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4.6 Processo de coleta de dados

4.6.2 Seleção dos casos e participantes do estudo

Antes de tudo, o interesse por desenvolver o estudo junto a profes- sores de enfermagem se justifica por um interesse particular, uma vez que é a enfermagem minha profissão, mas não só. A enfermagem é profissão cuja força de trabalho é a mais expressiva no contexto da saúde. A escolha pelo professor de ensino superior se dá em virtude de que este professor forma enfermeiros responsáveis pela coordenação dos serviços de enfermagem e pela direção técnica da equipe de nível médio. Seu trabalho tem um impacto que reverbera.

Se entendermos que a Ação e Raciocínio Pedagógico delineiam esco- lhas de ensino e que estas escolhas podem impactar a qualidade de formação do enfermeiro, investigar os professores é relevante. Se entendermos tam-

bém que o contexto pode influenciar a Ação e Raciocínio Pedagógico do professor, investigá-los em relação pode apontar para reflexões importantes sobre o modelo de ensino superior brasileiro e a formação em enfermagem. Assim sendo, considerando a conexão com o objetivo e o referencial teórico do estudo, os casos são a Ação e Raciocínio Pedagógico de professoras de enfermagem de universidades pública e privada, entendidas como distintos contextos educacionais.

A definição dos critérios para identificação dos casos passou por várias possibilidades até a que efetivamente foi realizada. A primeira opção era destacar os casos por meio de eleição do melhor professor do curso junto aos estudantes concluintes do curso de enfermagem de cada instituição. Estes mesmos estudantes seriam entrevistados posteriormente. Este delineamento foi proposto por sinalizar quais são os aspectos valorados num determinado grupo, o que é particularmente interessante num cenário de mudanças educaci- onais como vivemos hoje. Todavia, tive dificuldades em acessar os estudantes concluintes, pois tinham poucos momentos juntos por conta do estágio curri- cular supervisionado e a eleição da forma inicialmente pensada não pôde ser realizada.

Frente a este empecilho e considerando que durante o desenvolvi- mento do trabalho, particularmente na banca de qualificação, discutiu-se este conceito e a ideia de trabalhar com o bom professor, pelo fato de que outras investigações e experiências apontam que o critério do estudante ao eleger um bom professor envolve mais aspectos afetivos do que a trajetória de formação ou a competência pedagógica, por exemplo, questões que, em se tratando de ação e raciocínio pedagógico, parecem ser mais relevantes, foi também foi algo que motivou a rumar por outro caminho a identificação do caso.

Sendo a ideia inicial impraticável no contexto, outra possibilidade ventilada foi fazer um levantamento dos nomes de professores destacados pelos estudantes como paraninfos, nomes de turma, professor homenageado, e destacar o mais presente como caso de estudo. Todavia, submetida esta ideia ao escrutínio de suas potencialidades e fragilidades, observamos que ela poderia evidenciar também uma preferência de cunho mais pessoal, relacional,

e que isso poderia nos levar em uma direção que não nos interessava no estudo. Não é provável que as pessoas com que coincidamos casualmente sejam as melhores fontes de dados. Normalmente o melhor significa o que melhor ajude o pesquisador a compreender o caso (STAKE, p.57, 2007). Assim sendo, chegamos à proposta realizada, onde os casos foram indicados pelos coordenadores do curso de enfermagem com base no critério de ter uma prática docente que melhor representasse a essência da proposta pedagógica manifesta no projeto pedagógico do curso.

Partindo do pressuposto de que o coordenador de curso tem uma visão de todos os docentes, assim como um conhecimento amplo da proposta pedagógica do curso, este possivelmente seria um bom indicador do caso. Essa escolha não significa que não reconheçamos que exista viés na escolha do coordenador, mas, ao estabelecer que o elemento de escolha era a coesão com a proposta do curso, fornecemos um critério mais claro, e poderíamos, inclu- sive, avaliar também através da confrontação dos dados com os documentos, diferentemente da escolha de grandes turmas de estudantes, com preferências distintas.

No que tange à seleção/identificação de casos, ainda que se considere que casos instrumentais podem oferecer alguns aportes, mais que isso,Stake (2007) é enfático ao apresentar que o pesquisador deve preocupar-se em compreender o caso em si. Tendo esta premissa em vista, para selecionar um caso,Stake(2007) apresenta alguns elementos. O primeiro é da máxima rentabilidade. Ou seja, que caso pode me ajudar mais a compreender o que eu desejo compreender?

O segundo é a disponibilidade do caso, pois o autor considera aqui fatores que estão presentes atualmente na maioria das investigações: tempo, recursos e acesso. Nesse sentido, a recomendação é de que o caso selecio- nado seja o que melhor oferece acolhida ao pesquisador e à sua investigação, pois locais ou participantes com pouca disposição para participar do estudo, responder perguntas, podem limitar os aportes do estudo de caso.

O terceiro é o de representatividade.Stake(2007) sugere que, mais que preocupar-se em aportar um conjunto que melhor represente as carac-

terísticas de um determinado contexto, é de maior importância dar espaço aos que darão maior condição de aprendizagem, de responder as questões do investigador. Esses critérios, particularmente o terceiro, foram considerados ao estabelecer não apenas os participantes, mas o local do estudo.

Definidos esta linha para identificação dos casos e o objetivo do es- tudo, entende-se que a escolha pela identificação do caso pelo coordenador de curso, partindo de um critério vinculado ao conhecimento da proposta pedagó- gica e do currículo, é coerente, assim como a acolhida das universidades e dos casos ao estudo e a boa relação com a pesquisadora foram fundamentais para o desenvolvimento. Em cada um dos cursos e considerados os critérios pro- postos porStake(2007), os participantes foram sendo incluídos com critérios e intenções distintos em cada momento do estudo.

Como o estudo como um todo envolve dois estudos de caso distintos, a menção aos participantes será feita distintamente. Para fazer referência aos casos e sua a Ação e Raciocínio Pedagógico chamaremos de caso privada e caso pública quando da menção as professoras caso. Quando da menção do estudo de modo global, envolvendo documentos do curso e os coordenadores e estudantes também participantes do estudo, chamaremos de caso Universidade A e caso Universidade B. São dois níveis de entendimento, os casos pública e privada diretamente associados ao objetivo do estudo de compreender a Ação e Raciocínio em diferentes contextos educacionais e a Universidade A e B como casos contexto que proporcionam o entendimento da relação entre ambos.

4.6.3

Descrição dos casos