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3.2. TEMPOS MODERNOS

3.3.8. Limitações da Universalidade dos Nomes das Cores

A tribo Himba, do norte da Namíbia, tem muito pouco contacto com a civilização, vivendo no seu habitat desde sempre e mantendo as tradições ancestrais que são transmitidas de pais para filhos.

Este povo atribui ao céu a cor preto e diz que a água é branca, mais ainda, para eles a cor azul e verde têm um único nome.

Como possuem menos palavras que nós ocidentais para nomear as cores base do espectro luminoso, parece que a sua percepção do que os rodeia será distinta da nossa. Têm grande dificuldade em distinguir algumas cores que para nós são perceptivelmente diferentes, pelo que poderemos dizer que os Himba vêm o mundo de uma forma um pouco diferente da nossa.

Poderá fazer alguma diferença para esse povo ter menos palavras para definir as cores do que os povos ocidentais? E será que isso os fará percepcionar as cores de forma diferente?

As respostas a estas questões e a outras que não equacionámos aqui, despoletaram o interesse dos investigadores pelo assunto, pelo que se efectuaram estudos com esta população, no sentido de aferir as diferenças entre a linguagem de cor Himba, que apenas possui cinco palavras para definir as cores, contra as onze palavras que se aferiu em outros estudos tais como o de Brent Berlin e Paul Kay (1969) e que definem as categorias de cor para o mundo ocidental.

O estudo com os Himba foi baseado em testes visuais directos e de comparação e todos eles foram documentados em suporte áudio e vídeo, vídeo este que suscitou diversas reacções inesperadas entre os entrevistados, chegando

21 Sinestesia - Termo que caracteriza a experiência sensorial de certos indivíduos nos quais sensações

correspondentes a certo sentido são associadas às de outro sentido (Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora).

mesmo à histeria quando estes se viam nas imagens captadas. Esta reacção afere o quanto este povo Himba está afastado da civilização ocidental.

Um dos testes aplicados no estudo mostra de forma inequívoca que a cor visualizada é inferida por comparação e que pela falta de palavra ou palavras que definam a cor ou cores em questão, é aplicado pelo observador o mesmo termo à percepção visual obtida.

O teste é composto de 24 quadrados dispostos em dois círculos de 12, onde cada um dos círculos possui um matiz distinto do outro. Desses doze quadrados de cada círculo, onze são exactamente iguais em cor e apenas um quadrado tem diferença na sua composição cromática, sendo esta bastante próxima dos restantes quadrados que compõem o círculo.

Fig. 3.20 Círculos de teste de percepção de cor

O que acontece quando o teste é dado a observar aos entrevistados, nós, os ocidentais, conseguimos distinguir o quadrado de cor diferente no círculo da direita na figura anterior, mas no círculo da esquerda, todos os quadrados nos parecem de cor igual. Mas na realidade não são. Os Himba conseguem ver a existência de um quadrado verde diferente de entre todos os quadrados do círculo da esquerda, mas não conseguem distinguir diferença alguma na cor dos quadrados do círculo da direita.

Esta diferença na percepção das cores no teste tem a ver com a conclusão a que os investigadores chegaram (Berlin e Kay, 1969), em que as linguagem mais simples e menos elaboradas tinham menos nomes para atribuir às cores e as

linguagens mais elaboradas e complexas tinham mais nomes para atribuir à cores visualizadas.

Estas linguagens mais complexas que foram estudadas e onde se incluem as linguagens do mundo ocidental e neste caso a língua inglesa, que é a língua mãe em que este estudo foi efectuado (Berlin e Kay, 1969). Os entrevistados em todas estas linguagens complexas atribuíram consistentemente os mesmos nomes às cores utilizadas nas paletas de teste. Assim, os nomes atribuídos foram: primeiro o preto e o branco (ou escuro e claro) e o cinzento, depois o vermelho, seguido pelo amarelo e pelo verde, depois o azul, o castanho, o laranja, o púrpura e terminando no rosa (Berlin e Kay, 1969).

Fig. 3.21 Distribuição das cores básicas percepcionadas pelos ocidentais

No caso dos Himba, a sua linguagem, desprovida de escrita e pouco complexa, possui apenas de cinco termos para nomear os grupos de cores visíveis, atribuindo os termos Serandu, Dumbu, Zoozu, Vapa e Burou, respectivamente às cores que no ocidente nomeamos de Vermelho, Amarelo, Preto, Branco e Azul (Roberson et al., 2005).

Evidências existem que nos dizem que a maioria das pessoas vê a mesma coisa quando visualiza o vermelho, pelo que usualmente se aceita que um objecto tem a cor vermelho, não por ter sido medido através de técnicas científicas, mas sim através da linguagem e experiência comuns (Holtzschue, 2011).

As folhagem das árvores é identificada em cada linguagem usualmente pela cor verde e não por outra cor. É comum existir algumas divergências relativas ao nome das mesmas cores, especialmente nas que se encontram na fronteira de outras cores ou muito próximas destas em tonalidade. No entanto, o que acontece de facto, são apenas algumas diferenças semânticas no nomear do tom de uma determinada cor, mas não no nome da cor pura em si.

Ninguém consegue saber exactamente o que uma outra pessoa vê, pelo que não sabemos qual é a ideia exacta da observação da cor vista por essa pessoa. Cada um de nós tem a sua ideia de uma cor e do significado que lhe atribui. É uma experiência estritamente pessoal.

“Se uma pessoa diz que algo é vermelho e estão outras 50 pessoas a escutar, é expectável que existam 50 diferentes tipos de vermelho nos seus cérebros, pelo que podemos ter a certeza que estes vermelhos serão todos muito diferentes.” (Albers, 1975).