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O diagrama de fluxo do ensaio clínico é apresentado na Figura 4. Tratou-se de um ensaio clínico prospectivo, com delineamento paralelo, do tipo caso-controle, proporção 1:1. Foram realizadas comparações entre o perfil inflamatório, bioquímico, antropométrico, e a capacidade antioxidante do soro dos indivíduos antes, durante e após a intervenção.

Figura 4. Diagrama de fluxo do ensaio clínico.

FONTE: Adaptado de Schulz, Altman e Moher (2010).

Todos os 858 estudantes matriculados em duas escolas da sede do município de Alegre (ES), com faixa etária entre 10 e 19 anos, foram avaliados quanto ao peso, altura e índice de massa corporal relacionado à idade (IMC/I) segundo critérios de classificação da WHO (2007). Os 72 indivíduos diagnosticados como obesos (IMC/I > escore z +2) foram convidados a participar do estudo mediante a assinatura de um termo de assentimento livre e esclarecido juntamente com os responsáveis (Apêndices B, C e D).

Procedeu-se à alocação dos 34 adolescentes que aceitaram participar do estudo em grupo controle (17 indivíduos) e grupo intervenção (17 indivíduos). Cada grupo correspondeu à uma das duas escolas participantes do estudo, com vistas a permitir que a preparação diet fosse elaborada todos os dias até o momento da merenda escolar da escola pertencente ao grupo intervenção, além de viabilizar a entrega da preparação a todos os alunos durante os 20 minutos de intervalo para merenda. Segundo Palacio (2008), o açaí é altamente perecível, suas antocianinas são facilmente degradadas, e sua textura modifica-se com facilidade após o processo de congelamento.

Ambos os grupos receberam orientações nutricionais e restrição calórica de 250 kcal/dia por meio de um plano alimentar individualizado. O grupo intervenção, acrescido a isso, recebeu 200g da preparação diet de açaí diariamente durante 8 semanas, sendo o

valor calórico dessa preparação (88,6 Kcal) contabilizado nos cálculos dietéticos. Os critérios adotados para inclusão no estudo foram: adolescentes com idade entre 10 e 19 anos portadores de obesidade diagnosticada pelo IMC/I. A exclusão obedeceu os seguintes critérios: utilização de medicamentos que pudessem interferir nos resultados da pesquisa, uso de nutracêuticos e ou suplementos com função antioxidante, grávidas, nutrizes e participantes com desordem alimentar e alergia, ou intolerância ao açaí juçara.

O ensaio clínico ocorreu ao longo dos momentos:

T0: recrutamento, assentimento informado e avaliação inicial (antropometria, história clínica pregressa e atual, investigação do uso de medicação, presença de doença crônica não transmissível (DCNT) já diagnosticada, peso ao nascer, e história familiar (peso, estatura e pressão arterial dos pais));

T1: randomização e determinações da linha de base (composição corporal e coleta de sangue para determinação dos perfis metabólico, oxidativo e inflamatório);

T2: 1ª etapa da intervenção nutricional com e sem suplementação dietética (primeiras 4 semanas);

T3: determinações clínico-laboratoriais e antropométricas referentes a T2; T4: 2ª etapa de intervenção nutricional com e sem suplementação dietética (5ª a 8ª semana);

T5: determinações clínico-laboratoriais e antropométricas finais referentes a T4.

4.6.1 ROTINA DIETÉTICA

Diariamente, de segunda à sexta-feira no horário da merenda escolar, 200g de preparação diet de juçara era entregue aos adolescentes participantes do grupo intervenção na escola, além de orientações de consumo da preparação (ingestão preferencialmente em substituição à merenda escolar ou à alguma outra pequena refeição do dia, e nunca devendo substituir o almoço ou jantar ou ser fracionado ao longo do dia como complementação das refeições) e de orientações sobre a realização do plano alimentar com restrição de 250 Kcal/dia. A preparação diet apresentava aproximadamente 88,6 Kcal e 240 mg de antocianina. O grupo controle, por sua vez, recebeu durante as mesmas 8 semanas, dieta com restrição calórica de 250 kcal/dia e orientações nutricionais. A quantidade da preparação e de antocianinas foi estipulada tomando-se por base outros estudos clínicos (MERTENS-TALCOTT et al., 2008; UDANI et al., 2011; FOLLY, 2014), de forma a obter resultados sem contudo desencadear efeitos adversos indesejáveis nos voluntários.

4.6.2 AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA E COMPOSIÇÃO CORPORAL

As avaliações de circunferência da cintura, peso e altura foram realizadas nas duas escolas. Pesaram-se os adolescentes utilizando balança da marca Tanita, a altura determinada com a ajuda de estadiômetro da marca alturexata, e a circunferência da cintura obtida por meio de fita métrica flexível e inelástica. Em todas as situações os adolescentes encontravam-se em posição ortostática, descalços, com os calcanhares juntos, costas retas, com os braços relaxados e estendidos ao longo do corpo e a cabeça no plano horizontal. Com estes dados foi calculado o índice de massa corporal (IMC), que relaciona o peso e a altura ao quadrado. Para a avaliação do IMC/I e estatura/I foram utilizadas as curvas da WHO (2007) e a classificação feita com base no critério escore -z (WHO, 2007). Para a avaliação de circunferência da cintura foi empregado o índice de circunferência da cintura para idade, o qual considera o sexo; utilizando para a classificação o ponto de corte percentil 90, de forma que valores >P90 indicam riscos associados à obesidade (FREEDMAN, 1999).

4.6.3 AVALIAÇÕES BIOQUÍMICAS

Os voluntários foram orientados a realizarem jejum de 12 horas para as coletas de sangue, as quais foram realizadas na semana que antecedeu o início da intervenção, na 5ª semana de intervenção e ao final da última semana (8ª semana) de estudo nas escolas participantes. Um profissional bioquímico realizou as coletas utilizando-se seringas, agulhas e tubos descartáveis para o recolhimento de 10 mL de sangue. As análises foram realizadas no laboratório de bioquímica do CCA-UFES, imediatamente após a coleta. Para as determinações no plasma utilizou-se o método enzimático colorimétrico de Trinder para a dosagem de colesterol total; a metodologia de Friedewald, Levy e Fredrickson (1972) para LDL e VLDL; método colorimétrico acelerador-detergente seletivo para HDL; método enzimático colorimétrico de Trinder para glicose; e determinação direta de triglicerídeos plasmáticos. Os valores de referência adotados para a avaliação das dosagens se encontram na Tabela 1.

Tabela 1. Valores de referência para parâmetros bioquímicos do sangue de

adolescentes

Parâmetro Valor de referência (mg/dL)

Glicemia de jejum normal1,2 < 100

Triglicérides2 < 90 (Limítrofe: 90 – 129) Colesterol total2 < 170 (Limítrofe: 170 – 199)

Colesterol HDL2 > 45

Colesterol LDL2 < 110 (Limítrofe: 110 – 129)

Colesterol VLDL3 < 20

1Sociedade Brasileira de Diabetes (2014); 2Sociedade Brasileira de Cardiologia (2014); 3HONORATO et al. (2010).

4.6.4 AVALIAÇÃO DE MARCADORES INFLAMATÓRIOS

Foram analisadas simultaneamente, no soro dos voluntários, as citocinas pró- inflamatórias interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral (TNF α), bem como a citocina anti-inflamatória interleucina-10 (IL-10), utilizando-se kit multiplex (Millipore®). A sensibilidade de detecção do kit para os analitos é de 0,9 pg/ml para IL-6, 1,1 pg/ml para IL-10 e 0,7 pg/ml para TNF-α.

A adiponectina foi quantificada no soro por meio de kit de ELISA específico da Millipore®. Proteína C reativa (PCR) foi analisada através da técnica ultrassensível turbidimétrica, juntamente com as análises bioquímicas do sangue. Os valores de referência adotados para a predição do risco de desenvolvimento de doenças coronarianas relacionado às concentrações séricas de PCR podem ser observados na Tabela 2. Segundo Pearson et al. (2003), valores de PCR acima de 10,0 mg/dL são indicativos de processo infeccioso, trauma ou inflamação aguda.

Tabela 2. Categoria de risco cardiovascular relativo e concentração de PCR

Risco cardiovascular PCR (mg/dL)

Baixo <0,1mg/dL

Médio 0,1-0,3 mg/dL

Alto >0,3 mg/dL

4.6.5. DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE ANTIOXIDANTE DO SORO

Foi utilizado o kit “QuantichromTM antioxidant assay” da BioAssay Systems para a determinação quantitativa colorimétrica da capacidade antioxidante do soro. A intensidade da cor do complexo colorido formado após a redução de Cu2+ em Cu+ pelo antioxidante foi aferida a 570 nm, sendo proporcional à capacidade antioxidante total do soro. Os resultados foram expressos como micromolar (µM) de Trolox equivalente (TE).

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