1 INTRODUÇÃO
2.4 Descrição do Mercado Brasileiro
Alguns autores como La Porta, Lopez-De-Silanes e Shleifer (1999), Claessens, Djankov e Lang (2000), Lins (2003) e Caixe e Krauter (2013) afirmam que a pulverização acionária é uma qualidade exclusivamente do modelo anglo-saxão. Claessens et al. (2002) e Caixe e Krauter (2013) consideram que se a concentração existe na estrutura societária da companhia, o foco da Governança Corporativa passa a ser o conflito de interesses entre acionistas controladores e acionistas minoritários, e não mais o conflito de agência entre gestores e acionistas.
Nesse sentido, Mamede et al. (2017) afirmam que a estrutura de propriedade/controle e a estrutura de capital são temas de estudo relevante por possuir dois padrões distintos: a) o modelo nipo-germânico (Japonês e Alemão), que se distingue pelo financiamento via dívidas e, b) o modelo anglo-saxônico, que se diferencia por uma baixa alavancagem das companhias, uma vez que o capital próprio é predominante em virtude de maior proteção legal aos acionistas.
Dentro desta ótica, Andrade (2015, p. 41), considera que:
[...] a teoria da agência, por ter sido desenvolvida no contexto do mercado dos Estados Unidos, tem como premissa que a efetividade da governança corporativa em aumentar o valor da empresa depende de uma elevada
proteção legal aos investidores e que, portanto, há uma relação de complementaridade entre a qualidade da governança corporativa em nível da empresa e em nível do mercado. Dessa forma, a literatura é inconclusiva ao apontar os efeitos dos diferentes mecanismos de governança corporativa, seja na comparação entre países desenvolvidos e emergentes ou entre apenas os países emergentes, daí a importância de se considerar o ambiente de proteção legal aos investidores, quando se analisa o efeito desses elementos sobre o valor da empresa.
Para Franks e Mayer (1996) e Rente (2018), os dois sistemas de governos das sociedades Anglo-Saxónico e Continental, não são diferentes pela sua capacidade de financiamento das companhias, mas pela forma de organização da propriedade empresarial e seu controle. O Quadro 4, apresenta as principais diferenças entre os dois modelos e as características da estrutura de propriedade e sua importância para o mercado de ações.
Quadro 4 – Características dos sistemas de governo das sociedades.
Itens Sistema Anglo-Saxónico Sistema Continental Estrutura de Propriedade Propriedade dispersa; Apenas as instituições de crédito e investimento detêm fatias relevantes do
capital
Propriedade concentrada; Acionistas majoritários constituem bancos, empresas
e famílias Mercado
de Capitais
Grandes e líquidos; Forte papel da bolsa
Estreitos e ilíquidos; Reduzido papel da bolsa
Conselho de Gestão
One Tier Board: o mesmo órgão realiza as funções executivas e de supervisão; Conselho de administração composto por
administradores executivos e não executivos, sendo que os membros externos avaliam os membros executivos
internos
Two Tier Board: um órgão para as funções executivas e um órgão de
fiscalização e supervisão Conselho de administração composto por
administradores internos ou por administradores externos diretamente
ligados aos maiores acionistas Fiscalização dos
Acionistas Pouco relevante
Gestão é controlada pelos acionistas majoritários, que se encarregam das decisões estratégicas mais relevantes Sistema de
Remuneração dos Dirigentes
Natureza variável proveniente da performance
Remunerações com natureza variável; Sistemas de incentivos pouco relevantes
Auditoria Externa e Divulgação Pública de
Informação
Elevadas imposições de divulgação de informação em virtude da presença no
mercado de capitais;
Auditoria obrigatória e controlada por administradores externos
Presença na bolsa exige divulgação de informação;
Processo de auditoria controlado (indiretamente) pelos principais acionistas Supervisão e Regulação
do Mercado de Capitais
Instituições públicas de supervisão e regulação dos mercados de capitais
Instituições públicas de supervisão e regulação do mercado de capitais Fonte: Rente (2018, p. 8-9).
Dentro desta perspectiva, um importante conceito são os modelos de Governança Corporativa discutidos por Leal e Camuri (2008). Para os autores, existe um conjunto de
regulamentos, convenções culturais e instituições que estabelecem o sistema de Governança Corporativa das companhias. Esse conjunto embarca as relações entre os acionistas e os administradores das companhias ou, ainda, outros atores aos quais os administradores necessitam prestar contas. Para Leal e Camuri (2008, p. 64), esses “modelos com suas características e seus desenvolvimentos, muitas vezes são associados a grupos de países que mostram suas prioridades sociais e políticas, e suas individualidades de formas bem distintas de organização capitalista”.
Leal e Camuri (2008) identificam cinco modelos, que, segundo os autores, são clássicos de Governança Corporativa: o Anglo-Saxão, Estados Unidos e no Reino Unido; o Alemão; o Japonês; o Latino-europeu (Itália, França, Espanha e Portugal), e o Latino Americano (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru). No Quadro 5 é possível comparar as características de cada modelo.
Quadro 5 – Cinco modelos para Governança Corporativa.
Características Anglo-
Saxónico Alemão Japonês
Latino Europeu Latino Americano Fontes de Financiamento Preferenciais Emissão de Ações Empréstimos Bancários Empréstimos Bancários Indefinida Empréstimos Bancários Propriedade e Controle Dispersa Concentrada Concentrada Concentrada Fechada
Propriedade e Gestão Separada Sobreposta Sobreposta Sobreposta Sobreposta Conflito de interesses Acionista/
Direção Credor/ Acionista Credor/ Acionista Majoritários/ Minoritários Majoritários/ Minoritários Proteção dos Interesses
Minoritários Forte Baixa Baixa Fraca Fraca
Conselho de Administração Atuante (foco em Direitos) Atuante (foco em Operações) Atuante (foco em Estratégias) Pressão (para Maior Eficácia) Vínculos (com Gestão) Liquidez da
Participação Acionista Alta Baixa Baixa Baixa
Especulativa e Oscilante Forças de controle mais
atuante Externas Internas Internas
Internas migrando
para externas Internas
Corporate Governance Estabelecido Estabelecido Baixa ênfase Alta ênfase Embrionário
Abrangência dos
Modelos de CG Baixa Alta Alta Média Em transição
Orientação do Sistema Mercado Constituintes Constituintes Constituintes Constituintes Estrutura do órgão de
Administração Monista Dualista Monista Monista Monista
Importância do mercado de capitais na economia nacional
Elevada Moderada/
Elevada Elevada Moderada Moderada
Remuneração dos gestores (indexação ao
desempenho)
Alta Baixa Moderada Baixa Baixa
Carvalho (2019, p. 14) observa que os modelos de Governança Corporativa “apresentam principalmente diferenças quanto à origem dos seus financiamentos, à separação da propriedade e da gestão e à importância que o mercado de capitais apresenta para as empresas que aplicam os respectivos modelos”. Para o autor, algumas características importantes para geração de resultados ao se adotar algum dos modelos são: a cultura, o formato de cada companhia, o modelo de gestão utilizado.