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4.6 Processo de coleta de dados

4.6.3 Descrição dos casos

Professora de ensino superior havia 18 anos, sendo 16 anos na Uni- versidade A, ser professora para o caso privada foi primeiro uma oportunidade, não uma escolha, e essa oportunidade não se deu no ensino superior. Formada em enfermagem por uma universidade pública da região, seu primeiro objetivo de trabalho era a assistência em enfermagem. Todavia, essa oportunidade não veio tão cedo e dar aulas em cursos técnicos, de atualização e mesmo em cursos de ensino médio e preparação para o vestibular foram seus primeiros

passos na docência.

Considerava-se muito apaixonada pela profissão e que ser enfermeira é uma vocação. Atribuía tudo que possuía à profissão e que parte disso também estava relacionada ao fato de ser muito objetiva profissionalmente e de saber o quer. Considerava-se uma pessoa persistente e para ela isso era um diferencial. Apesar de o desejo de ser professora não ser algo que a acompanhava como perspectiva de carreira, foram estas primeiras oportunidades que afloraram o ‘gosto’ pelo ensino, algo que via também como um dom.

Uma vez contou que sempre gostou de ensinar, de falar, de orientar as pessoas e que isso lhe trouxe facilidade no exercício da docência. Outro fato que a fez optar pela carreira na docência, uma carreira paralela à sua vida profissional como enfermeira assistencial, visto ter sido aprovada em um concurso para enfermeira na Secretaria do Estado da Saúde, onde atuava havia 29 anos, foi a percepção de que a formação dos enfermeiros estava ruim e ficando pior e que ela poderia ajudar a formar melhores profissionais para o mercado, fazer algo a respeito.

Sobre seu ingresso na docência de ensino superior, mobilizada pela compreensão de que poderia fazer a diferença na formação de futuros enfer- meiros, ingressa como professora substituta da Universidade B sendo esta sua primeira experiência como professora de ensino superior. Adiante, quando sabe da abertura do curso de enfermagem na unidade X da Universidade A, se mobiliza para entregar seu currículo e prontificar-se a compor o time de professores da nova escola. Em seus primeiros anos de docência no ensino superior já começa a sentir a necessidade de maior formação.

Como substituta na Universidade B cursou especialização, buscando acesso a uma formação que pudesse ajudá-la na docência, e mais adiante busca a formação no mestrado, esta relacionada com sua área de atuação assistencial. Por sua vivência em universidade pública, acumula uma crítica à formação dos professores da Universidade B, que em sua visão não possuem experiência assistencial, algo que considera cabal à prática do professor, bem como o entendimento de que produzem para si mesmos, o que produzem não tem impacto no mundo assistencial.

Durante nossas entrevistas falou bastante do curso da Universidade A em seus ‘tempos de glória’, de que tinha os melhores enfermeiros da região como professores e que a formação para a prática profissional era um grande diferencial do curso. No curso, na maior parte do tempo ministrou disciplinas profissionais básicas, relacionadas aos fundamentos de enfermagem, semiolo- gia e semiotécnica, nomes que foram mudando conforme mudava também o currículo. Com exceção das disciplinas da área de saúde coletiva e de saúde da mulher, nesses anos de curso passou por um conjunto grande de disciplinas, particularmente nos últimos anos, tempos de crise do curso em que permane- ceu sem o ingresso de novas turmas e em que, portanto, ministrou um conjunto grande de disciplinas.

Para exemplificar a dinâmica do trabalho de um professor horista em uma universidade privada, quando da inserção no campo e primeiro contato com a professora no mês de abril de 2014, ela ministraria a disciplina de Pro- cedimento Básicos de Enfermagem, novo nome da disciplina de fundamentos no currículo atual. Contudo, quando do preparo para a Fase 02 do estudo, a professora informou que não ministraria mais esta disciplina e sim a disciplina de Suporte Básico de Vida, que foi efetivamente observada.

Na época da coleta de dados, no semestre de inserção no campo, 2014/I e no semestre seguinte, 2014/2, atuava como docente não apenas da Universidade A, mas também como docente de estágio em outra faculdade da região, também no período noturno, em dias alternados com suas aulas na Uni- versidade A. Em 2014/I estava também no seu primeiro semestre ministrando aulas para o curso de Odontologia e em 2014/2 iniciava disciplina no curso de Cosmetologia.

4.6.3.2 Caso pública

O caso pública tinha bastante orgulho da sua trajetória de formação e me contou na primeira entrevista que sempre quis ser professora. Para a professora era uma realização muito grande acompanhar o desenvolvimento dos estudantes, sendo a docência sua identidade mais forte. No início não pensou em ser necessariamente professora de enfermagem, cogitou, inclusive,

a educação física, por conta de sua paixão por esportes. ‘Professora de qualquer coisa’, me disse na primeira entrevista, sinalizando que foi uma vontade, um sentimento de identificação que delineou suas escolhas de formação e trabalho. Com o andamento dos estudos no ensino superior cursado em uma faculdade privada da Região Sul do Brasil, surgiu o desejo não apenas de ser professora, mas de buscar por formação nos cursos de mestrado e doutorado. Com 32 anos de docência, sua primeira oportunidade profissional foi também sua primeira experiência docente. Recém-saída da graduação foi convidada para ingressar no time de professores de uma escola privada que estava abrindo na região. Aceitou a oportunidade e na escola ficou por dois anos e meio, passando pelas disciplinas de clínica médico-cirúrgica e terapia intensiva, ocupando durante sua passagem também a função de coordenadora de curso. Como professora nessa universidade realizou seu curso de mestrado na Universidade B com licença, mas sem remuneração, e após concluí-lo não retorna. No ínterim entre licença e ingresso no mestrado prestou concurso para universidade estadual do estado vizinho, onde lecionou na disciplina de pediatria e novamente assumiu a coordenação de curso. Um tempo adiante abriu uma vaga na Universidade B e ela fez o concurso, retornando à universi- dade como professora. O curso de doutorado foi realizado na Universidade B, também, em um esforço de qualificação dos professores do departamento. Sua formação de mestrado e doutorado, vinculada à epidemiologia é distinta da sua área de atuação hoje.

Na Universidade B ingressou na pós-graduação e, mais para diante, após sua formação de doutorado, na pós-graduação, tendo sido orientadora de professores mais antigos da escola. Uma destas, em particular, influenciou sua mudança de área de investigação. Na Universidade B continuou a exercitar seu lado de liderança e assumiu um conjunto de funções administrativas na chefia de departamento, no curso de graduação e na pós-graduação. Atualmente tem atividades na graduação e pós-graduação, com maior destaque para a pós-graduação.