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4. Cor e Processo Produtivo em Televisão

4.1. DESCRIÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO DE FICÇÃO

O enfoque deste nosso trabalho está na fase de pós-produção, mais propriamente no Tratamento de Cor de conteúdos para televisão, no entanto, não quisemos deixar de fora a descrição, mesmo que sucinta, dos processos anteriores e que pertencem à fase executiva de uma produção televisiva.

Uma boa ideia é meio caminho andado para um bom argumento. As ideias para programas, séries e filmes vêm normalmente do quotidiano e daí é desenvolvido todo um enredo que dá origem a toda a história.

O autor, quando apresenta a sua ideia e a desenvolve, tem já na sua cabeça um determinado número de pressupostos que regem toda a história, a época, os locais, a estação do ano, tudo isto de forma a caracterizar devidamente o filme.

Quando a ideia do filme é passada à escrita, desenvolve-se um guião, de acordo com o autor, que segue a ideia inicial e onde são dadas algumas indicações sobre estado de espírito das pessoas, cores de indumentárias, locais das cenas, tudo de uma forma muito descritiva para que quem leia não tenha dúvidas na visualização espacial da cena.

“A necessidade de ouvir e de contar histórias é essencial para o Homo Sapiens, sendo precedida pela necessidade de nutrição e sucedida pelo amor e pelo abrigo.” (Price, 1989).

O produtor e o realizador, depois de ler e aprovarem o guião, passam à fase de adaptação do mesmo e caso necessário, à execução de um story-board32, de forma a

dar início ao processo do contar da história.

Nesta fase é determinado qual o tipo de tratamento visual a dar à narrativa e que tipo de ambiência terá de ser reproduzida, isto de forma a se poder contar por imagens o que está escrito por palavras no guião.

4.1.1. A Pré-Produção

A fase de pré-produção é, das três fases do desenvolvimento do processo produtivo, a que normalmente mais tempo tem dedicado, por toda a preparação necessária para o decorrer do filme.

Esta fase é normalmente composta pela Estrutura de Desmembramento do Trabalho, Orçamentação, Casting33, Desglose34, Repérage35, Contratação da

Equipa e Plano de Trabalho.

É na Desglose que se inicia o processo de detalhe das necessidades para o cumprimento do guião, sequência por sequência, do ponto de vista artístico, material e técnico. Este processo permite determinar os elementos necessários para a rodagem e assim elaborar o Plano de Trabalho.

Estas necessidades serão depois validadas na Repérage que, com os elementos provenientes da Desglose, permitem à equipa de produção e à equipa técnica o aferir do conteúdo dos cenários reais ou construídos a utilizar na rodagem.

32 Story-board - Desenho esquemático do desenrolar da acção de um conteúdo que permite aos intervenientes na

produção ter uma visão global da ideia do realizador. Normalmente o story-board é efectuado por desenhadores de animação, dispondo a acção do filme em quadrículas, como se de banda desenhada se tratasse.

33 Casting - Processo de escolha e selecção de actores e figurantes.

34 Desglose - Detalhe das necessidades para cumprir o guião, do ponto de vista técnico, artístico, de equipamento e

de recursos humanos, efectuando a descrição sequencialmente por cenas. Permite desta forma determinar tudo o que é necessário para a rodagem e assim poder elaborar o plano de trabalho.

É aqui que se define todo o início de caracterização luminotécnica que dará o sentido ao filme na vertente cromática que foi idealizada pelo realizador e que a câmara terá que captar.

Todo este processo na Repérage é acompanhado pelo responsável de pós- produção, pois este pode antever, pela observação dos décors, possíveis problemas que poderão dificultar o trabalho final de edição, composição e de correcção cromática.

Partindo da escola do cinema, que foi de onde a televisão evoluiu em termos de produção, os diversos profissionais sempre se preocuparam bastante com o “set”, no inglês, ou “décor”, no francês. Era assim que o cinema americano e o cinema europeu denominava os cenários, naturais ou artificiais, que iriam dar vida às cenas dos filmes em rodagem.

4.1.2. A Produção

A fase de Produção/Rodagem é normalmente uma fase curta, comparada com as duas restantes. Aqui já está tudo pensado e apenas tem que ser executado de forma a se obter o produto em bruto.

O tratamento dos locais de captação tem que ser cuidadosamente preparado para respeitar a ideia base do realizador e no que respeita à imagem, para cumprir a ambiência definida no guião, que irá ser implementada no terreno pela equipa de iluminação.

O coordenador técnico acompanha o início da rodagem para verificar e validar a correcta afinação cromática das câmaras em função dos pontos de vista a captar e em conjunto com o director de fotografia acertar os detalhes relativos à luz de cena.

4.1.3. A Pós-Produção

A fase de Pós-Produção é normalmente a mais longa de todo o processo produtivo. Esta fase inicia-se com as actividades de Ingest36 de todo o material

bruto produzido, passando-se depois à Pós-Produção desse mesmo material.

36 Ingest - Captura de vídeo, a partir de suportes de fita ou de dados, com o auxílio de placas dedicadas e de

software específico, para unidades de armazenamento de alto débito, ficando disponível imediatamente para os sistemas de edição.

Passa-se assim pelos estágios de Pós-Produção Vídeo, Pós-Produção Áudio e pelo Grafismo para se obter o produto final editado. Estas duas últimas actividades ocorrem normalmente em simultâneo, pois como já existe a montagem final de vídeo, o Áudio e o Info-Grafismo trabalham sobre cópias finais do projecto.

Antes de se obter a edição final completa, a montagem vídeo passa pela área de color grading, onde permanecerá bastante tempo antes de o trabalho ser dado como pronto.

No caso da observação efectuada, como a série que estava ser rodada na altura era um conteúdo de época, todo o tratamento de imagem aplicado foi mais moroso, e porque havia tempo para tal, foi possível optimizar os looks e o cuidado posto na sua execução. Também pelo motivo de existir mais tempo para se poder tratar o conteúdo, toda a fase de correcção secundária de cor também foi beneficiada, pois foi possível gastar mais tempo nos ajustes finos em Color

Grading e em efeitos visuais.

Todo o trabalho de montagem é verificado plano a plano e os estes são corrigidos e alterados, aplicando-se aqui o tratamento final de cor de forma a se cumpra o tipo de “look”37 (ver 4.2.4. Look) e a ambiência definida pelo realizador

no início do desenvolvimento do trabalho.

A montagem vídeo ficará completa após este processo de correcção de cor estar finalizado, sendo depois adicionado o master final de áudio proveniente da edição de som.

Assim a versão final do filme estará completa, restando apenas efectuar as cópias de segurança e a versão de exibição para ser entregue ao cliente.

37 Look - termo originário do cinema “film look” que em color grading se refere ao cunho criativo do colorista, que dá

à imagem uma aparência diferente da ambiência em que foi captada. Podemos querer que a cena a tratar seja mais luminosa, mais quente, ou até mais fria, tudo dependendo da ambiência que queremos criar.

Fig. 4.1 Diagrama do processo produtivo de ficção televisiva