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4 METODOLOGIA DA PESQUISA – RELAÇÕES DIALÓGICAS NA EXPRESSÃO VERBAL

4.1 CAMINHOS DA PESQUISA

4.1.1 Descrição metodológica

A pesquisa de campo ocorreu em duas etapas: a primeira, de maio a julho de 2012 e a segunda de agosto a outubro do mesmo ano. Nesses dois percursos, diariamente, no decorrer do período da aula (das 07h e 45 min às 11h e 45 min) acompanhamos e observamos uma turma do 4º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública da rede de ensino de São José (SC).

Como o foco desta investigação é a linguagem escrita materializada nas práticas escolares de escrita, foram acompanhadas, mais intensamente, as aulas de Língua Portuguesa. Essas aulas e outras relacionadas às disciplinas de que se compõe o currículo escolar do quarto ano (Língua Portuguesa, Matemática, História, Ciências, Geografia e Artes), no período investigado, eram ministradas por uma única professora (professora regente) e uma professora auxiliar que

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Apropriaremo-nos da expressão “cena enunciativa” (Amorim, 2002) para registro das situações de enunciação ocorridas na sala de aula, descritas nesta dissertação.

acompanhava dois alunos com deficiência, mas havia outras disciplinas que eram ministradas por outros professores, como Educação Física, Inglês e Filosofia. Acompanhamos também essas aulas ministradas por professores de outras áreas, por entender que ali também se ensina a ler e a escrever. Agindo assim, teríamos a possibilidade de observar o trabalho da escrita dos alunos nesses campos de conhecimento que não se ocupam da língua como objeto de conhecimento particular.

Então, no período inicial de nossa investigação em campo, (aproximadamente 30 dias) decidimos participar das aulas em seus mais variados momentos, acompanhando todas as disciplinas. Não tínhamos como objetivo analisar a ação pedagógica individual de um ou de outro professor, mas o espaço da escrita do aluno nas suas diferentes experiências com esse conhecimento. Enfim, o interesse recaía nas ações pedagógicas de práticas de escrita, com a atenção voltada à correspondência entre a atividade pedagógica e o acontecimento da aprendizagem e do desenvolvimento do conhecimento da escrita, fossem as práticas promovidas por professores que ministravam a disciplina de Língua Portuguesa ou as de outras disciplinas. Por isso, nos primeiros dias de observação em campo, todas as aulas da turma do 4o ano foram acompanhadas. Com essa atitude pretendíamos, igualmente, propiciar maior aproximação com professores e crianças.

Após esse período de conhecimento mútuo, achamos ser apenas necessário acompanhar as aulas ministradas pela professora regente, pois nosso maior foco era a disciplina de Língua Portuguesa, que no contexto escolar se ocupa efetivamente com o ensino da escrita. Por acreditarmos que o conhecimento da escrita perpassa por outras disciplinas de diferentes áreas do conhecimento, principalmente quando ministrado pelo mesmo docente, e por sabermos que, em relação à estrutura curricular, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, não há normativas rígidas quanto a como dar aulas e a tempos específicos para cada disciplina (nos anos finais do ensino fundamental, o tempo reservado para estudos de cada disciplina curricular é rigidamente demarcado: 45 minutos), nossa observação recaiu sobre todas as aulas ministradas pela professora regente: Matemática, História, Ciências, Geografia, Artes e Língua Portuguesa. Assim, acompanhamos essas aulas somando aproximadamente quinze horas semanais, ou seja, estivemos em sala em torno de três horas diárias, cinco vezes por semana em um período total de quatro meses.

A expectativa da observação era maior quando se tratava das aulas de Língua Portuguesa em cujo desenvolvimento (supunha-se) a produção escrita ocorreria com maior intensidade. Independente disso,

todas as situações de interação, mediadas por propostas de ensino da escrita, eram observadas.

Utilizamos a expressão “cena enunciativa”, para nomear as situações descritas nesta pesquisa que dizem respeito aos diálogos realizados em sala de aula e a depoimentos resultantes de entrevistas.

As cenas enunciativas recebem destaque por serem representativas de momentos mais intensos de interlocução dos sujeitos entre si, com professores e/ou com o objeto de conhecimento e são numeradas neste trabalho conforme sua ordem de apresentação no capítulo de análise (Cena I; Cena II e assim sucessivamente). Para identificar transcrições de gravação das cenas enunciativas postas em destaque e que compõem o banco de dados da pesquisa empírica, valemo-nos da letra “G” (de Gravação) seguidas da data de registro do evento. Essa convenção serve para as transcrições das aulas. O registro do evento fica então assim representado: [G – 07.04.2012]. Compõe ainda o corpus de enunciados orais (cenas enunciativas) as gravações referentes a entrevistas realizadas com a professora ou com as crianças. A transcrição da entrevista é introduzida pela letra “E” para especificar o evento “entrevista”, como no exemplo: [E – 18.07.2012]

Para efeito de compreensão e de indicação dos sujeitos da pesquisa, algumas convenções foram formuladas25:

P : Professora Regente;

Pq: Entrevistadora/Pesquisadora;

A: Aluno (as falas dos diferentes alunos serão identificadas pelo uso das iniciais, por exemplo: AD – Aluno Daniel; ADo – Aluno Donato/Do-na- to.)

As: Alunos

Nas transcrições foram utilizadas as seguintes representações: [...] – supressão de um trecho;

[ ] – inserção de comentário da pesquisadora [em itálico]; [Inaudível] – trecho incompreensível;

As produções textuais/escritas dos estudantes sujeitos da pesquisa e as atividades desenvolvidas em sala (manuscritos dos alunos ou textos impressos utilizados como recurso pedagógico), quando destacadas,

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Essa forma de identificação dos sujeitos é utilizada em respeito aos princípios éticos da investigação com pessoas. Todas as etapas do processo da pesquisa de campo foram autorizadas pelos sujeitos participantes ou por seus responsáveis (quando se tratava de crianças).

aparecem com data de ocorrência e com as iniciais da denominação do material de uso na disciplina de Língua Portuguesa (“Caderno de Português” ou “Caderno de Produção Textual”). Para as atividades retiradas do “Caderno de Português” usamos a seguinte representação: [CP – 02.07.2012]; os textos destacados do “Caderno de Produção Textual” são assim apresentados: [CPT – 20.06.2012].

Os manuscritos dos alunos e os textos utilizados como recurso pedagógico destacados do banco de dados da pesquisa empírica (cadernos dos alunos) são acompanhados de transcrições, sempre que necessário.