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Capítulo 5: As questões metodológicas

5.5. Descrição do processo de análise e tratamento de dados

Num primeiro momento do trabalho de análise e de tratamento dos dados, privilegiámos uma análise de conteúdo orientada para identificação dos temas abordados.

O processo de revisão de literatura que tínhamos realizado no âmbito da metodologia, e concretamente no âmbito da análise e tratamento de dados, havia-nos conduzido até Miles e Huberman (1994). Na obra que dedicaram à análise de dados qualitativos, estes autores dividem o processo de análise e tratamento de dados em três momentos, aos quais fazem corresponder três atividades a desenvolver pelo investigador. Confrontado com os dados recolhidos, o primeiro momento deve ser dedicado à sua redução, simplificação e transformação, tendo como referência o problema e as questões de investigação. Num segundo momento o investigador deve organizar a informação selecionada e comprimi-la, isto é, fazer com que adote uma forma que, visualmente, permita encontrar os sentidos escondidos por detrás dos dados. Para este efeito, e segundo aqueles autores, o investigador pode construir instrumentos sob a forma de gráficos, de matrizes ou de redes que permitam representar os dados selecionados na fase anterior. No terceiro momento o investigador partindo dos dados selecionados e configurados procede à sua interpretação.

Começámos por proceder a uma primeira leitura ativa das transcrições das entrevistas, das atas e das grelhas de observação. Por leitura ativa entendemos uma leitura empenhada em proceder a uma primeira seleção dos dados e dividimo-la em dois momentos. Num primeiro momento assinalámos as temáticas, as frases/passagens

tivemos em conta as questões que constavam do guião da entrevista que nos foram dando uma orientação inicial. Contudo, estivemos disponíveis para o surgimento de ‘temas inesperados’. Num segundo momento da leitura ativa, procedemos a anotações laterais. Estas anotações incluíram impressões que emergiam de um processo de interpretação traduzido na atribuição de um sentido aos dados recolhidos16.

Do cruzamento da informação obtida a partir do quadro teórico apresentado e das fontes empíricas utilizadas, nomeadamente, as entrevistas semiestruturadas, a observação de reuniões e a análise documental (atas de reuniões do Conselho Geral) emergiram as categorias e subcategorias que apresentamos no quadro 16.

Quadro 16: Categorias, subcategorias e fontes mobilizadas para a análise de dados

Categorias de análise de

dados Subcategorias

Fontes mobilizadas para a análise dos

dados A. Visão do processo de constituição 1. O processo de chegada 2. A composição 3. Avaliação - Entrevistas B. Visão do processo de concretização das competências na atuação

1. O processo de preparação da reunião 2. O conhecimento das competências 3. O processo de concretização 4. Avaliação

- Entrevistas - Atas - Observação C. Visão das lógicas de ação

1. Perceção de si 2. Perceção dos outros

3. Perceção da interação com o outro 4. Avaliação

- Entrevistas - Observação

D. Visão sobre o Conselho Geral como órgão de direção estratégica

1. O Conselho Geral como um órgão de participação

2. O Conselho Geral como um órgão de acompanhamento

3. O Conselho Geral como um órgão de definição de estratégias 4. Avaliação - Entrevistas - Atas - Observação E. Visão dos constrangimentos à atuação do Conselho Geral

1. Perceção de relações de poder e de influência

2. Avaliação

- Entrevistas - Observação

Procurando colocar em evidência a perspetiva que estruturou a realização deste trabalho, escolhemos o termo “visão” como termo aglutinador. Com efeito, lembramos que o nosso propósito é o de perceber a imagem que cada um dos membros do Conselho Geral tem deste órgão ao qual pertence. Trata-se, e como tivemos já a

16 Para a concretização deste trabalho criámos um instrumento de análise de dados ao qual demos o nome de ‘Leitura

ativa da Entrevista’. Constituído por três colunas: a coluna do lado direito contém os objetivos da investigação que foram assumidos, por nós, como categorias; a segunda coluna dá conta dos temas que foram emergindo a partir da análise do conteúdo das entrevistas e que designámos de subcategorias; na última coluna surge a transcrição dos excertos que foram selecionados porquanto eram reveladores de sentido. Para cada uma das entrevistas construímos um documento próprio.

oportunidade de referir, de apresentar um olhar a partir de dentro do próprio órgão e que é o resultado da soma do olhar de cada um dos elementos que o integram. O termo “visão”, que utilizamos, vai ao encontro desta intencionalidade ao mesmo tempo que funcionou como uma lente de leitura e de interpretação que nos permitiu imprimir sentido aos dados recolhidos. Nesta sequência os olhares que fomos encontrando puderam ser organizados em função de uma pluralidade de “visões”, cada uma resultante da soma de olhares: “visão” do processo de constituição do Conselho Geral; “visão” do processo de concretização das competências do Conselho Geral ao nível da atuação; “visão” das lógicas de ação; “visão” do Conselho Geral como órgão de direção estratégica; “visão” dos constrangimentos colocados à ação do Conselho Geral.

O quadro 16 permite perceber que cada uma das categorias de análise se explicita num conjunto de subcategorias também elas resultado de um processo de leitura ativa das fontes mobilizadas. A nomeação que utilizamos para cada uma é um testemunho do processo que esteve subjacente à sua construção. Ao invés de partirmos de um conjunto de conceitos pré-existentes, decidimos que os dados recolhidos “falassem”, para depois os nomearmos, deixando-nos guiar, mais uma vez, pelo propósito do nosso trabalho. Este modo de operar permitiu-nos chegar a um conjunto de subcategorias que, como podemos ver pela análise do quadro 16, assumem um caráter simultaneamente descritivo e explicativo, mais do que um caráter classificativo.

Seguiu-se um trabalho de análise transversal que foi orientado pela intenção de encontrar uma resposta às questões que motivaram o nosso estudo. Este trabalho de análise seguiu uma metodologia de comparação de casos individuais (Bogdan & Biklen, 1999) pelo qual procuramos encontrar pontos em comum e pontos divergentes.

Quanto à observação, como tivemos a oportunidade de referir, observámos duas reuniões do Conselho Geral em cada um dos agrupamentos que integraram o nosso estudo. Das reuniões observadas elaborámos grelhas de observação que, depois de preenchidas, integram este documento. O mesmo procedimento foi seguido com a análise documental. Analisámos um total de nove atas de reuniões do Conselho Geral nos dois Agrupamentos. Conscientes de que existe um processo subjetivo que é inerente ao trabalho de análise e de interpretação, optámos pela apresentação das grelhas que utilizámos, já preenchidas. Assim, apresentámos todos os dados de modo a que qualquer leitor possa acompanhar o processo de análise e discussão de dados que fizemos.