNR) associado ao mergulho.
Exemplo:
Um mergulhador foi rapidamente transferido por um helicóptero para a área de mergulho situada a 6.000 pés. O mergulho foi planejado para 100 pés de profundidade e teve início 90 minutos após a chegada do mergulhador. Quanto tempo de nitrogênio residual deverá ser somando ao tempo de fundo do mergulho? Solução:
Na Tabela 53 verificamos que o GR para 6.000 pés é “E”. A partir deste GR, entramos na TTNR e com um intervalo de superfície de 90 minutos obtemos o NGR: “D”. O mergulho tem uma profundidade planejada de 100 pés. Na Tabela 52 achamos a profundidade equivalente planejada de 130 pés. Com esta profundidade equivalente e o NGR, conseguimos o TNR a ser somado que é de 11 minutos.
A Tabela 53 também pode ser utilizada quando o mergulhador ascende de uma área elevada para outra de maior altitude. Neste caso, o argumento de entrada é a diferença entre as altitudes dos dois locais. Exemplo: Mergulhadores já equilibrados em uma área de 6.000 pés de altitude são transferidos para realizarem um mergulho a 10.000 pés. A diferença entre as altitudes é de 4.000 pés, logo o GR a ser utilizado por estes mergulhadores a 10.000 pés é “C”. 5.17 VÔO APÓS O MERGULHO Um aumento de altitude após um mergulho acarreta um aumento no risco de ocorrência de Doença Descompressiva devido à redução da pressão atmosférica. Quanto maior a variação de altitude maior será este risco.
A Tabela 54 fornece o intervalo de superfície (horas:minutos) que precisa ser aguardado antes de se realizar uma ascensão em altitude. Este intervalo depende do valor da altitude final que será alcançada após o mergulho e do maior grupo de
Grupo de Repetição
Tabela 54
Tabela de intervalos de superfície para vôos pósmergulho
de aeronave, o valor padrão desta pressão equivale a 8.000 pés de altitude. Desta forma, para vôos comerciais devemos utilizar este valor como altitude final para verificar o intervalo de superfície necessário a ser aguardado antes de se realizar um vôo.
Em companhias aéreas que utilizam aeronaves de pequeno porte ou com cabines não pressurizadas, devese realizar um contato prévio a fim de verificar a altitude final do vôo ou a altitude equivalente à pressão na cabine.
Caso o mergulho se realize em uma altitude igual ou superior a 8.000 pés não será necessário aguardar nenhum período para realizar vôos em aviões comerciais, pois, neste caso, a cabine pressurizada levará a manutenção ou mesmo um aumento de pressão em relação à área do mergulho.
Como não existem GR associados a mergulhos com descompressão na superfície, para estes mergulhos devese entrar na TPD com a profundidade equivalente e o tempo total do mergulho para se obter o GR a ser usado como argumento de entrada na tabela 5.4. Após um mergulho héliooxigênio sem saturação, devese aguardar 12 horas antes de realizar uma viagem com aumento de altitude. Caso o mergulho seja com saturação, devese aguardar 24 horas.
Exemplo:
Um mergulhador realizou um mergulho 60 pés/60 min. A área do mergulho era ao nível do mar e o GR obtido foi “J”. Após um intervalo de superfície de 6h e 12min, ele realizou um segundo mergulho (30 pés/20 min) recebendo o GR “C”. O mergulhador pretende retornar para casa em um vôo comercial. Qual o intervalo de superfície que deve ser aguardado antes do vôo?
Solução:
A ascensão pretendida pelo mergulhador é de 8.000 pés. Foram realizados dois mergulhos nas 24 horas que antecedem o vôo. O maior GR dos dois mergulhos foi “J”. Entrando na Tabela 54 com estes dados (GR “J” e 8.000 pés), obtemos o tempo que deverá ser aguardado que é de 17h e 35 min.
Exemplo:
Após completar um mergulho em uma região de 4.000 pés de altitude, um mergulhador planeja realizar uma viagem que passará por uma serra de altitude máxima de 7.500 pés. O GR do mergulho realizado foi “G”. Qual o intervalo de superfície que deve ser aguardado antes da viagem?
Solução:
O aumento de altitude previsto será de 3.500 pés (7.500 pés – 4.000 pés). Os dados de entrada na tabela serão: 4.000 pés (altitude próxima maior) e GR “G”. O intervalo de superfície que deve ser aguardado é de 1h e 23 min.
Exemplo:
Após completar um mergulho em uma região de 2.000 pés de altitude, um mergulhador retorna para casa em uma aeronave não pressurizada. O teto do vôo é de 5.000 pés. O GR do mergulho realizado foi “K”. Qual o intervalo de superfície que deve ser aguardado antes da viagem?
Solução:
O aumento de altitude previsto será de 3.000 pés (5.000 pés – 2.000 pés). Os dados de entrada na tabela serão: 3.000 pés e GR “K”. O intervalo de superfície que deve ser aguardado antes do vôo é de 6h e 25 min.